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Lisboa

 

Depois do incêndio da terça de Carnaval de que falei aqui, as coisas acalmaram por uns tempos.

 

Entretanto uma das irmãs da dona da casa que era criada de servir algures num casarão em Lisboa, decidiu reformar-se e foi viver para o quarto em frente ao meu... na verdade não me consigo lembrar muito bem como, mas sei que passado algum tempo a senhora morreu, não tenho bem a certeza, mas deve ter sido em época de férias, porque não guardo especiais memórias desta morte ... que se bem se lembram os que leram este post, era já a 4ª no prédio desde que eu fui para lá morar.  

 

Depois de umas férias de verão passadas na terra, quando voltava para o ultimo ano do curso, fui recebido com uma surpresa, agradável para os restantes moradores da casa.... nem tanto para mim.

 

Depois de anos de chuva e reclamações, o senhorio lá se tinha decidido a fazer as mais que necessárias obras no telhado...a parte chata é que como o meu quarto era uma das poucas divisões da casa que não seria afectada, era necessário para os donos da casa... e lá tive que sair. Com a promessa de que as obras durariam dois ou três meses e eu poderia voltar. Na verdade as obras duraram 3 ou 4 anos e evidentemente eu não voltei.

 

Arranjei um quarto bem perto da Faculdade, do outro lado da Alameda por cima da Fonte Luminosa. Era um quarto agradável, a senhoria era uma senhora muito simpática e os meus passeios a pé de e para o IST passaram a ser bem mais curtos.

 

Estava no ultimo ano do curso, entre as aulas e o trabalho final, mal ia dormir ao quarto, saia de manhã cedo e voltava quase sempre tarde, motivo pelo que mal via os restantes habitantes da casa, a simpática senhora e o seu neto..  que não me lembro de ter conhecido... até aquele dia.

 

Estava ali à dois ou 3 meses, um dia voltei cedo para casa e quando entrei deparei-me com um casalinho que romanticamente jantava na mesa da sala. Dei as boas noites e fui para o quarto... passado um ou dois minutos, alguém me bateu à porta. 

 

O rapaz vinha-me informar que a sua avó tinha falecido na semana anterior, ele agora era o dono da casa e claro, eu tinha que me mudar!  Não queiram imaginar o meu ar de parvo a olhar para ele... é que nem consegui dizer nada de jeito.....

 

Passado uns dias lá arranjei outro quarto.... e fui viver ali paredes meias com o Elefante Branco na Rua Luciano Cordeiro... foram só uns meses..mas que eu saiba.. ninguém por lá morreu!

 

Jorge

PS:Imagem minha, as cores de Lisboa, retirada de:Momentos e olhares

 

publicado às 21:56

Rua do Poço dos Negros:O Incêndio

por Jorge Soares, em 24.02.09

 

Incêndio do Chiado

http://amadeo.blog.com/repository/1217051/3449094.jpg

 

Como hoje, era Terça de Carnaval, tinha ido passar o Carnaval à terra,  mas tinha um exame na quarta-feira, tinha por isso vindo cedo durante o dia para Lisboa com a ideia de ainda dar uma olhadela nos apontamentos e claro, dormir e descansar do Carnaval. 

 

Depois do episódio do morto nas escadas de que falei no post do outro dia, a judiciaria tinha limpado a pensão do segundo andar e se exceptuarmos a "menina" barulhenta do terceiro andar, a calma tinha-se instalado no prédio. Por volta da meia noite comecei a ouvir um enorme estardalhaço, portas arrombadas, vidros partidos....  depois acalmou. Passados uns minutos ouvi um carro a travar na rua, alguém a gritar fogo e a campainha da rua a tocar desalmadamente.

 

Levantei-me e olhei pela minha janela, o fumo já tinha invadido o prédio e viam-se claramente as labaredas no segundo andar. Enfiei as calças e uma camisola e saí para o corredor.. onde o resto dos habitantes da casa já andava de um lado para o outro em Pijama.

 

Sair para as escadas estava fora de questão, eu talvez conseguisse chegar à rua, mas as restantes pessoas não. Entretanto chegaram os bombeiros, o fogo já era bem visível, principalmente da parte de trás do prédio. ...e eu estava a ver a coisa complicada. 

 

Passado algum tempo os bombeiros chegaram até ao apartamento, e mandaram vir uma auto escada,... podiam era ter ficado ali connosco. Colocaram a escada numa varanda encostada a uma grade, e nenhuma das outras pessoas conseguia subir para lá, tive que carregar em braços uma a uma. 

 

Entretanto os bombeiros lá conseguiram atacar o incêndio que para além de destruir o segundo andar e causar alguns estragos no terceiro, não alastrou. Por volta das 3 da manhã voltei ao meu quarto...... e não me lembro de ter dormido muito.

 

O incêndio do Chiado era algo que estava bem fresco, no sitio onde hoje está o centro comercial do Chiado havia um enorme buraco, na Rua Garret havia um passadiço para peões e tudo estava ainda destruído.... e eu passava lá quase todos os dias.... não, não foi fácil dormir..... ainda que desta vez não houve mortos nas escadas.

 

Não me lembro como me correu o exame do dia a seguir....

 

Jorge

 

 

publicado às 21:27

Rua do Poço dos Negros:Os Mortos

por Jorge Soares, em 17.02.09

Lisboa, São Bento

 

Vou voltar às minhas memórias dos tempos em que vivi na Rua do Poço dos Negros, e hoje vou falar dos mortos... 

 

Um dia cheguei ao prédio e deparei-me com a porta do apartamento do primeiro andar com umas traves de madeira pregadas de lado a lado... já ali morava há uns dois anos e nunca tinha visto alguém entrar ou sair, nem sabia se vivia lá alguém ... Por norma, o corrupio de gente era mesmo no segundo e terceiro andares com as  visitas ao mercado de substancias ilícitas e às "meninas" respectivamente. Lá me informaram que a senhora que morava no primeiro andar tinha falecido, vivia sozinha há muitos anos...e agora o senhorio tinha selado a casa, não fosse a pensão do segundo andar alastrar. 

 

Passados um ou dois meses,  já perto da meia noite, o pessoal do segundo andar resolveu fazer mais um daqueles escândalos mesmo a sério, como já estava habituado, nem liguei, mais prato ou menos prato a voar, mais grito ou menos grito.. a malta habitua-se... e no dia a seguir era dia de aulas.. como todos os dias.

 

Por volta das sete da manhã, toca-me a Dona Maria à porta do quarto.

 

-Jorge,  ó Jorge! ...está acordado?

 

.. não estava... bom, agora já estava!

 

- Diga dona Maria!

- Vinha-lhe dizer que o melhor é não sair cedo.

-Então porquê dona Maria?

-É que está um homem enforcado nas escadas!

-Como?

-Está um homem morto, pendurado com uma corda pelo pescoço, nas escadas... já chamaram a policia, mas o melhor é não sair.

 

Ora... lá se foi a aula das 8, virei-me para o outro lado... e dormi! Está visto que a mim os mortos não me impressionam nada.

 

Acordei por volta das 9:30, arranjei-me e saí.... o Homem já não estava pendurado nas escadas, estava deitado no chão da entrada do prédio, sozinho, morto .... e algemado. Ainda hoje estou para perceber para que raio algemaram o homem, se ele já estava morto.. estavam com medo que ressuscitasse e atacasse alguém?. Saí para a rua, cá fora estavam dois policias a conversar dentro de um carro patrulha, olharam para mim, eu fui para as aulas e eles continuaram a conversar.

 

Passada uma semana, a judiciária esvaziou a pensão do segundo andar....e o senhorio selou mais um apartamento.... passada mais uma semana.. foi o incêndio.... mas disso falarei outro dia... 

 

No quarto em frente ao meu, dormia uma das irmãs da dona da casa, uma senhora baixinha e muito simpática. Um dia cheguei a casa depois de jantar e estranhamente não havia vivalma.. fui para o meu quarto e passados uns minutos tocou o telefone. Dada a minha condição momentânea de dono da casa, decidi atender o velho aparelho de outros tempos.

 

-Estou?

-Quem fala?

-O Jorge.

-Olá Jorge, sou a sobrinha da Dona Maria, ela não está?

-Não, não está ninguém em casa.

.... - silêncio do outro lado.

-Quer deixar algum recado?

-Não, eu volto a ligar.

 

Desliguei e voltei ao meu livro... passado um ou dois minutos volta a tocar o telefone.... e lá fui eu outra vez.

 

-Estou!

-Jorge, você não sabe?

-Não sei o quê?

-Não sabe o que aconteceu?

-Não, eu saí cedo e cheguei há bocado.. e estranhei não que está ninguém em casa.

-É que a minha tia, a irmã da dona Maria, faleceu durante a noite!

 

Vocês não estão bem a ver a minha cara de parvo a olhar para o telefone.....é que já são mortos a mais para um só prédio!

 

Mas este não foi o ultimo.... mas disso falo outro dia.

Jorge

 PS:Imagem minha, escadinhas em São Bento, retirada do Momentos e Olhares

publicado às 21:53

Rua do Poço dos Negros

por Jorge Soares, em 01.02.09

Eléctrico no camões

 

Na semana passada quando escrevia o post sobre o céu em que vivemos, vieram-me à memória os meus tempos de estudante em Lisboa.

 

Depois de 15 dias a morar num quarto em Sete Rios e do episódio que contei naquele post sobre o Tu e o você mudei-me para um quarto na Rua do Poço dos negros. Há dias em que vou recordando factos e acho que poderia escrever um livro com algumas das coisas que me aconteceram nos quartos em que vivi em Lisboa.

 

Depois da primeira experiência falhada, a minha mãe lá na santa terrinha desencantou alguém que tinha família em Lisboa  que tinha um quarto para alugar. Era um quarto minúsculo, com uma janela que dava para o interior do prédio, era num quarto andar  de um prédio muito antigo e a precisar de obras. No inverno eu tiritava com o frio e no verão morria com o calor... mas era muito barato e as pessoas eram simpáticas. Felizmente o meu quarto ficava por baixo das aguas furtadas e não chovia lá dentro, mas na cozinha, na sala  e em alguns dos outros quartos...chovia como na rua. Morei lá quatro anos, até que decidiram fazer obras no telhado e eu fui despejado.

 

Era um prédio com uma vizinhança pintoresa. No 3 andar vivia uma senhora que alugava quartos a meninas.... bom, pelo menos isso foi o que me disseram..... Com o tempo percebi que o termo meninas era mesmo eufemismo, no verão eu dormia com a janela aberta, e elas também, o resultado era que muitas noites eu acordava de madrugada com os gritos.... uma das meninas era extremamente barulhenta.... e tinha muitas visitas.

 

No segundo andar havia uma pensão de africanos, além do corrupio de entradas e saídas de pessoas, eram frequentes as zaragatas e as festas que entravam pela noite dentro. 

 

No primeiro andar não havia problemas, soube muito mais tarde que vivia uma senhora sozinha, soube isto porque um dia ela morreu e o senhorio selou o apartamento, não fossem os do primeiro andar estender a pensão... mas sobre mortes neste prédio.... já falarei noutro dia... que também dá pano para mangas.

 

Como disse eram pessoas simpáticas, por especial favor eu pagava 10 contos pelo quarto, o apartamento era enorme, tinha uns 8 quartos, e eles pagavam 2 contos de aluguer..e passavam a vida a queixar-se quando o senhorio aumentava os 3 ou 4 % de lei. O raio do Homem não fazia obras.....

 

Como disse no outro dia, uma das coisas que mais me impressionou quando cheguei a Lisboa era a aparente facilidade com que decorriam os negócios da droga. De inicio eu achava estranho que fosse a hora a que fosse que eu chegasse a casa, nas ruas e vielas ali à volta havia uns fulanos que estavam por ali, nas portas de alguns prédios, com o tempo eu percebi que o negocio era ali, em plena luz do dia. De resto, com o meu ar de turista nórdico, bastava ir dar uma volta pela baixa de Lisboa para atrair as ofertas... .... somos um país estranho. Eu tinha vivido 10 anos em Caracas,  estudei sempre em escolas publicas, o prédio onde morava era mesmo encostado a uma favela...e acreditem em mim, nunca vi ou ouvi alguém falar de consumo de drogas... cá...... enfim.

 

Jorge

publicado às 21:45


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