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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Terminei de ler há bocadinho, no fim dei por mim a olhar para a capa e a pensar:
-O Herói discreto??, raio de coisa, li o livro até ao fim e não fazia ideia do nome.
Mário Vargas LLosa é um dos meus escritores preferidos, desde "A cidade e os cachorros" que li e me marcou ainda adolescente, passando por o fantástico "A tia Júlia e o escrevedor" até "Travessuras de uma menina má" de que falei aqui nos primórdios do Blog, se não li todos, li a maioria dos seus livros.
Hoje percebi que comprei o livro não pelo nome mas sim pelo autor, aliás, se olharmos para a capa percebemos que o objectivo será mesmo esse, o nome quase que se perde no meio do nome do autor.
O autor tem uma forma de escrita característica, as várias histórias vão-se contando entre capítulos numa linha desconexa que algures se há-de encontrar lá para o fim. A sensação com que ficamos é que não estamos a ler uma história, mas sim duas ou três.. ou várias.
Neste livro é ainda mais estranho, há histórias e até diálogos que se misturam no meio dos capítulos, sem que isso nos faça perder o fio à meada ou o interesse pela história
Podemos gostar mais ou menos dos livros, mas Vargas Llosa não perde o jeito, eu não tinha gostado nada de um dos últimos que li e que supostamente até o levou ao prémio Nobel, e de que falei neste post, este fez-me reconciliar com o autor. As histórias de cada uma das personagens vão-se compondo pouco a pouco até nos deixarem uma imagem forte da sociedade e das formas de vida do Peru e do seu povo.
Um excelente livro, que aconselho vivamente
Sinopse:
"Felícito Yanaqué é um homem de cinquenta anos, respeitado pela comunidade e proprietário de uma empresa de transportes que fundou e fez prosperar na cidade de Piura, no noroeste do Peru. Sem instrução, oriundo de uma família pobre e gestor cuidadoso dos seus bens, Felícito conquistou tudo a pulso, de uma forma tranquila, discreta e constante, atributos que se poderiam também aplicar à sua personalidade. Casado, com filhos já adultos, Felícito Yanaqué mantém uma amante de longa data, exuberante beleza da cidade. E também outra relação - não de natureza sexual - com Adelaida, uma vidente cujo conselho Felícito segue quase sempre, quer se trate de negócios ou de matéria puramente pessoal ou, mesmo, íntima.
Tudo corre bem na sua cidade; tudo normal. Só que Felícito Yanaqué começa a receber cartas anónimas de extorsão; e quando a ameaça de represálias passa à concretização, Yanaqué decide resistir a tudo isto sem apoio, estoica e discretamente. Como um herói.
Imagem de aqui
De modo a aproveitar as vantagens da compra pela net, a minha meia laranja esteve a encomendar os manuais escolares dos miúdos, uma no 11º, um no 9º e a mais nova no terceiro ano, o preço dos livros dos três ficou na módica quantia de quase 600 Euros... isto já com bónus e descontos....
Felizmente não é o caso por cá, mas imagino que para muitas famílias isto será o valor do subsidio de férias... pelo menos para aqueles que não tenham optado (obrigados ou não) pelos duodécimos.
Apesar de só terem passado dois anos desde que a mais velha passou pelo 9º ano, não há um livro dela que se aproveite para o irmão... isto faz algum sentido? Porque é que não há uma lei que garanta que os manuais são iguais para todas as escolas e tem que durar pelo menos 5 anos? Porque é que durante todo o percurso escolar dos meus filhos, apesar de só terem um ano escolar pelo meio, NUNCA foi possível aproveitar um manual que fosse?
Estamos em época de eleições, se alguém prometer colocar ordem nisto, juro que tem o meu voto.
É a isto que chamam educação gratuita?
Jorge Soares
Imagem de aqui
Vai fazer vinte anos que deixei de viver em Lisboa, apesar de lá ir todos os dias, nesses vinte anos não me lembro de ter ido uma única vez à feira do Livro.
Quando estava na Faculdade e vivia em São Bento, a feira ficava num dos percursos que costumava fazer a pé para casa, pelo que passava lá montes de vezes. O meu orçamento de estudante deslocado não dava para muito, pelo que a maioria das vezes só ia mesmo aos stands dos alfarrabistas e aos que tinha livros usados, mesmo assim todos os anos o número de livros comprados passava da dezena.
Hoje voltei lá, fui com a R. a leitora compulsiva cá de casa. Nada está muito diferente do que me lembro, inclusivamente os stands dos livros baratos estão no mesmo sitio... e foi por lá que comecei mesmo.
Antes de sair de casa a minha meia laranja recordou-me que não era para deixar lá o salário do mês, não era para comprar todos os livros que a R. queria ... nem todos os que eu queria, vá lá, um ou dois para ela e um ou dois para mim..
Como disse começamos pelos alfarrabistas, logo no primeiro Stand quando dei por mim já a R. estava com 3 livros na mão... mostrei-lhe o tamanho da feira e disse-lhe para escolher um... no segundo escolheu outro... e dois ou três stands depois já tinha outro...Ainda nem tínhamos entrado na Feira e já ela tinha esgotado o orçamento .
Antes de termos recorrido um quinto da feira já ela tinha 3 livros e eu outros três... comecei a ver a coisa mal parada. A partir de ali decidimos passar a ser mais selectivos, mesmo na feira os livros são (muito) caros e não há orçamento que aguente.
Estivemos 3 horas para cima e para baixo, no fim voltamos com 8 livros e uma agenda (oferta na compra de um dos livros)... e com uma enorme vontade de comprar muitos outros... pode ser que um destes dias nos saia o euromilhões....
A R. que adora livros e livrarias, adorou a sua primeira visita à feira. Eu encontrei quase a mesma feira de que me recordava dos meus tempos de vida em Lisboa, a vantagem é que agora a feira não é em época de exames e não vou ter que esperar para Agosto para ler os livros que comprei.
Fiquei com muita vontade de lá voltar... não sei se poderá ser este ano... mas de certeza que não vão passar 20 anos como desde a última vez.
Jorge Soares
Isabel Allende é de longe minha escritora favorita, cresci a ler Gabriel Garcia Marquez, Rómulo Gallegos, Vargas Llosa.. entre outros autores do Realismo Mágico, uma corrente literária nascida na América latina que nos seus romances mistura de uma forma quase perfeita o realismo do dia a dia com a vivências religiosas, as crenças que vieram de África com os escravos e o modo de vida dos aborígenes.
Isabel Allende será talvez a última grande escritora desta corrente de escrita que podemos encontrar em cada um dos seus livros.
O Jogo de Ripper é um livro diferente que quando foi publicado nos estados Unidos chegou a causar alguma polémica. Começou por ser catalogado como um Thriller da literatura policial, até que a autora apareceu em público a esclarecer que não gostava especialmente do tema, que o achava pesado e não conseguia escrever assim, por isso decidiu escrever algo que seguisse os mesmos moldes mas que tivesse alguma ironia ao colocar a investigação nas mãos de uma adolescente de 16 anos.
O livro que é pautado pelo ritmo dos assassinatos que vão acontecendo e que são investigados à distancia por Amanda, a jovem de 16 anos, pelo seu avô e por o grupo que esta comanda, pessoas que não se conhecem pessoalmente mas que através da internet utilizam a sua intuição e conhecimentos para ir descobrindo os detalhes que unem cada um dos crimes.
Paralelamente a tudo isto vamos descobrindo o mundo que rodeia Amanda, a sua vida, a da sua mãe Indiana, a de Ryan Miller um ex Seal militar americano que guarda no corpo e principalmente na alma, as marcas da sua passagem por várias missões de guerra. Pedro Alarcón, ex guerrilheiro uruguaio, a bela ex prostituata que se casa com o rico de alta sociedade só pelo seu dinheiro, o rico de alta sociedade, o amigo gay pobre e drogado, o brasileiro sedutor, pintor de quadros, também pobre… e alguns mais.
No meio, como em todos os livros de Isabel Allende, vamos descobrindo as histórias de amor, já sejam as que levaram à história do livro ou os que se desenvolvem com ela e nos fazem seguir o fio à meada.
Em suma, O Jogo de Ripper é um Thriller sem ser um Thriller, é um livro diferente, muito bem escrito como não podia deixar de ser por esta autora, com várias histórias muito bem conseguidas que vão correndo em simultâneo mas em paralelo até que no fim tudo faz sentido.
Um excelente livro para quem gosta de policiais e para quem gosta do género da autora.
Sinopse:
Indiana e Amanda Jackson sempre se apoiaram uma à outra. No entanto, mãe e filha não poderiam ser mais diferentes. Indiana, uma bela terapeuta holística, valoriza a bondade e a liberdade de espírito. Há muito divorciada do pai de Amanda, resiste a comprometer-se em definitivo com qualquer um dos homens que a deseja: Alan, membro de uma família da elite de São Francisco, e Ryan, um enigmático ex-navy seal marcado pelos horrores da guerra. Enquanto a mãe vê sempre o melhor nas pessoas, Amanda sente-se fascinada pelo lado obscuro da natureza humana. Brilhante e introvertida, a jovem é uma investigadora nata, viciada em livros policiais e em Ripper, um jogo de mistério online em que ela participa com outros adolescentes espalhados pelo mundo e com o avô, com quem mantém uma relação de estreita cumplicidade. Quando uma série de crimes ocorre em São Francisco, os membros de Ripper encontram terreno para saírem das investigações virtuais, descobrindo, bem antes da polícia, a existência de uma ligação entre os crimes. No momento em que Indiana desaparece, o caso torna-se pessoal, e Amanda tentará deslindar o mistério antes que seja demasiado tarde.
Jorge Soares
Edgar é uma criança muito desejada e esperada, por motivos que nunca ninguém consegue explicar nem justificar, nunca consegue falar. Numa família que tem como actividade principal a criação de cães, ele rapidamente aprende a linguagem gestual e dispõe-se a enfrentar a vida de uma forma o mais normal possível.
Mesmo sem conseguir falar, Edgar consegue tornar-se um bom treinador para os cães e vive tão feliz como o pode ser uma criança que cresce num mundo rural idílico.
Já adolescente, a chegada à sua vida do seu tio paterno Claude e a morte do seu pai de uma forma que para ele é algo estranha, deixam de pantanas o mundo de Edgar que não voltará a ser igual.
Já o disse várias vezes, não sou um grande fã dos escritores americanos e ainda não foi desta que me converti.
O livro até começa muito bem, a história desenrola-se na América rural e profunda e o autor consegue situar-nos muito bem no espaço temporal e físico, começa por nos contar a história da casa que de certo modo será o centro da acção e a dos personagens principais. Depois, à medida que a historia se vai desenrolando, o livro tem algumas partes chatas e enfadonhas, a certa altura melhora, para voltar a decair ... e termina de uma forma estranha e que a mim pelo menos me decepciona completamente.... não era definitivamente aquele o fim que eu escreveria para esta história... mas o autor não sou eu.
Não deixa de ser um bom livro, que está bem escrito, quem gosta ou se interessa por cães de certeza que pode aprender muitas coisas com ele, a historia podia ser mais fluida, podia ter outro fim... mas não deixa de ser uma boa historia... um livro a ler.
Sinopse:
Mudo desde o nascimento, Edgar Sawtelle se comunica apenas por sinais e bilhetes. Leva uma vida serena com os pais na fazenda da família, em um lugar remoto dos Estados Unidos. Ao longo de gerações, os Sawtelles criaram e treinaram uma raça de cães cujo dedicado companheirismo tem sua síntese em Almondine, a amiga e eterna aliada de Edgar. A volta inesperada de Claude, o tio paterno, leva o caos ao então pacífico lar dos Sawtelles. Após a morte repentina do pai de Edgar, Claude se insinua na vida da fazenda e conquista o afecto da mãe do menino.
Confuso e dominado pelo sofrimento, o rapaz tenta provar que Claude teve algum papel naquela morte, mas esse plano fracassa e se volta contra Edgar, resultando em novas tragédias. Ao fugir para a área florestal nos limites da fazenda, Edgar amadurece em contacto com a vida selvagem, ao lutar pela própria sobrevivência e a dos três jovens cães que o acompanharam. Contudo, a necessidade de apontar e de enfrentar o assassino do pai e a devoção aos cachorros sawtelle fazem o menino voltar para casa.
Jorge Soares
Quantas vezes já nos apeteceu deitar tudo para trás das costas e simplesmente partir? Aos 30 anos, Elizabeth Gilbert tinha tudo o que uma mulher ocidental formada e ambiciosa podia querer, tinha a vida que muita gente ambiciona e nunca consegue, o marido dos seus sonhos, a casa com que a maioria pode sonhar e uma carreira de sucesso.
Aos 34 deu por si a olhar à volta e a sentir que não era dali e resolveu simplesmente deixar tudo para trás, começar a sonhar de novo e partir à aventura, à procura de experiências de vida e de novos sonhos.
A primeira escala é em Itália, e esta é para mim a melhor parte do livro, em poucas páginas podemos encontrar toda a magia e romantismo com que tantas vezes imaginamos tanto Roma como o resto da Itália. Esta é a parte do comer e tudo o que se come nesta parte do livro é simplesmente sublime, quase que conseguimos sentir o sabor e os aromas da Itália mais tradicional... tudo envolto numa enorme aura de romantismo e beleza... não fosse eu já ter estado na Itália e juro que me candidatava ....
A segunda escala é na India, é a parte do Orar, foi a parte que gostei menos do livro, para mim a descrição da oração, do yoga e da concentração são levados a um extremo que por vezes torna a escrita enfadonha... mas imagino que faça parte... é claro que de novo as descrições são sublimes.
A terceira parte é a de amar e passa-se em Bali.. aprendeu a equilibrar o prazer sensual e a transcendência divina. Tornou-se aluna de um feiticeiro nonagenário e apaixonou-se da melhor maneira possível - inesperadamente.
Eu vi o filme antes de ler o livro e recomendo os dois, este é um livro sobre muitas coisas, sobre os sonhos e a forma como estes vão mudando ao longo da nossa vida, sobre os prazeres da vida e sobre como muitas vezes temos que fazer enormes sacrifícios em troca de pequenas coisas que pouco a pouco e no seu todo nos vão preenchendo... mas é sobretudo um livro sobre o recomeçar. Quantas vezes já abdicámos de sonhos achando que tínhamos a relação ideal e o emprego de sonho, e chegamos à conclusão que às vezes temos de recomeçar do zero?... há quem consiga e se dê bem... pelo menos nos filmes.
Jorge Soares
Imagem do Público
Os contos de Mia Couto são presença habitual aqui no blog, principalmente ao Sábado que é dia de Conto, sou um admirador da sua escrita e da sua forma de estar no mundo. Gosto especialmente dos seus livros de contos e dos seus poemas. Este é um prémio mais que mercido, que segundo o Juri foi entregue tendo em conta a “vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade”
Podem ler os contos de mia Couto, aqui
Demoro-me no outro lado de mim
porque me atrai
esse ser impossível
que sou
esse ser que me nega
para que seja ainda eu
Porque desejo esse alguém
que me invade e me ocupa
que me usurpou a palavra e o gesto
me fez estrangeiro do meu corpo
e me deixou mudo, contemplando-me.
Lanço-me na procura da minha pedra
no infindável trabalho
de me reconstruir
recolhendo os sinais do meu desaparecimento
percorrendo o revés da viagem
para regressar a um lugar inabitável.
Todas as vezes que me venci
não me separei do meu sonho derrotado
e, assim, me fiz nuvem
reparti-me em infinitas gotas
para que fosse bebido, vertido, transpirado
e voltasse de novo a ser céu
transparência de azul, harmonia perfeita
e poder regressar ao lugar interior
para me deitar, de novo,
no sangue que me iniciou.
Mia Couto
Jorge Soares
Não sou grande fã dos escritores norte americanos, acho sempre a escrita muito directa e pouco mágica, este Mataram a Cotovia andava cá em casa desde o Verão, a R. leu e adorou, quando terminei o "O Caderno de Maya" encontrei-o pousado algures e fui lendo.
Não acho que seja um daqueles livros que nos prende desde o inicio, mas é sem duvida um livro que se deixa ler e que pouco a pouco nos vai conquistando.
O livro mostra-nos a visão da sociedade americana numa pequena cidade do interior em meados do século passado, vista através dos olhos de uma criança. Uma miúda que acaba de entrar para a escola e que pouco a pouco vai descobrindo o mundo. O seu mundo cheio de brincadeiras de crianças e o mundo muito mais sério dos adultos que a rodeiam, um mundo que então tal como agora, está cheio de contradições, injustiças, meias verdades, muitas mentiras.
Stout é filha de Aticus, um advogado viúvo que no meio de uma sociedade cheia de preconceitos tenta educar os seus filhos com uma enorme civilidade de forma a que mesmo sendo crianças, estes consigam olhar para o mundo pelos seus olhos e não pelos da sociedade que os rodeia.
Aticus é um homem justo e ponderado que consegue perceber que na sociedade em que vive nem sempre a justiça se faz da forma mais directa, principalmente quando o que está em causa é a luta de classes e o profundo racismo da sociedade americana e tenta fazer entender isso Stout e ao seu irmão Jem, 4 anos mais velha que ela.
Em suma, este é um excelente livro, um clássico da literatura americana escrito de uma forma diferente e desde um ponto de vista muito pouco habitual.
Sinopse:
Situado em Maycomb, uma pequena cidade imaginária do Alabama, durante a Grande Depressão, o romance de Harper Lee, vencedor do Prémio Pulitzer, em 1961, fala-nos do crescimento de uma rapariga numa sociedade racista.
Scout, a protagonista rebelde e irónica, é criada com o irmão, Jem, pelo seu pai viúvo, Atticus Finch. Ele é um advogado que lhes fala como se fossem capazes de entender as suas ideias, encorajando-os a reflectirem, em vez de se deixarem arrastar pela ignorância e o preconceito. Atticus vive de acordo com as suas convicções. É então que uma acusação de violação de uma jovem branca é lançada contra Tom Robinson, um dos habitantes negros da cidade. Atticus concorda em defendê-lo, oferecendo uma interpretação plausível das provas e preparando-se para resistir à intimidação dos que desejam resolver o caso através do linchamento. Quando a histeria aumenta, Tom é condenado e Bob Ewell, o acusador, tenta punir o advogado de um modo brutal. Entretanto, os seus dois filhos e um amigo encenam em miniatura o seu próprio drama de medos, centrado em Boo Radley, uma lenda local que vive em reclusão numa casa vizinha.
Jorge Soares
Andei muito tempo longe dos livros, no natal ofereceram este à R., como ela já o tinha lido na biblioteca da escola, esteve prestes a ser devolvido, eu não deixei... em boa hora.
Nada como a Isabel Allende para nos voltar a prender à leitura e este livro é daqueles que nos prende mesmo, é uma história fluida que nos vai contando as venturas e desventuras de uma jovem protagonista que após ter descido até ao fundo do poço em que se converteu a sua vida, se refugia numa aldeia numa ilha remota do Chile onde é acolhida por um homem que podia ser seu avô. Desde ali, um lugar que para além da distância física, está nas antípodas do que até então foi a sua vida e a sua forma de viver.
Maya é a filha típica da cultura americana, fruto de uma relação fugaz entre uma hospedeira Norueguesa e um piloto Americano de origem Chilena, é deixada à nascença para ser criada pela sua avó paterna. Cresce num ambiente descontraído com um avô professor Universitário que a adora e mima e uma avó hippie que divide a sua atenção entre a criança e as causas sociais que lhe vão aparecendo.
Quando chega à adolescência Maya torna-se numa jovem rebelde e independente, não descansa enquanto não passa por todas as experiências boas ou más da vida e torna a sua vida num caminho quase sem retorno até um abismo de onde dificilmente consegue fugir.
Este é um livro que sem fugir aos livros históricos, de época e quase mágicos a que nos acostumou a escritora, nos fala da sociedade e culturas americanas da actualidade, com tudo o que de pior esta pode ter, ao mesmo tempo que nos mostra um pouco da história ainda recente do Chile da ditadura de Pinochet e das marcas que esta deixou e que ainda subsistem nas pessoas e na cultura chilenas.
Tudo junto resulta num excelente livro que se pudéssemos líamos de um só fôlego.
Sipnose
"Sou Maya Vidal, dezanove anos, sexo feminino, sem namorado por falta de oportunidade e não por esquisitice, nascida em Berkeley, Califórnia, com passaporte americano, temporariamente refugiada numa ilha no sul do mundo.
Chamaram-me Maya porque a minha Nini adora a Índia e não ocorreu outro nome aos meus pais, embora tenham tido nove meses para pensar no assunto. Em hindi, Maya significa «Feitiço, ilusão, sonho», o que não tem nada a ver com o meu carácter. Átila teria sido mais apropriado, pois onde o ponho o pé a erva não volta a crescer."
Jorge Soares