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Conto - De mãe para Filho

por Jorge Soares, em 14.03.15

demaeparafilho.jpg

 

Hoje é com você que quero falar, meu filho, e é pra você que escrevo.
 
Casei-me aos vinte e dois anos, você sabe, mas o que não sabe é que tinha mentalidade de quinze. Como à época era o que se esperava, queria filhos. Engravidei logo, mas quis o destino que o feto não vingasse e, por motivos que agora não vêm ao caso, não engravidei mais. Seis anos depois, meu casamento com seu pai por um fio, uma relação sexual esporádica e... Olha aí, eu grávida! Não era mais o que eu esperava ou queria. Pensava em me separar, outros sonhos, outros planos, tudo adiado.  E a gravidez não foi fácil. Passei nove meses enjoando. Enjoava de tudo e de todos. Comidas, rostos, cheiros, cigarros, cores, pastas de dente, escovas de cabelos, até do enxoval do bebê enjoava. Pra você ter uma ideia, fui para a sala de parto enjoando. Masquei montanhas de chicletes e li montanhas de livros sobre como cuidar de recém-nascido. Quanto mais eu lia, mais me apavorava. Tinha certeza absoluta que não daria conta. E é sobre isso que quero lhe falar, de como uma mãe sem vocação conseguiu, afinal, ser mãe. 
 
Há 42 anos, o dia cinco de março caiu numa segunda-feira de carnaval. Nesse dia, às 18h50, colocaram em meu colo um rebento forte, cabeludo, que mexia e se remexia, parecendo não saber como se acomodar e, confesso, ao olhar pra você, meu primeiro, décimo, centésimo, milésimo e milionésimo sentimento foi de pânico. Eu era, então, uma jovem confusa e despreparada, mas tive a exata noção da imensa responsabilidade que depositavam em minhas mãos, tão desastradas esses minhas mãos! Nem preciso dizer o que foram os primeiros meses, um verdadeiro “deus nos acuda” e, não fosse minha mãe, aquela santa da sua avó, sei lá se nos primeiros banhos você não teria se afogado, ou engasgado com as primeiras mamadeiras. Mas você, meu filho, era forte e resistiu bravamente a todas trapalhadas de sua mãe, transformando-se num lindo bebê que parava as pessoas na rua, admiradas com sua formosura. Certo que meu excesso de medo gerou um excesso de zelo que, por sua vez, gerou uma criança excessivamente limpa e bem cuidada. Contudo eu me questionava: por que aquela sensação de perda? Cadê aquele amor na minha incondicional dedicação? Eu não deveria estar padecendo num paraíso? Que paraíso era aquele que mais parecia um suplício? Que tipo de mãe eu era? Acho que nem preciso falar daquele sentimento antipático e irritante chamado “culpa” que tomou conta de mim, né? Eu continuava lendo, agora tudo o que existia sobre psicologia infantil. E, de novo, quanto mais lia, mais culpa e responsabilidade sentia. Rezei para todas as Madonas que conhecia e olha que são muitas. Nenhuma delas me deu qualquer resposta imediata. Até que um dia... Um “insight”, finalmente uma luz! Descobri que, desde a gestação, havia estabelecido com você um laço de, de... Obrigação talvez? Um encargo? Qualquer coisa que queira, mas não de naturalidade, não de amor. Então resolvi seguir minha intuição, chutar o balde e mudar tudo. Comecei, transferindo a culpa que sentia para toda a literatura que os entendidos no assunto me fizeram engolir e doei toda aquela porcaria. Deixei que o amor encolhido sob a carga de responsabilidade e culpa aflorasse, e vi que era bom.
 
Mesmo assim, foi aos trancos e barrancos que fui desempenhando meu papel de mãe, muitas vezes de maneira equivocada.  Mas você, filho, com sua alma antiga e sábia, parecia compreender minhas limitações e, muito provavelmente, por trás dos meus erros e defeitos, via a sombra gigantesca daquele amor que se mostrava, agora escancarado. O tempo foi passando e eu acompanhando passo a passo suas dificuldades. Sua obstinação e perseverança na busca de seus objetivos. Chorei com você suas derrotas, vibrei com você suas vitórias.
 
Hoje, olhando para trás e revivendo esses anos todos, constato impressionada que você nunca, nunca, mas nunca mesmo, teve qualquer gesto de impaciência, qualquer palavra áspera para comigo ou seu pai. Suas decepções conosco podiam, por vezes, se refletir em seu semblante ou nos seus olhos marejados, mas jamais se traduziram em qualquer atitude minimamente agressiva ou grosseira. Só agora me dou conta, filho, do quanto você me ensinou a ser uma pessoa melhor. Com você, e por você, aprendi o valor da renúncia, o valor da luta honesta e boa. Foi por você que aprendi a ser valente, a encarar as dificuldades de peito aberto, a lutar corajosamente pela nossa sobrevivência material e emocional. Só agora, filho, me dou conta do presente maravilhoso que me deram ao cair da tarde daquela segunda-feira de carnaval. Talvez tanto enjoo fosse o disfarce da espera ansiosa pelo nosso encontro. Talvez eu soubesse, sem saber, que você viria para me transformar, para me ensinar o valor da generosidade, para me mostrar que a vida só vale a pena ser vivida se houver desafios. Filho, você é muito. Você é um ser humano precioso e raro, daqueles que, quando a gente encontra, nos fazem acreditar em nossa natureza divina.
 
Então, hoje, no dia do seu aniversário, quando deveria lhe presentear, concluo que tenho mesmo é que lhe agradecer. Obrigada por sua presença e carinho sempre constantes. Obrigada por sua bondade, pela sua compreensão e tolerância. Obrigada pelo seu belíssimo caráter e integridade. Obrigada por me fazer ter vontade de levantar a cada manhã. Obrigada pelo meu coração dilatado de orgulho e admiração. Obrigada por fazer sentir-me mãe, ainda que sem vocação. Devo a você, a alegria de ser.
 
Quando você nasceu, filho, uma melodia estava prestes a começar. No início a afinação dos instrumentos irritava meus ouvidos. Mas quando - enfim afinados - os primeiros acordes soaram, uma magnífica melodia encheu os ares. Seu compasso tem marcado o ritmo de nossas vidas desde então. Tenho certeza que ela continuará vibrando vida a fora, através de seus filhos, dos filhos de seus filhos e assim por diante, por toda a eternidade. 
 
Deus lhe abençoe.
 
Cecília Maria De Luca
 
Retirado de Samizdat

publicado às 20:26

Conto - Não tenha pressa

por Jorge Soares, em 14.09.13

Não tenha pressa


Para Phillipe

 

Sinto decepcionar-lhe, mas não sou o mais sábio, tampouco o mais experiente. Gostaria de ter tanto mais para ensinar-lhe, mas, assim como todas as demais pessoas, sou limitado e imperfeito. E está tudo bem, pois isto é inevitável.

 

É inevitável que não saibamos, que tenhamos incertezas, que sejamos em vários momentos oprimidos pelas dúvidas e pelo medo.

 

Por isto, eu lhe digo: não tenha pressa.

 

Tudo se resolverá com o tempo, e, se não se resolver, é porque não tinha solução mesmo.

 

Se eu tivesse de lhe deixar um único legado, seria este conselho: não tenha pressa. Pois a vida é curta demais, frágil demais, insignificante demais. Hoje, está. Amanhã, não mais. Todos passamos e todos passarão, mas o tempo permanecerá seguindo adiante mesmo que não haja mais ninguém para computar os dias, meses e anos.

 

Não tenha pressa.

 

Viva cada instante e vivencie-os. É muito fácil ignorarmos as pequenas belezas cotidianas, enquanto miramos sonhos vindouros. O futuro está no futuro. Jamais chegará. É no presente onde nossas vidas se desenrolam. É no agora que nos encontramos e nos alegramos e sofremos. Por isto, não tenha pressa.

 

Sei que chegará a época na qual você será tomado por angústias do tamanho do mundo, quando seus objetivos parecerão inatingíveis e você chorará sozinho escondendo as lágrimas.

 

Alguns projetos realmente são irrealizáveis, mas não há como evitá-los e você só descobrirá isto na derrota. Não tema fracassar. São as perdas que concedem maior valor às vitórias. 

 

Não tenha pressa. Por mais que você caia, caia e caia, se você tiver paciência e determinação, fatalmente conseguirá se erguer e caminhar.

 

Hoje, você é tão pequenininho que até comer é um desafio. Este desafio será substituído por outros inúmeros, que sempre darão a impressão de serem muito maiores do que você. Não tenha pressa. Tente, erre, acerte. Aos poucos, você criará sua própria história e, ao olhar para trás, verá que tudo foi como teve de ser. Talvez até se arrependa de algo, mas terá de conviver com isto. Não se pode mudar o passado e, para muita gente, esta é a mais triste das verdades.

 

Não tenha pressa, pois a vida aparentará ser longa em vários momentos críticos. A chegada da idade adulta parecerá tardar demais. A tristeza parecerá interminável. O amor, que nunca virá. Que as dívidas são impagáveis. Todavia, você verá que tudo aos poucos entrará nos devidos lugares, que os medos eram ilusórios, que muito se resolve por conta própria, às vezes sem empreendermos esforço algum. Simplesmente ocorre.

 

Não tenha pressa e não desista. Muitos lhe dirão que não é possível, que você não foi feito para isto, que a vida não é assim. Você pode ouvi-los e se acomodar, passando o resto de seus dias remoendo migalhas. Ou você pode prestar atenção a mim e persistir, pois eu lhe digo que vale a pena e que o segredo está na persistência. Portanto, não tenha pressa.

 

Talvez, com o tempo, você consiga. Talvez não, mas está tudo bem também, pois assim é a vida.


Não tenha pressa, ou melhor, apresse-se.

 

Apresse-se para viver o hoje, para amar, para ser feliz, para beber todas as experiências e levá-las consigo na memória.

 

Apresse-se para descobrir quem você é, qual é a sua essência única, que o distingue dos demais, pois eu lhe asseguro, ninguém mais neste mundo é como você.

 

Apresse-se para ouvir, ver, ler, comer, conhecer pessoas, viajar, mergulhar de cara na vida e descobrir o que ela tem de melhor e de pior. Apresse-se para ter discernimento, possivelmente uma das qualidades mais essenciais.

 

Apresse-se para sorrir, pois a vida é fugaz como um relâmpago.

 

Apressar-se e não ter pressa não são oposições. Pertencem às nossas contradições humanas.

 

Deixo-lhe estes conselhos, mesmo sabendo que talvez você não os escute, mesmo que você venha a desconfiar que eu não esteja vivendo sob tais preceitos.

 

Então, um dia, você também terá um pequeno nos braços e desejará poupar-lhe de todos os sofrimentos e mágoas. Também se sentará e refletirá sobre uma porção de advertências, de admoestações, de ensinamentos. Também se sentirá impotente, como se estivesse tentando abraçar o ar.

 

Neste dia, você se recordará de mim.

 

Henry Alfred Bugalho

 

Retirado de Samizdat

publicado às 21:19


Usar a cabeça

Gamado do Café onde alguém o havia gamado do Tresgues 

 

Não tem nada de novo, é o mesmo ano após ano desde que começou a haver provas, esta ano os resultados dos exames foram os piores, para o ano será pior, podem ter a certeza. Se alguém acha que é um novo governo e um novo ministro que vai fazer o milagre, desengane-se, não vai mudar nada.

 

O ano passado cá em casa tivemos que travar uma guerra com os professores, com a escola, com o agrupamento, com meio mundo, porque nós pais decidimos que o nosso filho ia repetir o quarto ano, a nós só nos interessa que ele aprenda, que saiba o mínimo para poder seguir em frente.  Infelizmente parece que a mais ninguém lhe interessa se as crianças sabem ou não.

 

Não sou dos que acham que temos que voltar aos métodos e à escola de antigamente,  não me parece que a minha escola ou os meus professores fossem melhores que os actuais, bem pelo contrário. As escolas e as crianças portuguesas nunca tiveram tão boas condições, nem em casa nem na escola, nem professores tão bem preparados e com tanto apoio como tem hoje em dia.

 

Onde está o problema?, o problema está no paradigma, quando eu andava na escola o objectivo era que as crianças aprendessem, que saíssem de lá a saber o mínimo para enfrentar a vida. Neste momento o objectivo da escola em Portugal é contribuir para os números. As crianças devem estar na escola o maior tempo e até mais tarde possível, se pelo meio aprenderem alguma coisa, melhor, mas se não aprenderem, pelo menos contribuem para que o país esteja na média.... bom, na média de quase tudo, porque na média das notas de exame de certeza que não estamos.

 

A solução é muito simples, aproveitar as excelentes condições da grande maioria das escolas, o conhecimento e preparação dos professores e utilizá-los para aquilo que foram pensados, ensinar os nossos filhos... se pelo meio voltarmos a descer nas médias, paciência... antes um país abaixo da média que um país de analfabetos funcionais.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 21:32

Vá lá a gente tentar perceber as crianças!

por Jorge Soares, em 16.05.11

Vá lá a gente tentar perceber as crianças

Imagem minha do Momentos e olhares

 

Durante anos, dia após dia o N. ficava a chorar no infantário, todos os dias, desde que tinha um ano e até que finalmente entrou para a escola primária, fosse eu ou fosse a mãe quem o levava, ficava lavado em lágrimas e num pranto inconsolável. De inicio e até percebermos que mal ele deixava de nos ver as lágrimas paravam de imediato e começava a brincadeira como se nada fose, a coisa foi complicada. Não é fácil deixar uma criança a chorar todos os dias, o primeiro pensamos é que ela é maltratada e que não gosta da sala, da educadora, das auxiliares... passa-nos tudo pela cabeça, incluindo mudar a criancinha de escola.. coisa que chegámos a fazer, sem que nada mudasse... 5 anos de choro diário é dose.

 

Mas se acham que isto é mau, o que acham de uma criança que todos os dias quando a vão buscar arma um berreiro porque não quer sair da escola? Mau não é? pois... isso é o que acontece comigo todos os dias.

 

Imaginem o que é chegarem à escola e estarem os outros pais a buscar as suas criancinhas sorridentes e terem que andar atrás da vossa porque ela mal vos vê corre para a outra ponta? É ver as mães com um sorriso amarelo e a pensarem:

 

-Como será que eles tratam a pobre criança que ela nem quer ir para casa ao fim do dia?

 

Depois o sorriso amarelo passa para as auxiliares e claro, para mim.. que nunca encontro nenhum buraco onde me esconder.

 

Com o tempo comecei a tentar usar estratagemas, em lugar de lá ir eu, mandava os irmãos, primeiro o N. e depois a R., para nada, o comportamento era exactamente o mesmo, só quando é a mãe a ir lá ela não faz fita.. raio de criança.

 

Estava a ficar seriamente preocupado até que um dia a fui deixar na escola de manhã e para minha grande surpresa, fez uma birra exactamente igual à que faz ao fim do dia, só que ao contrário, não queria lá ficar por nada, quando não se agarrava a mim, tentava fugir para a rua.

 

Estão a ver a minha cara de alivio? desta vez o sorriso amarelo era mesmo da auxiliar que a veio receber.

 

Vá lá a gente tentar perceber as crianças.

 

Jorge Soares

publicado às 22:32

Desesperada

 

Sobre o post de ontem, queria esclarecer o seguinte:

 

1- Eu sou desconfiado, o primeiro que fiz quando recebi o mail foi tentar investigar, ninguém é anónimo da internet, mesmo, portanto, o que posso dizer é que consegui confirmar algumas coisas, incluindo a real necessidade desta pessoa.

 

2- Sou pai adoptivo, também eu esperei e desesperei  por ter um filho, neste momento haverá no espírito de muita gente a ideia de que estará ali a criança dos seus sonhos, isso não é verdade, primeiro porque lendo nas entrelinhas não me parece que seja desejo desta mãe entregar o seu filho, segundo porque EM PORTUGAL É ILEGAL A ENTREGA DE CRIANÇAS DIRECTAMENTE DE PAIS BIOLÓGICOS PARA PAIS ADOPTIVOS. Muita atenção a isto que é muito importante, a ideia é ajudar esta mãe,  mas é bom que tenham isto claro.

 

3- Eu tenho o contacto de mail dela, que evidentemente não vou publicar aqui, para as pessoas que perguntam de que zona do país é, posso confirmar que é da zona de Lisboa, como não me sinto capaz nem tenho disponibilidade pessoal para centralizar a ajuda, vou disponibilizar via email o contacto dela a quem pretender ajudar, não será a melhor forma, mas é a que neste momento disponho, é evidente que todas as ideias são bem-vindas, e se alguém quiser pegar neste assunto de outra forma, força, apoiarei sempre.

 

Por fim, vou deixar aqui um excerto do mail que recebi esta manhã

 

"... mesmo com 17 semanas de gestação ouve alguém ontem que ainda me sugeriu o porque de eu não fazer um aborto, isto fora outras coisas, tenho medo do futuro,e mesmo assim tento nunca parar de lutar, o que eu mais queria era chegar ao fim da minha gravidez e poder levar o meu bebé comigo mas não sei como isso vai ser possível, a única pessoa que me tem dado algum conforto é a minha princesinha que no meio da inocência volta e meia me vem dar um beijinho na barriga ou uma festinha e diz o bebé da mãe ta aqui, também tenho medo de pensar que o meu bebé pode não estar bem. Mas apesar de todas as crueldades da vida ainda existem pessoas boas, na 6a feira recebi ca em casa umas calças de grávida não imagina o alivio que foi mas la está num momento em que todas as ajudas são bem vindas pra mim foi como se tivesse ganhado a lotaria,..."

 

Ajudar não custa... não fiquemos pelas intenções, quem pretender ajudar envie-me um mail para jfreitas.soares@sapo.pt, na resposta terá o endereço de mail desta mãe.

 

Jorge Soares

publicado às 13:52

Adopção, alguém quer abrir a caixa de pandora

 

Vai fazer 10 anos, há coisas na vida que simplesmente não esquecemos, o N. estava connosco há um ano, o processo de adopção estava quase concluído, faltava só a decisão do tribunal. Um dia recebemos uma carta do tribunal, estávamos à espera da adopção plena, o papel que faltava para que ele fosse nosso filho legalmente, porque no coração era-o desde o primeiro dia... , o tribunal informava que devido a que tinha aparecido o pai este teria que dar o seu consentimento e portanto o processo ficava parado.

 

Nesse dia eu percebi o significado da expressão, caiu-nos o mundo encima.... A maioria das pessoas não percebe, mas filho adoptado é só uma expressão, só tem significado para quem está por fora, para quem adopta e para quem é adoptado não tem significado nenhum... não há filhos adoptados e biológicos, há filhos, ponto. Naquele dia tudo nos passou pela cabeça, tudo.... mas uma coisa era certa, ninguém nos ia tirar o nosso filho, custasse o que custasse.

 

Sempre me foi dito que a adopção era uma situação definitiva e eu sempre acreditei que assim era, as crianças são seres humanos, não são mascotes, não são prendas, não se entrega um filho alguém para anos depois se chegar lá e dizer, "olhe, desculpe lá qualquer coisinha, mas alguém cometeu um erro, entregue lá o seu filho de volta".... bom, achava eu, porque pelos vistos e a julgar por esta noticia parece que afinal, é possível.

 

A maioria das crianças que vai para adopção vai contra a vontade dos pais biológicos, invocar neste caso que houve um erro porque a mãe não deu o consentimento é abrir uma enorme caixa de pandora, se por mero acaso esta senhora conseguisse os seus propósitos, seria sentado um precedente que teria consequências que nem quero imaginar, já viram o que seria se cada um dos pais que maltratava os seus filhos e não deu autorização para a adopção fosse para tribunal exigir estes de volta?

 

Há coisas em todo este caso que me deixam com os cabelos em pé, supostamente os dados da adopção são secretos, em caso algum deverá ser facultada aos pais biológicos qualquer informação sobre os adoptantes, não sei como mas esta senhora obteve esta informação e desde então dedicou-se a assediar tanto a criança como os pais....

 

Não me consigo colocar no lugar destes pais que desde há 3 anos tem um filho a quem dão o melhor de si e que de repente tem alguém a questionar a forma como o educam, a escola onde ele está, as condições de habitação, tudo... Os candidatos à adopção são avaliados nas mais diversas formas: condições financeiras, de habitação, psicológicas, tudo, quem deu direito a esta senhora a questionar a qualidade de vida destes pais?

 

Há coisas que não tem explicação possível.

 

Artigo 1989 do Código civil

 

Irrevogabilidade da adopção plena

 

A adopção plena não é revogável nem sequer por acordo do adoptante e do adoptado.

 

Jorge Soares

publicado às 22:22

Adopção, um ano de felicidade

por Jorge Soares, em 01.02.11


1 ano de amor

 

 

Amor: presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atracção, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objecto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação.

 

Passou um ano desde aquele dia em Cabo Verde em que conhecemos a  D., um ano em que ela cresceu, em que passou da menina mais calma e doce do mundo à terrorista mais teimosa e alegre que já conhecemos.

 

Adoptar uma criança é sempre um momento de ruptura, para ela que deixa para trás o mundo em que até então viveu e para nós, que vemos como de um momento para o outro nos entra pela casa dentro um estranho, pode ser um processo muito complicado e com adaptações difíceis e dolorosas, ou como no nosso caso, muito simples. A D. adoptou-nos de imediato, a nós, aos irmão, à nova casa, ao novo país, tudo. Passados poucos dias ninguém dizia que aquela criança meiga e alegre alguma vez tinha vivido noutro lado e com outra família.

 

Desde então algumas coisas mudaram, ela mudou, a criança amorosa e dada dos primeiros dias, pouco a pouco foi-se tornando numa  reguila, que adora música e dançar, a alegria continua ali, mas agora é muito senhora de si e do seu nariz. Teimosa como só ela, mas obediente e super organizada como nunca foi nenhum dos irmãos... um amor de criança, uma filha amorosa que veio encher esta casa de alegria e felicidade.

 

 

Não há raças, há seres
Não há religiões, há crenças
Há fome, muita fome
Há doenças imensas
Sem nome

Não há seres, não há raças
Não há crenças nem religiões
Há fome, muita fome
Há doenças imensas
Sem nome

Há tantos seres de todas as raças
Cheios de fome
Armas imensas sem nome
Doenças e tantas desgraças
Com nome

 

(Poema de João Sevivas)

 

Jorge Soares

publicado às 22:21

TPM - (sindrome da) Tensão pré-menstrual

por Jorge Soares, em 07.12.10

TPM - Tensão pré menstrual

Imagem de Sabe-Tudo

 

TPM

 

"A tensão pré-menstrual (conhecida pela sigla TPM) é uma síndrome que atinge as mulheres e que ocorre, em maior ou menor grau, nos dias que antecedem a menstruação. É caracterizada por uma irritabilidade e ansiedade mais acentuadas, bem como manifestações físicas, como por exemplo dor nas mamas, distensão abdominal e cefaléia. Decorre da retenção de sódio e água ." - do Wikipédia

 

Não, não se assustem, não é de mim que vou falar, quer dizer, no fim, quem leva com elas sou eu na mesma.. mas pronto, há coisas que vem com o nosso Karma e para as quais não há muito a fazer. A mim, não me bastava ter que levar  com uma, agora são duas...

 

Eu já cá falei do assunto, as duas maiores cá de casa, são tão parecidas que até chateia... e claro, são tão parecidas que de vez em quando a coisa dá faisca.  Ultimamente as coisas tem andado de novo a modos que em equilíbrio precário, principalmente porque a R. insiste em defraudar as expectativas escolares da mãe. A P. sempre foi a melhor aluna da turma, desde o pré-escolar até ao ultimo ano da faculdade, a estudante (quase) perfeita com as notas perfeitas. A R. é uma despassarada, há tantas coisas na vida e acontecem todas ao mesmo tempo, estar com atenção às aulas é um exercício mais ou menos complicado... mesmo assim as coisas entram.. o problema maior  é que também é muito difícil estar com atenção nos exames... que não são para fazer, são para despachar.... é claro que isto tudo raramente dá para mais que um bom... Não há notas negativas... mas para a mãe que foi aluna perfeita a vida toda... bom não chega.

 

Ontem saiu mais um bom... e mais uma daquelas discussões... porque se há coisa que aquelas duas não conseguem fazer é abdicar da última palavra... e a coisa aqueceu... a pobre R. é uma daquelas pré-adolescentes com pelo na venta... mas ainda há hierarquias cá em casa e está-se mesmo a ver quem tem imensos castigos.

 

Parece que ontem ficou a pensar no assunto, hoje de manhã foi pedir desculpa à mãe:

 

- Mãe, desculpa aquilo de ontem, sabes, eu estava com TPM

- Com quê?

- Com TPM - síndrome de tensão pré-menstrual!

-.........

 

Ai a minha vida!

 

Jorge Soares

publicado às 22:30

A Reguada

por Jorge Soares, em 29.11.10

A reguada

 

Imagem do ionline

 

Era um dia de primavera, não sei porquê mas naquele dia o recreio da escola de Palmaz era do tamanho dos terrenos cultivados que havia à volta, não me lembro o que andámos a fazer, eu andava na primeira classe e  já passaram uns 35 anos, mas recordo-me perfeitamente que quando voltámos à sala há muito que as aulas tinham recomeçado, fomos recebidos por uma professora em fúria e recordo especialmente a bofetada que me deixou a chorar diante de toda a turma.

 

Passados dois ou três anos vimos a professora em Oliveira de Azeméis, a minha mãe queria que eu a fosse cumprimentar.. recusei-me terminantemente... tinha bem fresca na imagem aquela bofetada...

 

Sim, eu ainda sou do tempo em que os professores aplicavam castigos físicos quando estes eram necessários, que me lembre este foi o único que recebi... de certeza que me serviu de emenda.. apesar de eu nunca ter sido de pisar o risco. Vem isto a propósito de que  recentemente descobrimos que após aquele episódio com os livros dos colegas, o N. levou uma reguada da professora...

 

Antes que comecem a crucificar a senhora, deixem-me esclarecer que a régua era daquelas de plástico fininhas, nada que ver com as réguas pesadas de madeira que existiam nos meus tempos. Na sexta na apresentação do livro da Meninos do Mundo o assunto surgiu, percebi que a maioria das pessoas acha tal coisa um acto de crueldade e que a senhora merece no mínimo uma queixa ao ministério, como pai... eu não acho.

 

Entre os métodos draconianos e de terror da professora do ano passado, que se recusava a aceitar que ele tem um problema, uma doença, que insistia em colocar uma criança com défice de atenção ao lado da janela ou no fundo da sala ao lado da porta, que não dava reguadas mas que mantinha a turma em ordem com base no terror de tal forma que ela era a única que deixava a turma sozinha sem necessidade de auxiliares a vigiar... e naquela sala não se ouvia um pio.. e esta que dá reguadas... acreditem em mim, eu prefiro esta.

 

Conheço o meu filho, é do estilo de esticar a corda, o facto de ter uma professora que está alerta para as crianças com este tipo de problema foi uma enorme ajuda, a verdade é que com ela ele não põe o pé em ramo verde, pelo menos dentro da sala está controlado e nós sentimos uma enorme evolução... o ano passado ele vivia no terror das fúrias e queixas da professora, agora quer-me  parecer que efectivamente ele respeita  esta professora.

 

Se devemos incentivar os castigos físicos dentro da sala de aula?, não, claro que não.... mas há uma enorme diferença entre não incentivar e proibir,  como em tudo na vida deve existir o bom senso.

 

Tenho a certeza absoluta que aquela reguada lhe doeu mais na alma que na mão... e que foi importante para ele sentir que na sala de aula é a professora que manda... não se veio queixar, não armou drama nenhum por causa disso...e quanto a mim, foi um castigo merecido e bem aplicado.

 

Curiosamente, quando estava à procura de uma uma imagem para o post, encontrei esta noticia.. interessante

 

Jorge Soares

publicado às 21:55

Perdido

por Jorge Soares, em 07.11.10

Perdido

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

Tive uma semana complicada, há coisas que de um momento para o outro fazem com que nos questionemos sobre a vida, a forma como a encaramos e a vivemos.. coisas que nos deixam a pensar sobre o que somos e o que deixamos aos nossos filhos.

 

Na terça ao fim do dia comentávamos cá em casa o facto de uma colega da R. ter colocado a mãe no hospital com cancro de mama porque uma professora insistia em escrever na caderneta escolar os seus consecutivos esquecimentos. Longe de nós imaginar o que viria a seguir..e o que veio a seguir para mim funcionou com um gigantesco balde de água fria que consegui abalar completamente as minhas certezas como pai e como participe na educação dos meus filhos.

 

No dia a seguir encontramos a caderneta do N. que desde a semana anterior tinha um pedido para os pais irem à escola devido a um assunto disciplinar. A mãe tentou apertar com ele e ele lá contou que durante o almoço em conjunto com dois colegas tinham entrado na sala e rasgado alguns dos livros dos colegas.

 

O mais curioso é que ele tinha referido o episódio cá em casa e pasme-se, até se tinha queixado que por culpa de quem tinha feito tal coisa, estavam todos sem recreio até descobrirem os culpados. Pelos vistos a professora tinha sido capaz de encontrar os culpados. É claro que é uma situação grave, mas é daquelas coisas que fazem parte de ter uma criança impulsiva e muito permeável às companhias. O problema é que a coisa não ficou por aqui.

 

No dia a seguir minha meia laranja foi falar com a professora.. o que ouviu não foi uma historia de doenças e hospitais, mas foi algo que fez com que a escola ponderasse chamar a comissão de protecção de menores. Como desculpa para o facto de os pais não aparecerem na escola, ele inventou uma historia que metia sovas com cintos que o deixaram marcado e quase sem conseguir andar...

 

Vamos por partes, o N. é uma criança impulsiva e que age sem pensar, é claro que de vez em quando leva umas palmadas, principalmente quando nos cansamos de repetir uma e outra vez a mesma coisa, houve uma vez há dois ou três anos em que o episódio foi mesmo grave e em que saquei o cinto e o ameacei com ele.. mas é evidente que nunca levou uma sova que deixasse marcas ou que passasse do que é realmente razoável.

 

Perceber que a escola esteve prestes a chamar a Protecção de menores devido à mentira contada por uma criança de 10 anos, deixou-me de rastos.. principalmente porque a mesma escola não se dignou a falar connosco, foi falar com as professoras do ano passado na outra escola, a averiguar da existência de indícios ou marcas de maus tratos, mas não se dignou a falar com os pais.

 

Eu sei que não sou um pai brando, sou especialmente exigente com ele, porque é uma criança impulsiva e influenciável, se calhar podia ser de outra forma, se calhar podia ter outro tipo de relação com ele, claro que sim... mas olhando para trás, só posso pensar que dadas as circunstâncias, duvido que as coisas fossem melhores se fossemos menos duros com ele.

 

Esta semana e ainda a propósito do livro o Fim da inocência, a Eugénia dizia o seguinte por email:

 


... Fez-me crescer e fazer escolhas. Mas, o respeito, a admiração e a consciência que eu tinha daquilo que os meus pais queriam e representavam para mim sempre falou mais alto e hoje, não tenho dúvida nenhuma que aquilo que sou é fruto da educação que tive e das escolhas que fiz baseadas nessa mesma educação e nos princípios e valores que me foram incutidos.

 

Depois dos episódios desta semana, depois dos vários episódios com o fogo, depois de tudo isto, a verdade é que eu já não sei nada, o exemplo que tentamos dar cá em casa é que os colegas devem ser respeitados, que não aceitamos mentiras, que as coisas que não são nossas devem ser respeitadas.. mas a verdade é que neste momento me sinto de mãos atadas. Não quero educar os meus filhos pelo medo, não quero que eles façam ou deixem de fazer as coisas porque têm medo das consequências.. mas por outro lado, já não sei até que ponto o mundo actual e tudo o que rodeia pais e filhos permite que eles se centrem nos exemplos e nos princípios que damos em casa... principalmente quando temos filhos que fazem tudo para agradar ao grupinho.. mesmo que isso implique a destruição de material dos colegas.

 

Sinto-me perdido... como pessoa e como pai, se calhar a minha meia laranja tem razão, eu deveria ler mais vezes o que aqui escrevo.. coisas como esta:

 

"Infelizmente muitas pessoas pensam que disciplina é sinónimo de castigos. No entanto disciplina vem do termo latino Discere que significa aprender"

 

Perder

 

Perder é começar. A minha vida 
foi movimento em cerne opaco e frígido... 
E quando sei que este momento eterno 
em mim percorre sulcos, veias, sonhos, 
outro momento abraça-me o porvir — 
e desconheço a margem onde navegar, 
onde aportar o peso do caminho. 

Perder é começar. Por isso a ténue sombra 
desenha no sigilo os abismais instantes 
onde existiu, uma vez, qualquer destino exacto.

 

António Salvado, in "Na Margem das Horas"

 

Jorge Soares

publicado às 22:12


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