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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Já deixei aqui a minha opinião sobre o facto de Amália estar no panteão nacional e sobre a forma rápida e até atabalhoada se decidiu que Eusébio para lá irá.
Salgueiro Maia foi um dos exemplos que utilizei na resposta a alguns dos comentários do post sobre o Eusébio, como sendo uma das personalidades que eu entendia que juntamente com Saramago ou Fernando Pessoa, teriam lá lugar antes de jogadores de futebol ou cantantes de fado. Ontem quando ouvi Manuel Alegre sugerir que este fosse para lá trasladado fiquei curioso sobre qual seria a reacção do mesmo parlamento que há tão pouco tempo decidiu de forma consensual a entrada de Eusébio.
Por muito importantes que fado e futebol tenham sido para o país e para os sonhos e ilusões de muita gente, acho que a democracia é de certeza muito mais importante e quem sabe como a ela teríamos chegado sem a acção forte e decidida de Salgueiro Maia no dia 25 de Abril de 1974.
Para mim o consenso gerado no parlamento à volta de Eusébio tem mais a ver com o Benfica e com oportunismo político que com o verdadeiro sentimento dos deputados ou mesmo do país.
Curiosamente os mesmos senhores deputados que tão rapidamente decidiram há uns dias, agora já tem dúvidas e até acham que não se pode banalizar a coisa, segundo o líder parlamentário do PSD deve ser criado "um procedimento que não faça desenvolver no país uma tentação de poder agora a cada semana ou a cada mês haver uma proposta para uma trasladação para o panteão nacionall".
Será que os senhores deputados não percebem que foram eles que abriram a porta da banalização do Panteão nacional ao aceitarem a entrada de Amália e Eusébio?
Para muita gente Amália e Eusébio são símbolos imortais do país, pelos vistos Salgueiro Maia é só mais um português banal. O que podemos pensar de um país que eleva à tribuna de heróis a jogadores de futebol e fadistas, mas deixa morrer no esquecimento a quem se dispôs a dar a vida pela democracia e a liberdade de todos.
Concordo plenamente que o Panteão não pode ser um passeio da fama, mas para mim isso aplica-se a Eusébio e Amália, nunca a Salgueiro Maia.
Sempre achei que o país foi de uma enorme ingratidão com um homem que teve um papel fulcral no 25 de Abril, ingratidão que começou em vida e que pelos vistos se mantém após a sua morte.
De resto faz-me uma enorme confusão que Eusébio gere consenso entre os partidos e Salgueiro Maia não, há de certeza algo de errado na forma como lidamos com a nossa história contemporânea.
Jorge Soares