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Usar a cabeça

Gamado do Café onde alguém o havia gamado do Tresgues 

 

Não tem nada de novo, é o mesmo ano após ano desde que começou a haver provas, esta ano os resultados dos exames foram os piores, para o ano será pior, podem ter a certeza. Se alguém acha que é um novo governo e um novo ministro que vai fazer o milagre, desengane-se, não vai mudar nada.

 

O ano passado cá em casa tivemos que travar uma guerra com os professores, com a escola, com o agrupamento, com meio mundo, porque nós pais decidimos que o nosso filho ia repetir o quarto ano, a nós só nos interessa que ele aprenda, que saiba o mínimo para poder seguir em frente.  Infelizmente parece que a mais ninguém lhe interessa se as crianças sabem ou não.

 

Não sou dos que acham que temos que voltar aos métodos e à escola de antigamente,  não me parece que a minha escola ou os meus professores fossem melhores que os actuais, bem pelo contrário. As escolas e as crianças portuguesas nunca tiveram tão boas condições, nem em casa nem na escola, nem professores tão bem preparados e com tanto apoio como tem hoje em dia.

 

Onde está o problema?, o problema está no paradigma, quando eu andava na escola o objectivo era que as crianças aprendessem, que saíssem de lá a saber o mínimo para enfrentar a vida. Neste momento o objectivo da escola em Portugal é contribuir para os números. As crianças devem estar na escola o maior tempo e até mais tarde possível, se pelo meio aprenderem alguma coisa, melhor, mas se não aprenderem, pelo menos contribuem para que o país esteja na média.... bom, na média de quase tudo, porque na média das notas de exame de certeza que não estamos.

 

A solução é muito simples, aproveitar as excelentes condições da grande maioria das escolas, o conhecimento e preparação dos professores e utilizá-los para aquilo que foram pensados, ensinar os nossos filhos... se pelo meio voltarmos a descer nas médias, paciência... antes um país abaixo da média que um país de analfabetos funcionais.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 21:32

Requiem por uma máquina de escrever

por Jorge Soares, em 11.05.11

Requiem por uma máquina de escrever

 

Aposto que a maioria não se lembra quando foi a última vez que viu alguém a escrever à máquina, se calhar uma grande parte nem terá visto tal coisa. Eu lembro, há um ano atrás em Cabo Verde fui pagar uma conta da Meninos do Mundo a um despachante, após explicar ao que ia e ter entregue o dinheiro, o senhor pediu a um dos funcionários que me entregasse o recibo. Para meu espanto, este sentou-se em frente a uma máquina de escrever, colocou as folhas entre os rolos: original, papel químico preto e duplicados, acertou-as e após perguntar em nome de quem era... bateu o recibo à máquina.

 

Podem não acreditar, mas ouvir aquele som das teclas no papel foi como ouvir uma velha e conhecida melodia... e o meu espanto por aquilo que estava a presenciar passou para segundo plano quando a minha mente começou a viajar no tempo... anos, muitos anos para trás.

 

A minha era verde azeitona como aquela, mas muito mais pequena e portátil, completamente manual, escrevia muito bem, acompanhou-me durante os anos do liceu e  eu adorava escrever.  Por norma os meus trabalhos escritos eram sempre volumosos, lembro-me de um trabalho de história contemporânea sobre os partidos políticos com mais de 20 páginas.... alguém faz ideia o que era escrever 20 páginas à máquina? É claro que não dava uma décima parte dos erros que dou agora, e a escrita tinha que ser pensada, nas máquinas não há como voltar atrás, só há voltar a escrever desde o início da página.

 

Teria eu 16 ou 17 anos e escrevi uns artigos para uma revista, eram sobre a presença de Portugal nos mundiais de Futebol, no fim da segunda página descobri que tinha saltado um nome a meio... toca a escrever de novo, ia tão embalado que voltei a fazer o mesmo... e recomecei, e voltei a fazer o mesmo... aí decidi que já estava bom, dei a volta ao texto e fiz o senhor aparecer no fim da página. Num computador não tinha demorado mais de 5 segundos a corrigir o erro, ali levei de certeza mais de uma hora.

 

As máquinas de escrever tiveram a sua época, os computadores mudaram o mundo de muitas formas, uma delas foi na forma de escrever, mas não deixa de ser com alguma nostalgia que hoje li no El Mundo que fechou a última fábrica de máquinas de escrever que ainda existia. É difícil entender como mais de 20 anos depois da massificação do computador, dos processadores de texto e das impressoras, ainda existia esta fábrica na Índia, chamava-se Godrej & Boyce... Assim de repente, senti que perdi uma velha amiga, cúmplice de tantas coisas e de tantas ideias.... sabem uma coisa?, estou a ficar velho.

 

Já agora, se puderem leiam este conto : A Máquina, é fantástico.

 

Jorge Soares

publicado às 22:25


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