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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem da Sic Noticias
"Cresci com a doença e com o preconceito, vivi quase tudo o que uma criança não deve viver. Na escola fui impedida de brincar com os outros meninos. Chamaram-me “sidosa”. Fui uma adolescente insuportável porque para além de todas as dúvidas que surgem nessa altura eu tinha ainda a revolta de ser portadora de VIH.
Hoje faço uma vida igual à das jovens da minha idade. Tenho um pequeno acréscimo que é o VIH, mas tomo a indispensável medicação diária e vou às consultas regulares. De resto não sou diferente. Faço uma vida exatamente igual a todas as outras raparigas de 19 anos.
E agora estou num momento decisivo da minha vida: quero realizar o meu sonho, quero muito ir para a faculdade, estudar psicologia, porque é uma coisa que me fascina e que eu não consigo explicar. Faço-me entender? "
Acho que sobram as palavras, uma reportagem que todos deveríamos ser obrigados a ver.. é meia hora de vídeo... mas acreditem, é uma meia hora bem empregue.
Imagem do HenriCartoon
A noticia é de sexta feira, mas por cá a Cimeira da Nato engoliu tudo o resto e só hoje dei por ela. Parece que numa entrevista a um jornalista Alemão que deu origem a um livro que sai esta semana, o papa "admitiu a utilização do preservativo “para reduzir “em certos casos” os riscos de contaminação” do vírus da sida"
Mais vale tarde que nunca, haverá que ler o livro e ver o enquadramento da frase.. assim como esperar pela reacção das correntes mais radicais da igreja. Não devemos esquecer que foi este mesmo papa que na viagem para Angola e referindo-se à luta quase inglória contra a Sida que se trava em África, disse que a distribuição de preservativos não melhora a situação só a piora.
Tenho estado a ler os comentários e a julgar pela forma quase festiva com que a afirmação do papa foi recebida, parece que afinal há muita gente na igreja que é contra a forma como a instituição olha para este assunto, parece que estava tudo à espera de um comentário como este para sair do armário.. em Portugal, no Vaticano e até na ONU.
Em África a Sida é uma espécie de peste negra que alastra quase sem controlo.. esperemos que estas declarações sejam mesmo para levar a sério e que sejam o inicio de um virar de página numa instituição que há muito vive arredada da realidade do mundo.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Passei o fim de semana no Alentejo a acampar, esta vez foi mesmo de tenda, acreditem ou não, sobre o que aconteceu no mundo nestes 3 dias, o único que segui foi o futebol, desde o jogo de Portugal contra o Brasil ouvido no rádio em viagem, até ao jogo desta tarde da Holanda.. ouvido no rádio e em viagem.
De resto, não havia jornais no parque, e todo o tempo era pouco para a boa conversa, para desfrutar da magnifica paisagem da barragem ou para as crianças. Bem que podia ter terminado o mundo... que dificilmente daríamos por isso...
Não os vou maçar com a descrição do fim de semana, mas não se livram da maçada... vou deixar aqui algo que me tocou, porque é uma realidade que temos tendência a esquecer, e porque de vez em quando faz falta olhar para o mundo com olhos de ver.. que há mais mundos além do nosso... e pensado bem até faz sentido, não fosse o futebol, não fosse este mundial que se realiza em África, o mundo continuava a olhar para o lado.
Quando nada faz sentido
Tem 18 meses mas mal sabe andar. Tem movimentos lentos quando gatinha. Senta-se, serena, e olha-me inclinando a cabeça. Olhos semicerrados e sem sorrisos. Olha-me.
É pequena. Muito pequena. E noto-lhe a fragilidade quando chega à minha beira. Acabei de chegar e estende-me os dois braços. Não é um pedido... é uma urgência. Não é um capricho. É uma necessidade. Nunca me viu mas precisa que lhe dê o que não tem. Estende-me os braços e pego-a ao colo.
É excessivamente leve. Mantém os movimentos lentos quando encosta a sua cabeça à minha. Meto-lhe a mão debaixo da camisola. Faço festas por cima de pequenas feridas. Dezenas delas, espalhadas pelo corpo. Não sei o seu nome para a confortar mas falo com ela inglês. Seguro-lhe a mão gelada enquanto a deito no meu colo. Seguro-a como se fosse minha. Aconchega-se e agarra, com força, o meu dedo. Larga-o para conhecer o botão do meu casaco ou para me tocar no rosto.
Chamam-na por um nome zulu. Lamento a minha dificuldade em pronunciá-lo. Todos os seus gestos transportam uma lentidão assustadora. Olha-me reflexiva. Intensa. Por pouco adormece. Ficava ali uma vida. Eu dar-lhe-ia uma, se tivesse.
Seguro-a com a ferocidade de quem a disputa com o tempo e com a doença. Tem 18 meses e não chegará aos 20 anos. É seropositiva.
Sento-me no chão do refeitório e correm três, desengonçados, para o meu colo. Um em cada perna, enfiados no ângulo do ombro e do braço. O da direita adormeceu ali... sujo de arroz e carne, tombou nos meus braços de sono. O outro mexe-me nos óculos, curioso. Ao fundo, Amigo arrasta-se de quatro com os seus 6 ou 8 meses. Ninguém sabe muito bem... A mãe deu-lhe o nome de Amigo e deixou o Amigo na maternidade. Pequeno, sozinho e infectado com HIV. Amigo saiu da sala de partos... para aqui.
Falta-lhes tudo. Saúde e mimo. E aqui, fazem o que podem.
Sedentos de ternura, partem para a sesta. Já fizeram a medicação da manhã. Partem para a sesta e não me vêem partir. Melhor assim... Não os quero ver partir. Ninguém os quer ver partir... Hoje adormeço com um coração geneticamente dorido.
Rita Marrafa de Carvalho no Mundial à Parte
De vez em quando dou por mim a olhar para os logs do Blog e já não é a primeira vez que alguém cá chega depois de colocar no google a frase:
"Porque deus não faz milagres em África?"
As pessoas vão parar ao meu post que diz: deus não existe ponto final e não resistem a entrar.
Não deixa de ser uma pergunta interessante. Está claro que deus há muito que não vai a África, um continente onde uma série de flagelos continuam vivos e bem activos, parece que as sete pragas partiram do Egipto e se espalharam por todo o continente até hoje. Em África, quando não se morre numa qualquer guerra civil, morre-se de fome, ou de sede, ou de cólera, ou de malária, ou ao tentar fugir a todas estas pragas,morre-se afogado quando o barco em que se tenta fugir naufraga no mar. Uma das últimas grandes pragas que se instalou em África foi a Sida, países como o Congo, os Camarões ou Moçambique ,tem perto de 25% da sua população infectada pelo vírus.
Eu sou daqueles que não vejo na igreja nada de positivo, é uma instituição retrógrada que vive aferrada a dogmas e ao passado, não evolui e não quer evoluir. Esta semana o pretenso representante de deus na terra, o chefe da igreja católica, foi de visita a África.... de pessoas com a sua responsabilidade, à falta de mais, esperamos pelo menos o bom senso.. mas não, na igreja católica não há bom senso..e pelos vistos também não há inteligência nenhuma. Dizer que a distribuição de preservativos não melhora a situação só a piora, é muito grave... é fechar os olhos à realidade, fingir que ela não existe... é criminoso.
Por muito que eu tente não consigo perceber o sentido da afirmação do senhor, alguém me explica?
Jorge
PS:Imagem retirada de Arrastão
Nos últimos dias e a propósito de casamentos, tem-se falado muito de descriminação no nosso país, infelizmente a descriminação não se esgota nos casamentos, vai muito mais além, aliada desta vez à ignorância.
Este post da Sonia chamou-me a atenção para esta noticia do Publico. Já aqui tinha falado sobre isto, a minha opinião não mudou entretanto, vou copiar aqui o post que fiz no dia 20 de Novembro do ano passado.... as minhas desculpas a quem já o leu.
O caso do dia é a sentença que dá razão a um Hotel no despedimento de um cozinheiro simplesmente porque era HIV - positivo, isto apesar de todas os pareceres científicos que dizem que a probabilidade de alguém apanhar o vírus através do seu contagio, andar na mesma ordem de grandeza que a de se ganhar o Euromilhões.
Isto tudo fez-me recordar uma pessoa que conheci por acaso e de maneira efémera, há muitos anos atrás.
Algures no ano 1992 ou 93, estava eu na loja da Valentim de Carvalho no Rossio... acho que já não existe, e acercou-se a mim um jovem, teria mais ou menos a minha idade, tinha um alicate e arame de cobre na mão, enquanto falava ia moldando o arame. Disse o nome, e que era portador do HIV, falou-me do vírus, e das dificuldades que sentia, ele e os portadores, para poder viver na nossa sociedade.
No fim da conversa, ele tinha moldado um quebra-cabeças de arame, e disse-me que era para mim, não custava nada, mas que agradecia se eu o pudesse ajudar com algum dinheiro, não era fácil a vida para ele, não conseguia arranjar emprego.
Eu era um estudante deslocado em Lisboa e sem muitas posses, ofereci-lhe 500 Escudos, e algumas palavras, para a média eu era uma pessoa informada sobre o assunto, disse-lhe isso e algumas outras coisas, lembro-me de no fim lhe ter apertado a mão e senti que ele ficou surpreendido, comovido, percebi que ele não estava à espera de aquele aperto de mão.
Ora isto foi em 1992 ou 93, na altura não existia a informação que existe agora, não sei o que terá acontecido com aquele ser humano, como não sei o que aconteceu com o quebra-cabeças de arame, de vez em quando lembro-me dele. Estamos em 2007, passou muito tempo, vivemos na era da informação, do google, todos deveríamos saber que o HIV é só mais um vírus, como é possível que três juízes dêem uma sentença destas?
E já agora, o que é que estes juízes acham que esta pessoa deve fazer para viver?, ir pela rua com arame de cobre e um alicate a fazer quebra cabeças?
Justiça, procura-se!
Jorge