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Cidade da Praia com o Farol dona Maria Pia ao Fundo

 

Nós por cá seguimos muito bem, a D. é uma daquelas crianças que por onde passa deixa charme, sempre pronta para um sorriso e um olhar maroto,  fez hoje 15 dias que ela chegou, e está completamente adaptada, continua uma comilona e uma dorminhoca de primeira, apesar de alguma resistência a comer a sopa....

 

Hoje vou voltar aos postais de Cabo verde, como já disse num dos posts anteriores, se há algo que é diferente em Cabo Verde, é a calma das pessoas, as coisas são para fazer nas calmas.. outra das características dos Cabo Verdianos.... pelo menos de alguns Cabo Verdianos, são os primos, eles são todos primos.... pelo menos foi o que a mim me pareceu.

 

Hoje vou falar do Z., ele é  Cabo Verdiano, mas vive algures em Portugal há muitos anos, e o Z e a mulher também adoptaram uma criança em Cabo Verde e como tínhamos o mesmo advogado, fomos juntos. Nós sabíamos que ele tinha família na Praia, não sabíamos é que a população da Praia era toda da família dele....

 

Logo na segunda Feira, andávamos à procura de um restaurante onde almoçar, paramos num sitio a perguntar e quando dei por mim, estávamos os 4 sentados no gabinete do chefe do lugar, que para além de ser uma pessoa muito simpática, era primo do Z.  Reparem, nós entramos num sitio a perguntar onde podíamos almoçar.. ele descobriu um primo. Na conversa descobrimos que o Hotel onde eles estavam alojados, era de um outro primo dele... 

 

No dia a seguir fomos levar as coisas que a Associação Meninos do Mundo nos tinha entregue para uma das instituições de crianças, o taxista levou-nos ao sitio errado, fomos parar a outra instituição, mas a pessoa que nos abriu a porta ...adivinhem, era prima do Z. e recordava-se dele e da família dele... e foi muito simpática porque nos levou ao sitio certo.

 

Nos dias seguintes descobrimos que o advogado não era primo, mas era amigo da família e ainda mais um ou dois primos que foram aparecendo.

 

Mas o Z, para além de primos, tem uma capacidade de desenrascanço que é de louvar. Em todo o processo, o mais critico, para além dos erros nos documentos oficiais do tribunal, era o facto de termos que pedir visto para as crianças poderem entrar em Portugal. As coisas na embaixada de Portugal nem sempre correm bem e o visto tanto pode demorar dois ou três dias, como 15. Os nossos demoraram umas horas.

 

Fomos ao Consulado, levávamos o nome do Cônsul e a conversa com o segurança da entrada foi mais ou menos assim:

 

-Queríamos falar com o Dr. XXXXX

-O Senhor XXXX já não é cônsul cá!

-Não? Ohhh, e quem é agora?

-É a Dr.ª Raquel .......

-Curioso, ela foi minha colega na faculdade - Diz o Z., e nós a olharmos para ele incrédulos - Podemos falar com ela?

-Só um momento..

 

O homem liga lá para dentro, pergunta o nome e lá vamos os 4 directos ao Gabinete da Drª Raquel.... que foi de uma simpatia extrema, levou-nos directamente à funcionária Consular e a partir daqui as coisas correram sobre rodas, e o visto só não ficou no mesmo dia porque não havia maneira de os documentos virem do tribunal com os dados certos.

 

Moral da história, O Z. tem muitos primos e quando não tem, inventa-os.

 

Apesar de a probabilidade de alguma vez passaram por cá ser pequena, aproveito para deixar um enorme bem haja à Dr.ªa Raquel e à Mónica do consulado de Portugal em Cabo Verde por toda a sua simpatia e sensibilidade, ,..... , e um enorme abraço ao Z. e aos seus muitos primos.

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:29

Postais de Cabo Verde 2

por Jorge Soares, em 11.02.10

Crianças com carrinhos de arame em Cabo Verde

Imagem minha do momentos e olhares

 

No Postal anterior falei da Cidade, mas como devem imaginar não nos ficamos  pela Praia, até porque a nossa D. vem mesmo lá de bem do interior. Hoje vou tentar deixar neste postal uma ilustração do que é o interior da ilha.

 

A Primeira saída foi à cidade velha, que é um lugar que tem muito de velho e de cidade,.... nada. Frente a uma pequena baía e uma praia de rocha negra, há um largo com um cruzeiro, um restaurante, um posto de turismo e algumas, poucas casas. Algures, há muito tempo, foi ali a primeira capital de Cabo Verde e um importante entreposto, de esses tempos e para além do cruzeiro onde ainda estão as argolas onde prendiam os escravos, restam algumas ruínas entre as árvores. Dispúnhamo-nos a visitar as ruínas do convento e da pousada, que ficam umas centenas de metros para o interior, quando reparei que alguém nos seguia, à primeira vista fiquei preocupado, era um lugar ermo e solitário. Quando estávamos prestes a chegar ao nosso destino, o homem abordou-nos, para ver as ruínas tínhamos que pagar...  mais ou menos 5 Euros cada um.... não pagamos, limitamo-nos a dar meia volta, achei um enorme exagero pagar 5 Euros para ver o que já estávamos a ver desde o caminho e que não era mais que muros de pedra a delimitar uma zona com árvores de manga.

 

A Segunda vez fomos ao lado norte da ilha ao lugar de onde vinha a D., é uma viagem de uma hora que dá para ver que quanto mais nos afastamos da cidade mais distante ficamos do mundo que conhecemos. A velha estrada dos  tempos coloniais é de paralelos e vai passando pelos vales que agora estão secos, mas que aqui e ali estão salpicados de pequenas plantações, é de aqui que o ano inteiro saem os vegetais que alimentam o mercado do Plateau. Junto à estrada um campo de milho e feijão, com vacas muito magras a alimentar-se do que resta da palha seca...e balizas de futebol. Para aproveitar a época das chuvas até o campo de futebol é plantado. Mais à frente uma porca com 3 ou 4 leitões atravessa a estrada em frente a uma pequena casa, mais à frente um grupo de crianças com 3 ou 4 pilões moem o grão à beira da estrada ...e por todos lados, crianças, muitas crianças... e pobreza, e miséria, muita miséria....e um enorme nó no coração, porque há alturas da vida em que não podemos ser mais que aquilo que somos.

 

No Sábado, quando  já estava tudo tratado e finalmente tínhamos alguma paz de espírito fomos convidado para ir à praia. Por volta da hora do almoço chegaram os pescadores que tinham saído a meio da noite, cada um em seu barco a remos. Os peixes são de um colorido que nunca tinha visto, vermelhos, amarelos, azuis, mas são poucos... muito poucos para quem passou 12 horas no mar a remar, na praia esperavam as mulheres e as crianças que iriam vender o fruto da pescaria. 

 

Entre o peixe havia algumas moreias que eu nunca tinha provado, e passados uns minutos chegou uma dose de moreia frita, que foi das coisas mais deliciosas que já comi.

 

E de novo fiquei com vontade de lá voltar, com outro tempo e outro espírito, porque há lugares que nos encantam, pela sua beleza, pelas suas pessoas e pela sua simplicidade.

 

Jorge Soares

publicado às 21:23


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