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Álvaro de Campos ODE TRIUNFAL

por Jorge Soares, em 14.01.19

alvaro-de-campos.jpg

 

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. 

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! 
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! 
Em fúria fora e dentro de mim, 
Por todos os meus nervos dissecados fora, 
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! 
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, 
De vos ouvir demasiadamente de perto, 
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso 
De expressão de todas as minhas sensações, 
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! 

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical - 
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força - 
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, 
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro 
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas 
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, 
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, 
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem, 
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes, 
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando, 
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma. 

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! 
Ser completo como uma máquina! 
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo! 
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, 
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento 
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões 
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável! 

Fraternidade com todas as dinâmicas! 
Promíscua fúria de ser parte-agente 
Do rodar férreo e cosmopolita 
Dos comboios estrénuos, 
Da faina transportadora-de-cargas dos navios, 
Do giro lúbrico e lento dos guindastes, 
Do tumulto disciplinado das fábricas, 
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão! 

Horas europeias, produtoras, entaladas 
Entre maquinismos e afazeres úteis! 
Grandes cidades paradas nos cafés, 
Nos cafés - oásis de inutilidades ruidosas 
Onde se cristalizam e se precipitam 
Os rumores e os gestos do Útil 
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo! 
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares! 
Novos entusiasmos de estatura do Momento! 
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas, 
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos! 
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific! 
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis, 
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots, 
E Piccadillies e Avenues de L'Opéra que entram 
Pela minh'alma dentro! 

Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule! 
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras! 
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos; 
Membros evidentes de clubes aristocráticos; 
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes 
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete 
De algibeira a algibeira! 
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa! 
Presença demasiadamente acentuada das cocotes 
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?) 
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente, 
Que andam na rua com um fim qualquer; 
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos; 
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra 
E afinal tem alma lá dentro! 

(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!) 

A maravilhosa beleza das corrupções políticas, 
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos, 
Agressões políticas nas ruas, 
E de vez em quando o cometa dum regicídio 
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus 
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana! 

Notícias desmentidas dos jornais, 
Artigos políticos insinceramente sinceros, 
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes - 
Duas colunas deles passando para a segunda página! 
O cheiro fresco a tinta de tipografia! 
Os cartazes postos há pouco, molhados! 
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca! 
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos, 
Como eu vos amo de todas as maneiras, 
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto 
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!) 
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar! 
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós! 

Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura! 
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência! 
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes, 
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria, 
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios! 

Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos! 
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar! 
Olá grandes armazéns com várias secções! 
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem! 
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem! 
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos! 
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! 
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos! 
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. 
Amo-vos carnivoramente. 
Pervertidamente e enroscando a minha vista 
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis, 
Ó coisas todas modernas, 
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima 
Do sistema imediato do Universo! 
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus! 

Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks, 
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes - 
Na minha mente turbulenta e encandescida 
Possuo-vos como a uma mulher bela, 
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama, 
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima. 

Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! 
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios! 
Eh-lá-hô recomposições ministeriais! 
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos, 
Orçamentos falsificados! 
(Um orçamento é tão natural como uma árvore 
E um parlamento tão belo como uma borboleta). 

Eh-lá o interesse por tudo na vida, 
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras 
Até à noite ponte misteriosa entre os astros 
E o mar antigo e solene, lavando as costas 
E sendo misericordiosamente o mesmo 
Que era quando Platão era realmente Platão 
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro, 
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele. 

Eu podia morrer triturado por um motor 
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída. 
Atirem-me para dentro das fornalhas! 
Metam-me debaixo dos comboios! 
Espanquem-me a bordo de navios! 
Masoquismo através de maquinismos! 
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! 

Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby, 
Morder entre dentes o teu cap de duas cores! 

(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta! 
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!) 

Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais! 
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas. 

E ser levado da rua cheio de sangue 
Sem ninguém saber quem eu sou! 

Ó tramways, funiculares, metropolitanos, 
Roçai-vos por mim até ao espasmo! 
Hilla! hilla! hilla-hô! 
Dai-me gargalhadas em plena cara, 
Ó automóveis apinhados de pândegos e de..., 
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas, 
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria! 
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto! 
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro, 
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam, 
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto 
E os gestos que faz quando ninguém pode ver! 
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva, 
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome 
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos 
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas 
Nas ruas cheias de encontrões! 

Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma, 
Que emprega palavrões como palavras usuais, 
Cujos filhos roubam às portas das mercearias 
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! - 
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada. 
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa 
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão. 
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães 
Que está abaixo de todos os sistemas morais, 
Para quem nenhuma religião foi feita, 
Nenhuma arte criada, 
Nenhuma política destinada para eles! 
Como eu vos amo a todos, porque sois assim, 
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus, 
Inatingíveis por todos os progressos, 
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida! 

(Na nora do quintal da minha casa 
O burro anda à roda, anda à roda, 
E o mistério do mundo é do tamanho disto. 
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. 
A luz do sol abafa o silêncio das esferas 
E havemos todos de morrer, 
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, 
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa 
Do que eu sou hoje...) 

Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante! 
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus. 
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios 
De todas as partes do mundo, 
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios, 
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas. 
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! 
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores! 

Eh-lá grandes desastres de comboios! 
Eh-lá desabamentos de galerias de minas! 
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos! 
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá, 
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões, 
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim, 
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa, 
E outro Sol no novo Horizonte! 

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto 
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo, 
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje? 
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento, 
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro, 
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico, 
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes 
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais. 

Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar, 
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, 
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar, 
Engenhos brocas, máquinas rotativas! 

Eia! eia! eia! 
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria! 
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente! 
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez! 
Eia todo o passado dentro do presente! 
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! 
Eia! eia! eia! 
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! 
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! 
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. 
Engatam-me em todos os comboios. 
Içam-me em todos os cais. 
Giro dentro das hélices de todos os navios. 
Eia! eia-hô! eia! 
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade! 

Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa! 
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia! 

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! 

Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! 
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o! 

Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z! 

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte! 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa .

publicado às 21:52

A lua

por Jorge Soares, em 10.08.15

A lua de Fernando Pessoa

 

A LUA (dizem os ingleses) 
É feita de queijo verde. 
Por mais que pense mil vezes 
Sempre uma idéia se perde.

 

E era essa, era,  era essa, 
Que haveria de salvar 
Minha alma da dor da pressa 
De... não sei se é desejar.

 

Sim, todos os meus reveses 
São de estar sentir pensando... 
A Lua (dizem os ingleses) 
É azul de quando em quando.

 

Fernando Pessoa

 

Parque Urbano de Albarquel, Setúbal

Julho de 2011

Jorge Soares

publicado às 22:06

Poesia Cantada - Donna Maria, Não digas nada

por Jorge Soares, em 07.10.14

 

Letra

 

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

publicado às 21:04

António Ramos Rosa - A Festa do silêncio

por Jorge Soares, em 23.09.13

A Festa do silêncio

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Escuto na palavra a festa do silêncio. 
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se. 
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas. 
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas. 
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma. 

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia, 
o ar prolonga. A brancura é o caminho. 
Surpresa e não surpresa: a simples respiração. 
Relações, variações, nada mais. Nada se cria. 
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça. 

Nada é inacessível no silêncio ou no poema. 
É aqui a abóbada transparente, o vento principia. 
No centro do dia há uma fonte de água clara. 
Se digo árvore a árvore em mim respira. 
Vivo na delícia nua da inocência aberta. 

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"



Canoas à espera na barrgaem de Montargil

Junho de 2010


Post publicado inicialmente no Momentos e Olhares em Dezembro de 2010

 

Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, António Ramos Rosa morreu esta segunda-feira aos 88 anos.


Há pessoas cujas palavras nunca morrerão


Jorge Soares

publicado às 22:12

A palidez do dia é levemente dourada.

por Jorge Soares, em 23.08.13

palidêz

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

A palidez do dia é levemente dourada.

O sol de Inverno faz luzir como orvalho as curvas

                Dos troncos de ramos secos.

                O frio leve treme.

 

Desterrado da pátria antiquíssima da minha

Crença, consolado só por pensar nos deuses,

                Aqueço-me trémulo

                A outro sol do que este.

 

O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole

0 que alumiava os passos lentos e graves

                De Aristóteles falando.

                Mas Epicuro melhor

 

Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre

Tendo para os deuses uma atitude também de deus,

                Sereno e vendo a vida

                À distância a que está.

 

Ricardo Reis

 

Gerês

Novembro de 2010

Jorge Soares

publicado às 23:18

ausência

por Jorge Soares, em 22.08.13

ausência

 

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Ausência

 

Um deserto sem água

Numa noite sem lua

Num país sem nome

Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero

Nenhuma ausência é mais funda que a tua

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 
Num fim de tarde no Jardim do Bonfim
Setúbal
Outubro de 2012
Jorge Soares

publicado às 17:17

Nuvens

 

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

Nuvens

 

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 
Obrigações morais e civis? 
Complexidade de deveres, de consequências? 
Não, nada... 
O dia triste, a pouca vontade para tudo... 
Nada... 

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol 
(Também estive ao sol, ou supus que estive), 
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica, 
Vaidade, alegria e sociabilidade, 
E emigram para voltar, ou para não voltar, 
Em navios que os transportam simplesmente. 
Não sentem o que há de morte em toda a partida, 
De mistério em toda a chegada, 
De horrível em todo o novo... 

Não sentem: por isso são deputados e financeiros, 
Dançam e são empregados no comércio, 
Vão a todos os teatros e conhecem gente... 
Não sentem: para que haveriam de sentir? 
Gado vestido dos currais dos Deuses, 
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício 
Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se... 
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda 
Para o mesmo destino! 
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho, 
Vou com ele sem desconhecer... 

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 
No dia triste todos os dias... 
No dia tão triste...

 

Álvaro de Campos

 

Novembro de 2012

Jorge Soares

publicado às 17:15

Fui sabendo de mim

por Jorge Soares, em 20.08.13

fui sabendo de mim

 

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia


fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube que mentia

MIA COUTO

publicado às 17:12

Se você quer ser minha namorada

por Jorge Soares, em 19.08.13

Conversa

 

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

Se você quer ser minha namorada
Ai, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exactamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarzinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porquê
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

 

Vinícius de Moraes


Ouvir


Lagoa de Óbidos

Julho de 2012

Jorge Soares

publicado às 17:10

que fechadura encerra os dois lados do infinito?

por Jorge Soares, em 18.08.13

Fechadura

 

 Imagem minha do Momentos e Olhares

 

As Ruas

 

 

No tempo
em que havia ruas,
ao fim da tarde
minha mãe nos convocava:

era a hora do regresso.
E a rua entrava
connosco em casa.
Tanto o Tempo
morava em nós
que dispensávamos futuro.
Recolhida em meu quarto,
a cidade adormecia
no mesmo embalo da nossa mãe.
À entrada da cama
eu sacudia a areia dos sonhos
e despertava vidas além.
Entre casa e mundo
nenhuma porta cabia:
que fechadura encerra
os dois lados do infinito?

Mia Couto
In "Tradutor de chuvas", Ed. Caminho.

 

Farol do Cabo São Vicente

Sagres

Julho de 2012

Jorge Soares

publicado às 17:08


Ó pra mim!

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