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Os milagres da ciência

por Jorge Soares, em 09.06.16

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Imagem do Expresso

 

Foi noticia por cá e até pelo resto do mundo, esta semana nasceu em Portugal um bebé filho de uma mulher que estava em morte cerebral há 17 semanas.

 

Ao contrário do que se pode ler na capa de pelo menos um jornal (?), não nasceu um bebé de uma mãe morta, nasceu de uma mãe viva que se encontrava em morte cerebral, não, não é a mesma coisa. É evidente que se a mãe estivesse morta não poderia haver desenvolvimento do feto, o cérebro estava em morte cerebral, o corpo estava evidentemente vivo, o que ,aliádo aos cuidados que lhe foram prestados,  permitiu o correcto desenvolvimento do feto até às 34 semanas, altura em que nasceu por cesariana..

 

O resto é o conhecimento e a qualidade de todos os profissionais de saúde que estiveram envolvidos e que permitiram o final feliz que todos conhecemos.

 

Vivemos numa época em que os avanços da ciência para além de nos permitirem viver cada vez mais tempo com uma razoável qualidade de vida,  fazem possível este tipo de "milagres".  O bebé chama-se Lourenço e nasceu saudável.

 

“Não foi um milagre, mas um avanço da ciência e da capacidade de multidisciplinaridade e eficácia de uma equipa. Não são só os médicos, mas os enfermeiros, os nutricionistas, os farmacêuticos e todos os profissionais que contribuíram para este êxito” 

Doutora Ana Campos ao Jornal Expresso

 

Jorge Soares

publicado às 23:17

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 Imagem do Expresso

 

"Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou o Estado português por violação dos Direitos Humanos no caso da cabo-verdiana Liliana Melo. A mãe, que viu os tribunais portugueses retirarem-lhe os sete filhos", é assim que começa a noticia do Expresso.

 

Neste caso o estado foi condenado pelo suposto excesso de zelo ao achar que esta mãe não tinha condições para manter e educar sete  filhos , tendo estes sido retirados, institucionalizados e posteriormente encaminhados para a adopção.

 

Hoje, e sobre o caso da mãe que decidiu atirar-se ao Tejo juntamente com as suas duas filhas, o mesmo estado está a ser condenado por muita gente por ter tido a mão leve ao deixar as crianças, que estariam sinalizadas por supostamente terem sido vitimas de abuso sexual e maus tratos, a viver com a mãe. Mãe que seria ela própria vitima de violência familiar pela mesma pessoa que supostamente abusou das crianças e estaria a sofrer uma profunda depressão.

 

Quando há duas crianças mortas é fácil concluir que o estado deveria ter feito mais, há uma série de instituições que só existem para proteger e zelar pelo bem estar das crianças. Não sabemos a história toda, não sabemos que medidas protecção terão sido tomadas, não sabemos porque se tomou a decisão de deixar as crianças à guarda de uma mãe, que se sabe  agora, não teria condições psicológicas para tal... mesmo assim é fácil concluir que algures alguém falhou.

 

No caso de Liliana Melo, de que na altura falei neste e neste post, é fácil condenar o estado, as crianças foram institucionalizadas, pelo menos o seu bem estar físico foi garantido, algumas terão ido para adopção e em principio terão famílias que lhes dão amor e carinho.... E alguém pode garantir que caso o estado não tivesse actuado estas crianças estariam todas bem? Estamos a falar de uma mãe com sete filhos, uma das quais até já estaria grávida também, que na altura não tinha emprego e que claramente não tinha condições económicas para os manter. Mesmo assim o estado foi na altura condenado na praça pública e agora nas instituições europeias, por ter feito o seu papel.

 

Faz sentido o estado ser condenado pelo seu suposto excesso de zelo ou fará sentido o estado vir a ser condenado pela morte das duas crianças desta semana? Ninguém tem dúvidas que neste caso o estado deveria ter feito muito mais... será que são os mesmos que acharam que no outro caso as crianças deveriam ter ficado com a mãe?

 

Será que devido à condenação publica do outro caso, não terão as instituições  passado a ser menos zelosas e por isso estas crianças foram entregues à mãe?

 

A única coisa certa é que nestes casos o estado não tem por onde fugir, faça o que faça, vai sempre ser preso por ter cão e por não ter.

 

Jorge Soares

publicado às 23:26

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Ainda na infância, aqueles amigos umbilicais descobriram-se apaixonados. Juraram-se, acreditaram-se, o relógio adiantou ponteiros, anelaram-se, casaram-se.

 

Os anos passaram apressados: o desejo queimou o primeiro; a sede bebeu o segundo; a fome comeu o terceiro. Quatro anos e as bocas frias ruminavam; os corpos gritavam em silêncio pelo pequeno corpo que não lhes chegava. À  parteira, menos um  luz para mostrar; ao padre, uma falta na pia batismal no domingo; ao Mundo, uma ideia negada; ao casal, uma chupeta e dois pesinhos para medir os limites da casa.

 

Não queriam adquirir choro que não lhe fosse proveniente dos próprios olhos. Acreditavam que, com isso, teriam de se acostumar à vereda que o pequeno desconhecido traria desenhada. Todos os planos davam para um filho; todos os meses davam para o fracasso.

 

Uma noite, enquanto viam TV na sala, escutaram um choro primário vindo do jardim. Sufocado entre flores e espinhos, formigas e grama úmida, chegou a casa aquele minúsculo ser de olhos ainda fechados.

 

E por ali descobriu para que servem os pés, subiu as escadas, dormiu sozinho, espremeu a primeira espinha, dormiu junto a uma estranha sorrateira, desceu para ser calouro, subiu com o diploma, beijou os pais, partiu para longe, encontrou o útero que lhe fermentou, libertou-o da prisão, ofereceu-lhe casa, chama-o carinhosamente de“mãe”.

 

Longe dali, um par de cabelos brancos, ainda de luto, lamenta o que poderia ter sido, e foi.

 

Lúcia Costa

Retirado de Conto Outra

publicado às 21:13

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Imagem de aqui

 

Curiosamente soube da noticia através de um dos jornais espanhóis online, não sei se sou eu ou se é o país que anda distraído. No Público conta-se a história

 

É uma criança de 12 anos, pelo menos desde os 10 que tem sido abusada e violada pelo padrasto,  ainda que já aos seis anos havia suspeitas, na escola desconfiaram e levaram-na ao hospital, descobriu-se que está grávida de 5 meses.

 

A lei portuguesa no caso de gravidezes que resultem de violação só permite o aborto até às 16 semanas, admitindo-se que possa acontecer até às 24 semana no caso de doenças incuráveis no feto, ou em qualquer altura se estiver em causa a grave e irreversível lesão física ou psíquica da mulher.

 

A criança está internada no Hospital de Santa Maria à espera de avaliação psicológica e de uma decisão que permita ou não o aborto.

 

Estamos a falar de uma criança de 12 anos que com seis anos terá sido vitima de uma tentativa de abuso, desde os 10 que é abusada e violada por alguém que devia ter um papel protector na sua vida. Segundo quem a conhece “é uma miúda que não se queixa, muito sofrida, triste. É introvertida e tímida, ainda infantil”. Será que sequer tem ideia do que significa ser mãe e da forma em que isso irá mudar a sua vida? Será sequer que tem a noção do que é abortar?

 

A lei diz que será permitido o aborto "se estiver em causa a grave e irreversível lesão física ou psíquica da mulher", será que há alguma dúvida que ser mãe aos 12 anos de um filho que foi resultado de uma violação, vai afectar de forma grave e irreversível a vida desta criança?

 

Vive no seio de uma família desestruturada e que sobrevive graças ao apoio de terceiros, queremos mesmo acrescentar um bebé a esta equação? Quem é que nestas condições vai garantir o bem estar da mãe e da criança? Que futuro tem esta mãe criança e que futuro poderia ter o seu filho se ela não abortar?

 

Qual será a decisão ao nascer a criança? Será de imediato retirada à família, que não tem condições para a ter consigo,  e será mais uma  a somar às mais de 8000 que já estão institucionalizadas e à ordem do estado? 

 

Considerações morais e religiosas à parte, há alguma dúvida que a decisão deve ser o aborto?

 

Jorge Soares

publicado às 22:48

Conto - De mãe para Filho

por Jorge Soares, em 14.03.15

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Hoje é com você que quero falar, meu filho, e é pra você que escrevo.
 
Casei-me aos vinte e dois anos, você sabe, mas o que não sabe é que tinha mentalidade de quinze. Como à época era o que se esperava, queria filhos. Engravidei logo, mas quis o destino que o feto não vingasse e, por motivos que agora não vêm ao caso, não engravidei mais. Seis anos depois, meu casamento com seu pai por um fio, uma relação sexual esporádica e... Olha aí, eu grávida! Não era mais o que eu esperava ou queria. Pensava em me separar, outros sonhos, outros planos, tudo adiado.  E a gravidez não foi fácil. Passei nove meses enjoando. Enjoava de tudo e de todos. Comidas, rostos, cheiros, cigarros, cores, pastas de dente, escovas de cabelos, até do enxoval do bebê enjoava. Pra você ter uma ideia, fui para a sala de parto enjoando. Masquei montanhas de chicletes e li montanhas de livros sobre como cuidar de recém-nascido. Quanto mais eu lia, mais me apavorava. Tinha certeza absoluta que não daria conta. E é sobre isso que quero lhe falar, de como uma mãe sem vocação conseguiu, afinal, ser mãe. 
 
Há 42 anos, o dia cinco de março caiu numa segunda-feira de carnaval. Nesse dia, às 18h50, colocaram em meu colo um rebento forte, cabeludo, que mexia e se remexia, parecendo não saber como se acomodar e, confesso, ao olhar pra você, meu primeiro, décimo, centésimo, milésimo e milionésimo sentimento foi de pânico. Eu era, então, uma jovem confusa e despreparada, mas tive a exata noção da imensa responsabilidade que depositavam em minhas mãos, tão desastradas esses minhas mãos! Nem preciso dizer o que foram os primeiros meses, um verdadeiro “deus nos acuda” e, não fosse minha mãe, aquela santa da sua avó, sei lá se nos primeiros banhos você não teria se afogado, ou engasgado com as primeiras mamadeiras. Mas você, meu filho, era forte e resistiu bravamente a todas trapalhadas de sua mãe, transformando-se num lindo bebê que parava as pessoas na rua, admiradas com sua formosura. Certo que meu excesso de medo gerou um excesso de zelo que, por sua vez, gerou uma criança excessivamente limpa e bem cuidada. Contudo eu me questionava: por que aquela sensação de perda? Cadê aquele amor na minha incondicional dedicação? Eu não deveria estar padecendo num paraíso? Que paraíso era aquele que mais parecia um suplício? Que tipo de mãe eu era? Acho que nem preciso falar daquele sentimento antipático e irritante chamado “culpa” que tomou conta de mim, né? Eu continuava lendo, agora tudo o que existia sobre psicologia infantil. E, de novo, quanto mais lia, mais culpa e responsabilidade sentia. Rezei para todas as Madonas que conhecia e olha que são muitas. Nenhuma delas me deu qualquer resposta imediata. Até que um dia... Um “insight”, finalmente uma luz! Descobri que, desde a gestação, havia estabelecido com você um laço de, de... Obrigação talvez? Um encargo? Qualquer coisa que queira, mas não de naturalidade, não de amor. Então resolvi seguir minha intuição, chutar o balde e mudar tudo. Comecei, transferindo a culpa que sentia para toda a literatura que os entendidos no assunto me fizeram engolir e doei toda aquela porcaria. Deixei que o amor encolhido sob a carga de responsabilidade e culpa aflorasse, e vi que era bom.
 
Mesmo assim, foi aos trancos e barrancos que fui desempenhando meu papel de mãe, muitas vezes de maneira equivocada.  Mas você, filho, com sua alma antiga e sábia, parecia compreender minhas limitações e, muito provavelmente, por trás dos meus erros e defeitos, via a sombra gigantesca daquele amor que se mostrava, agora escancarado. O tempo foi passando e eu acompanhando passo a passo suas dificuldades. Sua obstinação e perseverança na busca de seus objetivos. Chorei com você suas derrotas, vibrei com você suas vitórias.
 
Hoje, olhando para trás e revivendo esses anos todos, constato impressionada que você nunca, nunca, mas nunca mesmo, teve qualquer gesto de impaciência, qualquer palavra áspera para comigo ou seu pai. Suas decepções conosco podiam, por vezes, se refletir em seu semblante ou nos seus olhos marejados, mas jamais se traduziram em qualquer atitude minimamente agressiva ou grosseira. Só agora me dou conta, filho, do quanto você me ensinou a ser uma pessoa melhor. Com você, e por você, aprendi o valor da renúncia, o valor da luta honesta e boa. Foi por você que aprendi a ser valente, a encarar as dificuldades de peito aberto, a lutar corajosamente pela nossa sobrevivência material e emocional. Só agora, filho, me dou conta do presente maravilhoso que me deram ao cair da tarde daquela segunda-feira de carnaval. Talvez tanto enjoo fosse o disfarce da espera ansiosa pelo nosso encontro. Talvez eu soubesse, sem saber, que você viria para me transformar, para me ensinar o valor da generosidade, para me mostrar que a vida só vale a pena ser vivida se houver desafios. Filho, você é muito. Você é um ser humano precioso e raro, daqueles que, quando a gente encontra, nos fazem acreditar em nossa natureza divina.
 
Então, hoje, no dia do seu aniversário, quando deveria lhe presentear, concluo que tenho mesmo é que lhe agradecer. Obrigada por sua presença e carinho sempre constantes. Obrigada por sua bondade, pela sua compreensão e tolerância. Obrigada pelo seu belíssimo caráter e integridade. Obrigada por me fazer ter vontade de levantar a cada manhã. Obrigada pelo meu coração dilatado de orgulho e admiração. Obrigada por fazer sentir-me mãe, ainda que sem vocação. Devo a você, a alegria de ser.
 
Quando você nasceu, filho, uma melodia estava prestes a começar. No início a afinação dos instrumentos irritava meus ouvidos. Mas quando - enfim afinados - os primeiros acordes soaram, uma magnífica melodia encheu os ares. Seu compasso tem marcado o ritmo de nossas vidas desde então. Tenho certeza que ela continuará vibrando vida a fora, através de seus filhos, dos filhos de seus filhos e assim por diante, por toda a eternidade. 
 
Deus lhe abençoe.
 
Cecília Maria De Luca
 
Retirado de Samizdat

publicado às 20:26

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Manuela Moreira foi mãe no final do ano passado, após a licença parental voltou ao trabalho e  decidiu gozar do seu direito às horas de amamentação, para isso falou com a sua entidade patronal e pediu para entrar uma hora mais tarde no horário da manhã, de modo a conseguir conjugar a amamentação do seu filho com os horários dos transportes públicos. A entidade patronal discorda do horário proposto, propõe a hora do almoço e impede-a de trabalhar durante o período da manhã. 
 
Até aqui nada de estranho, este tipo de coisas acontece cada vez menos mas infelizmente vai acontecendo, nada disto seria muito estranho, não fosse o caso de a entidade empregadora de Manuela Moreira ser o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN). 
 
A lei não é clara quanto ao período em que o horário de amamentação deverá ser cumprido, normalmente empresas e trabalhadores chegam a acordo sobre  a melhor hora, neste caso pelos vistos não há acordo possível.
 
Manuela alega que o horário proposto pelo sindicato patrão não é compatível com os horários do seu filho e os dos transportes públicos, o sindicato  alega que não a pode dispensar no horário que Manuela pretende.
 
Entretanto Manuela passa as manhãs à porta do sindicato onde não a deixam entrar se não cumprir os horários propostos pela empresa.
 
Alguém consegue imaginar o que diria o sindicato se isto em lugar de estar a acontecer com um dos seus funcionários estivesse a acontecer com um dos seus filiados e outra entidade empregadora qualquer? Na hora de defender quem trabalha, o mote deste sindicato deve ser, "Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço"
 
Felizmente este é um caso cada vez mais raro no nosso país, cada vez mais as empresas portuguesas olham para a maternidade e para os direitos das mulheres como algo normal... mas que este caso aconteça precisamente com uma empregada de um sindicato, é de bradar aos céus.
 
Por estas e por outras é que cada vez há menos sindicalizados em Portugal
 
Há um sindicato dos empregados dos sindicatos?, deveria haver.
 
Jorge Soares

publicado às 22:16

Conto - A mãe que você será

por Jorge Soares, em 10.05.14

A mãe que você será

 

Para Denise, esta amada mãe moderna


Um filho sempre foi uma abstração em nossas vidas. Jamais um plano real, jamais esteve nos projetos futuros.


Era somente uma hipótese, um "e se...?"

Isto até você me dizer que estava pronta, que havia chegado a hora, que devíamos tentar.


Primeiro, pensei que fosse brincadeira, depois fiquei um pouco intimidado.


Uma criança em nossa vida completamente desregrada, sem rumo, sem paradeiro, sem rotina? Daria certo isto?


Mas como todas nossas demais decisões loucas, topei e nove meses depois estávamos com o nosso bebezinho nos braços.


E agora?

Somos só eu e você. Somente eu e você. Todos nossos parentes e amigos de verdade estão a milhares de quilômetros daqui, portanto, todas as responsabilidades estão sobre as nossas costas. Sem ninguém para nos dar uma forcinha, sem tréguas, sem apoio.


Mais do que exceção, penso que o nosso tipo de família está virando uma regra.


O nossa maior conselheira?


A internet.


"Como os pais viviam antigamente sem internet?", você me perguntou, uma vez.


Viviam das tradições, dos rituais que mães passavam para filhas, de crendices como "congestão", "não comer olhando no espelho" ou "não lavar o cabelo na quarentena". Aliás, muita gente ainda vive assim.


Você se tornou uma mãe moderna, que pesquisa cada escolha para nosso filho, que conscientemente planeja o que pensa ser o melhor para ele. Isto mesmo antes de ele nascer, quando estudou sobre os tipos de partos, hospitais e exigiu nada mais do que o melhor que houvesse disponível. E depois veio a luta para prosseguir na amamentação, os sacrifícios que você fez para o melhor do nosso bebê.


Também pesquisou sobre os alimentos e sobre os métodos para estimular melhor a criança, e apesar de ainda ter um tempo pela frente, já está também lendo sobre qual será a melhor educação para ele.


Compartilhamos das mesmas ideias radicais (ou revolucionárias!), então não sabemos se isto será bom ou ruim. Já nos mudamos para outro país e voltamos com o nosso bebê ainda de meses. Já viajamos com ele. Viajaremos muitas vezes mais. Não mudamos tanto a nossa rotina.


Esta é a mãe que você se tornou.


E talvez seja uma pequena amostra da mãe que se tornará.


Uma mãe que deseja que seu filho seja livre, ou melhor, que seja o que é.


E não é este o maior ato de amor possível, que o nosso filho cresça para se tornar o que tem de ser, e não apenas um espelho (ou uma frustração) do que nós somos?

Percebo que sua maior preocupação é a de criar nosso filho para o mundo, de que ele seja uma pessoa digna, que esteja preparado para esta selva que há aí fora.


Queremos fazer tantas coisas diferentes dos nossos pais e, justamente por isto, cometeremos outros erros. Que solução nos resta além de tentar e correr estes riscos? Optar pelo óbvio, pelo mais simples, pelo que todos fazem?


Mas aí não seria você. Não seria esta mãe moderna, que está sempre olhando para a frente, rumo ao futuro.


Você não é igual a mais ninguém, como esperar que fosse uma mãe igual às outras?

Só conheceremos o resultado de nossos atos daqui a muitos anos. Todavia, assim como na música que sempre a faz chorar, "o acaso vai nos proteger, enquanto eu andar distraído".


O acaso, este nosso imprevisível companheiro, continuará nos protegendo. E ele a protegerá sempre.

Nosso bebê ainda é muito pequeno para expressar gratidão, por isto, agradeço por ele. Sei que um dia ele saberá que teve a melhor mãe do mundo 

 

Henry Bugalho

Retirado de Samizdat

publicado às 22:10

Passaram 17 anos, onde está o Rui Pedro?

por Jorge Soares, em 28.01.14
Rui Pedro

 

https://www.facebook.com/dia28


Rui Pedro is missing since 1998. He was 11, today is his 27th birthday. His mother never stopped looking for him. Have you seen him?


O Rui Pedro desapareceu em 1998, com 11 anos. Hoje faz 27 anos. Filomena nunca desistiu de procurar o seu filho. Se o tiver visto, diga-nos por favor.

 

 

publicado às 22:06

Conto - Para ela, que não virá

por Jorge Soares, em 23.02.13

Para ela, que não virá

Imagem minha do Momentos e Olhares


Chega. De antemão te peço desculpas por não insistir mais em caber no molde. Eu tentei, me esforcei, mesmo. Namorei sério, morei junto, amei para valer, criei a cena adequada, posicionei os personagens, e não. Suportei cobranças das mais descabidas, desnecessárias e antigas, perdi para a frustração e ganhei dela tantas vezes, segui à risca anos de terapia, mas não consegui. O desejo de dar a passagem nunca nasceu em mim. Não é pessoal, não tenho nada contra quem és ou quem te tornarias. Estou certa de que serias alguém decente e realizada apesar da minha proximidade. Tu, do lado de fora, não me assustas. Meu fracasso está no meio do processo. Minhas mãos suam e algo na região da barriga se retorce quando te imagino ganhando o mundo, descolada de mim. Sofro de pavor, de agonia, de medo de morrer com dor, urrando. São pensamentos assim e outros piores que preenchem qualquer espaço vago que haja para a vontade da maternidade.

As vezes sinto que não seria segura a nossa convivência, pelo menos nos primeiros anos. Tenho tido um sonho recorrente, que me atordoa durante os dias que seguem o episódio: sou eu te olhando bem de perto enquanto dormes, meus braços apoiados no limite do berço, sou eu absolutamente feliz te contemplando. O sol da manhã ilumina o quarto e poucos de vento sacodem a cortina de voil branco. De repente, o calor me invade pelas tripas e sobe até a nuca, entendo que estou prestes a perder o controle e embora queira parar, é outra quem me comanda. É meio que possessão, estou em mim, mas me divido com esse duplo meu, uma louca. Grito forte que a outra não ouse, paraliso, e ela me ignora. Desliza as minhas mãos e age, não posso impedir. Apertamos o teu pescoço até que o contorno da tua boca de recém-parida escureça e teu choro acabe. Então, acordo desnorteada, querendo esquecer, mas é impossível. Não és tu o que me assombra, entendes? 

Difícil de admitir é que a minha parte insana talvez não more lá, em uma casa onírica. É provável que já tenha se mudado de mala, cuia e chinelinhos para a vida real. Tem sido rotineiro vê-la saltar e complicar as coisas. Faz pouco, surtamos. Repetiram aquela pergunta desgraçada, para a qual não sei dar a resposta que exigem com olhos e sorrisinhos maliciosos, “e quando vem o bebê”, me torturam. Que tanto querem saber, afinal? Ela não virá. Não virá. A informação me sai entre dentes. Não sei de onde tirei a certeza de que, caso viesse a gerar, meu broto seria mulher como eu. Me julgam pelas palavras. Dizem que me referir a ti assim já é meu corpo e minha alma querendo a tua presença aqui. Agora. Reparei que meus ossos, seios e cabelos estão diferentes e reconheço que o relógio biológico avança, pedindo também explicações. Perdoa, filha, por não te deixar me atravessar. Por favor, se não puderes entender, minimamente aceita que meu conflito escancara uma covardia tremenda. De um jeito torto, já te protejo, e quase me convenço que isso, por si, vai dando à luz uma mãe. É a melhor que podes ter. Por hora, sigo na combinação anticoncepcional/camisinhas, com todo meu respeito a ti. E a mim.


Andréia Pires


Retirado de Samizdat

publicado às 19:12

Conto, Receita Infalível

por Jorge Soares, em 20.10.12

Comida de mãe


Imagem da Internet



Dizem que coar café na calcinha segura o homem e garante o marido. Qual o quê! Superstição sem fundamento lógico. 

Após anos e homens de testes, cheguei à conclusão que o único homem que uma mulher segura pelo estômago é o filho (se ela tiver tido a “felicidade” de parir um exemplar masculino).

Explico: comida de mãe é sempre melhor, por mais química e comprada pronta que ela seja. Se a vizinha comprar um frango assado no restaurante “TV pra cachorro” melhor e mais chique do bairro, o dito “macho” logo afirma que a mãezinha “faz” melhor, nem que tenha sido comprado no boteco mais “pé sujo” da periferia. Basta que ela coloque as mãos de fada no pacote e pronto: é melhor e não tem papo. E mesmo que a vizinha compre no mesmo lugar, ao paladar do filho expert é diferente: “Ah, deve ser porque minha mãe é freguesa antiga: o “cara” capricha!”; ou então “Minha mãe acrescenta algo, que não sei o que é, que fica melhor!”. Só mãe sabe fritar ovo como o filho gosta, já notaram?

E é por aí mesmo.

Meu primeiro marido (que Deus o tenha em boa cozinha celestial) adorava tudo o que eu cozinhava, me elogiava, mas o “charutinho” que a mãe dele fazia era melhor. Após inúmeras tentativas de fazer igual à santa mãezinha dele, resolvi: “O que tua mãe cozinha, eu não faço.”. Às vezes eu escutava um pedido: “Chú, faz esfiha? Estou com uma vontade!”. Resposta pronta, na ponta da língua: “Pede pra tua mãe, que a dela é melhor.”.

Segundo marido, a história se repete. Todo mundo elogia meu feijão, mas do cara-pálida-metade sempre ouço: “Minha mãe tempera mais o feijão; o dela é mais saboroso; o caldo é mais grossinho.”. Faço seguindo a receita, mas não tem jeito. Na última visita dela, testamos, ambas, o poder de sugestionamento do cidadão. Eu temperei o feijão, como sempre faço, sem mudar nada, e dissemos que ela tinha feito. O babaca logo soltou o chavão:”Vê se aprende com minha mãe, porque isso sim é que é feijão!”. Rimos, as duas, e contamos a “pegadinha”. E ele emendou:”Mãe, cá entre nós, eu ia perguntar escondidinho se a senhora tinha perdido a mão pra temperar feijão, pois eu notei que estava diferente.”.

Não tem jeito. Mãe é mãe: muda o nome, o endereço, mas não pode mudar de cozinha.

Aprendeu? Então corre fritar batatinha congelada pro seu filho. Garanto que a sua é melhor do que a do mesmo pacote que a coitada da noiva dele frita e ele depois reclama da azia: “da mamãe é mais fresquinha!”, ou “o óleo que ela usa é diferente.”, ou ainda “você não acerta a temperatura do fogo!”.

Receita infalível para segurar seu homem pelo estômago: mande-o comer na casa da mãe.

E pronto. Aproveite e vá ao cabeleireiro, compre uma camisola bonita e espere por ele depois da digestão que, com certeza, será maravilhosa. Afinal, foi a mãe que cozinhou!


Thaty Marcondes 


Retirado de Releituras

publicado às 21:42


Ó pra mim!

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