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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
Ausência
Um deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda que a tua
Sophia de Mello Breyner Andresen
Num fim de tarde no Jardim do Bonfim
Setúbal
Outubro de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Adeus
É um adeus ...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus ...
Agora,
O remédio é partir discretamente,
Sem palavras,
Sem lágrimas,
Sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer a humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade Consumada,
Um poema de líquido pudor,
Um sorriso de amor,
E mais nada
Miguel Torga
Uma solitária folha de cerejeira que resistiu mesmo até aos últimos dias do Outono.
Portalegre
Dezembro de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Pablo Neruda
Desculpem lá mas hoje não me apetece mais que disfrutar da beleza das coisas, gosto do Outono..e das folhas caídas.
Setúbal, Outubro de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e olhares
Só
Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demôno, ante meus olhos.
Edgar Allan Poe
Tradução de Oscar Mendes
Portinho da Arrábida, Setúbal
Janeiro de 2010
Jorge Soares