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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Sol
.. e mesmo assim ele fala
Para João Malheiro a “homossexualidade faz mal à saúde”... e compara a “prática da homossexualidade” com vícios como fumar ou o excesso de peso
A sério? E este senhor diz-se jornalista? De certeza que ele vive no mesmo século que o resto da população do mundo?
A estupidez e a homofobia fazem mal à Saúde, alguém o interna por favor?
Jorge Soares
Lembram-se daquele "custe o que custar" de Passos Coelho? ...para ler e reflectir
"Estou desmotivado… mais! Estou revoltado!
Porquê? Tentando fugir a toda e qualquer subjetividade, vou-me restringir a factos (sem respeitar um acordo ortográfico que assassina a minha língua materna):
1. Tenho 38 anos, sou Médico há 15 anos. Possuo uma especialidade em Anestesiologia, uma subespecialidade em Medicina Intensiva e a competência em Emergência Médica. Gosto do que faço!
2. Recebo menos de metade de quando acabei a especialidade há 8 anos. É um facto. Para receber o meu ordenado base limpo tenho de acrescentar em média 100 horas extras por mês. Trabalho assim 65 horas por semana a uma média de 9 euros por hora. É um facto.
3. Este ano estive de serviço no dia de Natal, o ano passado fiz o 31 de Dezembro. É um facto. Nesse dia de Natal fui insultado pelo familiar de um doente que não concordou com o horário da visita do meu serviço. É um facto. Tenho um filho com 5 anos e não tenho dinheiro para pagar o infantário a um segundo que não tenho. É um facto.
4. Pertenço à minoria de Portugueses que paga impostos, e como sou considerado rico o meu filho paga mais na creche que muitos outros… pelo mesmo serviço, porque não come mais, nem come antes. É um facto.
5. Todos os dias tenho de tomar decisões clínicas que determinam a vida e a morte de pessoas ao meu cuidado. É um facto. Hemorragias aneurismáticas, como as do mediático caso do David, são apenas um exemplo das situações que eu e os meus colegas temos de tratar o melhor que sabemos e podemos. É um facto.
6. Mesmo sendo médico limito-me a comentar profissionalmente situações que são da minha área de diferenciação. A Medicina é tão vasta que se comentar situações ou acontecimentos de outras áreas sei que vai sair asneira. É um facto.
7. Vivo num País em que quem comenta o penalti e o fora de jogo acha que sabe o suficiente para ditar o certo e o errado naquilo que faço todos os dias. Em que aqueles técnicos de ideias gerais, a quem chamamos jornalistas, e os seus amigos comentadores profissionais, se sentem à vontade para “cagar lérias” sobre aquilo que desconhecem e não têm capacidade técnica para apreciar. É um facto. Por mais de 9 euros à hora… Julgo eu, porque nunca me mostraram o recibo de vencimento!
8. Trabalho num serviço de saúde onde tenho de improvisar a toda a hora porque o fármaco x e y “não há” (Ups… estamos proibidos de dizer que não há!). É um facto. Onde temos vários ventiladores de 30 mil euros avariados (um deles há mais de 1 ano!) porque “ninguém” pagou a manutenção. É um facto. Eu levo o meu carro à revisão todos os anos e pago. É um facto.
9. No dia em que o que me pagarem para ir trabalhar não for o suficiente para a despesa da gasolina e do estacionamento ( como concerteza acontece com algumas equipas de prevenção específicas do SNS), não o farei. É um facto. Isso não retira qualquer valor ao juramento de Hipócrates, nem a Lei obriga (ainda!) ao trabalho escravo. É um facto.
10. Se eu estiver doente e precisar de assistência prestada pelos meus colegas no SNS tenho de pagar taxa moderadora, ao contrário de muitos outros… É um facto. E se andar de comboio, como não sou trabalhador da CP também pago. É um facto.
11. Eu e os meus colegas trabalhamos mais doentes que muitos doentes que são vistos no serviço de urgência. É um facto. Vivo numa região em que qualquer dor de dentes, grão no olho ou escaldão da praia vai para a urgência do hospital numa ambulância de emergência médica. Muitas vezes com a família no carro imediatamente atrás da ambulância. E sem pagar um tostão. É um facto.
12. No hospital em que trabalho existem mais de 100 camas de agudos ocupadas com as chamadas “altas problemáticas”. Situação que se arrasta há vários anos e legislaturas e cuja resolução (política) escapa aos mais dotados. É um facto.
13. Vivo numa região em que se gastam muitos milhões em fogo de artifício e marinas abandonadas, sem existir contudo dinheiro para um monitor e um ventilador de transporte para a sala de emergência de um hospital dito central e centro de trauma certificado. É um facto.
14. A descoberta das vacinas constitui um dos maiores avanços da Medicina do século XX e a implementação de um plano de vacinação global para a população é um marco histórico de qualquer civilização, contribuindo para a redução da mortalidade infantil e aumento da esperança de vida. É um facto. Vivo num país que já não consegue garantir uma cobertura vacinal completa e atempada às sua crianças. Um retrocesso de gerações… um sistema podre e decadente. Não vejo os noticiários abrirem com esta notícia. É um facto. O meu filho não fez a vacina da difteria, tétano e tosse convulsa aos 5 anos. Não há… Talvez para o ano. É um facto.
15. E por tudo isto estou revoltado… É um facto.
Funchal, penúltimo dia de 2015.
Ricardo Duarte. Cédula da Ordem dos Médicos 41436"
Retirado da Visão
Imagem de aqui
Salsichas, bacon e enchidos são cancerígenos, diz a OMS
Este era o titulo da noticia no Público, mais abaixo estava mais explicado, não são só os enchidos e a carne processada, supeita-se são todas as carnes vermelhas.
Já sabíamos que tudo o que é bom, engorda, é caro ou faz mal, sendo que a maioria das coisas que gostamos mesmo está em pelo menos duas das três categorias... mas também não era preciso virem com este alarmismo todo, afinal isto nem é propriamente novidade nenhuma , há muito que se sabe que o fumo faz mal à saúde e o fumeiro só existe porque há fumo.
A realidade é que absolutamente tudo o que comemos pode de uma ou outra forma fazer-nos mal, há uns tempos ouvi um nutricionista dizer que por exemplo os alimentos à base de soja que se consomem no ocidente são extremamente nocivos para a saúde porque excedem em muito a quantidade diária recomendada da proteína da soja e que esta em excesso é nociva.
O que diz o estudo é que quem come mais de 50 gramas diárias de carne processada tem uma maior probabilidade de ter cancro, 50 gramas é meio chouriço por dia e mais ou menos a quantidade de fiambre que se consome cá em casa por semana... nós somos 5.
Eu percebo que se queira prevenir, mas a forma como a noticia foi dada pela comunicação social foi assim um bocado para o exagerado.
Vai ser divertido ver aquelas pessoas que fumam que nem chaminés, negarem-se a partir de agora a comer fumeiro, porque causa cancro, mas nem pensar em deixar de fumar... porque vamos morrer na mesma.
Jorge Soares
Imagem da RR
Podia ser uma imagem de uma arruada ou de uma acção de campanha eleitoral da coligação Paf (CDS/PP), do PS ou de um outro partido qualquer, já vi imagens da campanha com menos pessoas, podia, mas não é.
A fotografia acima foi tirada hoje manhã cedo às portas de uma clínica da Amadora onde o estado paga para que se faça um exame médico, uma colonoscopia, com anestesia.
Como as marcações do exame só se fazem de dois em dois meses, o resultado é que no dia da marcação formam-se filas de centenas de pessoas, calcula-se que esta vez tenham sido perto de 400, sendo que algumas dessas pessoas a fim de garantirem vaga para o exame, passaram a noite na fila ao relento.
Segundo um dos utentes que passou lá a noite, as pessoas sujeitam-se a isto porque: “Não encontrava lugar nenhum onde fizessem com anestesia pela Segurança Social. Em clínicas particulares tinha que pagar tudo. Na Ordem Terceira tinha de pagar o exame - só a taxa moderadora - mas a anestesia tinha de ser à parte. E se fosse preciso alguma biopsia, teria de ser ainda outro preço”.
Há quem ache que Portugal é um país desenvolvido, há quem ache que a crise já passou e que o país está no bom caminho, alguém me explique qual é o país desenvolvido em que as pessoas tem que passar a noite ao relento para terem direito à saúde, qual é o país desenvolvido onde as pessoas tem que escolher entre fazer filas e esperar até dois meses ou fazerem um exame muito doloroso e desagradável, sem anestesia.
Pena que em nenhuma das noticias que vi e ouvi sobre o assunto, o jornalista os teve no sitio para perguntar a toda aquela gente se acham que o país está melhor que há quatro ou oito anos e se também acham que devem ganhar os mesmos que levaram o estado do sistema de saúde até este ponto... Imagino que quem quer colonoscopias com anestesia não é masoquista (ver post de ontem)
Cada vez mais este país (também) não é para doentes.
Jorge Soares
"De todo o exposto resumindo e concluindo, estar caído/inanimado a porta de um hospital ou de um cemitério e a mesma coisa se o caso for serio. A única diferença e que num caso já chegou ao destino.
De tudo isto só me deixa uma grande náusea, o resto e a vida que temos sem precisar de muitos comentários."
Comentário de um anónimo ao post (auto link) sobre a senhora caída na porta do hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro
De repente apetecia-me ficar por aqui, mas não sou de deixar coisas por dizer.
Talvez seja defeito meu, mas para mim se alguém está a precisar de ajuda, eu pelo menos tento ajudar, se esse alguém está caído no chão, então o mais certo é que precisa mesmo de ajuda e aí não interessam as regras ou as normas, o meu dever como pessoa e cidadão é ajudar.
Se um profissional de saúde é avisado de que alguém está caído no chão e precisa de assistência, independentemente das regras, das normas ou das condições, esse profissional deve ajudar, pelo menos para se inteirar da gravidade do assunto e poder tomar decisões. Se não o faz, se antes de pensar no bem estar da pessoa em questão coloca o seu bem estar ou as regras do hospital, para mim esse profissional não cumpriu o seu dever principal nem como profissional de saúde nem como cidadão.
Pelos vistos há noticias que dizem que afinal a senhora não estaria assim tão grave, mesmo que seja verdade, médicos e enfermeiros só saberiam isso depois de lá irem.. e ainda não vi noticia nenhuma que diga que eles lá foram, numa coisa são unânimes todas as noticias, eles não foram lá, porque tinha que ser o 112 e/ou o INEM a resolver o assunto.
De resto como disse antes, regras ou não regras, normas ou não normas, a vida das pessoas deve estar sempre em primeiro lugar e não me parece que alguém tirar uns minutos para se inteirar do que passava lá fora, fosse fazer assim tanta diferença no funcionamento do hospital, até porque nas urgências costumam trabalhar várias pessoas ao mesmo tempo, e não me consta que tenha acontecido nenhuma catástrofe nesse dia no Barreiro como para estarem todas a salvar vidas ao mesmo tempo e sem poderem parar uns minutos. Por outro lado, neste caso ou noutro qualquer, esses minutos podiam fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém.
Não, não queremos que alguém estar caído/inanimado a porta de um hospital ou de um cemitério seja a mesma coisa.
É claro que a minha opinião vale tanto como outra qualquer e todas merecem respeito.
Jorge Soares
Imagem da TVI
"Caiu a cerca de 15 metros da porta do hospital do Barreiro e ficou ali à espera de assistência durante uma hora até que chegou o INEM"
É assim que começa a noticia da TVI, uma senhora de 64 anos caiu numa das rampas de acesso ao hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, e esteve uma hora no chão à espera de assistência, nas urgências do Hospital recusaram sair a ajudar e disseram a quem tentou pedir ajuda que ligasse para o 112.
Não, não estamos em Abril e isto não aconteceu no dia das mentiras, é que se alguém me contasse uma coisa destas eu dizia que era mentira, até porque já todos ouvimos mais que uma vez que por lei todos somos obrigados a prestar assistência se passarmos por um acidente, se não o fizermos podemos ser julgados e condenados... se isso é válido para qualquer cidadão português, não deveria ser muito mais válido para profissionais da saúde?
Normas ou não normas, regras ou não regras, e de certeza que há uma norma ou uma regra que explica isto, como é que um médico ou um enfermeiro consegue justificar que foi informado da existência de alguém a necessitar de socorro ali mesmo ao lado e se negou a prestar auxilio?
O certo é que segundo a noticia, a assistência demorou quase uma hora e quando finalmente chegou, os bombeiros tiveram que entrar directamente para a reanimação devido ao estado grave em que já se encontrava a senhora.
Note-se no fim a senhora foi assistida nas mesmas urgências e pelas mesmas pessoas que antes se tinham negado a ir à porta ajudar, só que foram levadas pelos bombeiros até às urgências do hospital... Se por acaso a senhora tivesse falecido entretanto, de quem seria a responsabilidade? De ninguém?
Mais que mostrar a situação em que se encontra o nosso sistema de saúde, isto fala da falta de consciência, de ética e de moral de alguns dos profissionais de saúde que trabalham nos nossos hospitais e da falta da humanidade à que chegamos...
Que tipo de consciência terá um profissional de saúde que sabe que tem uma pessoa a necessitar de assistência a uma dúzia de metros e segue a sua vida como se nada acontecesse? Será que esta gente não pode mesmo ser acusada de falta de assistência a pessoa ferida? Há leis neste país para isso... acho eu.
Jorge Soares
Imagem do JN
A história não é fácil de contar, na realidade é difícil até de ler, ouvir ou sequer acreditar. Numa família de 5 pessoas há quatro que sofrem de cancro... pai, mãe e dois filhos, só a filha mais nova escapa à doença.
Entretanto com ambos os pais doentes e desempregados vivem do Rendimento social de inserção, recebem 426 Euros por mês, sendo que só de renda pagam 265...
Evidentemente não dá e as dívidas acumulam-se, a começar pela renda que já vai em três meses de atraso, aguardam que a Câmara de Viseu lhes atribua uma casa e vivem do pouco que a camÂra e a caridade lhes vai dando.
É nestas alturas que tenha a certeza que deus não existe.
Para ajudar esta família pode fazer uma transferência usando o NIB: 003507530001659270055 ou o IBAN: PT50003507530001659270055.
Jorge Soares
Imagem de aqui
A difteria é uma doença que estava erradicada na Espanha há mais de trinta anos graças aos programas de vacinação das crianças.
Há uns dias, após a terceira vista às urgências hospitalares por parte de uma criança de seis anos sem que os diversos tratamentos tivessem qualquer efeito, um médico decidiu chamar alguém com mais experiência, um médico com idade suficiente para ter ouvido falar de doenças das que já nem se fala na formação dos médicos. Feitos os testes confirmou-se o diagnóstico, difteria.
A Doença é tão rara na Europa que nem na Espanha nem em nenhum país da união europeia havia os medicamentos necessários para o tratamento, tiveram que vir da Rússia.
Por influência de uma plataforma anti-vacinas, os pais da criança tinham-se recusado a vacinar o menino e agora este luta pela vida no hospital. Após estudos ao ambiente em que se movia a criança, concluiu-se que além desta há pelo menos outras oito entre as que este contactou, que deram positivo à presença da doença, como estavam vacinadas não desenvolveram os sintomas.
Entretanto estas oito crianças foram obrigadas a ficar em casa, isto para evitar que contagiem alguma das outras que não estão vacinadas, calcula-se que entre 3 e 5 % das crianças espanholas não são vacinadas...
Num destes dias na Radio Nacional de Espanha, ouvi um médico que era partidário de que tornassem todas as vacinas obrigatórios, isto porque os mitos sobre os efeitos malignos das vacinas e a moda de não vacinar as crianças, estão a contribuir para que ressurjam doenças há muito erradicadas e que voltem a morrer pessoas por doenças que se supunha estarem controladas.
Entre as várias noticias que li e ouvi sobre o assunto chamou-me a atenção uma entrevista aos pais da criança doente que diziam sentir-se enganados pela plataforma anti-vacinas, a mensagem que lhes tinham passado era que não havia perigo nenhum em não vacinar o seu filho e agora o este estava ligado às máquinas no hospital...
Os meus filhos estão vacinados, tenho plena consciência de que há um risco associado a cada vacina, mas também tenho o conhecimento dos riscos inerentes ao facto de não as tomarem e que quanto a mim são muito superiores aos das vacinas.
Temos a noção de que há casos de crianças que reagem mal às vacinas e até podem terminar por morrer, é claro que é muito mais difícil de ter a noção de quantas crianças morreriam se não as tomassem. Acho que os pais desta criança espanhola ficaram agora com essa noção.
Jorge Soares
Imagem de aqui
De entre as muitas coisas que já fiz na vida está o ter sido empregado de bar e discoteca já lá vão uns anos, e se há coisa que não me esqueço é da quantidade de miúdos e miúdas que tive que arrastar para o ar livre porque já não se aguentavam em pé devido ao consumo ecessivo de bebidas alcoólicas.
Sempre me fez confusão como é que havia tanta gente que mal tinha entrado na adolescência e que bebia como gente grande, desde cerveja até absinto, valia tudo e muitos bebiam mesmo até cair para o lado... literalmente.
Nunca percebi como é que há dois anos o governo cedeu aos lóbis da cerveja e do vinho e fez uma lei que não fazia sentido nenhum. Alguém percebe a diferença de ser ir cambaleando pela rua porque se bebeu meia dúzia de shots ou uns litros de cerveja? Há alguma diferença entre estar embriagado porque se abusou no vinho ou noutra bebida qualquer? E as consequências para os hábitos de longo prazo não são as mesmas?
Quero pensar que alguém no governo olhou para o mundo e percebeu que aquela lei tinha ficado curta. E agora, em ano de eleições, resolveu emendar a mão, o álcool é todo igual e se consumido sem moderação, tanto faz mal o que está na cerveja como o que está em qualquer outra bebida branca ou de uma cor qualquer.
É claro que nada disto serve para nada se como aconteceu até agora, não existir vontade de fazer cumprir a lei, nenhuma lei serve para absolutamente nada se não existir fiscalização e se não forem aplicadas as medidas nela previstas para quem não a cumprir.
O alcoolismo é um problema real que afecta muitos portugueses, entre os jovens com menos de 15 anos somos o 11 país do mundo com maior consumo, a lei por si só não irá resolver o problema que é real e grave, a longo prazo o consumo excessivo leva ao risco de desenvolver dependência ou doenças como cirrose e cancro do fígado.
Para além desta lei e da vontade de a fazer cumprir, é necessário que se aposte na educação e no esclarecimento.
Jorge Soares
Disclaimer - Para quem aqui vem à espera de encontrar um daqueles artigos que dizem que a hiperactividade é uma invenção dos médicos e da industria farmacêutica, pode voltar por onde veio, a hiperactividade é uma doença real e infelizmente afecta mesmo muitas crianças.
Quem me costuma ler sabe que cá em casa temos um hiperactivo, que apesar de ser seguido e tratado desde os três anos de idade, sofre todos os dias o facto de ter uma doença que influência o seu comportamento, as suas capacidades de aprendizagem e a forma como se relaciona com a família, a escola e o mundo em geral.
Num mundo que cada vez mais vive de normas e padrões, um criança que por um ou outro motivo foge ao que se considera "normal" não tem um caminho fácil, ora o N. sofre de Hiperactividade, défice de atenção e dislexia.
O facto de ter sido diagnosticado ainda antes de entrar para a escola não ajudou grande coisa, infelizmente há, principalmente nas escolas, muita gente no mundo que acredita que sabe mais que médicos e especialistas e acha que tudo isto não passa de falta de educação e que tudo se resolve com palmadas, castigos, recados nas cadernetas ... enfim. É triste mas a quantidade de professores que pensa assim é assustadora e muitas vezes para além de tornarem um inferno a estada das crianças na escola, tornam muito complicada a relação entre a escola e os pais.
Felizmente esta é uma doença para a que há medicação, mas convém lembrar que estas doenças não tem cura, a medicação normalmente ajuda a atenuar os sintomas, mas não cura. Uma criança com hiperactividade vai ser um adulto com hiperactividade, e esta é uma realidade que temos que aprender a aceitar e com a que temos que aprender a viver.... cada dia é um novo desafio e cada dia aprendemos um pouco mais.
Mas se uma criança hiperactiva é um problema, um adolescente hiperactivo é como uma bomba relógio sempre prestes a explodir...
A adolescência do N. não tem sido nada fácil, e também não tem sido nada fácil acertar com as doses certas da medicação. Por um lado os comprimidos fazem com que seja mais fácil a concentração e a atenção nas aulas, por outro lado há os efeitos secundários, que variam de organismo para organismo mas que no caso do N influenciam o apetite, o sono e especialmente o humor.
Nós verificamos que quando toma a medicação, e ao contrário do que acontece nas férias em que não toma, fica muito mais irritadiço e volátil, reagindo de forma abrupta e com forte oposição quando questionado ou contrariado.
Depois de vários episódios cá em casa e na escola, em conjunto com o especialista que o segue, decidimos que íamos retirar uma parte da medicação e optar por um tratamento alternativo sugerido pelo médico.
A mudança foi da noite para o dia, em lugar de um adolescente irascível e resmungão passamos a ter um jovem que não classificaríamos de normal, mas que pelo menos anda muito mais bem disposto e sem estar em constante oposição.
Curiosamente os primeiros a queixar-se do novo N. foram os professores, antes tinham um miúdo que reagia mal à autoridade mas que pelo menos aparentava estar atento nas aulas, agora tem um jovem menos irascível, mais bem disposto, mas que tem muitas mais dificuldades em estar atento e seguir a aula.... curiosamente e apesar das queixas anteriores, os professores parece que preferem a versão com medicação.
Eu confesso que tive muitas duvidas sobre qual seria a melhor estratégia, mas a minha meia laranja usou lógica simples para me convencer: Ninguém vai preso por estar desatento e bem disposto nas aulas, mas pode ir se num dos momentos de impulsividade agredir alguém à sua volta.
É claro que a falta de atenção nas aulas pode ter consequências ao nível do aproveitamento escolar, mas não é nada que não se supere com trabalho, dele, da escola e nosso, assim haja vontade...
Como disse acima, a hiperactividade é uma doença com a que ele e nós temos que aprender a viver, há dois ou três anos atrás seria impensável retirarmos a medicação, nós não dávamos a medicação nas férias e sinceramente havia anos em que a meio das férias dávamos por nós a desejar que os tempo passasse rápido para voltarmos aos comprimidos e à "paz" que estes traziam... mas isso era válido na altura com uma criança daquela idade, agora com um adolescente a realidade é outra e a forma de a encarar também será outra.
Jorge Soares