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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do El Universal
A atenção do mundo tem estado centrada na Ucrânia, entretanto no outro lado mundo, na Venezuela, os confrontos tem-se repetido todos os dias um pouco por todo o país. A contagem oficial dos mortos durante os protestos ia hoje em 16 ou 17, todos do mesmo lado, na sua maioria jovens estudantes já que tem sido estes que mais tem estado na primeira linha dos protestos de rua.
A meio da tarde o meu amigo António escrevia o seguinte no Facebook: "Só para lembrar, a propósito da Ucrânia, que afinal ainda é possível que o POVO faça uma revolução."
É um pensamento que já me tinha ocorrido, mas olhando para situações paralelas, fico a pensar... terá sido mesmo o povo?
Disse há uns dias que na Ucrânia não havia uma luta pelo poder e sim uma luta de interesses. A Venezuela não tem nada a ver com a Ucrânia, a Ucrânia é um país pobre e sem recursos, a Venezuela é um país pobre mas que tem todos os recursos e condições para ser um país rico... tudo menos governantes à altura da situação.
Há uns dias eu escrevi aqui que a Venezuela estava entre a Ditadura e a Guerra Civil, neste momento e apesar de que o povo teima em não desistir, parece evidente que a ditadura está a vencer a guerra das ruas. O principal dirigente da oposição está preso, há sedes de partidos e casas de políticos da oposição invadidas pela polícia sem qualquer sem ordem judicial. Os meios de comunicação nacionais estão praticamente amordaçados e fazem autênticos malabarismos para informar sem chatear muito o governo, os internacionais ou já viram o seu sinal silenciado ou são todos os dias ameaçados de que lhes pode acontecer o mesmo. Todos os dias há registos de jornalistas nacionais e internacionais, incluindo um português, agredidos e impedidos de fazer o seu trabalho.
Todos os dias há relatos de agressões, prisões injustificadas, mortes, tortura e nos últimos dias, até desaparecidos.
Entretanto o que faz o governo? Para além de tentarem esconder a realidade do mundo e fingir que nada está a acontecer, usam fórmulas que se utilizaram há décadas noutros lugares, deitam a culpa ao tio Sam, à Cia e aos restantes fantasmas que vem do norte, por tudo o que acontece.
Nicolás Maduro é cada vez mais uma pobre caricatura de um presidente da República, alguém que parece que mais de que por Chavez, aprendeu por uma cartilha de outros tempos já completamente ultrapassada e para quem o único que interessa é mesmo o poder.
Só há uma coisa pior que um ditador, um fantoche com poder... e não há duvida que neste momento é isso que existe na presidência da Venezuela, um fantoche com poder.
Resta saber quanto conseguirá aguentar mais o povo e o que será necessário para que o mundo olhe para a o país e perceba que há ali muito em jogo, principalmente para quem tenta todos os dias sobreviver à delinquência e ao desgoverno....
Só mais um detalhe, portugueses de várias gerações, são perto de 500 mil.
Jorge Soares
Imagem do Público
Um destes dias ante as imagens terríveis que chegavam da Síria via televisão, a minha filha mais velha perguntava-me porque é que aquilo acontecia e porque é que os outros países deixavam.... confesso que tive alguma dificuldade em lhe explicar, talvez porque mesmo a mim me custa a entender.
Hoje ao ver as imagens que nos vão chegando desde Kiev lembrei-me dessa conversa. A Ucrânia caminha a passos largos para uma situação parecida com a da Síria, com a agravante de que a Ucrânia é muito maior que a Síria, na Europa só a Rússia é maior, e há evidentemente interesses muito mais complicados e delicados que na Síria.
Recordemos que tudo isto começou quando o governo afecto aos interesses Russos, se negou a assinar com a União Europeia um tratado que servia de preparação para a entrada do país na União.
Na Ucrânia a luta não é pelo poder, é principalmente uma luta de interesses, de um lado está o governo que defende os interesses da Rússia e do outro está a oposição e uma parte do povo que defendem uma aproximação à união Europeia.
Da forma como as posições estão extremadas, dificilmente haverá uma saída que não envolva um banho de sangue e enquanto policias e manifestantes se enfrentam na praça da liberdade de Kiev, a União europeia e a Russia esforçam-se em culpar-se mutuamente pelo que está a acontecer.
A Ucrânia tem 44 milhões de habitantes, não é um pequeno país do norte de África ou do médio Oriente, o que quer que venha a acontecer nos próximos dias terá de certeza efeitos no resto da Europa, esperemos que sejam efeitos positivos e que eu não tenha que voltar a explicar à minha filha o motivo porque há milhares de pessoas a serem massacradas sem que ninguém faça nada.
Jorge Soares
Imagem de Pontos de Vista
Haverá poucos homens no mundo que tenham dado tanto pelos seus e pelo seu país. Durante mais de 20 anos liderou uma campanha pacífica e não violenta contra o Governo da África do Sul e as suas políticas racistas. Com Oliver Tambo depois fundou um escritório de advocacia que dava aconselhamento a negros que não dispunham de representação.
Foi preso em 1956 junto com mais 150 pessoas e passou 27 anos da sua vida preso, tornou-se o prisioneiro mais famoso do mundo e mesmo de dentro da prisão nunca deixou de lutar pela liberdade dos seus. Ao fim de todo este tempo surgiu como o líder do ANC (Congresso Nacional Africano) e liderou este partido para conduzir a transição da África do Sul para a democracia e a igualdade após 46 anos de um regime baseado no racismo e na segregação racial.
Foi o primeiro presidente da África do Sul eleito democraticamente e o primeiro presidente negro, em 1993 ganhou o Nobel da Paz. O Dia Nelson Mandela foi instituído em 2009 para celebrar a sua vida e a chamada à acção que fez ao longo da sua vida. Celebra-se a 18 de Julho e, propositadamente, não é um feriado para que inspire todas as pessoas em todo o mundo a trabalharem pelos valores que Nelson Mandela defendeu ao longo de toda a sua vida.
Hoje o mundo ficou mais pobre, morreu Madiba, um símbolo da democracia, da liberdade, da igualdade, o seu exemplo perdurará para sempre e a sua história servirá de farol a todos os que acreditam na liberdade e na igualdade entre todos os seres humanos
Jorge Soares
Imagem do Pontos de vista
Até à semana passada o Brasil era o exemplo acabado de uma economia em crescimento acelerado, um exemplo de crescimento sustentado cheio de projectos e desejoso de mostrar ao mundo como é capaz de organizar tudo e mais alguma coisa.
Bastou um aumento de poucos cêntimos nos transportes públicos para que emergisse uma realidade bem diferente, há uma enorme franja da população a quem todo este crescimento e prosperidade tarda a chegar. É verdade que a economia cresce a olhos vistos, mas também é verdade que este crescimento tarda em chegar aos mais pobres, aos trabalhadores, às favelas.
O país tem-se esforçado em mostrar ao mundo que consegue ser organizado, esforça-se por dar nas vistas, organiza cimeiras do meio ambiente, este ano é a Copa Federação, em 2014 será o mundial de futebol, em 2016 serão os jogos Olímpicos. No fim tudo isto se traduz em muitos milhares de milhões em investimento e terá de certeza um enorme retorno para a economia do país, mas para os mais pobres é dinheiro que se gasta e que a eles não lhes traz benefícios imediatos.
Os enormes e modernos estádios de futebol são construídos com vista previligiada para as enormes favelas onde milhões de pessoas tentam sobreviver no meio de uma enorme violência e insegurança, sem escolas suficientes, sem cuidados básicos de saúde, sem serviços básicos, sem transportes públicos, sem nada.
O Brasil é um país em crescimento acelerado, tão acelerado que no fim se traduz numa enorme desigualdade social, em quanto a classe média melhora o seu nível de vida a olhos vistos, os mais pobres continuam pobres e sem sentir em nada as melhorias que os governantes não se cansam de vender ao mundo.
O Brasil é um país com enormes dores de crescimento, após dias e dias de manifestações com transmissão directa para todo o mundo por parte das centenas de jornalistas que estavam no país para cobrir a taça das federações em futebol, o governo tentou salvar a face voltando atrás com os aumentos dos transportes... mas era tarde, porque na realidade não é disso que se trata, trata-se sobretudo de uma luta contra a desigualdade, uma luta por uma distribuição equitativa dos benefícios, por uma utilização mais justa dos recursos, uma luta dos mais pobres para que alguém perceba que eles existem
Jorge Soares
Imagem de aqui
A próxima vez que alguém te disser que as manifestações não servem para nada, que as decisões já estão tomadas e não há nada a fazer, que é comer e calar, diz-lhe que felizmente os brasileiros não pensaram dessa forma, foram À luta e venceram... pelo menos uma parte da batalha.
Jorge Soares
Há um evento no Facebook que se chama Passagem do cometa Halley (2061) e há muita gente que diz que vai participar...eu não sei se me apetece. Sou velho o suficiente para me lembrar da passagem anterior, fiz parte da geração Halley, cheguei a Portugal em 1989, a meio da luta contra a PGA, estava na faculdade quando apareceram as propinas, fui às manifestações e não paguei.. como não pagou quase ninguém, porque os estudantes que haviam estado unidos contra a PGA, estavam agora Unidos contra as propinas.
Uma geração que antes de se formar na vida, formou-se na contestação, na luta pelos seus direitos e contra os arbítrios dos sucessivos ministros da educação do cavaquistão.. e que participaria ainda na contestação aos aumentos na 25 de Abril... uma geração que foi um dia apelidada de geração Rasca... porque para além de tudo o resto que costumam fazer os jovens, sabia contestar.
Olhando para o que se passa em França por estes dias, podemos observar que uma boa parte da contestação vem dos estudantes, com escolas ocupadas e cidades invadidas, o movimento estudantil é parte activa na contestação que está a ponto de parar um país.
Não quero cair no mesmo erro que caiu quem a nós nos chamou geração Rasca, mas olhando para esta geração, a dos telemóveis, dos milhares de SMS trocados, a geração que nunca chumba, não porque saiba mas por decreto, a geração das calças caídas, a mesma que é contra o acordo ortográfico mas que não é capaz de escrever duas frases sem meter K's e abreviações, eu pergunto-me.. que geração é esta?
Está à vista que vem aí tempos de contestação, tempos difíceis, mas olhando à nossa volta parece que a eles tudo lhes passa ao lado, cresceram com todas as vontades feitas e sem saberem de obstáculos ou dificuldades, só sabem pedir, não sabem o que é lutar por algo, traçar metas e desafios em prol de todos. Vivem na era da comunicação e do conhecimento global.. mas é como se tudo o que é realmente importante lhes passasse ao lado.
Daqui a mais 20 anos a geração Rasca estará a sair da vida activa... restará neste pais quem saiba lutar pelos seus direitos?
Jorge
PS:E não, eu não acho que todo tempo anterior foi melhor... viver nunca foi tão bom como agora.. mas há quem viva, e quem se limite a existir
A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade!
Ainda me falta pelo menos mais um post sobre a audição na assembleia da República, muito mais haveria a dizer, até porque o tema da adopção e da protecção das crianças institucionalizadas nunca termina.... mas também não vos quero fartar, vamos lá mudar um bocadinho de assunto.
Entretanto e mais a nível pessoal tenho recebido alguns comentários, a maioria das pessoas acha-me uma pessoa valente, consigo ir à assembleia da república e dizer o que penso, e não contente com isso digo o que penso aqui no blog e chamo aos bois pelos nomes... salvo seja, que os bois não tem culpa nenhuma.
Vou aqui confessar uma coisa, até aos 20, 21 anos eu era uma pessoa extremamente tímida, falar em publico era um verdadeiro terror, a forma como cresci, a relação com o meu pai, a vida, fizeram de mim um adolescente sem a mínima confiança e amor próprio, como a maioria dos tímidos tinha imensa imaginação, era capaz de pensar numa situação mil vezes, mas na hora da verdade....
Não sei muito bem quando mudaram as coisas, algures quando estava na universidade dei por mim a acreditar nas minhas capacidades e a tentar enfrentar a vida olhos nos olhos.... nunca se deixa de ser tímido, mas chega uma altura na vida em que valores mais altos se levantam...e que valores podem ser mais alto que a felicidade e o bem estar das crianças?
Hoje havia uma noticia no Publico que começava assim:
"Pobres, desmobilizados, mas, apesar disso, felizes. Somos assim, os portugueses?"
É mais um daqueles artigos que fala de estudos sociais, conclui-se que cada vez nos preocupamos mais com as necessidades imediatas, o emprego, os baixos salários, mas fala também da nossa incapacidade de nos organizarmos e de lutarmos por melhorar as coisas.
É verdade, nós somos assim, todos temos opinião, todos sabemos e gostamos de falar, principalmente entre amigos, mas na hora da verdade, na hora de reclamar pelos nossos direitos, na altura de dizer na hora certa e no sitio certo aquilo que deve ser dito.... ficamos calados que nem cordeirinhos.... de onde o estudo conclui o seguinte:
"..... que traduzem a incapacidade de criar o sentimento de pertença a uma comunidade de cidadãos colectivamente responsáveis"
Ou seja, Pobres, conformados, calados, desmobilizados...... Acho que as conclusões do estudo esqueceram o mais importante...
Lixados... com F grande
Mas a culpa é nossa..... eu cresci, mudei..será que o resto do país o pode fazer?
Jorge
PS:Imagem minha, retirada do momentos e olhares