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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Ontem dei de caras com o texto acima publicado no Facebook pela minha filha mais velha, ainda não lhe perguntei mas imagino que terá sido algum dos colegas mais velhos a escrever e ela partilhou, mas o simples facto de ela o ter partilhado já me deixa feliz...
Curiosamente isto aconteceu numa altura em que no prazo de duas semanas a psicóloga do centro de estudos onde eles passam o tempo livre da escola, nos chamou duas vezes a atenção para o reivindicativos que são os nossos filhos.
Primeiro a propósito do comportamento do N. e depois sobre o da R.. Segundo a senhora, nós temos que ser menos reivindicativos cá em casa, falar menos do governo, reclamar menos nos restaurantes, na estrada... pelo menos em frente deles.
Quando a minha meia laranja me contou eu não pude deixar de sorrir, evidentemente a senhora não me disse isto a mim, ainda bem, porque acho que não ia gostar de ouvir a resposta.
Numa altura em que cada vez mais a juventude deste país se afasta da política e das decisões sobre o que os rodeia mais além do seu pequeno mundo, talvez atitudes como a desta senhora ajudem a explicar o porquê destes comportamentos.
Educar também é pelo exemplo e eu espero sinceramente que no futuro os meus filhos tenham consciência cívica e se possível politica, não é com jovens acéfalos e apolíticos que se constrói o futuro do país. Do que de mim dependa eles vão ter opinião e personalidade suficiente para poderem reivindicar e reclamar as vezes que for necessário... é claro que também é importante que percebam que há uma enorme diferença entre reivindicação e falta de respeito e educação... mas como é a mesma senhora que nos dá os parabéns porque para uma criança com hiperactividade e défice de atenção as coisas com o N. estão a correr muito bem... acho que estou a ir no bom caminho.
Jorge Soares
Há um evento no Facebook que se chama Passagem do cometa Halley (2061) e há muita gente que diz que vai participar...eu não sei se me apetece. Sou velho o suficiente para me lembrar da passagem anterior, fiz parte da geração Halley, cheguei a Portugal em 1989, a meio da luta contra a PGA, estava na faculdade quando apareceram as propinas, fui às manifestações e não paguei.. como não pagou quase ninguém, porque os estudantes que haviam estado unidos contra a PGA, estavam agora Unidos contra as propinas.
Uma geração que antes de se formar na vida, formou-se na contestação, na luta pelos seus direitos e contra os arbítrios dos sucessivos ministros da educação do cavaquistão.. e que participaria ainda na contestação aos aumentos na 25 de Abril... uma geração que foi um dia apelidada de geração Rasca... porque para além de tudo o resto que costumam fazer os jovens, sabia contestar.
Olhando para o que se passa em França por estes dias, podemos observar que uma boa parte da contestação vem dos estudantes, com escolas ocupadas e cidades invadidas, o movimento estudantil é parte activa na contestação que está a ponto de parar um país.
Não quero cair no mesmo erro que caiu quem a nós nos chamou geração Rasca, mas olhando para esta geração, a dos telemóveis, dos milhares de SMS trocados, a geração que nunca chumba, não porque saiba mas por decreto, a geração das calças caídas, a mesma que é contra o acordo ortográfico mas que não é capaz de escrever duas frases sem meter K's e abreviações, eu pergunto-me.. que geração é esta?
Está à vista que vem aí tempos de contestação, tempos difíceis, mas olhando à nossa volta parece que a eles tudo lhes passa ao lado, cresceram com todas as vontades feitas e sem saberem de obstáculos ou dificuldades, só sabem pedir, não sabem o que é lutar por algo, traçar metas e desafios em prol de todos. Vivem na era da comunicação e do conhecimento global.. mas é como se tudo o que é realmente importante lhes passasse ao lado.
Daqui a mais 20 anos a geração Rasca estará a sair da vida activa... restará neste pais quem saiba lutar pelos seus direitos?
Jorge
PS:E não, eu não acho que todo tempo anterior foi melhor... viver nunca foi tão bom como agora.. mas há quem viva, e quem se limite a existir