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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Facebook
Curiosamente descobri a reportagem porque alguém ligou para a R. a dizer que ela estava na televisão, ela é a que não é adoptada mas a vida é feita de coincidências. O programa foi gravado em época de férias universitárias e tiveram que arranjar miúdos para estar na aula com o Jorge, ela andava pelo ISEL naquela altura e lá foi fazer de aluna universitária.
A mim, como à maioria das pessoas que adoptou faz-nos sempre muita confusão ver como há pessoas que aceitam expor daquela forma a sua vida e nesta reportagem há muita gente que se expôs, o Jorge, os pais adoptivos, os pais biológicos... mas não era disso que queria falar.
Querer saber do seu passado e das suas origens é algo natural em todas as crianças adoptadas, mais tarde ou mais cedo todos passam por isso e é algo para o que os pais adoptivos temos que estar preparados. Cada criança é um caso e cada uma enfrenta o assunto de forma diferente, havendo quem comece a questionar mal dá pelas diferenças e quem tente fugir ao assunto de modo a que ele não exista.
Cá em casa temos as duas versões, o curioso que chegava ao ponto de quando se chateava dizer que ia para a outra família e a que simplesmente ignora o assunto e até foge quando se fala de adopção.
A reportagem pode dar a ideia errada de que não é difícil encontrar os pais adoptivos, convém recordar que a grande maioria das crianças são retiradas à família biológica e muitas vezes não há mesmo forma de saber de onde vieram, porque com o tempo as pessoas mudam de vida e de sitio e perdem-se as referências ou porque muitas vezes os pais adoptivos ou não sabem ou não querem dizer que sabem
Aliás, se virmos com atenção, quem termina por encontrar a família do Jorge é a TVI, já agora gostava de saber como lá chegaram, convém recordar que estamos a falar de informação supostamente está protegida por lei.
Ninguém quer reconhecer, mas a nós pais este tema é algo que nos causa sempre alguma angustia, afinal é dos nossos filhos que se fala e pensar que eles possam querer saber de outros pais, de outra família, não é algo que se aceite com facilidade. Não há mãe nenhuma que aceite que os seus filhos possam ter outra mãe, a outra senhora, a que os pariu, é a progenitora, não é a mãe, mãe só há uma e essa é a que os criou... E há mesmo pais que se puderem evitar não dizem nem aos filhos nem a ninguém que aquela criança é adoptada.
Curiosamente isto foi tema de conversa no facebook logo a seguir à reportagem, alguém tentava confortar uma mãe incomodada com o que viu na reportagem, dizendo que o carinho que ela dava aos seus filhos iria fazer com que isso não lhe acontecesse...
A verdade é que podemos dar todo o carinho do mundo, podemos educar e criar, fazer tudo por eles, dar-lhes tudo e todo o carinho do mundo, mas tal como bem explicava o Jorge na reportagem, nada disso irá fazer a diferença, no fim, mais tarde ou mais cedo todos vão tentar fazer essa viagem.... mas também podemos ter a certeza que passado o momento, vai haver sempre uma volta, porque não há novidade que se sobreponha ao amor.
Jorge Soares
PS:Quem não viu pode ver aqui
Imagem retirada de Petição Pública
Há uns dias Jorge Ascensão, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), veio para a comunicação social defender que tal como os adultos, as crianças deveriam ter onze meses de aulas e um mês de férias...
Hoje deparei-me com a existência de uma petição online (aqui) em que "Pais e cidadãos" se manifestam contra a proposta da CONFAP.
Demais está dizer que nem tanto ao mar nem tanto à terra, fiquei curioso e fui ler (aqui) o que na realidade disse o senhor da CONFAP, depois de ler, não sei se discordo assim tanto dele.
É claro que se nos ficarmos pelos títulos das noticias, todos somos contra termos as crianças na escola durante onze meses, se nos dermos ao trabalho de ler com alguma atenção, o que verificamos é que o senhor na realidade não pede mais tempo de aulas, pede sim, melhor tempo de escola, ou se quisermos, uma forma diferente de se estar na escola.... convenhamos que é difícil estar contra essa ideia.
Tenho três filhos em idade escolar, a maior parte do tempo o que sinto é que hoje em dia para os nossos filhos a escola está convertida numa corrida de obstáculos em que muitas vezes se luta contra o tempo e quase nunca se conseguem atingir todos os objectivos.
Os programas são cada vez mais extensos e exigentes e a maioria das crianças divide o seu tempo entre a escola, os ATL e os locais de apoio ao estudo, para onde são despejados mal saem das aulas, sendo que o tempo para brincar e ser criança é cada vez menos e de menos qualidade.
Quando eu era criança, já choveu muito e muitas coisas mudaram desde essa altura, tinha aulas de manhã, ia e vinha a pé para e da escola, a minha mãe estava em casa e tratava do almoço, eu fazia os trabalhos de casa e tinha o resto do dia para mim e para os amigos. Hoje em dia os meus filhos saem de casa às oito da manhã, pouco depois de mim e voltam quando eu ou a mãe os vamos buscar depois dos empregos, já seja à escola ou ao ATL.
Não sei se a solução terá que passar por onze meses de escola ou não, mas numa coisa concordo com o senhor, há muitas coisas a mudar nas nossas escolas, eu diria que há uma revolução por fazer, muitas coisas a repensar, os nossos filhos tem direito a ser crianças e entre nós e a escola, estamos a negar-lhes esse direito.
É claro que muito disto passa por opções nossas e não da escola, mas o que podemos fazer quando ambos os pais temos que trabalhar e não há avós ou família por perto? E o que fazemos com as crianças durante estes três meses de férias quando temos que ir trabalhar e não há com quem as deixar? Felizmente eu posso pagar ATL's e tempos livres, mas o que faz quem não pode? Deixa as crianças sozinhas em casa?
Os números da fotografia acima parecem esclarecedores, mas a realidade é que podem ser enganadores, menos horas de aulas não necessariamente tem que significar menos tempo na escola.
Se lermos as declarações de Jorge Ascensão com atenção reparamos que o que ele quer não é mais escola, é sim uma escola melhor e mais equilibrada.... há alguém que não concorde com essa ideia?
Jorge Soares
A Hiperatividade é uma condição física que se caracteriza
pelo sub-desenvolvimento e mau funcionamento de certas partes do cérebro.
Retirado de aqui
Não é a primeira e não será de certeza a última vez, mas nunca deixa de me fazer impressão, há uns dias num grupo do Facebook onde se fala da hiperactividade, uma mãe vinha partilhar as suas preocupações e pedir ajuda a outros pais... só que começava a explicação com: "vocês desculpem mas eu não acredito nesta doença"
Estou habituado a ler e ouvir muitas vezes essa frase, principalmente vinda de: Quem não tem filhos e acha que tudo não passa de birras e falta de educação que se fossem eles os pais se resolveriam facilmente com castigos e/ou com palmadas. Ou de professores que acham que tudo não passa de desculpas dos pais para o comportamento dos filhos que não souberam educar.
Há uns tempos também no facebook tive uma troca de ideias com uma mãe, no infantário, ante as atitudes e o comportamento do seu filho, tinham-na aconselhado a levar o miúdo a uma consulta de avaliação.
Evidentemente a senhora negava-se, ela concordava que o miúdo não era uma criança "normal", mas de forma alguma o levaria alguma vez à consulta... segundo ela o que a criança precisava era de amor e mão firme, ninguém a ia convencer que o miúdo tinha alguma doença e ia alguma vez precisar de tomar medicamentos.
Na altura dei por mim a pensar que eu também tinha passado por essa fase, também eu passei muito tempo a recusar-me a aceitar que o meu filho tinha um problema e que esse problema estava muito para além do que eu conseguiria resolver...
Mais tarde ou mais cedo todos terminamos por cair em nós e perceber que o problema existe mesmo e que tem que ser tratado por médicos e especialistas, o problema é que no entretanto fazemos da nossa vida, da dos nossos filhos e da restante família, um inferno.
Eu demorei dois ou três anos a aceitar que não era por ficar sem prendas, por ficar de castigo durante semanas ou com palmadas e até sovas, que o meu filho ia melhorar o comportamento...
Não é fácil lidar com tudo isto, não é fácil lidar com os comportamentos, normalmente é muito difícil lidar com a escola, com os directores de turma, com os professores,até com os pais das outras crianças que acham sempre que os seus filhos são perfeitos. Nada disto é fácil, mas não é fácil para nós pais e não é fácil para os nossos filhos... mas a primeira regra para se conseguir viver e sobreviver é que temos que aceitar que o problema existe mesmo.
Depois há a questão da medicação, seja Ritalina, Concerta ou outro medicamento qualquer, há sempre mais alguém que leu um artigo ou ouviu uma teoria, para além dos milhentos efeitos secundários, aquilo causa habituação e não serve para nada.... e quem quer dar drogas aos seus filhos?
Ninguém, eu também não, infelizmente consigo ver a diferença entre quando ele toma ou não toma, mesmo os professores que nem acreditam em nada do que dizemos, conseguem ver a diferença quando por algum motivo nos esquecemos de lhas dar.... e na maior parte dos casos, os miúdos conseguem ver a diferença e terminam por nos pedir para lhas dar, porque sabem os efeitos no comportamento e no aproveitamento escolar, acreditem, ninguém é feliz a ser sempre o que tem mais castigos e recados e tira as piores notas da turma.
Negar que o problema existe, que seja uma doença e que tem que ser tratado na maior parte dos casos com recurso à medicação, só torna as coisas muito mais complicadas...
Voltando ao inicio, depois de ler o comentário da senhora no facebook dei por mim a ter pena dela e muita pena dos seus filhos, porque eu sei as vezes que fui, às vezes ainda sou, injusto com o meu.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Não sei quando começou, mas pelo menos desde que a R. está no liceu de Setúbal, todos os anos no mês de Maio a disciplina Moral organiza com um grupo de alunos um fim de semana de acampamento na serra da Arrábida. Arranjam tendas, sacos cama, tudo o que é necessário, metem os miúdos num autocarro e rumam à zona de Picheleiros.
Durante o fim de semana os miúdos tem que montar as tendas, organizarem-se para cozinhar, fazer caminhadas pela serra, .. tudo isto com o objectivo de promover o convívio e a camaradagem.
Este ano a actividade estava marcada para o primeiro fim de semana de Maio, os miúdos já se estavam a organizar e a contar com mais um fim de semana de convívio, até que de repente tudo foi cancelado.
O director do liceu proíbe durante o terceiro período qualquer actividade organizada, mesmo que seja ao fim de semana... isto porque os miúdos tem é que se concentrar em estudar para tirar boas notas para o Ranking... .. sim, foi esta a explicação dada pela docente de moral aos miúdos.
Curiosamente parece que no inicio do ano quando a turma da R esteve até Novembro sem professora de matemática o senhor não tinha essa preocupação, nem a teve quando na reunião do fim do primeiro período os pais nos indignamos com o facto de a turma ter tido menos de metade das aulas de matemática e exigimos saber o que faria o liceu para compensar essas aulas.... após consulta com a direcção resposta da directora de turma foi que não se podia fazer nada.
Sempre achei que o Ranking das escolas era uma enorme estupidez porque compara realidades que dificilmente são comparáveis. Como se pode comparar uma escola com umas dezenas de alunos com uma com milhares? Como se pode comparar uma escola do Restelo com uma da Cova da Moura? Ou uma de Campo de Ourique com uma de um qualquer concelho do interior onde os miúdos por vezes demoram horas a chegar da aldeia onde vivem à escola?
Curiosamente na ultima reunião com os pais uma das coisas de que a directora de turma se queixou foi da falta de espírito de grupo da turma, houve inclusivamente uma mãe que sugeriu que se encontrasse a forma deles se encontrarem e conviverem fora da escola... alguém devia falar disso ao senhor director, há coisas mais importantes que os rankings, queremos que a escola forme pessoas, cidadãos, não máquinas.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Boa tarde,
Antes de mais, gostaria de deixar bem claro que não tenho como intenção apontar o dedo a ninguém, nem julgar, nem reclamar. Apenas gostaria de partilhar convosco a minha experiência e, quem sabe, talvez um dia possa ajudar alguém para que não aconteça com mais ninguém o que nos aconteceu.
O meu filho, depois de 10 anos de muita luta, foi finalmente diagnosticado com Síndrome de Asperger, em Dezembro passado. Sempre tivemos muitos problemas com ele e, principalmente a escola, devido ás suas dificuldades na interacção social.
O inicio deste ano escolar foi particularmente difícil. Mudou de ciclo e, como tal, de escola e de DT - tudo coisas que por si só já são complicadas. O pior foi o Director de Turma que mudou. O do ano passado era um anjo vindo do Céu para o orientar e ajudar. Ele sentiu muito essa "perda". A nova DT é uma pessoa muito agressiva, fria e sem qualquer paciência para alguém como o meu filho.
Fizemos várias reuniões com a escola, sozinhos e com a presença de uma psicóloga privada que contratámos, já que o SNS achou que ele não carecia de acompanhamento, com o intuito de pedir ajuda para ele - para os consciencializar para as dificuldades dele e a necessidade de uma abordagem um pouco diferente, mas a escola recusou veementemente em aceitar que ele tinha sequer qualquer dificuldade ou problema! Tinha no seu Plano de Educação Individual as adequações que o serviço de Educação Especial achou conveniente e mais nada. No ponto de vista da escola, tratava-se de um miúdo preguiçoso e pouco disciplinado, mas que de resto era tão normal e adaptado como qualquer outro aluno, e a carga negativa foi fulminante desde o primeiro dia.
Pedimos para valorizarem o positivo. A resposta foi um ataque brutal a TUDO de negativo. Implicaram porque não fazia os TPC. Pedimos ajuda para ele os fazer na escola, pois em casa, na cabeça dele, não era lugar para fazer as coisas da escola. A escola recusou. A disgrafia dele mantinha-se acentuada. Pedimos á escola que o deixassem entregar trabalhos em suporte digital (no PC). A escola recusou. Ele, ao abrigo do artigo 3/2008 deveria de estar numa turma de tamanho reduzido. Foi recusado e ele integrou numa turma de quase 30, incluindo alunos repetentes e destabilizadores.
O resultado do primeiro período foi uma desgraça. Teve 3 negas. Fiquei aterrada, pois ele é aluno de inteligência acima da média que nunca tinha tido notas semelhantes a estas. Falámos com ele e resolvemos fazer um acordo e um esforço para melhorar. Sem qualquer ajuda ou envolvimento da escola, ele no final do segundo período tinha subido de 3 negas para apenas 1 e ainda teve 5 quatros! Subimos todos aos céus de felicidade. A resposta da escola foi considerar que ele tinha tido apenas uma "ligeira melhoria" e que iria manter a imposição total do seu cumprimento com todos os projectos propostos.
No inicio do 3º período tudo piorou dramaticamente. O meu filho estava desanimadissimo com a reacção da escola ao seu esforço monumental. Na 6ª Feira passada, depois de mais uma reclamação da escola por ter TPCs inacabados/mal feitos aconteceu o que não desejo a NINGUÉM neste mundo. O meu filho acabou por pôr termo á vida. Tinha 14 anos.
Sabíamos que ele estava sob uma pressão desumana por parte da escola mas nunca, NUNCA em mil vidas nada os levou a pensar que isto seria sequer ponderável.
Portanto, deixo aqui um apelo para TODOS os professores e pais deste país e deste mundo. A vida de uma criança é o nosso maior tesouro. Por favor, NUNCA desvalorizem um pedido de ajuda de uma mãe. Não há NINGUÉM neste mundo que conheça melhor o seu filho do que ela. Se ela acha que precisa de ajuda, ajudem. Mas ajudem de coração. Nem que seja por indulgência, porque a dor que uma mãe sente ao perder um filho por quem pediu ajuda a tantas pessoas, tantas vezes e com toda a força que tem é algo que é indescritível.
Não aceito que qualquer situação politica justifique a falta de humanidade que hoje se vive diariamente nas nossas escolas e na nossa sociedade, sob desculpa de "cortes" e "crises" e afins. Somos humanos. Os nossos filhos são o nosso futuro. Professores e pais deviam de ser uma equipa, não inimigos.
Apelo, de coração destroçado, para que algo ou alguém mude a mentalidade de quem tem o poder de alterar mentalidades para que as nossas crianças deixem de ser consideradas um fardo que têm de ser educadas, e que passem a ser vistas como seres que carecem de orientação de quem já viveu o suficiente para os poder ENSINAR. Respeito, consideração, compaixão - são coisas que se ensinam em casa, é verdade - mas que devem de ser reforçados na escola. Lamento profundamente que hoje em dia isto puro e simplesmente não acontece.
Desejo a todos muita paz e todas as bênçãos do Alto e o meu muito obrigado por me ter sido permito este desabafe.
Ana Sheila Martins na página do Facebook Asperger Portugal
Não se limitem a ouvir a música, vejam o vídeo e os seus muitos significados
Jorge Soares
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"Amanhã começa a minha dor de cabeça...estou com uma ansiedade que dá cabo de mim! Correram tão bem as férias! Passeou com o pai, passeou com a mãe, foi à feira, foi ao circo, correu, andou de bicicleta, jogou à bola, brincou com os vizinhos, com a prima, brincou com os cães, teve um aniversário de um amiguinho, dormia ate às 10h, 10.30h da manhã, n houve um castigo, n houve uma palmada...tentei que ele se esquece que a escola ia começar (andou a ultima semana a falar nisso e que não queria ir).... Andou tão bem o meu menino, tão feliz e eu feliz também! Agora estou eu aqui sozinha a remoer"
Desabafo no Facebook de uma mãe de uma criança com TDAH
Durante as férias dei por mim a pensar assim mais que uma vez, pensamentos que não servem de muito, nem a mim nem a esta mãe, nem a todas as outras mães e pais de crianças com hiperactividade ou outros transtornos do mesmo tipo. Não há forma de que eles não voltem para a escola, e infelizmente cada vez me convenço mais que a maioria das escolas não sabe ou não quer saber lidar com estas crianças.
Algures no meio dos muitos pensamentos e constatações dei por mim a pensar qual será a solução, não é fácil retirar conclusões, para mim há uma que é evidente o meu filho está na escola errada... Não é difícil chegar a esta conclusão, mas o pensamento seguinte levou-me a um beco sem saída.... e haverá uma certa?
Para mim faz todo o sentido que a escola seja inclusiva, todas as crianças são diferentes, os nossos filhos só são mais diferentes, mas juro que há alturas que dou por mim a pensar se isso será mesmo possível, se a instituição em si, os professores, os responsáveis, querem realmente isso? É que muitas vezes o que sentimos é que é mais fácil excluir que integrar e que há muito boa gente que em lugar de ajudar complica com o intuito de se verem livres de crianças difíceis e pais exigentes.
Num dos comentários ao texto acima alguém deixou o seguinte:
"Hoje, meu filho com TDAH chega da aula e me diz que o professor o colocou virado para parede em pé"
e alguém a seguir disse o seguinte:
"Fizeram isso ao meu filho durante o 1ºano e o 1º período do 2º, até os colegas me contarem"
Estamos em 2015, colocar os alunos contra a parede era algo que se fazia algures nos anos 70 quando eu andei na escola. Eu e muitos outros pais já ouvimos e sentimos mais que uma vez que há por aí muitos professores que acham que a hiperactividade é um mito inventado pelos pais que não sabem educar os seus filhos, mas juro que não pensei que fosse possível em 2015 colocar as crianças de castigo contra a parede, pelos vistos há por aí muitos professores que continuam a viver nos anos 70. A maioria das crianças com TDAH tem enorme problemas de auto-estima, será que estes professores pararam para pensar que com isto só pioram a situação?
Jorge Soares
O sangue. Esse delator maldito que navega arrogante por veias e artérias. É o sangue que vai lhe contar o que ele não quer saber. Quem ele não é; quem ele nunca foi. Que não é o primogênito de seus pais. Nem o irmão de seus irmãos. As sobrancelhas grossas como as do pai, o nariz alongado da mãe, o sinal sobre o ombro esquerdo: coincidências fabricadas à força do afeto. E ele não será o filho de mais ninguém. Somente um nada sem raízes próprias. Um pastiche.
O sangue vai mostrar que ele não serve, que não é compatível. Que num minuto é o provável doador para o seu pai e, no outro, apenas um desconhecido, uma conta que não fecha. E ele, que nunca se afasta dos fatos, não saberá o que fazer com os fatos: se confrontará a mãe ainda ali, no hospital precário, roubando para si uma cena que não é sua; se exigirá com urgência os detalhes da sua história desviada; se apenas perguntará por quê.
Ele ainda não sabe que um estopim será aceso. No instante em que a mãe e os irmãos lhe pedirem que compreenda. Compreender é tudo o que ele não conseguirá. Ao contrário, será tomado por um deboche furioso. Uma vontade insana de chutar as portas frágeis da UTI onde o pai está deitado sem saber de nada. E de sacudir aquele homem que o enganou por tanto tempo. O pai paciente e amigo que o ensinou a assinar seu nome e sobrenome. E lhe mostrou as letras, os números, os mapas, os elementos, as constelações. O pai que lhe mostrou a vida por meio de uma prática respeitosa de atos sem voz. O pai que o levou para nadar, para andar a cavalo, para navegar no mar que ambos tanto amam. A quem entregou seus boletins escolares, suas dúvidas, suas discussões adolescentes, suas broncas com Deus, seus diplomas, suas paixões, seus argumentos. O homem que, ele ainda não sabe, será, brevemente, um estranho.
Ninguém devia saber assim, como ele saberá, que foi rejeitado. Por uma mulher quem nunca chamou de mãe. Que o jogou fora ou o entregou sob um pretexto qualquer; talvez, por dinheiro. Por um homem a quem nunca chamou de pai. Que sequer o conheceu ou que provavelmente nem tenha sabido que o fez existir. Ninguém devia se deparar com a própria história de repente. Não para descobrir que é uma história oca. Nem desse jeito, por acaso, por causa de um acidente de carro estúpido. O pai lançado de cabeça no asfalto; a falta de recursos da cidade pequena; a necessidade de uma transfusão; ele se oferecendo para doar, apesar da insistência estranha da mãe em lhe dizer que não precisa, que não precisa... Ele lendo na ficha do pai: sangue tipo A+. E se lembrando de que o sangue da mãe é O+, e de que o sangue dele é B-. Tudo isso antes que a voz apressada da enfermeira sentencie que o doador tem que ser da família ou alguém compatível.
Um homem não devia ser lançado assim ao inferno. Cara ou coroa?, perguntam-lhe as atitudes. Desnorteio; e ele se reconduz, feto, ao útero de uma narrativa não escrita. Pertencimento; e ele volta, inteiro, à UTI onde há muito mais que sangue a ser doado. Porque sangue é uma conta que não fecha.
Cinthia Kriemler
Ilustração: O Nascimento do Mundo, Salvador Dalí
Retirado de Samizdat
Imagem de aqui
Eu costumo dizer que a adopção é um acto de egoísmo, não adoptamos para ajudar crianças, adoptamos pelo nosso desejo de ser pais, mas como tudo na vida há excepções, há quem vá muito mais além e o faça com o desejo puro de ajudar.
Jeane e Paul Briggs são um casal norte-americano e para além dos seus cinco filhos biológicos, já adoptaram mais 31 (????!!!!) crianças um pouco por todo o mundo.
Tudo começou em 1985 quando Jeane teve um aborto espontâneo e decidiu que queria ser família de acolhimento, confrontada com as burocracias do processo americano esteve quase a desistir, até que descobriu que num orfanato mexicano havia um menino cego e com várias lesões corporais e cerebrais devido a uma agressão.
Depois de ver a fotografia do menino, a família apresentou-se no orfanato disposta a adoptá-lo, e desta forma, Abraham foi a primeira de muitas outras crianças um pouco por todo o mundo que viram a sua vida mudada devido à boa vontade e desejo de amar desta peculiar família.
Entre as crianças adoptadas em vários países há algumas com Lábio leporino, escolioses, problemas renais, com cancro, poliomielites ou doenças cardíacas. Tudo crianças que à partida estão postas de parte entre as opções da grande maioria dos candidatos à adopção e é precisamente isso que faz correr Jeanne e Paul, o saber que se não forem eles, dificilmente alguma destas crianças terá alguma vez algo próximo a uma família.
É evidente que uma família deste tamanho custa muito dinheiro a albergar e a manter, mas com a ajuda da empresa em que Paul trabalha e com muito amor e carinho, tudo é possível, incluindo a adopção de mais crianças, e há dois gémeos do Gana que foram abandonados à nascença que já estão a caminho dos Estados Unidos.
Ler as noticias sobre esta família e escrever este post fizeram-me sentir mesmo pequenino, 35 filhos.... e pensar que cá em casa dificilmente damos conta de três....
Jorge Soares
Imagem do Sol
Acho que já o disse antes em algum post, não gosto da expressão "Superior interesse da criança", não gosto porque na maior parte dos casos ela é usada na conveniência dos adultos e não na verdadeira defesa das crianças... mas hoje lembrei-me dela, talvez porque neste caso ninguém a utilizou.
O caso é simples de explicar, há dois ou três dias a GNR mandou parar um carro (não sei em que circunstâncias) e verificou que lá dentro iam uma mãe e 4 filhos, dois deles ainda bebes e os outros dois de 5 e oito anos. Após os devidos testes verificou-se que a senhora ia a conduzir com uma taxa de álcool de 2.27, a seguir parou outro carro onde ia o pai das crianças, após os testes verificou-se que o senhor ia a conduzir com uma taxa de álcool de 1.4. Como o limite é 0.8, e estavam ambos embriagados, as crianças forma encaminhadas para um centro de acolhimento.
Li algures que a família já estaria sinalizada pela comissão de protecção de menores tendo sido aberto um processo de promoção e protecção que foi entregue em Novembro, no Tribunal de Família e Menores da Comarca de Aveiro. Entretanto, após mais este episódio, foi-lhes sugerido que deixassem as crianças institucionalizadas até que eles resolvessem os seus problemas e organizassem a sua vida, coisa que não aceitaram e portanto, após a cura da bebedeira, estas foram-lhes entregues.
Vamos supor que não tinha aparecido a GNR e a senhora se tinha estampado contra uma parede com as crianças dentro do carro.... de quem seria a responsabilidade?... E se amanhã a senhora voltar a beber e voltar a conduzir ébria com as crianças dentro do carro e se estampar?... não vamos todos bater em quem lhe devolveu as crianças?
Eu sei que são muitos ses, mas será que neste caso o superior interesse daquelas 4 crianças não seria mesmo estarem institucionalizadas?
Mas sabem o que mais me irrita, é ler alguns comentários às noticias e ver como há tanta gente que acha que as crianças estão bem mesmo é com os pais... mesmo que estes bebam uns copos de vez em quando... até porque há quem beba muito mais e se aguente em pé.
Voltando à frase do titulo do post, qual acham que será mesmo o superior interesse destas 4 crianças? será ficar com pais que ébrios conduzem carros com eles lá dentro ou estar institucionalizados para sua protecção?
Jorge Soares