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Livro:A Ilha debaixo do Mar - Isabel Allende

por Jorge Soares, em 19.02.10

A ilha debaixo do mar -Isabel Allende

 

 «Todos temos dentro de nós uma insuspeita reserva de força que emerge quando a vida nos põe à prova.»

                           Isabel Allende, A Ilha Debaixo do Mar

 

Comprei este livro no inicio do ano, ainda antes do terramoto,  como já estava a ler 3, este ficou guardado, depois foi o terramoto e o Haiti entrou de um momento para o outro no nosso vocabulário do dia a dia de uma forma brutal e avassaladora.

 

Levo sempre um livro quando vou de viagem, foi este o que escolhi para levar para Cabo Verde... em boa hora, porque passei uma semana de enorme tensão e o livro funcionou como um escape.

 

Sou fã da Isabel Allende, acho que li tudo o que ela escreveu e cada um dos seus livros é uma nova descoberta, adoro a forma como nos envolve nas historias e no ambiente do livro.

 

Este não é um livro sobre o Haiti, é um livro sobre o povo do Haiti, mais que um romance é um livro de historia, que nos descreve o auge e a queda da mais rica das colónias francesas e a forma como de uma enorme mistura de culturas  se  tece o passado e o futuro de um povo.

 

O livro descreve a vida nas plantações de cana de Açúcar, o ouro branco das Antilhas,  a forma como eram  tratados os escravos, a forma como conseguem preservar algumas das suas tradições que darão origem ao Vudu que sobrevive até aos dias de hoje, a forma como das suas fraquezas fazem força e com elas enfrentam todo o poderio de uma nação europeia até a vergarem.

 

Como já disse noutro post, o Haiti foi a primeira nação a obter a sua independência na América latina, uma independência conseguida à custa de muito sangue, de muita vingança, de muita destruição que deixou marcas até ao dia de hoje... tudo isso é mostrado no enredo do livro através das vidas das personagens e da forma como vivem e morrem num meio que antes de mais, é sempre hostil e selvagem.

 

Em Suma, um excelente livro que está  à altura de todos os outros desta autora.

 

Sinopse:

 

Para quem era uma escrava na Saint-Domingue dos finais do século XVIII, Zarité tinha tido uma boa estrela: aos nove anos foi vendida a Toulouse Valmorain, um rico fazendeiro, mas não conheceu nem o esgotamento das plantações de cana, nem a asfixia e o sofrimento dos moinhos, porque foi sempre uma escrava doméstica. A sua bondade natural, força de espírito e noção de honra permitiram-lhe partilhar os segredos e a espiritualidade que ajudavam os seus, os escravos, a sobreviver, e a conhecer as misérias dos amos, os brancos. Zarité converteu-se no centro de um microcosmos que era um reflexo do mundo da colónia: o amo Valmorain, a sua frágil esposa espanhola e o seu sensível filho Maurice, o sábio Parmentier, o militar Relais e a cortesã mulata Violette, Tante Rose, a curandeira, Gambo, o galante escravo rebelde… e outras personagens de uma cruel conflagração que acabaria por arrasar a sua terra e atirá-los para longe dela. Quando foi levada pelo seu amo para Nova Orleães, Zarité iniciou uma nova etapa onde alcançaria a sua maior aspiração: a liberdade. Para lá da dor e do amor, da submissão e da independência, dos seus desejos e os que lhe tinham imposto ao longo da sua vida, Zarité podia contemplá-la com serenidade e concluir que tinha tido uma boa estrela.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 22:08

Não, não é culpa de deus, é mesmo nossa!

por Jorge Soares, em 27.01.10

Deus não existe, Ponto final!

 

O post sobre o Caim deixou-me frustrado, mal o publiquei e fui reler, fiquei com a sensação estranha que tinha estragado dois bons temas para dois posts, esta mania de escrever, publicar e só depois ir reler..... terminou numa coisa meio insossa, nem sobre deus, nem sobre o livro..... achei que dado o tema iria haver polémica.... mas confesso que não estava à espera de não ter comentários... ainda não percebi se o pessoal se cansou das minhas coisas... ou se tem medo de entrar em polémicas  comigo... mas isto está mal... COMENTEM PORRA! 

 

Entretanto, a Manu deixou um daqueles comentário que dá um post.. e dá mesmo.

 

Ela partiu da minha frase:


-" Se duvidas houvesse, está visto que deus não existe!"

 

Manu, eu não tenho dúvidas, Deus não existe, ponto final! mas quando vejo as reportagens sobre o Haiti e ouço as pessoas darem graças a deus por as ter poupado, não consigo deixar de pensar nas mais de 150000 pessoas que não tiveram a graça de deus, como pode alguém pensar que está vivo porque deus quis e não pensar nas outras pessoas todas que deus não quis?

 

Quando há muito tempo comecei a pensar nestas coisas, o primeiro que me fez confusão foi o motivo porque tudo o que há de bom é graças a deus e tudo o que há de mau é graças a algo que obrigatoriamente terá sido criado por deus, o diabo! Como é que um deus que consegue criar o universo, um deus que consegue criar a raça humana à sua imagem e semelhança, consegue criar um ser maligno que é responsável por tudo o que há de mau?.. terá sido o diabo uma falha de deus.... mas não é deus perfeito?, como pode ter criado algo imperfeito?

 

Porque digo isto Manu?... por pura retórica, porque na verdade a pergunta para mim não faz sentido, as coisas acontecem porque a natureza é feita de fenómenos físicos que se dão porque esta está em permanente procura do equilíbrio, e o equilíbrio no planeta em que vivemos implica que de vez em quando tenham que existir terramotos, é mesmo assim, e deus não tem nada  a ver com isso.

 

Se penso nesta frase  quando vejo crianças a morrerem de fome? ou maltratadas, ou  guerras?, não, não penso, só pensa nisso quem tem dúvidas, eu tenho a certeza que essas coisas acontecem porque continuamente falhamos como seres humanos, somos nós que não fazemos o suficiente para evitar que estas coisas aconteçam, pensamos muito no nosso bem estar e pouco no mundo que nos rodeia, vivemos comodamente no nosso mundo cheio de comodidades e esquecemos que há quem não tenha nada, não Manu, deus não tem nada a ver com isto, nós é que temos. Sim Manu, somos injustos, egoístas e egocêntricos, só pensamos em nós e no pequeno mundo que nos rodeia... e é de aí que vem muitas das coisas que referes no comentário.

 

Sobre a tua duvida final, quem fez tudo isto?.... bom, porque achas que haverá alguém que fez tudo isto?, já pensaste na hipótese de tudo isto existir desde sempre?, o universo é uma estrutura complexa que está em constante regeneração, é uma estrutura tão grande e tão complexa que nem conseguimos colocar por palavras ou números o seu tamanho e o número de objectos que o formam, não colocas a hipótese de simplesmente ser algo que existe desde sempre e existirá para sempre? Daqui a milhões de anos não restará sinal da nossa passagem por cá, não restará memoria da existência de deus, mas o universo continuará a existir... achas mesmo que algo assim foi criado?

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:34

Livro:Caim, José Saramago ..... e o Haiti

por Jorge Soares, em 24.01.10

Caim, José Saramago

 

A Distancia não permitia a Caim perceber a violência do furacão soprado pela boca do senhor nem o estrondo dos muros desabando uns após outros, os pilares, as arcadas, as abóbadas, os contrafortes, por isso a torre parecia desmoronar-se em silêncio, como um castelo de cartas, até que tudo acabou numa enorme nuvem de poeira que subia para o céu e não deixava ver o sol. Muitos anos depois se dirá que caiu ali um meteorito, um corpo celeste dos muitos que vagueiam pelo espaço, mas não é verdade, foi a torre de babel, que o orgulho do senhor não consentiu que terminássemos. A História dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.

 

José Saramago em Caim.

 

À falta de melhor, hoje na RTP as noticias sobre o Haiti durante longos minutos versaram o religioso, primeiro a missa ao lado do que resta da catedral, depois a visita a um sacerdote Vudú, uma festa evangélica com muita gente e de novo as pessoas na Catedral...  O José Rodrigues dos Santos ficou de certeza com tema para mais um ou dois dos seus livros.

 

Estava a ouvir as pessoas e não pude deixar de dar por mim a pensar em Saramago e no Caim que estou a ler, e não pude deixar de me lembrar de algumas passagens que já li. Quando escrevi o primeiro post sobre a tragédia que assolou este país que há muito tinha sido esquecido pelo mundo, houve uma frase que decidi retirar mesmo antes de carregar em Publicar, a frase dizia:

 

-Se duvidas houvesse, está visto que deus não existe!

 

Retirei a frase porque na verdade a mim não me restam dúvidas e era de ajuda que queria falar naquele dia.

 

A verdade é que se juntarmos a tragédia às palavras sobre deus que ouvi hoje na reportagem, tudo isto podia ser mais um capitulo do livro de Saramago, com José Rodrigues dos Santos no papel de Caim. Porque o livro é assim, um conjunto de reportagens  sobre os principais capítulos da bíblia, sobre deus, o homem e a relação entre ambos, uma relação feita de provas, desafios, prémios e castigos....   nada que não tivéssemos visto todos na bíblia,  mas raramente com olhos de ver.

 

Este é um livro bem escrito, eu não sou grande fã da escrita do Saramago, mas reconheço que este é um excelente livro.

 

Quanto à  história, ou às várias historias, a mim que sou ateu não me dizem muito, há muito que olho para a bíblia como um enorme guião para filmes de Hollywood, para quem acredita, talvez deveria ser um livro a ler com alguma atenção, há sempre outras formas de interpretar o livro que para muitos é sagrado.... esta é tão ou mais válida que outra qualquer.

 

Em suma, um bom livro, que a mim por vezes me fez sorrir pela clareza das conclusões, um livro que polémicas à parte, vale cada cêntimo que pagamos por ele.

 

 Jorge Soares

publicado às 20:45

Crianças do Haiti

Imagem de aqui

 

Ontem foi noticia o facto de haver portugueses a querer saber sobre a possibilidade de poderem adoptar crianças do Haiti, na verdade a noticia não me estranhou, sou sócio da Associação Meninos do Mundo e tinha ouvido sobre o assunto, além de que os logs aqui do jantar já me tinham mostrado algumas pessoas à procura de informação sobre o assunto. O que estranhei foi que os mesmos jornais que uns dias antes diziam que os portugueses só querem crianças brancas agora fazem noticias destas, afinal 99% da população do Haiti é negra, em que ficamos senhores jornalistas?

 

Para quem cá chega à procura de informação sobre adopções internacionais, o Haiti não é um país onde se possa adoptar, não se adoptam crianças do Haiti em Portugal, não se adoptavam antes e muito menos se irão adoptar agora, a adopção de crianças é um processo burocrático e jurídico, nas condições em que o Haiti se encontra neste momento, passarão anos até existirem estruturas capazes de assegurar qualquer processo legal. Há muitas outras formas de ajudar as crianças do Haiti, a adopção não será uma delas por muito tempo.

 

Já passou uma semana sobre a tragédia que se abateu sobre o país mais pobre do ocidente, e todos os dias há noticias que me deixam horrorizado, hoje no site do El Mundo lia-se o seguinte:

 

Elejam, a vida da criança ou as vossas, a noticia conta a historia de um grupo de resgate que encontrou uma criança e quando estava prestes a retira-la debaixo dos escombros, foi obrigado a sair dali, deixando a criança, porque as suas vidas corriam perigo às mãos de outros habitantes do Haiti....  

 

No mesmo jornal havia noticias que falam de uma guerra entre associações humanitárias  da França e dos Estados Unidos, que está a impedir que as operações decorram com a velocidade necessária. Enquanto os senhores discutem, os bens que poderiam salvar vidas acumulam-se num aeroporto que já não tem capacidade para armazenar mais... é triste ouvir e ler estas coisas.

 

Todos deveríamos tirar lições do que está a acontecer no Haiti, porque as pessoas não podem morrer a ver chegar os aviões com as coisas que supostamente as deveriam salvar, cada hora de atraso são muitas vidas perdidas, as pessoas não podem morrer com falta de material nos hospitais ao mesmo tempo que estes se acumulam num aeroporto com vista para a destruição.... há algo de muito errado neste mundo.

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:54

Haiti - O não país - Como ajudar

por Jorge Soares, em 14.01.10

Haiti, a destruição de um não país

 

O Haiti é o mais antigo estado da América Latina, obteve a sua independência da França em 1804 quando a sua população era de perto de 500000 habitantes, dos quais 5000 eram brancos e os restantes eram escravos ou pobres descendentes de escravos, e desde então a sua sina tem variado entre as invasões, e a miséria total.

 

Foi invadido pelos espanhóis, pelos franceses, pelos piratas, de novo pelos franceses, pelos Americanos, de novo pelos americanos.... nos intervalos entre invasões foi sendo governado por uma trupe de ditadores e até um imperador chegou a ter... sendo que a faceta mais conhecida dos seus habitantes é a crença do vudu que é praticado pela grande maioria.

 

A situação actual é a de um não país, sem exercito, sem serviços, sem nada, mais de 80% da população vive no limiar da pobreza e se ainda resta algo é graças à presença da organização das nações Unidas que desde 2004 praticamente governa o pouco que restava.

 

Como prova de que nunca se está suficientemente mal, a natureza encarregou-se de destruir o pouco que restava,  hoje durante todo o dia as imagens que iam chegando ao mundo é a do desespero total, os relatos são aterradores e extremamente preocupantes pelo facto de que o que vemos é uma população abandonada à sua sorte, sem nenhum tipo de apoio. 

 

Estava à pouco a ler esta noticia do Público onde se diz o seguinte:

 

"- Não recolha água, alimentos nem roupas para o Haiti porque o país não dispõe das infra-estruturas necessárias para os distribuir;

- Opte por doar dinheiro a organizações de ajuda humanitária reconhecidas, permitindo aos profissionais obterem exactamente aquilo que é preciso sem sobrecarregar os recursos já escassos para os transportes e armazenamento;"

 

Está na mesma noticia, mas deixo aqui a lista das instituições que estão a  receber ajuda para o Haiti:

 

Cáritas Portuguesa – pode fazer donativos na conta "Cáritas Ajuda Haiti", com o NIB 003506970063000753053 da Caixa Geral de Depósitos

Cruz Vermelha Portuguesa – pode fazer donativos para o Fundo de Emergência da organização em vários bancos, indicados no site 
http://www.cruzvermelha.pt/cvp_t/, ou por telefone para o número 760 20 22 22 de atendimento automático (custo da chamada é de 0,60€ + IVA)

Ajude a Missão de emergência da AMI no Haiti – contribua para esta missão através do NIB: 0007 001 500 400 000 00672 Multibanco: Entidade 20909 Referência 909 909 909 em Pagamento de Serviços

Associação Amurt – contribua para esta organização através da conta na CGD. NIB: 0035 2168 00020393630 21 ou cheque à ordem de Amurt - Associação de Apoio Social e Humanitário, enviados para Rua Visconde de Santarém, nº 71 3º andar, Sala 1 1000 - 286 Lisboa. Mais informações em 
http://www.amurt.pt/donativos 

Angariação de Fundos "Emergência no Haiti" da Oikos – contribua para esta campanha com transferências bancárias para o NIB: 0035 0355 00029529630 85, em conta da Caixa Geral de Depósitos.

Associação para a Cooperação, Intercâmbio e Cultura – os donativos poderão ser feitos através do número bancário 0033.0000 45207093568 05 e os bens alimentares não perecíveis e medicamentos devem ser entregues na sede da associação, na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, em Lisboa.

Associação Adventista para o Desenvolvimento, Recursos e Assistência – foi aberta uma conta destinada a recolher donativos para respostas de emergência (0046 0017 00600031123 74).

Rede Miqueias (de igrejas evangélicas) – campanha SOS Haiti – donativos para a conta 0697 6358 596 30, da Caixa Geral de Depósitos (NIB - 0035 0697 0063 5859 63074)

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:30


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