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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do DN
Tenho seguido com alguma atenção as noticias sobre a a suposta proibição de que se fale português nas escolas do Luxemburgo.
Logo da primeira vez que ouvi a noticia na televisão estava com a minha filha R. e a surpresa e curiosidade dela fiquei sem resposta, o único que me lembrei é que e que lhe expliquei foi que luxemburguês é uma língua em vias de extinção e haveria por parte das autoridades escolares alguma vontade de a proteger... não faz muito sentido.
Depois dei por mim a pensar, eu emigrei em criança, tinha 10 anos quando cheguei a Caracas, não falava uma palavra de castelhano, passado um mês entrei para a escola pública e a verdade é que raramente voltei a falar português, na escola, na rua com amigos, incluindo os portugueses, até em casa com o meu irmão, sempre falei castelhano... se calhar será também muito por isso que sempre fui bom aluno e que sempre me integrei completamente até ao ponto de para quem não me conhecia, passar sempre por venezuelano e nunca por estrangeiro.
É evidente que estamos a falar de um país diferente, de uma cultura diferente e de formas de integração completamente diferente e opostas. Na Venezuela todos nos sentíamos venezuelanos e sempre nos sentimos completamente integrados no país e na cultura... o que a julgar pelo que tenho visto e ouvido, nem sempre acontece com quem emigra para o Luxemburgo e outros países da Europa.
De tudo o que ouvi, o que mais impressão me fez foi o seguinte:
"Para o presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), a proibição pode levar também a um sentimento de desvalorização da língua materna"
Língua materna? Será que alguém parou para penar o que será a língua materna para uma criança que viveu a maior parte da sua vida num país estrangeiro? Será que é mesmo o português?
De novo posso falar por mim, passados dois ou três anos de viver em Caracas a minha língua materna era o castelhano, era nessa língua que eu tinha que estudar, namorar, viver... é evidente que continuava a ler e a falar português quando era necessário, mas a minha língua não era nem podia ser o português.
Quando aos vinte anos voltei para Portugal, a minha língua passou naturalmente a ser o português, passados dois ou três meses até aos "ãos" me tinha habituado .. e a vida seguiu em frente.
Sinceramente não entendo toda esta polémica, acho que no Luxemburgo se as crianças não estão numa escola bilingue, se são avaliadas em luxemburguês, faz todo o sentido que falem na língua da escola e percebo perfeitamente que os professores não gostam e/ou não queiram, ter no meio das aulas crianças a falar entre si numa língua que na maior parte dos casos nem eles nem as restantes crianças entendam.
É evidente que há aqui excesso de zelo quando se proíbe também no recreio, mas para ser sincero, eu não vejo vantagem nenhuma que as crianças que vivem no centro da Europa não tenham como língua principal outra qualquer que não o português, queiram os pais ou não, a verdade é que na sua grande maioria é lá e não cá que eles vão ter que se desenvencilhar na vida... e para vir cá nas férias, o português que se fala em casa basta e sobra.
Jorge Soares
Os comentários aon post de sexta feira sobre as tiradas de algum juízes levou-me a recordar um post que escrevi há mais de três anos, há assuntos que não morrem... .. leiam .. e comentem, o que acham?
«Que escrever quando os olhos ainda se enublam de lágrimas de emoção, e o peito ainda palpita com a vibração da anciedade enorme que o agitou durante estes dias de gloria e de tragedia? Quem viveu esses dias inolvidaveis, unicos da vida, não julga possivel traduzil-os ainda na expressão mais bella e mais sentida da palavra humana.».
O texto, tal como a imagem, foi retirado do blog Dias que Voam, e terá sido transcrito de um exemplar do jornal A Capital do dia 5 de Outubro de 1910 que foi hoje distribuído, pela autora do post. A mim chamou-me a atenção a forma escrita das palavras anciedade, enublam e bella... ainda que poderiamos questionar na falta de acentuação de algumas outras.
Terá sido coincidência, mas antes de entrar no Dias que Voam, tinha por puro acaso ido parar a um outro blog em que se podia ler: Este Blog Não adopta o acordo ortográfico. Nada de mais, já vi outros blogs com a mesma frase e quer-me parecer que tal como a fitazinha do Piaçaba, também esta irá virar moda. O problema é que depois de tentar ler o post que me levou até lá e mais um ou dois anteriores, a mim pareceu-me que o único que ali estava escrito em português, com ou sem acordo ortográfico, era esta frase, o resto era um monte de palavras abreviadas, meio escritas e com muitos k's pelo meio.. A mim custa-me entender que alguém faça gala de ser contra o acordo ortográfico e depois não se dê ao trabalho de pelo menos tentar escrever num português decente... e escreva coisas como esta: "atao tu qe tens uma biblioteca em casa"
Voltando ao texto transcrito, a mim deixou-me a pensar, partindo do principio que o jornal não vem com erros ortográficos, quantos acordos terão sido necessários para que anciedade passa-se a ser ansiedade e para que bella seja bela?
A maioria das pessoas que conheço é contra o acordo ortográfico e jura a pés juntos que nunca escreverá da nova forma, já se puseram a pensar que se não tivessem existido vários acordos desde 1910 até hoje, ansiedade continuaria a ser anciedade?... e que se não tivessem havido vários antes desse, quem sabe o que estaríamos a utilzar hoje em dia para escrever?
Segundo a Teresa na resposta ao meu comentário, "o primeiro acordo ortográfico (não formalizado enquanto tal) se deu com o pai de D. Dinis, o rei de cognome 'O Bolonhês' e por influência do antigo Provençal ('ñ' passou a ser grafado como 'nh' durante o reinado de Afonso III, um mero exemplo)"
Basta olhar para o texto para percebermos como a nossa língua é algo vivo, para vermos a forma como mudou em 100 anos... e para entendermos que não há nada a fazer, ela vai continuar a sua evolução natural
Tal como disse noutro Post, As palavras também morrem ... ... porque nascem, e tudo o que nasce, mais tarde ou mais cedo, morre.
Jorge Soares