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Feliz natal a todos os que alguma vez nos sentimos ouriço cacheiro e a todos os amigos que nos ajudaram a esconder os picos.

 

Jorge Soares

 

publicado às 14:30

Se Jesus nascesse hoje!

por Jorge Soares, em 23.12.15

natalderefugiados.jpg

 

 

Imagem de aqui

 

Mudam-se os tempos, como seria o mundo se Maria e José tivessem sido barrados a meio caminho de Belém por algum muro ou barreira  de arame farpado?

 

Bom natal para todos os que por aqui passam e que 2016 seja um ano com menos gente a precisar de fugir de sua casa e do seu país, com menos barreiras, menos muros e muito mais bom senso e mentes abertas ao mundo.

 

Jorge Soares

 

publicado às 15:03

Conto - O menino no sapatinho

por Jorge Soares, em 12.12.15

o menino no sapatinho, Mia Couto3.jpg

 

Imagem de aqui 

 

Era uma vez o menino pequenito, tão minimozito que todos seus dedos eram mindinhos. Dito assim, "fino modo", ele quando nasceu nem foi dado à luz mas a uma simples fresta de claridade.De tão miserenta, a mãe se alegrou com o destamanho do rebento - assim pediria apenas os menores alimentos. A mulher, em si, deu graças: que é bom a criança nascer assim desprovida de peso que é para não chamar os maus espíritos. E suspirava, enquanto contemplava a diminuta criatura. Olhar de mãe, quem mais pode apagar as feiuras e defeitos nos viventes? Ao menino nem se lhe ouvia o choro. Sabia-se de sua tristeza pelas lágrimas. Mas estas, de tão leves, nem lhe desciam pelo rosto. As lagriminhas subiam pelo ar e vogavam suspensas. Depois, se fixavam no tecto e ali se grutavam, missangas tremeluzentes.Ela pegava no menino com uma só mão. E falava, mansinho, para essa concha. Na realidade, não falava: assobiava, feita uma ave. Dizia que o filho não tinha entendimento para palavra. Só língua de pássaro lhe tocaria o reduzido coração. Quem podia entender? Ele há dessas coisas tão subtis, incapazes mesmo de existir. Como essas estrelas que chegam até nós mesmo depois de terem morrido. A senhora não se importava com os dizquedizeres. Ela mesmo tinha aprendido a ser de outra dimensão, florindo como o capim: sem cor nem cheiro. A língua dela, à míngua. A mãe só tinha fala na igreja. No resto, ela pouco falava. O marido, descrente de tudo, nem tinha tempo para ser desempregado. O homem era um nada, despacha-gargalos, entorna-fundos. Do bar para o quarto, de casa para a cervejaria. Pois, aconteceu o seguinte: dadas as dimensões de sua vida e não havendo berço à medida, a mãe colocou o menininho num sapato. E cujo era o do pé esquerdo do único par, o do marido. De então em diante, o homem passou a calçar de um só pé. Só na ida isso o incomodava. Pois, na volta, ele nem se apercebia ter pés, dois na mesma direcção. Em casa, na quentura da palmilha, o miúdo aprendia já o lugar do pobre: nos embaixos do mundo. Junto ao chão, tão rés e rasteiro que, em morrendo, dispensaria quase o ser enterrado. Uma peúga desirmandada lhe fazia de cobertor. O frio estreitasse e a mulher se levantava de noite para repuxar a trança dos atacadores. Assim lhe calçava um aconchego. Todas as manhãs, de prevenção, a mulher avisava os demais e demasiados:- Cuidado, já dentrei o menino no sapato.Que ninguém, por descuido, o calçasse. Muito - muito, o marido quando voltava bêbado e queria sair uma vez mais, desnoitado, sem distinguir o mais esquerdo do menos esquerdo. A mulher não deixava que o berço fugisse da vislembrança dela. Porque o marido já se outorgava, cheio de queixa:- Então, ando para aqui improvisar um coxinho? - É seu filho, pois não?- O diabo que te descarregue!E apontava o filhote: o individuozito interrompia o seu calçado? Pois que, sendo aqueles seus exclusivos e únicos sapatos, ele se despromoveria para um chinelado? - Sim, respondeu a mulher. Eu já lhe dei os meus chinelos.Mas não dava jeito naqueles areais do bairro. Você sabe como é, mulher: a gente pisa o chão e não sabemos se há mais areia em baixo que em cima do pé. Além disso, eu é que paguei os tais sapatos. Palavras. Porque a mãe respondia com sentimentos: - Veja o seu filho, parece o Jesuzinho empalhado, todo embrulhadinho nos bichos de cabedal. Ainda o filho estava melhor que Cristo - ao menos um sapato já não é bicho em bruto. Era o argumento dela mas ele, nem querendo saber, subia de tom:- Cá se fazem, cá se apagam!O marido azedava e começou a ameaçar: se era para lhe desalojar o definitivo pé, então, o melhor fosse desafazerem-se do vindouro. A mãe estremecia, estarrecida, fosse o fim de todos os mundos.- Vai o quê fazer?- Vou é desfazer.Ela prometia-lhe um tempo, na espera que o bebé graudasse. Mas o assunto azedava e até degenerou em soco, punhos ciscando o escuro. Os olhos dela, amendoídos ainda, continuaram espreitando o improvisado berço. Ela sabia que os anjos da guarda estão a preços que os pobres nem ousam. Até que se o ano findou, esgotada a última folha do calendário. Vinda da Igreja, a mãe descobriu-se do véu e anunciou que iria compor a árvore de Natal. Sem despesa, nem sobrepeso. Tirou à lenha um tosco arbusto. Os enfeites eram tampinhas de cerveja, sobras da bebedeira do homem. Junto à árvore ela rezou com devoção de Eva antes de haver a macieira. Pediu a Deus que fosse dado ao seu menino o tamanho que lhe era devido. Só isso, mais nada. Talvez, depois, um adequado berço. Ou, quem sabe, um calçar novo para seu homem. Que aquele sapato já espreitava pelo umbigo, o buraco na frente autorizando o frio. Na sagrada antenoite, a mulher fez como aprendera dos brancos: deixou o sapatinho na árvore para uma qualquer improbabilíssima oferta que lhe milagrasse o lar. No escuro dessa noite, a mãe não dormiu, seus ouvidos não esmoreceram. Despontavam as primeiras horas quando lhe pareceu escutar passos na sala. E depois, o silêncio. Tão espesso que tudo se afundou e a mãe foi engolida pelo cansaço.Acordou mais cedo que a manhã e foi directa ao arbusto de Natal. Dentro do sapato, porém: estava só o vago vazio, a redonda concavidade do nada. O filho desaparecera? Não para os olhos da mãe. Que ele tinha sido levado por Jesus, rumo aos céus, onde há um mundo apto para crianças. Descida em seus joelhos, agradeceu a bondade divina. De relance, ainda notou que lá no tecto já não brilhavam as lágrimas do seu menino. Mas ela desviou o olhar que essa é a competência de mãe: o não enxergar nunca a curva onde o escuro faz extinguir as sementes.

 

Mia Couto

Retirado de aqui

publicado às 21:02

Deus não existe, ponto final!

por Jorge Soares, em 10.12.15

solidao.jpg

Imagem retirada da internet

 

O post de ontem deu muito que falar, pelos vistos um ateu é capaz de chatear muita gente (tanta intolerância) e gerar muitas  opiniões, já que estamos numa de recordações, o texto seguinte é de 11 de Dezembro de 2008 (aqui).

 

A propósito do post sobre o natal que escrevi há dois dias, recebi o seguinte comentário por email:

 

 "Espertinho o menino!...  "como é o vosso natal, falem-me do vosso natal..." ;-)) Ora nega lá que o que esperas mesmo é ver aí a malta  a dissertar sobre o primeiro parágrafo..."

 

O primeiro parágrafo falava sobre o facto de eu ser ateu e de "deus não existe, ponto final". A minha amiga Linda achou que o resto do post era para encher e que o verdadeiro motivo era este... pois não, a minha ideia era tentar perceber os sentimentos das pessoas sobre o natal... aquele parágrafo era só para explicar o contexto do meu sentimento sobre o natal.

 

Mas ela dizia mais, dizia o seguinte:

 

"Sabes que eu acho um nadinha pretensioso esse teu jeito de afirmar; "sou ateu, Deus não existe e ponto final"

Na minha modesta opinião, alguém que como tu, perentóriamente, se afirme assim, tem de provar que Deus não existe."

 

Qualquer tentativa de demonstração da existência ou não de deus é tempo perdido, porque algures vai esbarrar no "É uma questão de fé"... e isso é algo que não tem discussão. Sou sincero, eu não consigo perceber qualquer argumento que comece ou termine em, "é uma questão de fé", e portanto resta-me um só caminho, deus não existe, ponto final.

 

Fui batizado e educado na religião católica, catequese e comunhão solene incluida. Um dia dei por mim a pensar que aquilo não fazia sentido, primeiro deixou de fazer sentido tudo o que dizia respeito à igreja, a católica ou qualquer outra, aquele deus capaz de perdoar e de castigar, Jesus, a virgem, os santos, a criação, o pecado, nada fazia sentido. Com o tempo o próprio conceito de deus deixou de fazer sentido.

 

Dei por mim a pensar que as pessoas precisam de um deus porque se sentem sós, porque não conseguem encontrar carinho e apoio em quem os rodeia. O conceito de deus existe porque falhamos como seres humanos, porque não somos capazes de ajudar e apoiar as pessoas que estão à nossa volta. Muita gente se escuda na fé, vão à igreja, rezam, acreditam, mas não são capazes de dar um bocadinho de si para tornar mais leve e mais feliz a vida de quem os rodeia. Deus é tantas vezes a ultima esperança, porque já batemos a muitas portas e elas não se abriram, porque já apelamos a muitos sentimentos e só recebemos o vazio como resposta, ou porque já batemos tantas vezes com a cabeça na parede e não fomos capazes de aceitar a ajuda que se nos oferecia, que já não há quem seja capaz de nos ajudar.... nessa altura, deus é a resposta. Quando todas as pessoas à nossa volta nos falharam ou quando nós próprios falhamos, resta-nos a fé.

 

Devemos ter fé sim, mas é em nós, nas nossas capacidades e nas das pessoas de quem gostamos e devemos ter a humildade de suficiente para aceitar que somos simplesmente humanos e que por vezes precisamos de ajuda. A vida é dar e receber, mas é dar e receber de seres humanos como nós, não de um qualquer deus. Os primeiros humanos chamavam deus a tudo o que não conseguiam explicar, com o tempo tudo se foi explicando, agora, chamamos deus à nossa solidão.

 

Pronto, e agora podem dissertar à vontade.... sobre, deus não existe, ponto final!

 

           NATAL
"Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e ser menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos."
 
Miguel Torga 
(Obrigado Linda)

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:32

O que festejam os ateus no natal?

por Jorge Soares, em 08.12.15

Natal Ateu

 

Há por aí quem não consiga entender o verdadeiro significado do natal, não, não tem nada a ver com meninos, reis magos, estrelas e manjedouras... pelo menos para mim não tem.

 

Escrevi o texto abaixo em Dezembro de 2009,,,, já choveu alguma coisa desde  essa altura, mas nada mudou...

 

Há uns anos... bem, há muitos anos, quando a internet dava os primeiros passos, a Atarraya era uma mailing list de estudantes venezuelanos no estrangeiro, um sitio onde discutíamos tudo e mais alguma coisa. Já nem sei como fui lá parar, no natal sugeri que trocássemos postais de natal, o Brito era o intelectual da lista, vivia no Japão e nunca me vou esquecer a resposta dele:

 

- Jorge, eu sou ateu e não festejo o natal, mas terei todo o gosto em enviar-te um postal para o dia dos inocentes.

 

O dia dos inocentes é o equivalente latino-americano do dia das mentiras, festeja-se a 28 de Dezembro.

 

Acho que todos sabem que sou ateu, não acredito em deus e muito menos num Jesus Cristo nascido numa manjedoura que mais tarde ressuscitou de entre os mortos. Na semana passada e em jeito de provocação, a Stilleto a propósito do meu post sobre o nosso natal, dizia que não entendia o que festejam os ateus nesta altura.

 

Não sou tão radical como o Brito, eu festejo o natal, não o natal religioso, esforço-me por não festejar o natal actual, o do consumismo, mas festejo o meu natal, o da festa da família e porque não?... O das tradições. Até porque muito antes da existência do cristianismo já por esta altura se festejava o solstício do Inverno, o renascimento da natureza que resultará de os dias começarem a ser maiores. Com o tempo a tradição foi mudando e a igreja, como em muitas outras das suas celebrações,  apropriou-se destas datas para a sua festa de natal.

 

O que festejo eu?...para mim o natal é uma festa familiar, a altura de reunir as famílias, de partilhar afectos e presentes. Para mim ser ateu não significa renegar tradições, a ceia de natal, o bacalhau com batatas, bilharacos, rabanadas, pan de jamon, bolo-rei. Troca de presentes à lareira, árvore de natal e presépio, haverá quem diga que algumas destas coisas são tradições católicas, todas estas coisas ou já existiam há 2000 anos ou tem menos de 200 anos.... tirando talvez o presépio, tudo o resto tem a ver com a família e connosco e nada que ver com a igreja.

 

Cá  em casa, e por agora,  o único ateu sou eu .. e faz parte da minha forma de estar no mundo, o respeito das crenças das pessoas que estão à minha volta... natal incluído e se há coisa que não festejo é o dia dos inocentes... nem o das mentiras.

 

Jorge Soares

 

PS: Cá em casa já não sou o único ateu.. e só não somos mais porque há quem apesar da sua inteligência e perspicácia, se recuse a falar ou sequer a pensar no assunto.

publicado às 22:34

O que será o verdadeiro espírito de natal?

por Jorge Soares, em 06.12.15

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Um destes dias falamos aqui do espírito de natal a propósito de uma suposta carta de um senhorio, hoje vou voltar ao tema, de uma outra forma.

 

A noticia já é de 2013 e vem do Algarve, mais propriamente de Lagoa, diz o seguinte:

 

A Câmara de Lagoa prepara-se para trocar este ano os gastos nas iluminações de Natal pelo apoio às famílias em dificuldades.

 

Não sabemos de quanto dinheiro estamos a falar mas diz que «a Câmara poupará várias dezenas de milhares de euros, que podem ser canalizados para objetivos de apoio às famílias em dificuldades».

 

O acender da iluminação de natal nas ruas do Porto foi noticia de televisão e ficamos a saber que na invicta se vai gastar só em iluminação das ruas mais de 180 mil Euros, em Lisboa ... o orçamento para as iluminações de Natal é de 320 mil euros, o mesmo valor dos últimos dois anos, e os quatro dias de festa do final do ano representam um custo de 500 mil euros. (de aqui)

 

Ou seja, o espírito iluminado do natal de alfacinhas e portuenses vai custar mais coisa menos coisa, um Milhão de Euros (como se nota que a Troika já não anda por cá)Aposto que a soma dos orçamentos anuais de todas as associações de apoio aos sem abrigo e à pobreza de Lisboa e Porto não anda nem perto de um milhão de Euros. Quanta gente se ajudaria com o dinheiro das luzinhas?

 

Agora, quantos de nós acharíamos bem que em nome do espírito de natal as câmaras das cidades em que vivemos seguissem o exemplo de 2013 da câmara de Lagoa e trocassem as iluminações e enfeites de natal por acção social?

 

O que será o verdadeiro espírito de natal? Será luzes e ruas enfeitadas ou apoio a quem precisa?

 

Jorge Soares

publicado às 22:39

Aquelas coisas que nos fazem acreditar no natal

por Jorge Soares, em 03.12.15

carta.jpg

 

Retirado do Facebook

 

Miguel,

 

Eu sei que tu e a tua mulher tiveram muitas dificuldades nos últimos meses desde que perderam os empregos.

Agradeço-vos terem pago sempre a renda a tempo. Eu quero oferecer-vos um presente. Não me paguem a renda do mês de Dezembro. Utilizem esse dinheiro para passarem um feliz e maravilhoso natal em família com os vossos filhos.

 

Bom dia e feliz  natal

António Silva

 

É nestas alturas que percebemos o que realmente significa o espírito do Natal.

 

Jorge Soares

 

PS: Há uma enorme probabilidade de isto ser uma campanha publicitária qualquer... mas eu prefiro acreditar no espírito do natal.

 

publicado às 21:33

Conto de Natal - O sol subindo na noite

por Jorge Soares, em 20.12.14

natal.jpg

 

Imagem de aqui 

 

A menina aparece como uma figura minúscula no pequeno adro da igreja. O homem é uma bola. Matéria humana enrolada. Está debruçado sobre o próprio frio, a fome, a vergonha, a tristeza, a revolta. É isso que a menina vê quando ele desembrulha o corpo e se volta para ela com os olhos encovados. Não sabendo nada do que espera um adulto, ela vê que aquele adulto está desapontado com a vida e consigo mesmo. Está velho, tem o rosto pesado de rugas.

 

Sendo um desconhecido, na sua história e naquela ocasião de o encontrar abandonado por ali como nem os animais se viam – ela, pelo menos, nunca tinha visto -, havia qualquer coisa de familiar. Era, afinal, um episódio com algo de fundador. Nas mais simples histórias tradicionais, em muitas das histórias infantis, a tragédia era o maior motor do carácter humano e a bondade um poderoso instrumento de felicidade.

 

A desgraça, que podia ser como uma espécie de clima particular em que sobre alguém chovia sem parar, já a pressentia; tinha ideia de alguns segredos se movimentarem por vezes pela sua casa.

 

Entre o homem e a menina, está uma enorme pilha de lenha, em formato piramidal, a base criando um círculo gigante no centro da praça. Ergue-se já à altura dos sinos da igreja. A menina veio ver quanto cresceu a pirâmide na última hora. O homem espera que venham acender a grande fogueira, como um sol na noite. A aldeia inteira está recolhida, prestes a começar a ceia de Natal.

 

A menina então desvia o olhar e corre para casa com as pernas nervosas. O homem dobra-se novamente, aquece as mãos com o sopro da boca.

II

Quatro horas depois, a menina batia palmas ao encanto do fogo. Subindo, subindo, fez-se um clarão de apagar estrelas. Quando o frio se sentia instalando como sincelo nas costas, ela rodava sobre si mesma, dando a cara ao resto da noite. Depois tornava a virar-se e a sentir o quente até dentro da boca quando se ria. Estendia as mãos para a fogueira e virava-as de um lado e do outro como carne a assar. O círculo estava completo de gente, o adro da igreja ruidoso. Os rapazes da aldeia desapareciam à vez para repicar os sinos. Tudo acontecia como planeado, como em todos os Natais, porque na aldeia sempre mantinham a tradição.

 

 

 

SUSANA MOREIRA MARQUES

 

Retirado do Público

publicado às 20:56

Reis Magos

 

Imagem de aqui 

 

 

Por cá o dia de reis é o dia de retirar o presépio, de apagar a as luzinhas que enfeitam ruas e praças, basicamente é o fim de natal e o regresso à vida normal. Mas não é assim em todos os países, na Espanha por exemplo, é na noite de 5 para 6 de Janeiro que se entregam e se abrem os presentes que são trazidos pelos reis nos seus camelos e não por nenhum velho de barbas... 

 

Mas afinal de onde vem a história dos reis magos? Como a maior parte das festas católicas, a dos reis é baseada na tradição, o Evangelho segundo São Mateus refere a chegada de uns magos que terão perguntado "Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?", não diz quantos eram e não fala em nenhum tipo de presentes. 

 

Há quem diga que eram quatro, que eram dez, o mesmo evangelho diz que tinham três presentes, por associação de ideias, com o tempo passaram a três os reis.

 

Os nomes com que actualmente os conhecemos, Gaspar, Melchior e Baltasar aparecem pela primeira vez num friso do século VI da igreja San Apolinar Nuovo, em Rávena (Italia), este friso representa a procissão das virgens que é conduzida por três figuras vestidas à moda persa, por cima das suas cabeças estão os três nomes que agora conhecemos.

 

Com o tempo foram-se acrescentando detalhes à história, como o facto de cada um ser de uma raça diferente.

 

Sobre a estrela que eles terão seguido, há um sem número de teorias diferentes, a mais comum é que terá aparecido por aquela altura um cometa que os terá conduzido a Belém e não falta quem tente acertar com os cálculos para tentar fazer coincidir a suposta data do nascimento de Jesus com a passagem de algum dos cometas conhecidos... é claro que o facto de não se conhecer a data exacta do nascimento não ajuda muito.

 

Num destes dias ouvi numa rádio Espanhola que a versão actual dos reis foi determinada por um papa algures no século XV, andei á procura mas não consegui encontrar nenhuma referência ao dito papa, mas não me estranharia que fosse verdade, afinal em pleno século XXI Bento XVI tentou, sem muito sucesso diga-se de passagem,  deixar a sua marca no presépio fazendo desaparecer a vaca e o Burro, não me estranha nada que no passado algum dos seus antecessores tenha tido mais sucesso quando quiz deixar a sua marca pessoal.

 

Jorge Soares

publicado às 21:16

O natal, afinal, o que é o natal?

por Jorge Soares, em 22.12.13

Bom natal

 

 

Este post da Manu deixou-me a pensar, o post e os comentários, assim como este da Rita. Ao contrario da maioria das pessoas, eu não tenho grandes recordações do natal da minha infância, por muito que tente não me consigo lembrar de nenhuma prenda... mentira, lembro-me que havia sempre um chapéu de chuva de chocolate... curiosamente lembro-me dos carrinhos e camiões, dos legos e demais brinquedos de moda que os meus primos recebiam.. e que invariavelmente eu invejava quando no dia 25 nos encontrávamos em casa da minha avó.

 

Quer isto dizer que os meus natais eram tristes? não, claro que não, eram simplesmente os natais humildes das pessoas humildes, em minha casa havia árvore de natal, presépio e luzinhas, e havia batatas e bacalhau e bolo rei... mas o facto de haver menos consumismo, menos prendas,  menos coisas, fazia do meu natal de então um natal melhor que o de hoje? É que por vezes fico com a sensação que assim é, que o natal de hoje como tem muitas coisas, muitas prendas, muita comida, muito consumismo, é mau.

 

Lendo os comentários ao post da Manu ficamos com a sensação que as pessoas  resistem a ser felizes,  a aceitar que um natal cheio de coisas, cheio de prendas, cheio de consumismo é um natal mau... não é natal, porquê? O que tem de mal que as pessoas possam comprar, dar prendas, partilhar?

 

Eu olho para trás e resisto-me a pensar que o natal dos meus filhos seja pior que os meus, não, resisto a acreditar que o facto de que os meus filhos tenham tudo aquilo que eu sonhava e não podia ter seja mau... eu sou muito feliz porque ao contrário dos meus pais, eu posso dar-me ao luxo de comprar para os meus filhos muitas coisas.

 

As pessoas dirão que se perdeu o significado do natal... pois a isso eu respondo que o natal, para além de ser quando o homem quiser, também significa o que quisermos. Eu sou ateu, evidentemente não festejo o nascimento de um menino numa manjedoura, mas festejo o momento, a presença da família, se quiserem, festejo a alegria de poder ter um natal, de poder comer, comprar, gastar.... porque o natal já era natal antes de supostamente ter nascido um menino algures a Oriente... e como vão as coisas, daqui a 3 ou 4 gerações já poucos pensarão nesse menino, mas aposto que o natal continuará a ser festejado.. e espero que com muito mais luz, muito mais festa... muito mais alegria...

 

Jorge Soares

publicado às 22:55


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