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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Expresso
Foi noticia por cá e até pelo resto do mundo, esta semana nasceu em Portugal um bebé filho de uma mulher que estava em morte cerebral há 17 semanas.
Ao contrário do que se pode ler na capa de pelo menos um jornal (?), não nasceu um bebé de uma mãe morta, nasceu de uma mãe viva que se encontrava em morte cerebral, não, não é a mesma coisa. É evidente que se a mãe estivesse morta não poderia haver desenvolvimento do feto, o cérebro estava em morte cerebral, o corpo estava evidentemente vivo, o que ,aliádo aos cuidados que lhe foram prestados, permitiu o correcto desenvolvimento do feto até às 34 semanas, altura em que nasceu por cesariana..
O resto é o conhecimento e a qualidade de todos os profissionais de saúde que estiveram envolvidos e que permitiram o final feliz que todos conhecemos.
Vivemos numa época em que os avanços da ciência para além de nos permitirem viver cada vez mais tempo com uma razoável qualidade de vida, fazem possível este tipo de "milagres". O bebé chama-se Lourenço e nasceu saudável.
“Não foi um milagre, mas um avanço da ciência e da capacidade de multidisciplinaridade e eficácia de uma equipa. Não são só os médicos, mas os enfermeiros, os nutricionistas, os farmacêuticos e todos os profissionais que contribuíram para este êxito”
Doutora Ana Campos ao Jornal Expresso
Jorge Soares
Imagem do Expresso
"Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou o Estado português por violação dos Direitos Humanos no caso da cabo-verdiana Liliana Melo. A mãe, que viu os tribunais portugueses retirarem-lhe os sete filhos", é assim que começa a noticia do Expresso.
Neste caso o estado foi condenado pelo suposto excesso de zelo ao achar que esta mãe não tinha condições para manter e educar sete filhos , tendo estes sido retirados, institucionalizados e posteriormente encaminhados para a adopção.
Hoje, e sobre o caso da mãe que decidiu atirar-se ao Tejo juntamente com as suas duas filhas, o mesmo estado está a ser condenado por muita gente por ter tido a mão leve ao deixar as crianças, que estariam sinalizadas por supostamente terem sido vitimas de abuso sexual e maus tratos, a viver com a mãe. Mãe que seria ela própria vitima de violência familiar pela mesma pessoa que supostamente abusou das crianças e estaria a sofrer uma profunda depressão.
Quando há duas crianças mortas é fácil concluir que o estado deveria ter feito mais, há uma série de instituições que só existem para proteger e zelar pelo bem estar das crianças. Não sabemos a história toda, não sabemos que medidas protecção terão sido tomadas, não sabemos porque se tomou a decisão de deixar as crianças à guarda de uma mãe, que se sabe agora, não teria condições psicológicas para tal... mesmo assim é fácil concluir que algures alguém falhou.
No caso de Liliana Melo, de que na altura falei neste e neste post, é fácil condenar o estado, as crianças foram institucionalizadas, pelo menos o seu bem estar físico foi garantido, algumas terão ido para adopção e em principio terão famílias que lhes dão amor e carinho.... E alguém pode garantir que caso o estado não tivesse actuado estas crianças estariam todas bem? Estamos a falar de uma mãe com sete filhos, uma das quais até já estaria grávida também, que na altura não tinha emprego e que claramente não tinha condições económicas para os manter. Mesmo assim o estado foi na altura condenado na praça pública e agora nas instituições europeias, por ter feito o seu papel.
Faz sentido o estado ser condenado pelo seu suposto excesso de zelo ou fará sentido o estado vir a ser condenado pela morte das duas crianças desta semana? Ninguém tem dúvidas que neste caso o estado deveria ter feito muito mais... será que são os mesmos que acharam que no outro caso as crianças deveriam ter ficado com a mãe?
Será que devido à condenação publica do outro caso, não terão as instituições passado a ser menos zelosas e por isso estas crianças foram entregues à mãe?
A única coisa certa é que nestes casos o estado não tem por onde fugir, faça o que faça, vai sempre ser preso por ter cão e por não ter.
Jorge Soares
Ainda na infância, aqueles amigos umbilicais descobriram-se apaixonados. Juraram-se, acreditaram-se, o relógio adiantou ponteiros, anelaram-se, casaram-se.
Os anos passaram apressados: o desejo queimou o primeiro; a sede bebeu o segundo; a fome comeu o terceiro. Quatro anos e as bocas frias ruminavam; os corpos gritavam em silêncio pelo pequeno corpo que não lhes chegava. À parteira, menos um luz para mostrar; ao padre, uma falta na pia batismal no domingo; ao Mundo, uma ideia negada; ao casal, uma chupeta e dois pesinhos para medir os limites da casa.
Não queriam adquirir choro que não lhe fosse proveniente dos próprios olhos. Acreditavam que, com isso, teriam de se acostumar à vereda que o pequeno desconhecido traria desenhada. Todos os planos davam para um filho; todos os meses davam para o fracasso.
Uma noite, enquanto viam TV na sala, escutaram um choro primário vindo do jardim. Sufocado entre flores e espinhos, formigas e grama úmida, chegou a casa aquele minúsculo ser de olhos ainda fechados.
E por ali descobriu para que servem os pés, subiu as escadas, dormiu sozinho, espremeu a primeira espinha, dormiu junto a uma estranha sorrateira, desceu para ser calouro, subiu com o diploma, beijou os pais, partiu para longe, encontrou o útero que lhe fermentou, libertou-o da prisão, ofereceu-lhe casa, chama-o carinhosamente de“mãe”.
Longe dali, um par de cabelos brancos, ainda de luto, lamenta o que poderia ter sido, e foi.
Lúcia Costa
Retirado de Conto Outra
Imagem de aqui
Curiosamente soube da noticia através de um dos jornais espanhóis online, não sei se sou eu ou se é o país que anda distraído. No Público conta-se a história
É uma criança de 12 anos, pelo menos desde os 10 que tem sido abusada e violada pelo padrasto, ainda que já aos seis anos havia suspeitas, na escola desconfiaram e levaram-na ao hospital, descobriu-se que está grávida de 5 meses.
A lei portuguesa no caso de gravidezes que resultem de violação só permite o aborto até às 16 semanas, admitindo-se que possa acontecer até às 24 semana no caso de doenças incuráveis no feto, ou em qualquer altura se estiver em causa a grave e irreversível lesão física ou psíquica da mulher.
A criança está internada no Hospital de Santa Maria à espera de avaliação psicológica e de uma decisão que permita ou não o aborto.
Estamos a falar de uma criança de 12 anos que com seis anos terá sido vitima de uma tentativa de abuso, desde os 10 que é abusada e violada por alguém que devia ter um papel protector na sua vida. Segundo quem a conhece “é uma miúda que não se queixa, muito sofrida, triste. É introvertida e tímida, ainda infantil”. Será que sequer tem ideia do que significa ser mãe e da forma em que isso irá mudar a sua vida? Será sequer que tem a noção do que é abortar?
A lei diz que será permitido o aborto "se estiver em causa a grave e irreversível lesão física ou psíquica da mulher", será que há alguma dúvida que ser mãe aos 12 anos de um filho que foi resultado de uma violação, vai afectar de forma grave e irreversível a vida desta criança?
Vive no seio de uma família desestruturada e que sobrevive graças ao apoio de terceiros, queremos mesmo acrescentar um bebé a esta equação? Quem é que nestas condições vai garantir o bem estar da mãe e da criança? Que futuro tem esta mãe criança e que futuro poderia ter o seu filho se ela não abortar?
Qual será a decisão ao nascer a criança? Será de imediato retirada à família, que não tem condições para a ter consigo, e será mais uma a somar às mais de 8000 que já estão institucionalizadas e à ordem do estado?
Considerações morais e religiosas à parte, há alguma dúvida que a decisão deve ser o aborto?
Jorge Soares
Para Denise, esta amada mãe moderna
Um filho sempre foi uma abstração em nossas vidas. Jamais um plano real, jamais esteve nos projetos futuros.
Era somente uma hipótese, um "e se...?"
Isto até você me dizer que estava pronta, que havia chegado a hora, que devíamos tentar.
Primeiro, pensei que fosse brincadeira, depois fiquei um pouco intimidado.
Uma criança em nossa vida completamente desregrada, sem rumo, sem paradeiro, sem rotina? Daria certo isto?
Mas como todas nossas demais decisões loucas, topei e nove meses depois estávamos com o nosso bebezinho nos braços.
E agora?
Somos só eu e você. Somente eu e você. Todos nossos parentes e amigos de verdade estão a milhares de quilômetros daqui, portanto, todas as responsabilidades estão sobre as nossas costas. Sem ninguém para nos dar uma forcinha, sem tréguas, sem apoio.
Mais do que exceção, penso que o nosso tipo de família está virando uma regra.
O nossa maior conselheira?
A internet.
"Como os pais viviam antigamente sem internet?", você me perguntou, uma vez.
Viviam das tradições, dos rituais que mães passavam para filhas, de crendices como "congestão", "não comer olhando no espelho" ou "não lavar o cabelo na quarentena". Aliás, muita gente ainda vive assim.
Você se tornou uma mãe moderna, que pesquisa cada escolha para nosso filho, que conscientemente planeja o que pensa ser o melhor para ele. Isto mesmo antes de ele nascer, quando estudou sobre os tipos de partos, hospitais e exigiu nada mais do que o melhor que houvesse disponível. E depois veio a luta para prosseguir na amamentação, os sacrifícios que você fez para o melhor do nosso bebê.
Também pesquisou sobre os alimentos e sobre os métodos para estimular melhor a criança, e apesar de ainda ter um tempo pela frente, já está também lendo sobre qual será a melhor educação para ele.
Compartilhamos das mesmas ideias radicais (ou revolucionárias!), então não sabemos se isto será bom ou ruim. Já nos mudamos para outro país e voltamos com o nosso bebê ainda de meses. Já viajamos com ele. Viajaremos muitas vezes mais. Não mudamos tanto a nossa rotina.
Esta é a mãe que você se tornou.
E talvez seja uma pequena amostra da mãe que se tornará.
Uma mãe que deseja que seu filho seja livre, ou melhor, que seja o que é.
E não é este o maior ato de amor possível, que o nosso filho cresça para se tornar o que tem de ser, e não apenas um espelho (ou uma frustração) do que nós somos?
Percebo que sua maior preocupação é a de criar nosso filho para o mundo, de que ele seja uma pessoa digna, que esteja preparado para esta selva que há aí fora.
Queremos fazer tantas coisas diferentes dos nossos pais e, justamente por isto, cometeremos outros erros. Que solução nos resta além de tentar e correr estes riscos? Optar pelo óbvio, pelo mais simples, pelo que todos fazem?
Mas aí não seria você. Não seria esta mãe moderna, que está sempre olhando para a frente, rumo ao futuro.
Você não é igual a mais ninguém, como esperar que fosse uma mãe igual às outras?
Só conheceremos o resultado de nossos atos daqui a muitos anos. Todavia, assim como na música que sempre a faz chorar, "o acaso vai nos proteger, enquanto eu andar distraído".
O acaso, este nosso imprevisível companheiro, continuará nos protegendo. E ele a protegerá sempre.
Nosso bebê ainda é muito pequeno para expressar gratidão, por isto, agradeço por ele. Sei que um dia ele saberá que teve a melhor mãe do mundo
Henry Bugalho
Retirado de Samizdat
https://www.facebook.com/dia28
Rui Pedro is missing since 1998. He was 11, today is his 27th birthday. His mother never stopped looking for him. Have you seen him?
O Rui Pedro desapareceu em 1998, com 11 anos. Hoje faz 27 anos. Filomena nunca desistiu de procurar o seu filho. Se o tiver visto, diga-nos por favor.
Imagem minha do Momentos e Olhares
Chega. De antemão te peço desculpas por não insistir mais em caber no molde. Eu tentei, me esforcei, mesmo. Namorei sério, morei junto, amei para valer, criei a cena adequada, posicionei os personagens, e não. Suportei cobranças das mais descabidas, desnecessárias e antigas, perdi para a frustração e ganhei dela tantas vezes, segui à risca anos de terapia, mas não consegui. O desejo de dar a passagem nunca nasceu em mim. Não é pessoal, não tenho nada contra quem és ou quem te tornarias. Estou certa de que serias alguém decente e realizada apesar da minha proximidade. Tu, do lado de fora, não me assustas. Meu fracasso está no meio do processo. Minhas mãos suam e algo na região da barriga se retorce quando te imagino ganhando o mundo, descolada de mim. Sofro de pavor, de agonia, de medo de morrer com dor, urrando. São pensamentos assim e outros piores que preenchem qualquer espaço vago que haja para a vontade da maternidade.
As vezes sinto que não seria segura a nossa convivência, pelo menos nos primeiros anos. Tenho tido um sonho recorrente, que me atordoa durante os dias que seguem o episódio: sou eu te olhando bem de perto enquanto dormes, meus braços apoiados no limite do berço, sou eu absolutamente feliz te contemplando. O sol da manhã ilumina o quarto e poucos de vento sacodem a cortina de voil branco. De repente, o calor me invade pelas tripas e sobe até a nuca, entendo que estou prestes a perder o controle e embora queira parar, é outra quem me comanda. É meio que possessão, estou em mim, mas me divido com esse duplo meu, uma louca. Grito forte que a outra não ouse, paraliso, e ela me ignora. Desliza as minhas mãos e age, não posso impedir. Apertamos o teu pescoço até que o contorno da tua boca de recém-parida escureça e teu choro acabe. Então, acordo desnorteada, querendo esquecer, mas é impossível. Não és tu o que me assombra, entendes?
Difícil de admitir é que a minha parte insana talvez não more lá, em uma casa onírica. É provável que já tenha se mudado de mala, cuia e chinelinhos para a vida real. Tem sido rotineiro vê-la saltar e complicar as coisas. Faz pouco, surtamos. Repetiram aquela pergunta desgraçada, para a qual não sei dar a resposta que exigem com olhos e sorrisinhos maliciosos, “e quando vem o bebê”, me torturam. Que tanto querem saber, afinal? Ela não virá. Não virá. A informação me sai entre dentes. Não sei de onde tirei a certeza de que, caso viesse a gerar, meu broto seria mulher como eu. Me julgam pelas palavras. Dizem que me referir a ti assim já é meu corpo e minha alma querendo a tua presença aqui. Agora. Reparei que meus ossos, seios e cabelos estão diferentes e reconheço que o relógio biológico avança, pedindo também explicações. Perdoa, filha, por não te deixar me atravessar. Por favor, se não puderes entender, minimamente aceita que meu conflito escancara uma covardia tremenda. De um jeito torto, já te protejo, e quase me convenço que isso, por si, vai dando à luz uma mãe. É a melhor que podes ter. Por hora, sigo na combinação anticoncepcional/camisinhas, com todo meu respeito a ti. E a mim.
Imagem da Internet
Dizem que coar café na calcinha segura o homem e garante o marido. Qual o quê! Superstição sem fundamento lógico.
Após anos e homens de testes, cheguei à conclusão que o único homem que uma mulher segura pelo estômago é o filho (se ela tiver tido a “felicidade” de parir um exemplar masculino).
Explico: comida de mãe é sempre melhor, por mais química e comprada pronta que ela seja. Se a vizinha comprar um frango assado no restaurante “TV pra cachorro” melhor e mais chique do bairro, o dito “macho” logo afirma que a mãezinha “faz” melhor, nem que tenha sido comprado no boteco mais “pé sujo” da periferia. Basta que ela coloque as mãos de fada no pacote e pronto: é melhor e não tem papo. E mesmo que a vizinha compre no mesmo lugar, ao paladar do filho expert é diferente: “Ah, deve ser porque minha mãe é freguesa antiga: o “cara” capricha!”; ou então “Minha mãe acrescenta algo, que não sei o que é, que fica melhor!”. Só mãe sabe fritar ovo como o filho gosta, já notaram?
E é por aí mesmo.
Meu primeiro marido (que Deus o tenha em boa cozinha celestial) adorava tudo o que eu cozinhava, me elogiava, mas o “charutinho” que a mãe dele fazia era melhor. Após inúmeras tentativas de fazer igual à santa mãezinha dele, resolvi: “O que tua mãe cozinha, eu não faço.”. Às vezes eu escutava um pedido: “Chú, faz esfiha? Estou com uma vontade!”. Resposta pronta, na ponta da língua: “Pede pra tua mãe, que a dela é melhor.”.
Segundo marido, a história se repete. Todo mundo elogia meu feijão, mas do cara-pálida-metade sempre ouço: “Minha mãe tempera mais o feijão; o dela é mais saboroso; o caldo é mais grossinho.”. Faço seguindo a receita, mas não tem jeito. Na última visita dela, testamos, ambas, o poder de sugestionamento do cidadão. Eu temperei o feijão, como sempre faço, sem mudar nada, e dissemos que ela tinha feito. O babaca logo soltou o chavão:”Vê se aprende com minha mãe, porque isso sim é que é feijão!”. Rimos, as duas, e contamos a “pegadinha”. E ele emendou:”Mãe, cá entre nós, eu ia perguntar escondidinho se a senhora tinha perdido a mão pra temperar feijão, pois eu notei que estava diferente.”.
Não tem jeito. Mãe é mãe: muda o nome, o endereço, mas não pode mudar de cozinha.
Aprendeu? Então corre fritar batatinha congelada pro seu filho. Garanto que a sua é melhor do que a do mesmo pacote que a coitada da noiva dele frita e ele depois reclama da azia: “da mamãe é mais fresquinha!”, ou “o óleo que ela usa é diferente.”, ou ainda “você não acerta a temperatura do fogo!”.
Receita infalível para segurar seu homem pelo estômago: mande-o comer na casa da mãe.
E pronto. Aproveite e vá ao cabeleireiro, compre uma camisola bonita e espere por ele depois da digestão que, com certeza, será maravilhosa. Afinal, foi a mãe que cozinhou!
Thaty Marcondes
Retirado de Releituras