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Dois horizontes

por Jorge Soares, em 21.08.11

Pôr do Sol em Cabo verde

 

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Dois Horizontes

 

Um horizonte, — a saudade 
Do que não há de voltar; 
Outro horizonte, — a esperança 
Dos tempos que hão de chegar; 
No presente, — sempre escuro,— 
Vive a alma ambiciosa 
Na ilusão voluptuosa 
Do passado e do futuro. 

Os doces brincos da infância 
Sob as asas maternais, 
O vôo das andorinhas, 
A onda viva e os rosais; 
O gozo do amor, sonhado 
Num olhar profundo e ardente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do passado. 

Ou ambição de grandeza 
Que no espírito calou, 
Desejo de amor sincero 
Que o coração não gozou; 
Ou um viver calmo e puro 
À alma convalescente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do futuro. 

No breve correr dos dias 
Sob o azul do céu, — tais são 
Limites no mar da vida: 
Saudade ou aspiração; 
Ao nosso espírito ardente, 
Na avidez do bem sonhado, 
Nunca o presente é passado, 
Nunca o futuro é presente. 

Que cismas, homem? – Perdido 
No mar das recordações, 
Escuto um eco sentido 
Das passadas ilusões. 
Que buscas, homem? – Procuro, 
Através da imensidade, 
Ler a doce realidade 
Das ilusões do futuro. 

Dois horizontes fecham nossa vida.

 

(Machado de Assis, in "Crisálidas")

 

Pôr do sol em Cabo verde

Fevereiro de 2010

Jorge Soares

publicado às 21:25

Viver .. era isso, mais nada?

por Jorge Soares, em 20.08.11

Viver.. por trás da porta

 

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Viver

 

Mas era apenas isso, 
era isso, mais nada? 
Era só a batida 
numa porta fechada? 

E ninguém respondendo, 
nenhum gesto de abrir: 
era, sem fechadura, 
uma chave perdida? 

Isso, ou menos que isso 
uma noção de porta, 
o projecto de abri-la 
sem haver outro lado? 

O projecto de escuta 
à procura de som? 
O responder que oferta 
o dom de uma recusa? 

Como viver o mundo 
em termos de esperança? 
E que palavra é essa 
que a vida não alcança?

 

Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'

 

A vida são muitas coisas, muitas escolhas, muitos caminhos cruzados, muitas oportunidades perdidas, muitas outras agarradas com ambas as mãos... mas no fim, tudo se resume a Somos o que vivemos.

 

Setúbal, Outubro de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:33

Somos donos do nosso destino

por Jorge Soares, em 19.08.11

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,

E deseja o destino que deseja; 
Nem cumpre o que deseja, 
Nem deseja o que cumpre. 
Como as pedras na orla dos canteiros 
O Fado nos dispõe, e ali ficamos; 
Que a Sorte nos fez postos 
Onde houvemos de sê-lo. 
Não tenhamos melhor conhecimento 
Do que nos coube que de que nos coube. 
Cumpramos o que somos. 
Nada mais nos é dado. 

Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

 

Somos o que vivemos...

 

Algures numa praia de Portugal

Outubro de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:32

Ó sino da minha aldeia

por Jorge Soares, em 18.08.11

O sino

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.


E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.


Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.


A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.


Fernando Pessoa, "Cancioneiro"

 

Este é mesmo um sino da minha aldeia... está no portão da casa dos meus pais quase escondido pela enorme roseira que passa em arco por cima do portão... num fim de tarde de verão, ficou assim... a contraluz.

 

Alviães, Palmaz, Oliveira de Azeméis

Agosto de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:30

Foi um sonho que eu tive:

por Jorge Soares, em 17.08.11

Voando papagaio na Praia da Figueirinha

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Brinquedo

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela, 
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

Miguel Torga, Diário I, 1941

 

 

É giro quando os sonhos se cumprem... sonhos de meninos, que até podem ser graúdos...

 

Voando papagaio num fim de tarde na praia da Figueirinha

Setúbal, Outubro de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:28

A cegonha - Voar

por Jorge Soares, em 16.08.11

A cegonha

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Eu queria ser astronauta .. o meu país não deixou !
Depois quis ir jogar á bola .. a minha mãe não deixou
!
Tive vontade de voltar á escola .. mas o doutor não
deixou !
Fechei os olhos e tentei dormir .. aquela dor não
deixou !


Oh meu anjo da guarda faz-me voltar a sonhar ..
Faz-me ser astronauta e voar !

O meu quarto é o meu mundo ... o ecrã é a janela !
Não choro em frente à minha mãe ... eu que gosto tanto
dela !
Mas esta dor não quer desaparecer ... Vai-me levar com
ela !


Acordar meter os pes no chão ... levantar pegar no que
tens mais à mão !
Voltar a rir .. Voltar a andar .. Voltar! Voltar!

voltarei ! voltarei !! voltarei .. voltarei !!
voltarei !! voltarei !!
voltarei!! .. voltarei !!


Acordar meter os pes no chao ... levantar pegar no que
tens mais à mão !
Voltar a rir .. Voltar a andar .. Voltarei!

 

Tim

 

Ouvir aqui

 

Barragem de Montargil, Junho de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:27

A veia do poeta

por Jorge Soares, em 15.08.11

A veia do poeta.. o voo das borboletas

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

 

Cansado do movimento
Que percorre a linha recta
Fui ficando mais atento 
Ao voo da borboleta 
Fui subindo em espiral 
Declarando-me estafeta
Entre o corpo do real 
E a veia do poeta

Mas ela não se detecta 
À vista desarmada
E o sangue que lá corre
Em torrente delicada 
É a lágrima perpétua
Sai da ponta da caneta
Vai ao fim da via láctea 
E cai no fundo da gaveta

Ai de quem nunca guardou
Um pouco da sua alma
Numa folha secreta
Ai de quem nunca guardou
Um pouco da sua alma
No fundo duma gaveta
Ai de quem nunca injectou
Um pouco da sua mágoa 
Na veia do poeta

 

Rui Veloso

 

 

Borboletas no jardim...

Setúbal, Outubro de 2008

Jorge Soares

publicado às 12:25

Caminhos

por Jorge Soares, em 14.08.11

Caminho

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

À porta da minha rua, passam-se passos passajados. É o tráfego das linhas na encruzilhada do peão. De vez em quando, oiço um desvio. É um criança que cresce no desvario do pião.

 

Ai, menino, quem me dera que fosses a certeza deste íngreme caminho!

 

Lídia Silva

 

Setúbal, Abril de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:23

Desencontro

por Jorge Soares, em 12.08.11

Pesos

 

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Só quem procura sabe como há dias 
de imensa paz deserta; pelas ruas 
a luz perpassa dividida em duas: 
a luz que pousa nas paredes frias, 
outra que oscila desenhando estrias 
nos corpos ascendentes como luas 
suspensas, vagas, deslizantes, nuas, 
alheias, recortadas e sombrias. 

E nada coexiste. Nenhum gesto 
a um gesto corresponde; olhar nenhum 
perfura a placidez, como de incesto, 

de procurar em vão; em vão desponta 
a solidão sem fim, sem nome algum - 
- que mesmo o que se encontra não se encontra. 

Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

 

Jorge Soares

Óbidos

Julho de 2010

publicado às 12:19

Saudade

por Jorge Soares, em 11.08.11

Quem vai abrir agora as janelas?

Imagem Minha do Momentos e Olhares

 

Quem vai abrir as janelas que não fechaste...? 
Quem vai colher as flores que não semeaste...? 
Quem vai guardar as cartas que nao recebeste...? 
Quem vai ler as palavras que não escreveste...? 
Quem vai sentar-se à mesa no teu lugar...? 
Quem, no teu leito desfeito, se vai deitar...? 
Quem, as tuas roupas usadas vai vestir...? 
Quem, os sons que tu ouvias, vai ouvir...? 
Quem, a porta vai abrir, para eu entrar...? 
Quem, com um terno beijo me vai saudar...? 
Quem vai ensinar-me agora...a compreender ? 
...Como posso eu viver feliz...sem te ter?

 

Poema de Maria João Silva

 

Ouvir o poema declamado no Youtube

 

 

Algures num daqueles dias de verão em que dá gosto caminhar pela praia, numa praia da galiza

Agosto de 2010

Jorge Soares

publicado às 12:17


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