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A Joana Latino e uma reportagem .... viva

por Jorge Soares, em 26.03.14

Joana Latino

 

 

Imagem de aqui

 

No que toca a noticias sou cliente da RTP, o que significa que esta reportagem (diferente??!!) me tinha passado ao lado não fosse um dos meus contactos do Facebook ter colocado no mural um dos muitos comentários sobre ela.

 

O jornalismo é uma coisa séria e deve em principio ser feito por pessoas sérias, mas sério não significa mal disposto e a Joana Latino é para além de uma excelente profissional, uma pessoa bonita e bem disposta... e isso normalmente nota-se nos seus trabalhos.

 

A reportagem é sobre David Hasselhoff e a sua vinda a Portugal a propósito de um espectáculo qualquer. Quem anda perto dos 40 recordará o David da série o Justiceiro, em que contracenava com um carro que para além de falar, sabia uns truques. Já quem anda perto dos 30 lembra-se de certeza  de uma, ou de várias,  temporadas da serie Marés vivas,  em que ele contracenava com miúdas giras em fato de banho, a série em certo modo até revolucionou a profissão de salvavidas em Portugal e nos vários paises por onde passou.

 

Está visto que a Joana se lembra bem do actor e das suas várias facetas e portanto decidiu-se por uma reportagem diferente. Diferente não quer dizer má, menos interessante ou menos informativa... pode-se gostar mais ou menos, mas não há duvida que a Joana arriscou... e o resultado final foi este:

 

 

Parece que há muita gente melindrada com a Joana e este seu trabalho... sinceramente não estou a perceber porquê. É só uma reportagem diferente e não restam dúvidas que todos ficamos a saber quem é a personagem e o que veio cá fazer.... só faltou mesmo o bikini e a boia salvavidas para o ambiente ser perfeito {#emotions_dlg.tongue}

 

Jorge Soares

publicado às 22:01

Califa TchamJosé 
 José Carlos Martins Oscar

 

 Imagens do Público 

 

A reportagem do Público chama-se filhos do vento, já lhes chamaram portugueses suaves, podia chamar-se filhos da guerra, ou deixados para trás, ou .....

 

Hoje são adultos, tem vidas próprias, a suas próprias famílias, em comum tem todos a mesma origem, são filhos de militares portugueses que tal como dizia aquela canção dos delfins,  foram "Combater a selva sem saber porquê / e sentir o inferno a matar alguém / e quem regressou / guarda sensação / que lutou numa guerra sem razão... 


A maioria tem mais ou menos a minha idade, se a reportagem fosse sobre Moçambique quem sabe e algum deles não podia ser meu irmão, afinal o meu pai também lá esteve e também era um daqueles jovens que foram retirados do seu meio ambiente e enviados para o outro lado do mundo... sozinhos.

 

Cada um tem a sua história, há quem tenha dois e três irmãos, do mesmo pai ou de pais diferentes, e todos ficaram para trás quando esses pais voltaram a Portugal para seguiram as suas vidas esquecendo que deixavam para trás outras vidas.

 

Tal como diz alguém, eles são portugueses.. de sangue, mas não são, porque foram deixados para trás e com a derrota, esquecidos, agora são filhos de pai incógnito .. filhos da guerra.

 

É interessante ler os comentários, aqui, e ver como podem ser diferentes as perspectivas, dá para ver como passados todos estes anos ainda há feridas abertas, ainda há quem não perceba que nada daquilo fazia sentido e que o que estas pessoas querem é da mais elementar justiça,  eles não pedem nada, apenas querem saber quem são os seus pais.

 

Não vou aqui fazer juízos de valor sobre os pais destas pessoas, era bom que todos assumissem a sua responsabilidade... mas cada um tem a sua consciência e é a ela que deve apelar.

 

Eu acho que é uma excelente reportagem, e que fazem falta muitas mais reportagens como esta, porque tudo isto faz parte da nossa história e ao contrario do que tem acontecido nos últimos 40 anos, já é altura de assumirmos que as coisas aconteceram, as boas e as más.

 

Perguntei ao céu: será sempre assim? 
poderá o inverno nunca ter um fim? 
não sei responder 
só talvez lembrar 
o que alguém que voltou a veio contar... recordar... 
recordar... 
Aquele Inverno 

 

Jorge Soares

publicado às 22:25

 

 

«Dinheiros públicos, vícios privados» é uma grande reportagem de Ana Leal, com imagem de Gonçalo Prego e edição de Miguel Freitas.

 

Podia dizer muitas coisas, mas há quem o consiga fazer muito melhor que eu... vejam a reportagem e leiam a opinião do Daniel Oliveira que retirei do Arrastão:

 

A história que aqui vos conto, e que muitos dos leitores terão tido a oportunidade de ver na TVI (http://www.tvi.iol.pt/videos/13754874), é a de um grupo privado que nasceu à sombra da influência do poder político. E que, na área da educação, cresceu à custa de contratos de associação que desviam alunos das escolas públicas para colégios privados. Sem que tal seja necessário ou corresponda a qualquer benefício para os cidadãos.

 

Nas escolas públicas Raul Proença e Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, há lugares vagos. Mas construíram-se dois colégios privados, do influente grupo GPS: Frei Cristóvão e Rainha Dona Leonor. Concorrência? Nem por isso. Os colégios recebem alunos que são integralmente pagos pelo Estado. Porque as escolas públicas do concelho estão sobrelotadas? Não. Porque não têm condições? Pelo contrário. As públicas pedem mais turmas e isso é-lhes recusado. As privadas crescem e recebem, por decisão da DREL, muito mais turmas do que as escolas do Estado. Os alunos são desviados do público para o privado. E o Estado paga.

 

No últimos cinco anos a escola pública, nas Caldas da Rainha, perdeu 519 alunos. Os colégios com contratos de associação (financiados pelos dinheiros públicos) ganharam 514. Não por escolha dos pais, mas por escolha do Ministério da Educação. A Bordalo Pinheiro, que tem condições invejáveis, resultado de um investimento de 10 milhões de euros, poderia ter 45 turmas. Tem 39. Os alunos em falta vão para escolas privadas, pagos por nós, com piores condições.

 

Enquanto nas escolas públicas vizinhas há professores com horário zero, os professores dos colégios do grupo GPS são intimidados para assinar declarações que os obrigam a cargas horárias ilegais. Dão aulas a 300 ou 400 alunos. Há professores com todos os alunos do segundo ciclo na sua disciplina. Tudo com o devido conhecimento da Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo (AEEP).

 

Para além das aulas, há, casos de professores a servirem almoços e cafés, a pintarem as instalações, a fazerem limpezas, arrumações e trabalho de secretaria e contabilidade. Isto nas várias escolas do grupo GPS, espalhadas pelo País. As inspeções do ministério a estas escolas, testemunha um professor, têm aviso prévio. Isto, enquanto, só no concelho das Caldas da Rainha, 140 professores das escolas do Estado chegaram a estar sem horário por falta de alunos.

 

As condições das escolas do grupo privado pago quase integralmente com dinheiros do Estado deixam muito a desejar. Portas de emergência fechadas a cadeado, falta permanente de material indispensável, cursos financiadas PRODEP sem as instalações para o efeito e aulas a temperaturas negativas.

 

Falta de dinheiro? Não parece. Manuel António Madama, diretor da Escola de São Mamede, também do grupo, é proprietário de uma invejável frota de 80 carros. Só este ano, o grupo GPS recebeu do Estado 25 milhões de euros. Cada turma das várias escolas do grupo recebe do Estado 85 mil euros. Dos 3 milhões de euros vindos dos cofres públicos para, por exemplo, a escola de Santo André, só 1,3 milhão é que foram para pagar professores. A quando das manifestações contra a redução dos contratos de associação, decidida por José Sócrates e que Nuno Crato anulou (enquanto fazia cortes brutais na escola pública), a presidente da Associação de Pais quis saber para onde ia o dinheiro que sobrava. Ficou na ignorância.

 

A pressão para dar negativa a alunos que poderiam ter positiva mas, não sendo excelentes, poderiam baixar a média nos exames que contam para o ranking, são enormes. Até ao despedimento de professores e à alteração administrativa das notas. Os maus alunos, mesmo em escolas privadas pagas com dinheiros públicos, são para ir para as escolas do Estado. No agrupamento de Escolas Raul Proença há cem alunos com necessidades educativas especiais. No colégio vizinho da GPS, o Dona Leonor, com contrato de associação, quantos alunos destes, pagos pelo Estado, existem? Nenhum. Dão demasiado trabalho, exigem investimento e baixam a escola no ranking.

 

Como se explica o absurdo duplicar custos quando as escolas do Estado chegam e sobram para os alunos disponíveis? De ter escolas do Estado em excelentes condições, onde foi feito um enorme investimento, semivazias e com professores com horário zero, enquanto nestas escolas privadas se amontoam alunos pagos pelos contribuintes, sem condições e com os professores a serem explorados? A TVI contou, numa inatacável reportagem de Ana Leal, documentada até ao último pormenor e com inúmeros testemunhos, a razão deste mistério.

 

A GPS é um poderoso grupo. 26 escolas de norte a sul do País, invariavelmente ao lado de escolas públicas e com contratos de associação com o Estado. Em 10 anos criou mais de 50 empresas em várias áreas, do turismo às telecomunicações, do ensino ao imobiliário. António Calvete, presidente do grupo GPS, foi deputado do PS no tempo de Guterres e membro da Comissão parlamentar de Educação. Para o acompanhar nesta aventura empresarial chamou antigos ministros, deputados, diretores regionais de educação. Do PS e do PSD: Domingos Fernandes, secretário de Estado da Administração Educativa de António Guterres, Paulo Pereira Coelho, secretário de Estado da Administração Interna de Santana Lopes e secretário de Estado da Administração Local de Durão Barroso, José Junqueiro, deputado do PS. Todos foram consultores do grupo GPS.

 

Mas entre os políticos recrutados pela GPS estão as duas principais figuras desta história: José Manuel Canavarro, secretário de Estado da Administração Educativa de Santana Lopes, e José Almeida, diretor Regional de Educação de Lisboa do mesmo governo. Foram eles que, em 2005, assinaram o despacho que licenciava a construção de quatro escolas do grupo GPS com contratos de associação para receberem alunos do Estado com financiamento público. Ainda não tinham instalações e já tinham garantido o financiamento público dos contratos de associação. Ou seja, havia contratos de associação com escolas que ainda não tinham existência legal. Um despacho assinado por um governo de gestão, a cinco dias das eleições que ditariam o fim político de Santana Lopes. Depois de saírem dos cargos públicos foram trabalhar, como consultores, para a GPS. E nem um despacho do novo secretário de Estado, Waler Lemos, a propor a não celebração de contratos de associação com aquelas escolas conseguiu travar o processo.

 

Alguns estudos recentes falam dos custos por aluno para o Estado das escolas públicas e privadas. Esta reportagem explica muitas coisas que os números escondem. Como se subaproveita as capacidades da rede escolar do Estado e se selecionam estudantes, aumentando assim os custos por aluno, para desviar dinheiro do Estado para negócios privados. E como esses negócios se fazem. Quem ganha com eles e quem os ajuda a fazer. Como se desperdiça dinheiro público e se mexem influências.

 

A reportagem da TVI não poderia ter sido mais oportuna. Quando vier de novo a lenga-lenga da "liberdade de escolha", das vantagens das parcerias com os privados, dos co-pagamentos, da insustentabilidade de continuar a garantir a Escola Pública, do parque escolar público ser de luxo... vale a pena rever este trabalho jornalístico. Está lá tudo. O resumo de um poder político que serve os interesses privados e depois nos vende a indispensável "refundação do Estado".

 

Daniel Oliveira

publicado às 22:02

Crianças institucionalizadas

Imagem da internet

 

Cá por casa para além das noticias pouco se vê a televisão generalista portuguesa, deve ser por isso que o programa me passou ao lado, o comentário do Pedro hoje à tarde chamou a minha atenção para o assunto e lá fui ao site da SIC e pude ver o programa.

 

Fiquei chocado com tudo o que é ali mostrado, é chocante ver que há crianças que estão no centro de acolhimento há 6, 7, 12 anos, entraram para ali crianças e vão sair adultos, por muito bom que seja o lar, por muito boa intenção que pareçam ter as pessoas, a verdade é que aquelas crianças cresceram e viveram longe do carinho de uma família e como pudemos ver em mais que um dos testemunhos, isso deixa marcas.

 

Está claro que há algo de errado com tudo isto, como é possível que uma criança que entra para um centro de acolhimento com um ano, continue lá aos 10? Quantos anos são necessários para que se conclua que não vai haver volta atrás e que deve ser encontrado um projecto de vida que não passe por famílias que não aparecem?

 

No encontro nacional de adopção da semana passada Fernanda Salvaterra, responsável pelas equipas de adopção de Lisboa, dizia a propósito da integração de crianças nas famílias adoptivas, que conseguiam saber à partida se a integração ia ser mais fácil ou mais difícil de acordo com a instituição de onde elas vinham, isto porque há instituições que preparam as crianças para a adopção e outras que por um motivo ou outro não o fazem.

 

É claro que a instituição retratada na reportagem não prepara as crianças para a adopção, o caso que apresentaram ali é gritante, levar uma criança a uma esplanada e apresentar-lhe duas pessoas que supostamente irão ser os seus pais, assim,  sem preparar a criança previamente, só pode resultar em fracasso. O que a mim me pareceu é que esta instituição não tem uma equipa preparada para enfrentar estas situações, não prepara as crianças, quando falamos de crianças a boa vontade não chega, é necessário que existam equipas profissionais e preparadas para preparar as crianças para a sua vida futura, já seja o regresso à família ou a ida para a adopção.

 

Outra coisa que me chocou foi a forma como as crianças foram apresentadas na reportagem, perfeitamente identificáveis, não sei quem deu a autorização, mas duvido que o tribunal, o verdadeiro responsável como foi dito várias vezes,  tenha autorizado isto, até porque a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei: 147/99 de 01 de Setembro, artigo 90º, número 1) diz o seguinte:

 

1 - Os órgãos de comunicação social, sempre que divulguem situações de crianças ou jovens em perigo, não podem identificar, nem transmitir elementos, sons ou imagens que permitam a sua identificação, sob pena de os seus agentes incorrerem na prática de crime de desobediência.

 

Eu sei que estas reportagens são importantes para chamar a atenção das pessoas para o que verdadeiramente se passa com as crianças, sei que esta reportagem fez mais para chamar a atenção que mil posts meus, mas era mesmo necessário mostrar as caras das crianças? 

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:31

adopção:Pais do coração

por Jorge Soares, em 13.07.09

Filhos do coração

Retirada de aqui

 

Recebi as perguntas por mail há bastante tempo, a publicação foi sendo adiada,  saiu este Sábado na Revista Ns do DN e Jornal de Noticias, o link está aqui para quem quiser ler, como há sempre muito mais a dizer e eu disse muito mais, deixo aqui as perguntas que me foram enviadas pela jornalista e as minhas respostas.

 

Não gostei do titulo... mas também não tenho nada de gostar.

 

 - No seu caso específico, que razões o levaram a abraçar esta problemática das adopções e do direito de todas as crianças a um lar de amor?

 

Sou pai adoptivo e biológico e neste momento candidato à adopção, o meu primeiro processo foi à mais de 10 anos e na altura sentimos muita falta de informação e de apoio. Um processo de adopção é sempre doloroso, a maior parte do tempo existe um enorme vazio e sentimos a  falta de podermos partilhar com outras pessoas. Após a adopção o sentimento mudou, mas o vazio continuava ali, a necessidade de sentir apoio e de partilhar com outras pessoas que estivessem ou tivessem passado pelo mesmo que nós mantinha-se. Com o tempo criamos um grupo de discussão, o grupo nós adoptamos e foi como uma bola de neve que foi crescendo, fiz parte do grupo que organizou os dois primeiros encontros nacionais de adopção, ambos em Setúbal, e a proximidade com pais e candidatos fez com que interiorizasse a problemática da adopção nas suas várias vertentes.

 

- Sendo o acolhimento familiar de crianças uma medida que pressupõe o seu bem-estar e a vontade de ajudá-las em primeiro lugar, como se explica que haja tantos casos (e tão fortemente mediáticos) de disputas com os pais biológicos?

 

Na verdade não há assim tantos casos, não faço ideia quantas crianças existirão em acolhimento, mas dois ou três casos não são muitos casos, para mais que os dois mais mediáticos, o da Esmeralda e o da Alexandra, são casos que passaram ao lado da segurança social e não são casos de acolhimento.  Passaram  à margem da lei e por isso se tornaram casos judiciais e depois em casos mediáticos por força da cobertura jornalística a que foram sujeitos... e diga-se de passagem que eu acho que a comunicação social fez um péssimo trabalho em ambos os casos.

 

- O que funciona mal no sistema que permite que tais situações aconteçam?

 

Nestes casos o que funcionou mal foram as pessoas que subverteram todo o processo, se as crianças tivessem sido entregues à Protecção de Menores em lugar de a casais que não estavam habilitados para os receberem, nada disto tinha acontecido. O acolhimento familiar está legislado e funciona, o que acontece é que muitas vezes as pessoas utilizam esquemas para tentar abreviar os processos de adopção, e depois utilizam a comunicação social para chamarem a atenção para situações que nunca deveriam ter existido.

 

- Uma vez que os laços afectivos de quem acolhe pelas crianças são inevitáveis, faz sentido que a lei não abra caminho para a adopção por parte das famílias de acolhimento interessadas em ficar com a criança? Mesmo nos casos em que a alternativa é o regresso à instituição ou a uma família biológica que venha a revelar-se incapaz de tratar convenientemente d@ filh@?

 

É  preciso entender que as crianças que vão para acolhimento são as que não tem como projecto de vida a adopção, se o objectivo final fosse a adopção, elas não passariam por famílias de acolhimento, iriam directamente para a adopção e para uma família que as desejasse e que estivesse disposta a dar amor e carinho. Se vão para acolhimento é porque o tribunal entende que não serão adoptadas, se tivermos em conta este princípio, a pergunta nem faz sentido. Por outro lado, as famílias de acolhimento são informadas desde o inicio qual a situação da criança e do facto que não a vão poder adoptar, as pessoas vão para o acolhimento conhecendo todos os factos. O que acontece é que há muita gente que tenta utilizar o acolhimento como um método rápido para a adopção, acham que todas as crianças que vão para acolhimento são crianças que foram abandonadas e maltratadas, evidentemente isto não é verdade, há muita gente que passa por dificuldades e prefere entregar os seus filhos ao estado a que estes passem necessidades.. e há quem refaça a sua vida.

 

Nos casos em que a família não consegue refazer a sua vida, as crianças vão para adopção e há muitíssimos candidatos disponíveis, pessoas que foram avaliadas e aprovadas como aptas, o que não aconteceu com as famílias de acolhimento.

 

- A legislação portuguesa relativa ao acolhimento familiar temporário está ao nível da de outros países com realidades semelhantes?

 

Eu não conheço a legislação dos outros países, mas não acho que a legislação portuguesa esteja errada, o que está errado é muitas vezes a mentalidade das pessoas, que tentam a todo custo subverter as leis em seu favor.

 

- O que precisava de mudar para garantir uma maior prática de acolhimento familiar (e por conseguinte uma menor institucionalização), uma preparação suficiente das famílias que recebem as crianças e um acompanhamento adequado de todos os casos?

 

Há muitas coisas a mudar, mas eu nem acho que o problema esteja no acolhimento familiar, em primeiro lugar haveria que mudar os juízes, a maioria dá uma clara primazia ao biológico, a tendência é dar oportunidades aos pais, espera-se sempre que estes recuperem, dão-se todas as oportunidades aos pais e à família biológica e nenhuma às crianças, entretanto estas esperam anos, vão crescendo em centros de acolhimento sem conhecer o carinho de uma família, sem amor.  Quando finalmente alguém decide que não vai haver recuperação, a criança perdeu uma parte da sua vida e já tem 7 ou 8 anos,  com essa idade já não há quem a queira. Por outro lado muitos centros de acolhimento não tem equipas capazes para encaminhar os processos, mesmo que as famílias não apareçam, as crianças não são sinalizadas, há centros de acolhimento em Portugal de onde nunca saiu uma criança para adopção, as crianças representam um rendimento mensal muito alto e nem sempre se pensa primeiro no bem estar delas.

Sou presidente e um dos fundadores da Missão Criança, uma associação que tem por objectivo precisamente a defesa destas crianças.

 

- E em relação à adopção: porque é que a maioria dos processos acaba por se revelar tão complicada em Portugal?

 

Na verdade os processos não são complicados, um processo de adopção é muito simples, basicamente respondemos a um questionário e participamos me 3 entrevistas, o problema é que em Portugal há muitos mais candidatos que crianças para adoptar, das 11000 crianças entregues ao estado só perto de mil tem como projecto de vida a adopção, logo, existem tempos de espera muito longos, porque há poucas crianças e muitos candidatos.

 

- Conhece algum caso específico em que a família de acolhimento temporário se dê bem com a biológica em nome do bem-estar primeiro da criança?

 

Não, conheço muitos famílias que adoptaram ou que pensam adoptar, mas não conheço famílias de acolhimento.

 

- Como é que se poderia, de forma efectiva e célere, garantir o delinear de um projecto de vida adequado para cada criança?

 

Teria que se pensar sempre em primeiro lugar na criança, e não na família biológica.

 

- No caso da Esmeralda a decisão do tribunal foi a mais acertada, tendo em conta o equilíbrio da menina e o facto de ter sido a família de acolhimento a criá-la nos primeiros cinco anos de vida (uma idade decisiva)? E no caso da pequena Alexandra, a menina russa?

 

No caso Esmeralda existiram muitas decisões dos tribunais, a primeira foi quando a criança tinha 8 meses, se em lugar de criar uma guerra na justiça, tivessem entregue a criança nessa altura, a sua pergunta nem se colocava. O problema é que aquela família tentou por todos os meios contrariar a lei e os tribunais, só eles são culpados de que a situação se tenha arrastado. Eles só ficaram com a criança até aos cinco anos porque nunca cumpriram a lei e as ordens do tribunal. É evidente que com 5 anos a criança sofreu, mas de quem foi a culpa?

 

No caso da Alexandra nunca existiu abandono, eu vi a entrevista que a família deu à RTP e o que foi dito ali mostrou que a mãe esteve sempre presente, as leis existem para defender as crianças.

 

Estes casos constituem precedentes que podem ser muito graves, porque podem dar a ideia de que basta arranjarmos alguém que nos dê uma criança para ela ser nossa e isto pode abrir caminho a muitos esquemas, inclusivamente ao tráfico de crianças, eu sou candidato à adopção, no primeiro processo esperei 3 anos, neste estou à espera há um ano, se alguém me disser que um caso como o da Esmeralda passa a ser legal, vou ali à esquina, levo um maço de notas e arranjo alguém que me dê uma criança, ou mando vir uma de uma favela do Brasil, ou arranjo uma prostituta Russa que tenha uma para mim... é muito mais fácil e mais rápido que aturar assistentes sociais e estar anos à espera que o telefone toque... é preciso ver que estes casos são muito perigosos para o futuro da adopção em Portugal... por isso sim, eu acho que em ambos os casos a justiça esteve bem.

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:20


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