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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
O jovem da imagem chamava-se Kluiverth Roa, tinha 14 anos e há quem diga que nem se estava a manifestar, estava simplesmente por ali e cometeu o erro de gritar "parem com a repressão" aos polícias que de arma em punho tentavam silenciar os estudantes universitários que se manifestavam contra a inflação e a escassez de comida.
Kluiverth morreu de um disparo na cabeça, é o sexto estudante morto pelas forças policiais do estado desde o inicio das manifestações de estudantes há uma semana.
A situação social na Venezuela está a chegar a um estado de completa degradação, à insegurança, durante o ano 2014 foram assassinadas no país mais de 25000 pessoas, juntou-se uma inflação anual que está perto de atingir os 3 dígitos e a falta de bens de primeira necessidade.
O petróleo tornou-se na única fonte de recursos da Venezuela, com a descida dos preços para menos de 50 dólares por barril e o estado deplorável das infra-estruturas petrolíferas do país, levaram a uma descida abrupta da entrada de dinheiro.
A falta de dinheiro para a importação de matérias primas levou ao encerramento da maior parte das industrias nacionais e ao quase completo desabastecimento do mercado, para conseguir comprar qualquer produto de primeira necessidade, desde papel higiéncio a farinha, são necessárias horas e horas nas filas dos supermercados.
É contra este estado de coisas que se manifestam os jovens estudantes Venezuelanos, a resposta de Nicolás Maduro e do seu governo é enviar as forças militarizadas com armas de fogo para a rua, o que se traduz em forte repressão e em pelo menos seis estudantes mortos só numa semana.
Nicolás Maduro foi eleito em eleições democráticas, mas não é a forma como são eleitos os seus governantes que definem o tipo de governo de um país, em democracia o governo é eleito pelo povo e para o povo, neste momento o governo que foi eleito pelo povo parece estar no poder não para o povo mas sim contra o povo.
Durante o último ano foram utilizados todos os pretextos legais e ilegais para silenciar os protestos do povo, o principal dirigente da oposição está preso desde há mais de um ano porque pediu ao povo que se manifestasse contra a situação no país, durante o último ano foram presos para além de estudantes, políticos da oposição e até o governador da Capital Caracas.
Enquanto o governo usa as forças policiais para reprimir os protestos do povo, há dirigentes do partido de governo que são acusados de dirigirem redes internacionais de tráfico de drogas e a corrupção faz desaparecer uma boa parte dos muitos milhões que entram no país.
Calcula-se que só em 2013 tenham entrado no país quase 140 000 milhões de Dólares proveniente da venda do petróleo, para onde foi todo este dinheiro? ninguém sabe.
Jorge Soares
Se a morte é a única certeza da vida, que não seja por pensar diferente
Si la muerte es lo único cierto en la vida, que no sea por pensar diferente
Já passam de quarenta os mortos durante os protestos do povo venezuelano contra o governo de Nicolás Maduro, quantos mais serão necessários?
Jorge Soares
Imagem de aqui
Vai fazer um mês que o povo da Venezuela começou a sair à rua, numa luta que iniciaram os estudantes mas que pouco já é da maioria da população. Uma luta desigual em que o povo armado com palavras e consignas se enfrenta com a Guarda Nacional Bolivariana e as forças paramilitares afectas ao regime.. uma luta que começa sempre por ser pacifica mas que na maior parte das vezes termina com manifestações dispersas com o uso da força e à lei da bala.
O saldo oficial até agora vai nos 21 mortos, centenas de feridos e milhares de presos, entre os quais o principal dirigente da oposição Leopoldo Lopes.
Na última semana Nicolás Maduro fez um chamado aos colectivos chavistas, grupos armados afectos ao regime, para que ajudem a reprimir os protestos, o resultado foi um endurecimento dos enfrentamentos que só no primeiro dia se saldou em três mortos, um dos quais uma agente do Sebin, a policia politica do regime, morta pela policia de Chacao quando tentava introduzir à força três jovens estudantes numa viatura descaracterizada.
A Venezuela é um dos países com mais recursos do mundo, é o terceiro produtor de petróleo, todos os dias entra muitos milhões de dólares provenientes da renta petrolífera, apesar de tudo isto e ao contrário do que por vezes se tenta fazer passar, a generalidade da população está cada vez mais pobre, e ninguém sabe para onde vai todo esse dinheiro.
Só nos dois primeiros meses do ano ocorreram mais de 200 assassinatos no país, as estatísticas dizem que é o segundo país mais inseguro do mundo tendo em conta o número de assassinatos por cada 100 mil habitantes.
O chavismo está no poder há 15 anos, é verdade que ganharam muitas eleições, mas também é verdade que o país está hoje muito mais inseguro, o governo controla os meios de comunicação e a censura está instalada, a corrupção não pára de aumentar, não há praticamente industria para além da petrolífera, a que existe foi nacionalizada e está práticamente parada devido à falta de divisas para importações de matérias primas. Há uma enorme escassez de bens essenciais e em lugar de diminuir, a desigualdade entre os poucos ricos e os muitos pobres é cada vez maior.
A democracia é cada vez mais uma miragem, o povo está farto e o país está neste momento entre uma ditadura à imagem da que governa Cuba há quase 50 anos e uma guerra civil.
Tirem 5 minutos e vejam com atenção o seguinte vídeo onde se explica porque lutam os jovens Venezuelanos:
Imagem do El Universal
A atenção do mundo tem estado centrada na Ucrânia, entretanto no outro lado mundo, na Venezuela, os confrontos tem-se repetido todos os dias um pouco por todo o país. A contagem oficial dos mortos durante os protestos ia hoje em 16 ou 17, todos do mesmo lado, na sua maioria jovens estudantes já que tem sido estes que mais tem estado na primeira linha dos protestos de rua.
A meio da tarde o meu amigo António escrevia o seguinte no Facebook: "Só para lembrar, a propósito da Ucrânia, que afinal ainda é possível que o POVO faça uma revolução."
É um pensamento que já me tinha ocorrido, mas olhando para situações paralelas, fico a pensar... terá sido mesmo o povo?
Disse há uns dias que na Ucrânia não havia uma luta pelo poder e sim uma luta de interesses. A Venezuela não tem nada a ver com a Ucrânia, a Ucrânia é um país pobre e sem recursos, a Venezuela é um país pobre mas que tem todos os recursos e condições para ser um país rico... tudo menos governantes à altura da situação.
Há uns dias eu escrevi aqui que a Venezuela estava entre a Ditadura e a Guerra Civil, neste momento e apesar de que o povo teima em não desistir, parece evidente que a ditadura está a vencer a guerra das ruas. O principal dirigente da oposição está preso, há sedes de partidos e casas de políticos da oposição invadidas pela polícia sem qualquer sem ordem judicial. Os meios de comunicação nacionais estão praticamente amordaçados e fazem autênticos malabarismos para informar sem chatear muito o governo, os internacionais ou já viram o seu sinal silenciado ou são todos os dias ameaçados de que lhes pode acontecer o mesmo. Todos os dias há registos de jornalistas nacionais e internacionais, incluindo um português, agredidos e impedidos de fazer o seu trabalho.
Todos os dias há relatos de agressões, prisões injustificadas, mortes, tortura e nos últimos dias, até desaparecidos.
Entretanto o que faz o governo? Para além de tentarem esconder a realidade do mundo e fingir que nada está a acontecer, usam fórmulas que se utilizaram há décadas noutros lugares, deitam a culpa ao tio Sam, à Cia e aos restantes fantasmas que vem do norte, por tudo o que acontece.
Nicolás Maduro é cada vez mais uma pobre caricatura de um presidente da República, alguém que parece que mais de que por Chavez, aprendeu por uma cartilha de outros tempos já completamente ultrapassada e para quem o único que interessa é mesmo o poder.
Só há uma coisa pior que um ditador, um fantoche com poder... e não há duvida que neste momento é isso que existe na presidência da Venezuela, um fantoche com poder.
Resta saber quanto conseguirá aguentar mais o povo e o que será necessário para que o mundo olhe para a o país e perceba que há ali muito em jogo, principalmente para quem tenta todos os dias sobreviver à delinquência e ao desgoverno....
Só mais um detalhe, portugueses de várias gerações, são perto de 500 mil.
Jorge Soares
Imagem do Público
Quando é que um regime que foi eleito pelo povo perde a legitimidade?
O que teme um governo que para além de manter toda a comunicação social publica e privada controlada, decide retirar das plataformas de cabo e da internet o sinal de um canal internacional que está a transmitir em directo, ao contrário dos canais nacionais, as manifestações e protestos organizados pelos estudantes em todo o país?
Na única noticia que vi na televisão portuguesa sobre o que está a passar em Caracas, ouvi Nicolás Maduro ameaçar o povo e a oposição com a radicalização da revolução e a utilização das armas para a defender, se os protestos continuarem.
Durante muito tempo defendi Chaves, não pela forma como governava mas sim pela legitimidade dos seus governos, confesso que não pude evitar sentir um arrepío na espinha ao ouvir aquelas palavras da boca de um presidente da República de um país onde supostamente existe uma democracia. Que tipo de governante ameaça o seu povo com a utilização das armas para o fazer calar?
Os protestos que se iniciaram nos estados Andinos da Venezuela e que rápidamente se estenderam a Caracas e a praticamente todo o país, são contra as super degradadas condições económicas que derivam de uma inflação de mais de 50% e contra as condições de insegurança que pioram todos os dias e que convertem o país no segundo a nível mundial no número de homicídios.
O que faz Nicolás Maduro ante esta situação? Envia grupos paramilitares armados para enfrentar as manifestações. Força o encerramento dos jornais impressos ao não autorizar a importação de papel, controla os meios de comunicação nacionais ameaçando com o encerramento a quem difunda noticias que mostrem a situação real do país e corta o sinal aos canais internacionais, chegou inclusivamente a impedir a difusão de fotografias no Twitter para evitar que os estudantes o utilizem, e às restantes redes sociais, para mostrar ao país e ao mundo o que se passa nas ruas... Neste momento existe na Venezuela uma censura de facto.
A Venezuela é um dos países com mais recursos naturais do mundo, é o terceiro produtor mundial de petróleo, apesar de nos últimos 10 anos terem quase destruído a industria petrolífera, continuam a entrar milhões de dólares todos os dias no país. Para onde vai todo esse dinheiro?, ninguém sabe.
Chavez, Maduro e o seu partido estão no governo há 15 anos, nestes 15 anos em lugar de melhorar, a situação económica piorou todos os dias.
Chavez chegou ao poder principalmente devido à enorme desigualdade que existia no país, passados 15 anos, os pobres continuam pobres, vivem praticamente nas mesmas condições em que viviam antes, a população do país praticamente duplicou, os ricos são os mesmos, os pobres são muitos mais e a desigualdade social, a insegurança e a corrupção aumentaram de forma dramática.
Hoje vi Nicolás Maduro ameaçar os estudantes e o país com a imposição do poder pela via das armas, o que vi não é digno de um presidente democraticamente eleito, é digno de um qualquer ditador de república das bananas do século passado...
Em 1958 A Venezuela foi o primeira democracia da América latina, não me parece que o povo esteja disposto a ter a primeira ditadura do século XXI, esperemos que Chavez mande de novo algum passarinho cantar ao ouvido de Maduro e que lhe mostre que o povo está primeiro e que não vai aguentar muito mais.
Desde aqui, de todo coração desejo o melhor para um povo e um país que aprendi a amar e que levo no coração como o meu...
La lucha del pueblo venezolano es por un país onde se pueda vivir con justicia, paz y libertad, por favor no se rindan!
Update: Vídeo - O que está a acontecer na Venezuela?
Jorge Soares
Imagem do Público
Das muitas coisas que li e ouvi sobre o facto de Nicolás Maduro ter ficado como presidente interino após a morte de Hugo Chavez, uma das que mais em chamou a atenção foi:
El problema no es tener un chofer de autobus como presidente de la república, el verdadero problema es que tenemos milhares de ingenieros que solo consiguen ser choferes de autobus.
Nicolás Maduro começou a sua carreira como sindicalista, era condutor de autocarros e com a chegada ao poder de Chavez conseguiu ter a esperteza e os contactos suficientes para ascender até à vice-presidência da República. O facto de ter sido nomeado por Chavez como o seu sucessor fez dele o novo presidente da República, mas bastaram duas semana de campanha politica para se perceber que não tem nem o carisma, nem a habilidade politica, nem o sentido de estado para ser presidente da Venezuela.
Maduro começou a campanha eleitoral com 15% de vantagem nas sondagens, à medida que os dias iam passando e ele se ia mostrando, a diferença ia diminuindo à mesma velocidade com que o eleitorado se ia apercebendo da sua verdadeira personalidade. Tivesse a campanha eleitoral durado dois ou três dias mais .....
Mas dizem os resultados oficiais que Maduro ganhou e que pelo menos durante os próximos seis anos será ele a dirigir os destinos da democracia mais antiga da América Latina. Hugo Chavez esteve no poder durante quase 15 anos, um período em que se é verdade que uma boa parte da população teve uma melhoria significativa nas suas condições de vida, também é verdade que cada vez mais a economia depende do Petróleo. De um país industrial e quase auto-suficiente, passou-se para um país em que mais de 90% do que se consome é importado. Um país sem industria, sem agricultura e que apesar de ter uma população muito jovem, é cada vez mais um país sem futuro.
O resultado das eleições e o radicalismo abraçado por cada um dos lados da barricada mostram uma sociedade profundamente dividida. O facto de o governo ter decidido ignorar os apelos de Capriles à recontagem dos votos, a pressa em marcar para hoje mesmo a tomada de posse do novo presidente e os imensos rumores sobre fraudes eleitorais, vão deixar para sempre uma mancha negra sobre a legitimidade de Nicolás Maduro para governar.
Hoje a Venezuela é sobretudo uma sociedade marcada pela corrupção e pela violência extrema, em cada fim de semana há mais de cem mortos devido à criminalidade comum. Se já era uma sociedade dividida, depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias vai ser uma sociedade em que uma boa parte se sente enganada pelo poder politico.
Durante a campanha eleitoral Nicolás Maduro mostrou ser capaz de pouco mais do que invocar o nome de Chavez e repetir o as suas frases qual oração religiosa. Ficou conhecido pelo numero de vezes que repetia o nome de Chavez durante o seu discurso, as maldições que invocava para assustar a quem votasse em Capriles e por falar com os passarinhos...
Espero estar enganado, mas cada vez mais a Venezuela é um país a cair de Maduro... e sinceramente não sei se haverá forma de o amparar numa queda que será de certeza absoluta num buraco muito profundo
Jorge Soares