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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
A LUA (dizem os ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma idéia se perde.
E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.
Sim, todos os meus reveses
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os ingleses)
É azul de quando em quando.
Fernando Pessoa
Parque Urbano de Albarquel, Setúbal
Julho de 2011
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Gosto da Primavera... gosto de pequenas coisas, gosto das cores suaves das pequenas margaridas que nascem nos muros dos campos da minha infância, gosto
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
Canoas à espera na barrgaem de Montargil
Junho de 2010
Post publicado inicialmente no Momentos e Olhares em Dezembro de 2010
Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, António Ramos Rosa morreu esta segunda-feira aos 88 anos.
Há pessoas cujas palavras nunca morrerão
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de Inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos secos.
O frio leve treme.
Desterrado da pátria antiquíssima da minha
Crença, consolado só por pensar nos deuses,
Aqueço-me trémulo
A outro sol do que este.
O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole
0 que alumiava os passos lentos e graves
De Aristóteles falando.
Mas Epicuro melhor
Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida
À distância a que está.
Ricardo Reis
Gerês
Novembro de 2010
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Ausência
Um deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda que a tua
Sophia de Mello Breyner Andresen
Num fim de tarde no Jardim do Bonfim
Setúbal
Outubro de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia
Imagem minha do Momentos e Olhares
Se você quer ser minha namorada
Ai, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exactamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarzinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porquê
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.
Vinícius de Moraes
Lagoa de Óbidos
Julho de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
As Ruas
No tempo
em que havia ruas,
ao fim da tarde
minha mãe nos convocava:
Farol do Cabo São Vicente
Sagres
Julho de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Desiguais as contas:
para cada anjo, dois demónios.
Para um só Sol, quatro Luas.
Para a tua boca, todas as vidas.
Mulher passeia na areia molhada da Praia do Meco
Sesimbra, Julho de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
LA mariposa volotea
y arde —con el sol— a veces.
Mancha volante y llamarada,
ahora se queda parada
sobre una hoja que la mece.
Me decían: —No tienes nada.
No estás enfermo. Te parece.
Yo tampoco decía nada.
Y pasó el tiempo de las mieses.
Hoy una mano de congoja
llena de otoño el horizonte.
Y hasta de mi alma caen hojas.
Me decían: —No tienes nada.
No estás enfermo. Te parece.
Era la hora de las espigas.
El sol, ahora,
convalece.
Todo se va en la vida, amigos.
Se va o perece.
Se va la mano que te induce.
Se va o perece.
Se va la rosa que desates.
También la boca que te bese.
El agua, la sombra y el vaso.
Se va o perece.
Pasó la hora de las espigas.
El sol, ahora, convalece.
Su lengua tibia me rodea.
También me dice: —Te parece.
La mariposa volotea,
revolotea,
y desaparece.
Algures perto do mar nas Astúrias
Agosto de 2012
Jorge Soares