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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Ouvi há pouco o ministro da saúde a falar em números, segundo ele os doentes com sida custam muito dinheiro ao país, não foram estas as palavras dele mas o significado é esse, e portanto não é por causa de uns trocos para o transporte que se deixam de tratar as pessoas. Infelizmente o seguimento da notícia desmentia o ministro e vimos como desde os hospitais há quem afirme que:
"Há doentes com VIH/sida de todo o país que estão a ter dificuldades em ir levantar a medicação anti-retroviral aos hospitais devido ao custo dos transportes e ao agravamento das suas situações de vida por causa da crise, constatam médicos infecciologistas de todo o país."
Resumindo, os doentes tem que ir buscar a medicação aos hospitais, devido à crise deixam de o fazer com a sssiduidade necessária, já seja porque ao estarem desempregados não tem o dinheiro para o transporte, ou tem empregos em condições precárias e para ir ao hospital tem que faltar ao emprego e nem sempre há a abertura suficiente por parte dos empregadores.
E assim se vai perdendo em Portugal a batalha contra a doença, a Sida é desde há bastante tempo uma doença tratável, os doentes estão condenados a tomar a medicação para o resto da vida, mas quando o fazem conseguem seguir em frente e ter dentro de todas as condicionantes, uma vida normal.
A consequência de deixar de tomar os medicamentos normalmente significa o desenvolvimento de resistências ao tratamento e a necessidade de se passarpara um tratamento com fármacos ainda mais caros.
Era bom que alguém explicasse tudo isto ao ministro da saúde, que pelos vistos está a leste do verdadeiro problema, aquilo que para ele são trocos, para os doentes é muitas vezes a diferença entre ter ou não comida ao fim do dia, não é difícil entender qual a escolha que faz alguém quando se depara com ter dinheiro para a sua comida e a da sua família ou ir ao hospital buscar os medicamentos... por muito que isso mais tarde ou mais cedo lhe custe a vida.
Tudo isto o que significa é que entre a crise e a falta de visão da realidade, há milhares de portugueses que são condenados à morte, o país vai perdendo a guerra contra uma doença que há muito está controlada.
Além tudo isto, continuamos a ouvir falar da doença uma vez por ano no dia 1 de Dezembro, durante o resto do ano metemos a cabeça na areia e parece que não interessa falar do assunto , continua a faltar educação e prevenção.
Jorge Soares
Imagem do Público
Diz o ministro das finanças, que o governo insiste no aumento dos impostos para resolver a crise, porque cortar na despesa de forma racional exige tempo e dá muito trabalho.
Ora, como não se pode cortar de forma racional, corta-se a torto e a direito. Hoje ficamos a saber que vai deixar de haver comparticipação nos medicamentos para a Asma, na pílula contraceptiva e nas vacinas da gripe e contra o cancro no útero. Isto é o que eu chamo cortar de forma irracional.
Não sei se alguém fez as contas em quanto irá custar ao país e ao sistema nacional de saúde, o aumento do número de baixas, do aumento dos custos com a interrupção voluntária da gravidez e em tratamentos para o cancro.... e vai de aí, se calhar já se prepara outro pacote de cortes irracionais e estes deixam de ser custos.
Entendo que é muito importante que se corte na despesa, só por si o aumento de impostos não vai ser suficiente para resolver a crise, custa-me a entender que se comece a cortar precisamente pela saúde, e custa-me muito mais a entender que corte precisamente nestes itens. Não foi à muito que aqui falei do enorme número de mães adolescentes que há no nosso país, 12 dão à luz por dia, espelho de uma politica de educação sexual que está muito longe de ser efectiva.
O cancro do colo do útero é a segunda causa de morte entre as mulheres jovens na Europa. Portugal regista a maior incidência dos países da União Europeia: cerca de 17 casos por cada 100 mil habitantes. Todos os anos morrem no nosso país cerca de 300 mulheres com esta doença. Talvez os srs. ministros das finanças e da saúde devam ser esclarecidos destes números.
Não é segredo para ninguém que os gastos de saúde em Portugal são excessivos, gasta-se muito e muito mal em medicamentos e em muitas outras coisas, mas não haverá outras maneiras de poupar sem ser com cortes irracionais? Há uns dias estava a testar o programa de impressão de receitas electrónicas e fiquei abismado com as diferenças de preço entre marcas de medicamentos, quanto poupariam o estado e os utentes se os médicos fossem obrigados a receitar pelo principio activo?
Cortar na despesa sim, mas não de forma irracional, não assim, as pessoas não são números e a saúde tem que ser um bem de primeira necessidade, não um luxo.
Jorge Soares