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Trabalho infantil

 

Imagem do Público

 

Lembro-me como se fosse ontem, em Caracas, na esquina da Avenida Los Proceres com a Carlos Soublette ficava a Panaderia los Proceres, um dos sócios era da Bairrada o outro da Madeira, e foi lá que com onze anos, em Setembro ou Outubro, mesmo antes de começar a escola, comecei a perceber o que era  vida. Servir ao balcão, tirar cafés, limpar o chão, ajudar os padeiros e o pasteleiro, fazer de tudo um pouco. 

 

Começou por ser uma ajuda para a economia familiar que nos primeiros tempos não ia lá muito bem, e com o tempo passou a ser um hábito que se manteve até quase ao fim do Liceu.

 

Eram outros tempos, um tempo em que quem emigrava não eram os jovens licenciados e sim os operários do interior que se queriam educar os seus filhos e ter uma vida mais ou menos decente, só tinham um caminho a seguir, o caminho que os levava para longe da família, dos amigos e da vida que até aí tinham conhecido.

 

Nem sempre as coisas corriam bem e após um ano em que as coisas não correram nada bem e em que os meus pais comeram o pão que o diabo amassou, calhou-me a mim dar uma mão na economia familiar, felizmente as coisas compuseram-se e de uma necessidade passou a ser um hábito... que se manteve quase ininterruptamente até hoje. Mesmo assim não me posso queixar muito da minha sorte, muitos dos meus colegas da escola primária lá na aldeia já nem ao ciclo chegaram.

 

Hoje os tempos são outros, o mundo é outro e custa-me a acreditar que como diz a notícia do Público, haja crianças portuguesas que estão a emigrar para trabalhar, principalmente quando a mesma noticia diz que a emigração é para outros estados-membros da UE.

 

Se eu acho que me fez mal trabalhar? não, não acho, mas também  acho que podia ter sido muito melhor aluno se estudasse o mesmo que os meus colegas estudavam e tinha de certeza sido muito mais feliz se tivesse usado a minha infância e parte da minha juventude para jogar à bola,  fazer amigos e conquistar miúdas em lugar de estar o tempo todo com adultos.

 

Os tempos não são fáceis, mas estamos muito longe do que eram há 30 ou 40 anos acho que no meio disto tudo há gente a aproveitar-se da situação para pintar o quadro ainda mais negro do que ele realmente é, convém não confundir as coisas, mas espero sinceramente que quem diz e escreve estas coisas, mostre e denuncie os casos reais, para que todas as crianças de Portugal e do mundo possam ter direito à sua infância e juventude.

 

Jorge Soares

publicado às 21:20

O regresso da roda dos bebés enjeitados

por Jorge Soares, em 14.06.12

rodadosenjeitados.jpg

 

Imagem de aqui

 

A roda dos enjeitados apareceu em Portugal na idade média, era um dispositivo onde os filhos ilegítimos e indesejados eram deixados em segredo para serem criados na casa da roda. Era um sistema oficial que na maior parte dos casos servia para lavar as desonras sem que existisse forma de se identificar a mãe ou qualquer familiar.

 

Este sistema esteve em vigor no nosso país até ao ano de 1867 quando as rodas foram extintas por decreto, actualmente em Portugal, e tal como expliquei neste post, as crianças devem ser entregues no hospital no momento do nascimento e só vão para adopção após verificação por parte do tribunal de família e menores que não há familiares directos que os queiram receber.

 

Em Portugal é assim, mas por incrível que pareça, há países na Europa em que em pleno século XXI, existem versões modernas da roda dos enjeitados. Segundo noticia do Público, este dispositivo da idade média voltou a aparecer nos seguintes países: Alemanha, Áustria, Suíça, Polónia, República Checa e Letónia, sendo que desde o ano 2000 mais de 400 crianças foram abandonadas desta forma.

 

É verdade que é sempre preferível  a existência de sistemas deste tipo à morte do bebé à nascença ou o abandono no lixo, mas por outro lado, é um incentivo a que se escondam as gravidezes, a que estas não sejam seguidas e à existência de partos em segredo, sem apoio e sem assistência médica. Ninguém que está a pensar deixar um bebé em segredo vai contar ao seu médico que está grávida ou irá ter o bebé no hospital, onde mãe e criança são identificadas.

 

Na maioria dos casos quem está por trás das rodas são instituições ligadas à igreja e/ou a grupos de pressão contra o aborto, entendo o principio, mas não me parece que seja esta  a melhor forma de lutar contra o aborto. A diminuição do número de abortos e bebés abandonados terá sempre que passar por educar e formar as mulheres para uma vida sexual responsável  que evite as gravidezes, e não por facilitar o abandono dos seus filhos à nascença.

 

A idade média foi a época das trevas, muito mal deve ir a nossa sociedade para que se revivam estas coisas.

 

Jorge Soares

publicado às 22:35


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