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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Aposto que a maioria não se lembra quando foi a última vez que viu alguém a escrever à máquina, se calhar uma grande parte nem terá visto tal coisa. Eu lembro, há um ano atrás em Cabo Verde fui pagar uma conta da Meninos do Mundo a um despachante, após explicar ao que ia e ter entregue o dinheiro, o senhor pediu a um dos funcionários que me entregasse o recibo. Para meu espanto, este sentou-se em frente a uma máquina de escrever, colocou as folhas entre os rolos: original, papel químico preto e duplicados, acertou-as e após perguntar em nome de quem era... bateu o recibo à máquina.
Podem não acreditar, mas ouvir aquele som das teclas no papel foi como ouvir uma velha e conhecida melodia... e o meu espanto por aquilo que estava a presenciar passou para segundo plano quando a minha mente começou a viajar no tempo... anos, muitos anos para trás.
A minha era verde azeitona como aquela, mas muito mais pequena e portátil, completamente manual, escrevia muito bem, acompanhou-me durante os anos do liceu e eu adorava escrever. Por norma os meus trabalhos escritos eram sempre volumosos, lembro-me de um trabalho de história contemporânea sobre os partidos políticos com mais de 20 páginas.... alguém faz ideia o que era escrever 20 páginas à máquina? É claro que não dava uma décima parte dos erros que dou agora, e a escrita tinha que ser pensada, nas máquinas não há como voltar atrás, só há voltar a escrever desde o início da página.
Teria eu 16 ou 17 anos e escrevi uns artigos para uma revista, eram sobre a presença de Portugal nos mundiais de Futebol, no fim da segunda página descobri que tinha saltado um nome a meio... toca a escrever de novo, ia tão embalado que voltei a fazer o mesmo... e recomecei, e voltei a fazer o mesmo... aí decidi que já estava bom, dei a volta ao texto e fiz o senhor aparecer no fim da página. Num computador não tinha demorado mais de 5 segundos a corrigir o erro, ali levei de certeza mais de uma hora.
As máquinas de escrever tiveram a sua época, os computadores mudaram o mundo de muitas formas, uma delas foi na forma de escrever, mas não deixa de ser com alguma nostalgia que hoje li no El Mundo que fechou a última fábrica de máquinas de escrever que ainda existia. É difícil entender como mais de 20 anos depois da massificação do computador, dos processadores de texto e das impressoras, ainda existia esta fábrica na Índia, chamava-se Godrej & Boyce... Assim de repente, senti que perdi uma velha amiga, cúmplice de tantas coisas e de tantas ideias.... sabem uma coisa?, estou a ficar velho.
Já agora, se puderem leiam este conto : A Máquina, é fantástico.
Jorge Soares