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Recordar é viver, A carta

por Jorge Soares, em 11.07.12

A Carta

Imagem da Internet

 

 

Toda esta conversa acerca do Algarve e de parques de campismo, fez-me recordar um post que escrevi já lá vão uns quatro anos... como hoje é um daqueles dias em que não me apetece mesmo pensar muito e a maioria dos leitores daquele tempo já por cá não mora.... recordar é viver... 

 

A carta!

 

Eu gosto do Algarve fora de época e fora da confusão, naquele ano fomos acampar no mês de Abril para o parque de campismo da Praia da Luz, já lá vão uns dez anos, já não me lembro de muitos detalhes, sei que duas ou três noites terminei a dormir no chão, tínhamos um colchão de ar que teimava em esvaziar-se e foi uma complicação para o reparar... que nos bares da praia da luz não éramos lá muito bem vindos, falávamos português e os empregados olhavam de lado, um dia entramos num bar em Lagos e a empregada não falava português, só inglês! Fomos ao cinema... mas não me lembro do filme.

 

O parque de campismo era só para nós, que me lembre na maior parte dos dias éramos nós e algum casal de holandeses. Foi uma semana muito calma e relaxante.

 

Na semana seguinte voltei ao trabalho, na Quarta-feira a minha mãe ligou-me para o escritório, já era estranho ela estar-me a ligar para lá, mas pelo tom de voz, imaginei que algo estranho se estava a passar, a conversa foi mais ou menos assim:

 

-Jorge, tu conheces alguém no Algarve?

-Que eu saiba não, mas estive lá a semana passada.

-Estiveste donde?

-Estive na zona de Lagos.

-.....

-Então, o que é que se passa?

-Há... é que chegou uma carta para ti...e o código postal é de Lagos!

-Uma carta para mim?... humm , se calhar deixei lá alguma coisa...

 

Comecei a achar a historia absurda, mesmo que tivesse deixado lá alguma coisa, como é que eles iriam enviar uma carta para uma aldeia de Oliveira de Azeméis se eu moro em Setúbal?

 

-Sabes, é uma carta de uma mulher.... -diz a minha mãe.

-De uma mulher?, mas eu não dei a morada de aí a ninguém!

 

Aqui começou a fazer-se luz sobre o motivo da minha mãe me ligar para o emprego e não para casa...

 

Naquela altura no lugar donde moram os meus pais, as ruas não tinha nomes, e os carteiros entregavam as cartas pelos nomes das pessoas, e acreditem ou não, há mais dois Jorge Soares.......

 

-Isso de certeza que não é para mim, já perguntou se não é para nenhum dos outros fulanos que tem o meu nome?

-Já perguntei... e eles dizem que não conhecem ninguém no Algarve... e como tu lá estiveste... que é que eu faço?

-Bom, se não é para eles..... abra!

 

Ela abriu, e aqui a coisa piorou, era um postal daqueles mais que sugerentes e com palavras ainda piores, lá me explicou o que dizia.... fiquei sem palavras..... imaginei que alguém me estaria a fazer uma brincadeira ...a minha mãe não achou piada nenhuma e nem quero imaginar o que ficou a pensar. Passei o resto do dia a matutar quem sabia que eu tinha estado no Algarve e sabia a morada dos meus pais.. e a verdade é que não consegui lembrar-me de ninguém.

 

Cheguei a casa e contei à P.  que levou aquilo na brincadeira, a esta altura eu já não estava a achar piada, depois de muita conversa com a minha mãe, a carta foi para a lareira, a P. diz que não me volta a deixar ir à casa de banho do campismo... era os únicos momentos em que não estávamos juntos.

 

Passados uns 15 dias, um dos meus xarás apareceu de mansinho a perguntar pela carta. Cada vez que nos lembramos disto, a P.goza comigo e diz que quando vamos acampar, eu não posso ir sozinho lado nenhum... para depois não chegarem cartas.

 

Jorge Soares

publicado às 22:50

As ameixas

por Jorge Soares, em 19.09.07

ameixa.jpg

 

Hoje comi uma ameixa de sobremesa, era enorme, escura, quase preta, com o primeiro bocado consegui identificar o sabor inconfundível, ameixa.

 

Lembro-me de ter 5 ou 6 anos e de ir colher ameixas, que sabiam como esta, da árvore que havia em casa da minha avó. Entre o tanque de lavar a roupa, o moinho donde o milho se convertia na farinha que depois de amassada e cozida no enorme forno de lenha, seria broa de milho, e a casa da minha avó, havia duas ameixoeiras. Uma de ameixas brancas que quando amadureciam se tornavam douradas e doces como mel e uma de  encarnadas, pequenas e alongadas.

 

Uma das árvores, a que dava frutos encarnados, cresceu encostada à casa, e lembro-me que eu e o meu primo Rogério subíamos por ela até ao telhado e colhíamos os frutos maduros.

 

Passávamos o verão a subir ao telhado e a inspeccionar  os frutos verdes, que começavam a pintar após as primeiras chuvas.  Lembro-me de me empanturrar de ameixas maduras, e do dia em que o meu primo caiu da outra árvore, à que eu não conseguia subir.

 

Aos 10 anos fui para longe, quando voltei a casa da minha avó, 6 anos depois, nenhuma das árvores estava lá, dei pela falta delas, mas nunca perguntei o que lhes tinha acontecido, e até hoje, quase 30 anos depois, não tinha voltado a comer ameixas.

 

Jorge Soares

publicado às 22:14


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