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Continuamos a ser Charlie?

por Jorge Soares, em 07.01.16

jesuischarlie.jpg

 

Imagem de aqui

 

Passou um ano desde o ataque ao Charlie Hebdo, naquele dia acordamos por via indirecta e da pior forma para a realidade de uma guerra que até aquele momento estava longe da vista e longe do coração algures Síria e no Iraque.

 

Durante uns dias e perante o choque de uma dúzia de mortos numa cidade que para muita gente é um símbolo do romantismo, todos fomos Charlie e todos condenamos a barbárie de um ataque cobarde e, aos nossos olhos, sem sentido.

 

Passado uns tempos a mesma guerra haveria de nos entrar de novo pela casa dentro via televisão e redes sociais na forma de centenas de  milhares de pessoas que deixando tudo para trás e muitas vezes arriscando as suas vidas e as dos seus,  insistiam em atravessar fronteiras para poderem ter direito a aquilo que a maioria de nós dá por garantido, uma vida.

 

Nessa altura a maioria esqueceu-se que era Charlie e que aquelas pessoas queriam chegar à Europa, rica,  precisamente porque estavam a fugir dos mesmos que (nos) tinham atacado em Paris... ser Charlie é giro desde que eles fiquem na terra deles ou na terra dos que são como eles.

 

Entretanto a guerra voltou a Paris, esta vez de uma forma mais organizada e talvez por isso as mortes passaram da dezena para mais de uma centena.... e um destes dias voltará em Paris ou noutra cidade europeia qualquer e quem sabe quantos mais morrerão.

 

Apesar de do Charlie Hebdo, do Bataclan e de todas as vidas que se perderam, a verdade é que na Síria e no Iraque tudo continua igual, nada mudou, a guerra continua e pouco ou nada se fez para que as coisas mudassem, os bons e os maus continuam a ser apoiados e alimentados, porque para além dos milhares que fogem e/ou morrem, por trás de tudo isto há sempre alguém que ganha com a guerra, com esta ou com outra qualquer e por isso não interessa muito que ela acabe.

 

Continuamos a ser Charlie? Não, claro que não, porque na maior parte dos casos nunca o fomos.

 

Jorge Soares

publicado às 22:50

Angela ... ou Umm

 

Imagem do Expresso 

 

Hoje, para além de um novo vídeo em que um jovem que já foi identificado como sendo inglês, decapita barbaramente mais um jornalista americano, há uma reportagem no Expresso sobre uma jovem portuguesa que deixou a sua família e a sua vida para ir para a Síria com o único propósito de se casar com um combatente da jihad, o marido também é português e para além do Facebook, eles nunca se tinham visto antes.

 

A jovem, que vivia com a mãe na Bélgica, tinha uma vida perfeitamente normal como qualquer outro jovem ocidental e de um dia para o outro decidiu abraçar o islamismo na sua versão mais ortodoxa, tendo inclusivamente passado a vestir burqha.

 

Tenho lido os mais diversos comentários sobre este fenómeno que leva a que jovens que muitas vezes nem tinham nenhum contacto com a comunidade muçulmana dos países em que vivem, de um dia para o outro não só se convertam, mas abracem a religião de uma forma completamente fanática. Raramente consigo concordar com algum destes comentários.

 

Consigo perceber que jovens que são criados no seio da religião muçulmana olhem para ela de uma forma mais ortodoxa, tal como consigo perceber que haja jovens católicos que aspirem a ser freiras ou padres, ou jovens judeus que decidem converter-se em ortodoxos. Mas como entender que uma jovem católica culta e educada decida de um dia para o outro passar de um estilo de vida ocidental e mundano para uma vida em que a mulher tem um papel completamente secundário e passivo, em que não pode sequer sair à rua sem autorização do marido e sem vestir burqha?

 

O que acontece na Síria e no Iraque actualmente não deve estar muito longe do que aconteceu na idade média europeia em que grupos de jovens católicos europeus iam para o médio oriente para com as armas obrigar a quem por lá vivia a converter-se ao catolicismo, na altura utilizavam-se lanças e espadas, agora utilizam-se ak47 e canhões, mas se pensarmos bem, o fim a que se propunham e a barbárie com que o faziam, não devem andar muito longe.. só que agora as imagens entram-nos pela casa dentro via televisão ou Facebook.... No fundo tudo se resume a fanatismo religioso transvestido de guerra santa.

 

Ou seja, há jovens europeus que estão a repetir a história, só que na idade média estavam do lado dos bons e agora estão do lado dos maus... ou ao contrário.

 

Para mim que abomino qualquer tipo de religião, tudo isto só me deixa a pensar que será que o que leva os jovens europeus à jihad? Religião, fanatismo, loucura?

 

Certo, certo certo é que em algum lado estamos a falhar, porque loucuras  como as que vimos hoje e nos últimos dias não podem estar a ser cometidas pelos nossos filhos sem que a sociedade europeia e ocidental não tenha falhado algures...

 

Pelo sim pelo não, no que de mim dependa os meus filhos irão de certeza estar longe da religião... de qualquer uma delas... só aprendendo a pensar por si mesmos e sem estarem apegados a dogmas ou tabusse podem tornar  em jovens equilibrados.

 

Jorge Soares

publicado às 22:06


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