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Juncker e a mulher de César

por Jorge Soares, em 12.11.14

Juncker.jpg

 

Imagem do Público

 

"Como podemos acreditar em alguém que liderou o Luxemburgo na época em que este serviu de paraíso fiscal para mais de 300 empresas?"

 

Terá sido mais ou menos esta a pergunta que alguém fez a Jean-Claude Juncker quando este hoje se apresentou quase como o paradigma da justiça europeia contra a fraude fiscal.

 

Depois de uma semana em silêncio, o agora presidente da união europeia decidiu que o melhor mesmo era a fuga para a frente e veio a publico apresentar uma campanha europeia contra a evasão fiscal e os regimes especiais que permitem às empresas pagar menos impostos.

 

Do pouco que ouvi concordo com o senhor numa coisa, este tipo de situações só acontece porque não há na Europa uma verdadeira harmonização fiscal, enquanto não houver uma convergência real a este nível, as empresas irão sempre fugir para os países onde a situação lhes seja mais favorável, afinal o objectivo de qualquer empresa é o lucro e a menos impostos, mais lucro.

 

Mas isto não implica que este mesmo Juncker que agora se apresenta como o lutador contra a fraude, não tenha sido o mesmo que durante anos se aproveitou dessa mesma fraude para ter condições excepcionais e muito dinheiro para governar.

 

Ele pode dizer o que queira, mas não me parece que ele não soubesse de onde vinha o dinheiro que criava as condições para que o Luxemburgo tivesse um enorme crescimento económico. Há quem diga que o que se fazia no Luxemburgo não era crime, era só uso e  abuso de métodos legais, mas a verdade é que com eles as empresas lucraram milhões, milhões esses que deixaram de entrar nos países de origem e que de certeza os prejudicaram na mesma forma em que beneficiavam  o Luxemburgo.

 

A união Europeia abriu um processo de investigação contra o Luxemburgo, processo que dificilmente dará em algo, mas a verdade é que Juncker fica muito mal na fotografia, é que um ex primeiro ministro e agora presidente da união europeia, não só deve ser sério, deve também parecer... e convenhamos que visto desde aqui, não parece lá muito.

 

Jorge Soares

 

publicado às 23:33

escola2.jpg

 

Imagem do DN

 

Tenho seguido com alguma atenção as noticias sobre a a suposta proibição de que se fale português nas escolas do Luxemburgo.

 

Logo da primeira vez que ouvi a noticia na televisão estava com a minha filha R. e a surpresa e curiosidade dela fiquei sem resposta, o único que me lembrei é que e que lhe expliquei foi que  luxemburguês é uma língua em vias de extinção e haveria por parte das autoridades escolares alguma vontade de a proteger... não faz muito sentido.

 

Depois dei por mim a pensar, eu emigrei em criança, tinha 10 anos quando cheguei a Caracas, não falava uma palavra de castelhano, passado um mês entrei para a escola pública e a verdade é que raramente voltei a falar português, na escola, na rua com amigos, incluindo os portugueses, até em casa com o meu irmão, sempre falei castelhano...  se calhar será também muito por isso que sempre fui bom aluno e que sempre me integrei completamente até ao ponto de para quem não me conhecia, passar sempre por venezuelano e nunca por estrangeiro.

 

É evidente que estamos a falar de um país diferente, de uma cultura diferente e de formas de integração completamente diferente e opostas. Na Venezuela todos nos sentíamos venezuelanos e sempre nos sentimos completamente integrados no país e na cultura... o que a julgar pelo que tenho visto e ouvido, nem sempre acontece com quem emigra para o Luxemburgo e outros países da Europa.

 

De tudo o que ouvi, o que mais impressão me fez foi o seguinte:

"Para o presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), a proibição pode levar também a um sentimento de desvalorização da língua materna"

 

Língua materna? Será que alguém parou para penar o que será a língua materna para uma criança que viveu a maior parte da sua vida num país estrangeiro? Será que é mesmo o português?

 

De novo posso falar por mim, passados dois ou três anos de viver em Caracas a minha língua materna era o castelhano, era nessa língua que eu tinha que estudar, namorar, viver... é evidente que continuava a ler e a falar português quando era necessário, mas a minha língua não era nem podia ser o português.

 

Quando aos vinte anos voltei para Portugal, a minha língua passou naturalmente a ser o português, passados dois ou três meses até aos "ãos" me tinha habituado .. e a vida seguiu em frente.

 

Sinceramente não entendo toda esta polémica, acho que no Luxemburgo se as crianças não estão numa escola bilingue, se são avaliadas em luxemburguês, faz todo o sentido que falem na língua da escola e percebo perfeitamente que os professores não gostam e/ou não queiram, ter no meio das aulas crianças a falar entre si numa língua que na maior parte dos casos nem eles nem as restantes crianças entendam.

 

É evidente que há aqui excesso de zelo quando se proíbe também no recreio, mas para ser sincero, eu não vejo vantagem nenhuma que as crianças que vivem no centro da Europa não tenham como língua principal outra qualquer que não o português, queiram os pais ou não, a verdade é que na sua grande maioria é lá e não cá que eles vão ter que se desenvencilhar na vida... e para vir cá nas férias, o português que se fala em casa basta e sobra.

 

Jorge Soares

publicado às 22:45


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