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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Por estes dias tive uma espécie de Deja Vú, lembram-se de aquele Post em que eu contava que eles queriam uma Mana?, que depois terminou numa reunião familiar e num documento assinado por todos cá em casa, em viagens a Cabo Verde e na chegada da míni terrorista da fotografia.
- Mamã tu vais ter um bebé na tua barriga?
- Eu?
- Sim tu, tu vais ter um bebé da tua barriga.
- Não
- Sim, eu quero que tu tenhas um bebé da tua barriga
- E para que é que tu queres que eu tenha um bebé?
- Para eu ter um mano bebé para brincar
- Não, eu não vou ter mais bebés
- Vais, vais, tu vais ter um bebé como a mãe da Y.
- Não vou não.
- Vais vais, que quero que tu tenhas um bebé da tua barriga
E depois naquele jeito de repetir tudo mil e uma vezes, ser chata e teimosa como só ela sabe ser, esteve não sei quanto tempo a repetir a cantilena e não houve ideia ou problema logístico que a convencesse. Está visto que ela não ouviu falar da crise, do Gaspar, da Troika.....
......
Medo!!!!!
Jorge Soares
Imagem retirada da internet
Há alturas na vida em que o silêncio é um peso que paira sobre nós, não, não estou a falar do silêncio do mundo, estou a falar do meu silêncio, um silêncio cúmplice e que pesa sobre mim como uma enorme nuvem de tempestade..... a solução... tentar esquecer.
Há umas 3 semanas atrás, após uma conversa cá em casa em que olhamos para o panorama da adopção em Portugal e concluímos que a mana que os meus filhos querem, vai chegar quando eles já não se lembrarem de que estão à espera dela, decidimos ligar para a Segurança Social, em primeiro lugar para questionar o facto de que já deveríamos ter recebido o certificado, e em segundo lugar para tentar marcar uma reunião para avançarmos com o processo da adopção internacional.
Fiz o telefonema, questionei uma série de coisas e reclamei com algumas das respostas, no fim, pedi para ser marcada uma reunião, já que queríamos esclarecer as coisas e avançar com o processo de adopção internacional. Que sim, que marcavam a reunião.... mas que tinha que ser com a responsável do departamento de adopções. Isto foi uma quarta, ficaram de me ligar até sexta.... ainda estou à espera, e já passaram mais de 3 semanas.
Ligaram sim para a P., a questionar o que se passava comigo que estava a alterado. Eu sei que tenho mau feitio, mas juro que não fui indelicado com a senhora, limitei-me a perguntar e a reclamar, com modos, quando as respostas não faziam sentido. Mas a senhora achou que eu estava alterado...... sim, estava, e estou, mas acho que perguntar não ofende, e está nos meus direitos ter direito à informação sobre o meu processo... ou não?
O certo é que desde então andam a engonhar, arranjam sempre uma desculpa e não marcam a reunião, ou é porque alguém está de férias, ou porque a chefe está ocupada, ou....
Já percebi, fiquei marcado, e se elas nem querem marcar a reunião, vão-me atribuir uma criança é nunca. Infelizmente, elas tem a faca e o queijo na mão, só elas tem o poder de atribuir ou não as crianças, e não há lista que valha, porque elas podem simplesmente alegar que não encontraram uma criança com as características que indicamos, ou que outra pessoa qualquer é mais adequada que nós.... e como ninguém controla, ninguém verifica porque há pessoas que recebem crianças em meses e outras que não recebem em anos.... elas são deus...e nós estamos condenados ao purgatório...da espera eterna.
É evidente que o que me apetece é reclamar, exigir, gritar ao mundo a minha indignação, falar, por mim e por todas as outras pessoas que estão na minha situação.... mas sei que isso vai ter um preço, porque mesmo para a adopção internacional, são elas quem trata do processo...e se decidem demorar quase um mês para marcar uma reunião,......
Sinto-me estranho, porque por um lado penso que não deveria ter feito aquele telefonema, que não devia ter questionado, porque isso colocou em causa os meus sonhos e os da minha família, por outro lado penso que o silêncio é cúmplice, é pactuar, é aceitar que elas brinquem aos deuses com a vida das pessoas... e apetece-me gritar, reclamar, exigir!... há alturas na vida em que é muito difícil decidir entre viver ou limitar-me a existir!
Jorge
Se bem se lembram, aquela primeira entrevista serviu para entrega dos documentos e para que a responsável dos serviços nos conhecesse, depois disso o processo seria entregue a uma das assistentes sociais que irá entrar em contacto connosco.
Bom, passou um mês, 30 dias de silêncio total, por lei, o processo deverá estar finalizado em seis meses, durante esse tempo deverão acontecer pelo menos três entrevistas, uma delas domiciliárias e no fim estaremos aptos a adoptar uma criança. Passado o primeiro mês, restam 5.
Nos primeiros dias a Raquel falava muitas vezes do assunto, não descansou enquanto não deu a noticia a toda a família, ela vai ter uma mana. Lá tentamos explicar que só tínhamos ido entregar os documentos e que agora temos que esperar que nos digam algo, ..... um destes dias lembrou-se..e lá perguntou quando vem a mana,...... lá tentamos explicar que estamos à espera que nos liguem, e que se calhar a mana vai demorar a vir.
Quando se tem 8 anos é difícil entender o silêncio, por muito que expliquemos, ela não percebe o que impede as senhoras de ligar. Na verdade, tenha-se a idade que se tenha, é sempre difícil entender o silêncio, principalmente quando sabemos que algures, está uma criança que anseia pelo amor amor e carinho que a Raquel tem para dar a essa mana que ela exigiu e que quer conhecer.
Passou um mês, faltam 5...... para o verdadeiro inicio da espera....se se cumprir com os prazos da lei.
Confiança O que é bonito neste mundo, e anima, É ver que na vindima De cada sonho Fica a cepa a sonhar outra aventura... E que a doçura Que se não prova Se transfigura Numa doçura Muito mais pura E muito mais nova... Miguel Torga
Jorge
PS:Imagem retirada da Internet
Imagem de aqui
Dizia no outro dia a professora da Raquel que ela é uma miúda decidida. que sabe bem o que quer e não desiste até lá chegar...... bom, desde aquele dia do Quero uma mana eu percebi muito bem o que a professora queria dizer.... é que não houve a mínima hipótese de ela deixar passar o assunto... não houve argumento, ideia ou motivo que a fizessem mudar de ideias, qualquer que fosse o argumento que se utilizasse, ela desmontava-o na hora....
Por fim, após arregimentar o irmão para a causa, decidiu que o assunto devia ser debatido em reunião familiar, assim que qual matriarca de família, decidiu convocar um concilio. No dia e hora marcados, lá estava ela na cabeceira da mesa, com um bloco de folhas brancas e uma esferográfica na mão decidida a tomar nota dos argumentos.... positivos, e das decisões tomadas...
E para grande espanto meu, presidiu ao concilio de uma forma que eu nunca imaginaria que uma criança de 8 anos seria capaz.... com domínio dos assuntos, autoridade e classe.
No fim, fez a acta da reunião, e fez cada um dos participantes assinar solenemente em como se comprometiam a cumprir com o decidido..........
Não quero parecer pai babado... mas se existirem algumas mais como ela... este pais tem futuro!
O que foi decidido?... pois, que a mãe está incumbida de tratar dos impressos, que o pai tem que ir pedir o certificado médico...e que a mana vai ter entre dois e cinco anos, o mano ainda esboçou um protesto, que ele queria um mano... mas já sabemos quem manda cá em casa...... assim a SS colabore!
Jorge