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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Pontos de Vista
Hoje morreu mais um bombeiro em resultado dos combates ao fogo que tem assolado o nosso país, é o sexto desde o inicio do verão... ainda estamos no inicio de Setembro e o calor continua.
Tinha escrito o texto a seguir há quinze dias atrás quando ainda estava na ressaca das férias, infelizmente desde então as coisas só pioraram.
E mais um ano, e mais um verão, e há coisas que não mudam, só pioram. Não faço ideia se a área ardida aumentou ou não, mas não restam duvidas que ao nível humano este estará a ser um dos piores anos, se não me engano, é o terceiro bombeiro que morre este ano no combate a incêndios... e o verão e o calor ainda não terminaram.
Há pouco ouvia o ministro da administração interna a dizer que todos os meios estão no terreno, que há dezenas de aviões e helicópteros a combater os incêndios... e acredito que seja verdade. Na realidade não passam de palavras que já ouvimos repetir muitas vezes, por ministros deste governo, do anterior e do anterior. São palavras que ouvimos todos os anos quando acordamos um dia e damos com o país uma vez mais a arder.
Palavras, só palavras, que servem para mostrar serviço no momento, a realidade é que mal caem as primeiras chuvas do Outono, todos esquecemos essas palavras .. até ao ano a seguir, quando tudo se repete e voltam as palavras.
De que vão servir estas palavras à família da bombeira que morreu hoje a lutar contra o fogo?, e aos seus colegas que ficaram feridos, e a todos os restantes que ano trás ano morrem ou ficam com marcas do fogo para sempre?
Quando será que haverá um ministro que chegue ao mês de Janeiro e em lugar de assinar contratos de aluguer de helicópteros e aviões, assine decretos que obriguem à prevenção?
Quando será que haverá um governo que faça cumprir as leis e obrigar os proprietários a limpar as matas antes do verão?
Quando será que haverá um presidente de uma Câmara municipal que em lugar de vir nestas alturas para os meios de comunicação culpar a coordenação e a falta de meios dos bombeiros, virá assumir as suas responsabilidades pela falta de limpeza das matas e dos caminhos do seu concelho?
Todo o mundo sabe que o problema dos incêndios em Portugal não está na falta de bombeiros ou de meios, o problema está na falta de prevenção, na falta de limpeza das matas, na falta de acessos às matas, na falta de consciência sobre a importância da sua manutenção.
Todos os anos ouvimos dizer que é impossível combater os fogos porque para além da falta de acessos, a quantidade de combustível acumulada é tal que não há como os apagar, mas a realidade é que a única vez que a grande maioria das matas é limpa é quando há um incêndio.. e ninguém faz nada para mudar esta situação.
Update: Não há duvida que muitos destes incêndios, se calhar a maioria, são provocados para alimentar a industria do fogo e a que s eaproveita dele, mas nada disso contraria o que disse acima, matas limpas não ardem ou se é com fogos fácilmente controláveis, não é por acaso que apesar dos milhares e milhares de incêndios que ocorrem todos os anos, muito raramente estes afectam as matas que são propriedade das celuloses.
Quantos bombeiros tem que morrer para que as coisas mudem?
A culpa será dos incendiários, de quem lhes paga em nome de interesses mais ou menos obscuros, ou de quem não limpa a floresta como expliquei neste post a propósito dos incêndios em Oliveira de Azeméis. A culpa será do calor, da incúria de quem tem atitudes irresponsáveis e deploráveis, ou como dizia alguém nos comentários ao meu post, poderá ser simplesmente uma forma de a natureza se renovar...
No fim, como todos os anos a culpa morrerá solteira, com as primeiras chuvas de Setembro por entre as cinzas começará a aparecer o verde da renovação e simplesmente esquecemos o inferno do verão... pelo menos até ao próximo verão e até ao próximo inferno. À medida que o verde desponta na floresta queimada serão esquecidos os problemas, a falta de meios, a má coordenação, a falta de acessos, tudo.... A vida segue, e nós tentaremos seguir com ela.... quase todos, porque há pelo menos 2 pessoas para quem a vida não segue, para os dois bombeiros que já morreram no combate ao inferno, a vida não segue, a vida terminou ali.. no combate.
Perderam-se duas vidas, para além de muita floresta e de alguns bens, perdeu-se uma parte do futuro do nosso país. A floresta renasce, renova-se, os bens substituem-se por outros... as vidas que se perderam não se recuperam nunca. Nesta altura deveríamos todos fazer um exame de consciência, parar para pensar.... o que fazer para evitar que estas coisas aconteçam?
"Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?"
Por FERREIRA FERNANDES, Diário de Notícias
Um enorme bem haja a todos os bombeiros que dia a dia arriscam as suas vidas para proteger as nossas e o nosso futuro..e por favor, tenham cuidado!
Jorge Soares