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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Toda esta conversa acerca do Algarve e de parques de campismo, fez-me recordar um post que escrevi já lá vão uns quatro anos... como hoje é um daqueles dias em que não me apetece mesmo pensar muito e a maioria dos leitores daquele tempo já por cá não mora.... recordar é viver...
A carta!
Eu gosto do Algarve fora de época e fora da confusão, naquele ano fomos acampar no mês de Abril para o parque de campismo da Praia da Luz, já lá vão uns dez anos, já não me lembro de muitos detalhes, sei que duas ou três noites terminei a dormir no chão, tínhamos um colchão de ar que teimava em esvaziar-se e foi uma complicação para o reparar... que nos bares da praia da luz não éramos lá muito bem vindos, falávamos português e os empregados olhavam de lado, um dia entramos num bar em Lagos e a empregada não falava português, só inglês! Fomos ao cinema... mas não me lembro do filme.
O parque de campismo era só para nós, que me lembre na maior parte dos dias éramos nós e algum casal de holandeses. Foi uma semana muito calma e relaxante.
Na semana seguinte voltei ao trabalho, na Quarta-feira a minha mãe ligou-me para o escritório, já era estranho ela estar-me a ligar para lá, mas pelo tom de voz, imaginei que algo estranho se estava a passar, a conversa foi mais ou menos assim:
-Jorge, tu conheces alguém no Algarve?
-Que eu saiba não, mas estive lá a semana passada.
-Estiveste donde?
-Estive na zona de Lagos.
-.....
-Então, o que é que se passa?
-Há... é que chegou uma carta para ti...e o código postal é de Lagos!
-Uma carta para mim?... humm , se calhar deixei lá alguma coisa...
Comecei a achar a historia absurda, mesmo que tivesse deixado lá alguma coisa, como é que eles iriam enviar uma carta para uma aldeia de Oliveira de Azeméis se eu moro em Setúbal?
-Sabes, é uma carta de uma mulher.... -diz a minha mãe.
-De uma mulher?, mas eu não dei a morada de aí a ninguém!
Aqui começou a fazer-se luz sobre o motivo da minha mãe me ligar para o emprego e não para casa...
Naquela altura no lugar donde moram os meus pais, as ruas não tinha nomes, e os carteiros entregavam as cartas pelos nomes das pessoas, e acreditem ou não, há mais dois Jorge Soares.......
-Isso de certeza que não é para mim, já perguntou se não é para nenhum dos outros fulanos que tem o meu nome?
-Já perguntei... e eles dizem que não conhecem ninguém no Algarve... e como tu lá estiveste... que é que eu faço?
-Bom, se não é para eles..... abra!
Ela abriu, e aqui a coisa piorou, era um postal daqueles mais que sugerentes e com palavras ainda piores, lá me explicou o que dizia.... fiquei sem palavras..... imaginei que alguém me estaria a fazer uma brincadeira ...a minha mãe não achou piada nenhuma e nem quero imaginar o que ficou a pensar. Passei o resto do dia a matutar quem sabia que eu tinha estado no Algarve e sabia a morada dos meus pais.. e a verdade é que não consegui lembrar-me de ninguém.
Cheguei a casa e contei à P. que levou aquilo na brincadeira, a esta altura eu já não estava a achar piada, depois de muita conversa com a minha mãe, a carta foi para a lareira, a P. diz que não me volta a deixar ir à casa de banho do campismo... era os únicos momentos em que não estávamos juntos.
Passados uns 15 dias, um dos meus xarás apareceu de mansinho a perguntar pela carta. Cada vez que nos lembramos disto, a P.goza comigo e diz que quando vamos acampar, eu não posso ir sozinho lado nenhum... para depois não chegarem cartas.
Jorge Soares
Hoje comi uma ameixa de sobremesa, era enorme, escura, quase preta, com o primeiro bocado consegui identificar o sabor inconfundível, ameixa.
Lembro-me de ter 5 ou 6 anos e de ir colher ameixas, que sabiam como esta, da árvore que havia em casa da minha avó. Entre o tanque de lavar a roupa, o moinho donde o milho se convertia na farinha que depois de amassada e cozida no enorme forno de lenha, seria broa de milho, e a casa da minha avó, havia duas ameixoeiras. Uma de ameixas brancas que quando amadureciam se tornavam douradas e doces como mel e uma de encarnadas, pequenas e alongadas.
Uma das árvores, a que dava frutos encarnados, cresceu encostada à casa, e lembro-me que eu e o meu primo Rogério subíamos por ela até ao telhado e colhíamos os frutos maduros.
Passávamos o verão a subir ao telhado e a inspeccionar os frutos verdes, que começavam a pintar após as primeiras chuvas. Lembro-me de me empanturrar de ameixas maduras, e do dia em que o meu primo caiu da outra árvore, à que eu não conseguia subir.
Aos 10 anos fui para longe, quando voltei a casa da minha avó, 6 anos depois, nenhuma das árvores estava lá, dei pela falta delas, mas nunca perguntei o que lhes tinha acontecido, e até hoje, quase 30 anos depois, não tinha voltado a comer ameixas.
Jorge Soares