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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Tudo começou com "O rastro do teu sangue na neve", um conto que encontrei nas páginas centrais do Diário de Caracas, eu teria 13 ou 14 anos e aquelas duas ou três páginas magistralmente escritas deixaram-me para além de uma enorme angustia pelo desenrolar da história, uma curiosidade ainda maior sobre o autor.
Seguiu-se La Hojarasca (a revoada) e a seguir Cem anos de solidão e depois muitos outros, não tenho a certeza mas acho que li todos os livros publicados por ele, incluindo alguns de contos de que não tinha ouvido falar e que encontrei nas prateleiras da biblioteca da Universidade central da Venezuela.
Morreu um enorme escritor, o expoente máximo do Realismo Mágico, um género literário que caracterizou a literatura da América latina do último quarto do século XX e que levou ao mundo uma visão muito própria do povo e da cultura dos países da América central e do Sul.
Garcia Marquez era um escritor extremamente descritivo que nos conseguia levar até dentro dos seus livros de uma forma em que quase conseguíamos sentir os cheiros e as cores.
Vencedor do prémio Nobel em 1982, morreu hoje na cidade do México aos 87 anos, o mundo em geral e a literatura em particular ficaram hoje muito mais pobres.
Jorge Soares
Sonhei….
Estava perdido, era um local ermo e desconhecido, eu andava às voltas, gritava o teu nome e algures ouvia a tua voz. Fui andando atrás do som das tuas palavras até que dei de caras com um muro alto, muito alto, que tentei rodear, em breve estava no ponto de partida apesar de sentir que tinha andado em linha recta. Pouco a pouco e com as minhas mãos nuas comecei a derrubar o muro, pedra a pedra. Por momentos conseguia ver os teus olhos negros por entre o vazio que deixava alguma pedra que caia. Sei que falavas, era a tua voz, mas não eram as tuas palavras…
Cada vez que conseguia vislumbrar o brilho do negro dos teus olhos, como por arte de magia o muro voltava à sua posição inicial, eu ouvia a tua voz, sentia a tua presença… mas não eram as tua palavras… e voltava a derrubar o muro, pedra a pedra.
Agora estavas sentada no cimo do muro, eu implorava que descesses, que falasses comigo, tu sorrias, os teus olhos brilhavam, mas não era o teu brilho, eu conseguia sentir a tua presença, mas não eras tu, estavas tão próxima que sentia que se estendesse a mão te conseguia tocar, e ao mesmo tempo tão longe que simplesmente desistia de levantar a mão porque achava que nunca conseguiria lá chegar.
Agora o muro é um fosso escuro e profundo mas estreito o suficiente para te poder ver claramente , estás sentada do outro lado, sorridente e radiante, olhas para mim e finalmente vejo que não és tu, é só uma imagem de aquilo que me queres mostrar, não és tu porque na realidade falta a tua alma que decidiste esconder, longe, muito longe de mim e dos meus sentimentos. E eu não consigo derrubar o muro que esconde o teu coração, e não consigo saltar o fosso que constróis lentamente dia a dia e que me separa do teu olhar, do brilho dos teus olhos negros, da luz do teu sorriso.