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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Hoje à hora do almoço o assunto do post de ontem era tema de conversa no refeitório, pelos visto muita gente viu a reportagem e havia quem estivesse preocupado, mas não era com as crianças e com o facto de terem sido sujeitas ao estudo, não, ninguém falou uma única vez das crianças ou da casa Pia, as pessoas estavam preocupadas porque maioria tem os dentes com chumbo e queriam saber se realmente aquilo faz mal ou não e se deviam ou não ir trocar as amálgamas.
Fiquei triste, no fundo a Rita Marrafa de Carvalho, que é uma excelente jornalista, soube passar a mensagem, o mercúrio que uma grande parte da população tem nos dentes é prejudicial para a saúde.... mas o que para mim era a parte mais importante da reportagem, não há quem proteja as crianças institucionalizadas contra este tipo de coisas, não passou.... as pessoas olharam todas para o seu umbigo e esqueceram que há mais de uma centena de crianças que foram utilizadas de uma forma inconcebível.
Alguém autorizou que dezenas de crianças institucionalizadas fossem objecto de um estudo médico, e desculpem lá mas não me parece que isso seja nem lógico nem admissível.
Não li evidentemente o resultado do estudo, porque não me interessa, há quem tenha lido e concluído que afinal o mercúrio não faz mal à saúde, eu estranho tal conclusão, mas acredito que seja isso o que está lá escrito. Mas o que teria acontecido se as conclusões tivessem sido que o mercúrio era prejudicial para a saúde, que a longo prazo pode ser causa de cancro e de outras doenças, será que aquele senhor que foi responsável pelo estudo e que na reportagem fez tudo para minimizar a questão, falaria da mesma forma? Se calhar não, mas a verdade é que o estudo já teria sido feito e as crianças sujeitas ao mercúrio.
Já agora, será que alguém se pergunta quantos outros estudos terão sido feitos na Casa Pia e nas centenas de instituições que há no país? Sim, porque se autorizaram este quem sabe a troco de quê, quem nos diz que não autorizaram outros?
E não, a desculpa de que as crianças não tinham tratamento dentário e assim ficaram a ter não pega, porque se não tinham era porque a Casa Pia não cumpria com a sua obrigação de o facultar... assim como não cumpria a sua obrigação de as proteger de estudos médicos e dos abusos por parte de funcionários e estranhos.
Foi por coisas como estas que há uns três anos atrás um grupo de pessoas decidimos criar a Missão Criança e é pela inércia e falta de interesse que a associação deverá morrer neste ou num dos próximos fins de semana, não porque não seja necessária, mas sim porque é muito complicado mudar a inércia das pessoas que só pensam em si, e os que nos propusemos fazer isso mudar, ou não tínhamos a vontade ou não tínhamos a capacidade... é triste, porque casos como este mostram que cada vez mais é necessário quem defenda e proteja as crianças deste país.
Jorge Soares
Imagem do Público
Não vi a reportagem na RTP e infelizmente não está online, o que sei foi o que li no Público e no DN que é muito pouco, segundo o Publico, durante oito anos, 500 crianças da Casa Pia foram submetidas, sem saberem, a experiências que “nunca tinham sido feitas sequer em animais”. Experiências que visavam descobrir o efeito do mercúrio nos dentes.
Imagino que não seja novidade para ninguém que o Mercúrio é altamente tóxico e nocivo para a saúde de qualquer ser humano, muito mais para crianças entre os 8 e os dez anos, que são as que são referidas na reportagem.
Ainda segundo a notícia, tudo isto terá sido feito com conhecimento das autoridades... autoridades?, que autoridades?, quem na instituição ou no estado pode autorizar que se utilizem crianças institucionalizadas como cobaias? Convém saber quem e como se autoriza uma coisa destas... porque isto é inacreditável... completamente surreal.
Já aqui defendi, neste post, que no caso da pedofilia faltou apurar os responsáveis da instituição que permitiram que dezenas de crianças fossem usadas e abusadas dentro e fora da instituição durante anos, recuso-me a acreditar que ninguém dos responsáveis sequer ouviu falar do que se estava a passar. Agora ante mais este caso na mesma instituição, reafirmo, deverão ser encontrados os responsáveis, estas coisas não podem simplesmente ficar impunes... é de crianças que estamos a falar.
A sensação de que ficamos de tudo isto é que as crianças institucionalizadas, as crianças que estão ao cuidado do estado e de outras instituições em que este delega as suas responsabilidades, são os parentes pobres da nossa sociedade, já não basta o abandono a que foram votados pelas suas famílias para que o próprio estado as descure e até utilize desta forma.
Espero sinceramente que tudo isto não caia no esquecimento, espero que se apurem dentro e fora da instituição os responsáveis por mais este absurdo.
Update, podem ver aqui o vídeo da reportagem, colocado online pelos responsáveis do Aventar
Jorge Soares