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letta

Imagem do Público 

 

Daqui a 18 meses, verificarei se as reformas chegam a bom porto. Se, pelo contrário, vir que são travadas, tirarei as consequências”, convenhamos que ouvir um politico dar um prazo às suas políticas não é mesmo o habitual. Na Itália, como por cá, como em todo lado, as promessas não costumam passar de palavras, coisas que se esquecem a seguir às eleições.

 

Num país em que os partidos políticos há muito que passaram à historia e onde as  maiorias costumam ser feitas de frágeis equilíbrios formados ao sabor dos interesses, Enrico Letta veio atirar uma pedrada no charco, as suas promessas não vem de antes das eleições, são promessas feitas após a eleição como primeiro ministro e são palavras fortes.

 

A Itália morre só com austeridade. As políticas de crescimento não podem esperar mais”, alguém devia gravar e enviar o discurso a Passos Coelho e a Gaspar.


É preciso tê-los no sitio e ter muito valor para se dar um prazo às politicas económicas, sobretudo porque 18 meses é muito pouco tempo, e a situação económica não depende só de um país... era bom que no resto da Europa ouvissem estas palavras e seguissem os exemplos...


Enquanto por cá se insiste nos cortes e na austeridade ou por outro lado se pedem maiorias com palavras vagas, há quem trace metas verdadeiramente ambiciosas e prometa luta à austeridade.


Jorge Soares

publicado às 22:25

Conto - a teia de renda negra

por Jorge Soares, em 06.04.13

A teia de renda negra

Imagem de aqui


a teia de renda negra

 

Tomava agora mais um cálice de vinho, sabendo que já ultrapassara há muito aquele que constituía o limite do que seria próprio ou não. Esperava, como sempre, por ele, que não se dava ao trabalho de respeitar a etiqueta, deixando-a frequentemente aguardando nos restaurantes, via de regra isolados, já que não podiam ser vistos juntos.

 

Conhecera-o no aeroporto, terra de ninguém, onde se tem a impressão de poder mudar o próprio destino apenas observando, nos monitores, os horários de embarque para os diferentes lugares do mundo. Ele assobiava baixinho, num compasso um tempo mais lento do que o arranjo original, a música de sua vida. Ela virou a cabeça, querendo descobrir quem com ela compartilhava do mesmo gosto e que, sem saber, invadira o mundo de seus devaneios. Descobrira-lhe a senha e adentrara, sem cerimônia, um território cada vez mais bem guardado, impenetrável. Tamanha ousadia não ficara impune. Trocaram telefones, risos, prenúncio das muitas outras trocas por vir.

 

Impaciente, em parte pelo atraso do amado, em parte pela melancolia trazida pelas recordações, consultou o relógio, jurando que só esperaria mais cinco minutos. Que viraram dez, quinze, vinte... Quando ele chegou, percebeu de imediato o que aquele atraso lhe custaria. Ela trazia os olhos borrados, indício claro de que tinha chorado. Tirou-a rapidamente dali, e seguiram para o local de sempre.

 

Deitado enquanto ela tomava um banho, deslumbrou-se ao ver a nova lingerie que ela havia comprado. Tudo bem, ela sempre fora lindíssima, argumento com o qual ele justificava a fraqueza, e assim a vinha enrolando há quatro anos. Mas naquele dia ela parecia especialmente bela. Irresistível, ele diria. Talvez se ela lhe pedisse hoje, ele resolvesse de vez a situação. Não queria se separar, mas também não podia mais viver sem ela.

 

Mas ela não lhe pediria nada. Cansara-se das promessas vãs, tão falsas quanto o anel que ele lhe dera no Natal passado.

 

Amaram-se como nunca naquela tarde, com a urgência do desejo e com a calma da derradeira vez. Sim, porque ela planejava deixá-lo. Tencionara que esta fosse a despedida, e nem dessa vez o canalha chegara na hora. Hoje diria o definitivo não, a partir do qual pretendia iniciar uma nova fase em sua vida.

 

Com a negligé negra e com um jeito sacana no olhar, ela dirigiu-se a ele. Parou, no meio do caminho, para se servir de mais uma taça de vinho. Ele tentou impedi-la, argumentando que ela já bebera demais, que ia passar mal... Ela então esbravejou, dizendo que para ele não faria a menor diferença, que as ressacas ela costumava curar sozinha, já que ele nunca estava mesmo por perto quando ela precisava, como da vez em que ela abortou, por insistência dele, o filho que esperava. E em sua revolta, tão maior porque misturada à mágoa e à paixão, ela quebrou a garrafa de vinho e o feriu. A embriaguez não lhe tirou a capacidade de perceber que ele morria. Ajoelhando-se, colocou-lhe a cabeça no colo, ninando-o, como teria feito com o filho de ambos. O sangue misturou-se à renda negra da lingerie, que parecia uma imensa teia. Como a aranha, espécime que executa o macho após o acasalamento, ela pusera fim à angústia de esperar que ele ligasse no dia seguinte. Entretanto, havia uma irônica diferença: nem viúva-negra ela era, já que ele nunca fora, realmente, seu.

 

Tatiana Alves

 

Retirado de Escritoras Suícidas

publicado às 21:44

Profissão: Pagador de promessas

por Jorge Soares, em 05.05.10

 

Cruz na cidade da Praia, Cabo Verde

 

Imagem Minha do Momentos e olhares

 

 

Promessa: s. f.

-Prometimento formal de dar, fazer ou dizer algo.

 

Sacrifício

-Oferta solene à divindade, em donativos ou vítimas.

-Abandono forçado ou voluntário daquilo que nos é precioso; renúncia.

 

Fonte: Diccionário Online Priberam

 

Vi o senhor no outro dia num programa de televisão, esta semana com todo o barulho à volta do papa e da sua ida a Fátima, lembrei-me dele. Não faço ideia se a profissão está inscrita na lista das profissões liberais ou não,  nem se o senhor paga impostos sobre o que recebe, mas o certo é que  ele até tem um site na internet onde promove os seus serviços, um site que se chama Pagador de Promessas.

 

Há muito que passei a achar a história do pagamento de promessas algo que não faz o mínimo sentido e do meu ponto de vista é até uma falta de respeito para deus. Se pensarmos que deus nos pode conceder graças ou desejos em troca de favores, então estamos a colocar a fé ao nivel das transacções comerciais, a achar que ante os olhos de deus quem consegue fazer sacrifícios tem mais direito que quem não consegue. Ora, somos ou não somos todos filhos de deus? Se somos e ainda por cima criados à sua imagem e semelhança, então  porque haveria ele de conceder favores a uns e a outros não? Ou para que quereria ele que os favores fossem pagos?

 

O facto de a igreja aceitar e até incentivar este tipo de coisas, terá a ver com o negocio em que se converteram os locais de peregrinação e tudo o que gira à volta deles, viesse Jesus de novo à terra e haveria muitos templos e muitos vendilhões por onde repetir a historia.

 

Mas voltando ao tema do Post, o facto de alguém fazer disto profissão não deixa de ser chocante, pagar promessas tem a ver com fazer sacrifícios, ora, se prometemos ir a pé e depois simplesmente pagamos a alguém para ir em nosso lugar.... não estamos a fazer batota? Será que vale o mesmo fazer o sacrifício que pagar a alguém para o fazer por nós? Poderão dizer que a pessoa está a fazer o sacrifício de abdicar do dinheiro... mas nesse caso, não seria muito mais inteligente prometer o dinheiro para uma obra de caridade? Ou para ajudar quem precisa? Porquê prometer algo que não se está a pensar cumprir?   Então e que tal prometermos fazer voluntariado num hospital? Ou serviço cívico nos bombeiros? Ou ajudar idosos à nossa volta? Ou.. há tantas coisas úteis que se podem prometer e que não envolvem alegres caminhadas em cómodas etapas.

 

Por outro lado, não será pecado fazer negócio com os sacrifícios e as promessas dos outros? Eu até acreditava que isto fosse algo nobre se alguém se dispusesse a fazer os sacrifícios em nome de quem não pode ou não consegue, mas em nome do negócio...e que até pode ser pago pela internet?... Mas uma coisa é certa, o homem tem olho para o negócio.... porque quem promete e não pensa cumprir, é o que há mais neste país.

 

Jorge Soares

publicado às 21:59


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