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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
O assunto é a praxe e é tratado no Público há opiniões a favor e em contra e ideias para todos os gostos, a menina da fotografia chama-se Cecília Gonçalves e tem umas ideias no mínimo originais, podem ouvir aqui, senão vejamos:
“ ... a praxe não é humilhação mas está presente … é normal, é aceitável, é compreensível”;
“ao longos das nossas vidas vamos ser humilhados das mais diversas formas”;
“um dia, num futuro emprego, o meu patrão poderá chamar-me de incompetente e eu terei de saber aceitá-lo”;
“os nossos professores chamam-nos ignorantes e nós temos de limitarmo-nos aos silêncio”;
“a praxe ensina-nos (…) que na vida há uma hierarquia natural e que nós vamos ter de aceitá-la”;
“a praxe ensina-nos (…) a igualdade para com os nossos semelhantes caloiros e a desigualdade perante o superior“;
“Todos os anos morrem pessoas afogadas em rios (…) e até nas suas banheiras”;
“Eles morreram na sequência de uma onda e não no ritual de praxe porque embora estivessem numa actividade praxista, podiam não o estar e morrerem na mesma”;
-“A praxe envolve humilhação, envolve gritos, envolve estar de quatro (…)”;
Se repararmos bem ela começa por dizer que a praxe não é humilhação, mas depois passa uma boa parte do tempo a explicar como devemos aceitar ser humilhados ao longo da vida, já seja pelos colegas mais velhos, pelos professores ou pelos patrões... segundo ela, a praxe não é humilhação, mas se fosse era a mesma coisa.
Para ela existe uma hierarquia natural e portanto ser humilhado pelos "superiores" também é natural... aposto que era isso que ensinavam aos escravos, ou aos negros quando havia apartheid na África do Sul.
Resta saber onde está para ela o limite da hierarquia, até onde pode chegar a humilhação?
Triste mesmo é que é este o futuro do nosso país, ela é estudante universitária, é suposto ter educação, é suposto saber articular duas frases de jeito, é suposto ter capacidade para pensar que a humilhação não é aceitável não só nas praxes como em tudo o resto da vida...
Não sei se ela terá grande futuro como estudante ou profissional, mas de certeza que haverá algures um psiquiatra qualquer que lhe explique que o que ela sente se chama masoquismo.... e é só mais uma forma de ir pela vida, não é nem pode ser o normal da sociedade em que vivemos.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Há coisas que só vistas, há gente neste país que exige o direito a ser humilhado, vejam o vídeo:
É este o futuro do nosso país, para além de acéfalo e de Maria vai com as outras, gosta de ser humilhado .... o que vale é que não tarda nada, mal se deixem de praxes e consigam terminar o curso, quando começarem a procurar emprego, vai haver muita gente que lhes vai fazer o favor... aposto que aí percebem que ser humilhado não tem piada nenhuma.
Triste o país que tem abéculas destas, que mal se conseguem expressar, como futuro.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Dos mais de 60 comentarios ao meu post sobre as 24 matriculas do Dux de Coimbra, ler aqui, gostava de destacar este da Dulce:
Estudei em Coimbra, Licenciatura, Mestrado, Doutoramento. Junto com vida pessoal somo 3 filhos, um divórcio, 2 casamentos, 5 mudanças de casa, a construção de habitação própria, etc., etc. e trabalho há mais de 20 anos.
24 anos é muito tempo, tal como o Jorge diz.
Estudei em Coimbra sei do que o José Silva está a falar. É-se obrigado a beber sim, senão a humilhação ou outras punições sobem de tom. Há raparigas violadas na primeira noite em que vão a "jantares de curso" e são embebedadas por um "veterano" qualquer. Somos todos obrigados a obedecer aos mais velhos, a servi-los, a fazermos coisas que não queremos fazer.
Ser apanhado numa trupe e rapado é uma humilhação. No dia seguinte aparece-se nas aulas com o corte de cabelo que deu para fazer depois do rapanço e as humilhações continuam. A ideia original de manter os caloiros em casa depois de determinadas horas há muito tempo que se perdeu, é uma farsa.
A própria Queima das Fitas é um exagero de alcool e comportamentos impróprios até para uma pessoa sem nenhuma formação, quanto mais para pessoas a finalizarem a sua licenciatura. Não sei como há tolerância a isto a que chamam praxe.
E o que se tem passado nos últimos anos é demasiado grave para agora se vir defender uma prática que é responsável pela morte de várias jovens.
A praxe é um bullying com supostas regras que há primeira cerveja são esquecidas.
Para encerrar o assunto e em jeito de conclusão, gostava de dizer o seguinte:
Se lermos com atenção os comentários aos meus posts e a todos os outros, podemos tirar as seguintes conclusões:
1 - Em Coimbra, e de resto um pouco por todo o país, há dois tipos de praxes, as regulamentadas e supostamente controladas, já lá vamos ao supostamente, e todas as outras.
2 - Em ambos os casos o objectivo será o mesmo, a integração e o conhecimento da universidade.
3- Para a maioria das pessoas que defende as praxes, só o que acontece de acordo com o regulamento é praxe, os abusos não são praxe, são outra coisa qualquer que deve ser punido não pelas universidades, associações de estudantes ou comissões de praxe, mas pelo estado, é para isso que existem leis.
4 - Em Coimbra supostamente existe um regulamento de praxes que impede os abusos, e até a praxe depois das 23:30, regulamento esse que pelos vistos contempla e permite a existência de algo que se chama Trupe, que mais não é que um bando de energúmenos que durante a noite e valendo-se da superioridade numérica, atacam cobardemente os caloiros aos que cortam o cabelo em contra da vontade destes. Podem ler este artigo de opinião do Público onde alguém relata a coisa em primeira pessoa.
A mim custa-me a entender como depois dos exemplos deixados pela Dulce no comentário acima, pela Golimix neste post, e por tanta outra gente em reportagens de televisão ou nos jornais, ou em outros blogs, continue a existir quem defenda a praxe quase como se de uma questão de fé se tratasse. Está à vista que os regulamentos da UC e das outras faculdades não passam de meras figuras de estilos e a realidade é muito diferente daquilo que se pretende pintar.
Ontem ouvi o DUX da Escola Superior Agrária de Coimbra, de onde supostamente saiu a fotografia do meu Post e que segundo alguns dos comentários será famosa pelas praxes violentas, dizer numa das televisões que lá não se passa nada, a praxe deles consiste em fazer os caloiros apanhar uvas... eles também tem um regulamento e não há abusos...
Parece que para a maioria das faculdades o facto das coisas acontecerem fora dos muros da universidade funciona como uma forma de desresponsabilização, como se caloiros e demais alunos deixassem de ser estudantes ao sair da porta da faculdade... além disso, é suposto as praxes serem uma forma de integração na universidade.
Concluindo, há coisas que não tenho duvidas:
Chamem-lhe o que quiserem, o que aconteceu no Meco tem a ver com praxes
As praxes são uma forma de bullying sim e está visto que as universidades não sabem, não querem ou não conseguem lidar com o assunto, pelo que terá que ser alguma entidade externa a faze-lo, já seja regulamentando e fiscalizando ou simplesmente proibindo-as.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Vi a noticia no Público e fiquei para além de incrédulo, curioso com o seguinte:
"o dux da Universidade de Coimbra, João Luís Jesus, defende que em muitas instituições do ensino superior não há “algo que justifique as suas praxes”, fazendo cópias "com desvios" do que é feito na mais antiga universidade portuguesa. "Noutros sítios, sujam-se os caloiros com lama, ovos ou farinha, quando isso, em Coimbra, é expressamente proibido"
Em primeiro lugar a fotografia acima é das praxes em Coimbra, de onde tirei esta há mais do mesmo estilo, sobre aquela parte de não se sujarem os caloiros com lama, ovos ou farinha, estamos conversados.
Em segundo lugar fiquei perplexo com as 24 matriculas, em Lisboa no Técnico em que eu andei e noutras universidades que conheço, há algo que se chama prescrição, normalmente os alunos tem que aprovar um certo número de créditos num determinado tempo para se poderem inscrever no ano seguinte, pelos vistos em Coimbra não é assim, caso contrário ninguém conseguiria acumular 24 inscrições...e sim, as dele são seguidas.
Fui ao Google e meti o nome do senhor, os dados são públicos e estão ao alcance de quem quiser ver, pelo que não estou a revelar segredo nenhum... e descobri que ele entrou para a universidade em 1989, precisamente o mesmo ano em que eu entrei da primeira vez... vai fazer 25 anos.
Ora nestes 25 anos eu tirei de um curso superior e enquanto estudava trabalhava nos tempos livres, arranjei emprego, casei-me, mudei de emprego, tive um filho, adoptei outro, entrei para outra universidade, tirei outro curso superior, adoptei outro filho.... ou seja, passei 25 anos a tentar construir uma vida.
Ele é dux e até dá entrevistas para os jornais.
Alguém me explica como é que se consegue estar 25 anos na universidade? Evidentemente eu não tenho nada a ver com a vida do senhor, cada um vive como quer e do que quer ... mas 24 matriculas? A sério?
Jorge Soares
Imagem de aqui
Dux ... a palavra entrou-nos de repente pela porta dentro, apesar das minhas duas passagens pelo ensino superior, nunca a tinha ouvido até agora, sempre achei que as praxes eram simplesmente manifestações espontâneas de parvoíce generalizada em que os alunos do segundo ano se vingavam nos caloiros pelo que tinham sofrido no ano anterior. Foi por isso com um enorme espanto que percebi que afinal as praxes são os mecanismos de iniciação a qualquer coisa que tem mais a ver com seitas e religião que com o ensino superior e academia.
Pelos vistos no topo da seita há alguém que se faz chamar Dux e que tem entre as suas prerrogativas a de iniciar os vários responsáveis pela iniciação do povo.
Tenho estado a seguir com atenção os comentários ao Post "Carta aberta a um dux" primeiro no Pés no Sofá (onde os comentários foram encerrados) e depois no Pontos de vista onde continuam abertos e a coisa aqueceu. Fico parvo com algumas coisas que se dizem, há quem defenda as praxes com unhas e dentes e há até quem entenda que que o que aconteceu no Meco não interessa a mais ninguém que a quem lá estava e às famílias, como se a morte de seis pessoas pudesse de alguma forma ser um assunto privado.
Vi também com alguma atenção o documentário Praxis de Bruno Moraes Cabral que nos mostra alguma da realidade das praxes e onde dá para perceber perfeitamente o espírito da coisa, o que se vê ali não passa de um mostruário de abusos e humilhações cometidas por uns supostos doutores sobre os pobres estudantes que acham que tem que passar por aquilo tudo, e tudo podem ser muitas coisas, para serem aceites.
O documentário foi filmado de norte a sul do pais em várias universidades diferentes e o espírito é o mesmo em todos lados, não é uma amostra do pior que se faz, é uma amostra de uma parte do que se faz e que para mim não foi novidade nenhuma, as minhas recordações do que vi nas duas faculdades em que andei eram mais ou menos à volta do que foi mostrado: abusos e humilhação pura e completamente gratuita.
Há muito que quem diga que as praxes foram essenciais para a sua integração e formação pessoal, ora o masoquismo é uma tara conhecida, não fazia ideia é que estava tão generalizada na sociedade portuguesa, dizer que é preciso ser sujeito a abusos e humilhações para se crescer como estudante e pessoa só pode ser sinal de masoquismo.
Acredito que existam praxes e praxes e que nem tudo será assim tão mau, como pai e cidadão preocupa-me seriamente que na maioria dos casos as praxes não passem disso, de humilhação e abusos e que por trás de tudo isto já exista uma organização que foge ao controlo das faculdades e até da sociedade.
Não sei o que se passou no Meco, tenho sérias duvidas que alguma vez se saiba sem sombra de dúvida, até porque não sabemos se o Dux alguma vez sairá do seu estado amnésico, ou se quando o fizer recordará o que se passou, o que ele acha que se passou ou o que ele desejava que se tivesse passado.
Sei que estivessem eles num ritual à beira mar ou em simples conversa na areia, nada disto se teria passado desta forma se não existissem uma comissão de praxes a ser iniciada e um Dux, e sei que queiram ou não os defensores das praxes e do que lhes está associado, está na altura que as universidades ou em seu lugar o a sociedade e todo país, tomem consciência do que se está a passar, até porque não é a primeira vez que há mortos, feridos e processos em tribunal associados às praxes.
Infelizmente o documentário não está disponível na net, mas deixo um trailer e a opinião do realizador
Jorge Soares
Imagem do Público
Era capaz de jurar que já aqui falei deste assunto no passado, e mais que uma vez, mas não consegui encontrar os posts entre os mais de 2100 que já escrevi...
Passei pela universidade duas vezes, nunca fui praxado e confesso que não sei como iria reagir se alguém tentasse, da primeira vez estava recém chegado da Venezuela onde nunca ninguém ouviu falar de tais parvoíces e evidentemente não tinha vontade nenhuma de me submeter ao que via fazer aos meus futuros colegas... A minha altura, o meu cabedal e a barba de uma semana devem ter intimidado, porque apesar de haver muito quem olhasse para mim, ninguém se atreveu a dizer-me o que quer que fosse.
Dizem que as praxes são uma forma de integração na universidade, quando eu entrei para o IST em Lisboa a coisa durava no máximo dois ou três dias na primeira semana e acabava ali até ao ano seguinte em que quem tinha sido praxado no ano anterior, se vingava nos caloiros. Agora as coisas piam mais fino, em cada faculdade há uma comissão de praxes e estas pelos vistos duram um ano inteiro.
Não há ano nenhum em que estas não sejam noticia pelos piores motivos, desde queixas em tribunal por violência física e psicológica que deixam sequelas para a vida, até estudantes que chegam ao suicídio.
Ouvi no outro dia uma jovem que dizia na televisão que as praxes a fizeram crescer e integrar-se melhor na universidade, alguém me explica como é que a humilhação e o escárnio contribuem para o crescimento e a integração? Posso garantir que a mim nada disso me fez falta nenhuma e eu gostei mesmo de andar na universidade.
Agora suspeita-se que os estudantes da Lusófona que morreram na praia do Meco, estariam ali numa acção que tinha a ver com as praxes académicas. Todas as jovens que infelizmente foram levadas pela onda "pertenciam à Comissão Organizadora da Praxe Académica e estavam com o dux, a figura com mais poder na hierarquia da praxe".
Dificilmente saberemos alguma vez o que realmente se passou, certo é que ninguém poderá devolver a vida às jovens nem tirar a dor às famílias que perderam de uma forma estúpida os seus filhos, mas já está na hora que alguém ponha cobro a tanta estupidez. O que será mais necessário para que alguém acabe com as praxes académicas de uma vez por todas?
Jorge Soares