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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
É curioso, não me consigo lembrar de um único filme em que aparecesse já adulta a actriz Shirley Temple, mas tenho gravado na memória o olhar vivo e risonho da "risitos de oro" que vemos ali na fotografia. Numa época em que a televisão era outra coisa completamente diferente, na Caracas da minha infância e adolescência, haviam 4 canais a preto e branco e as tardes dos dois mais comerciais eram feitas de matinés cinematográficas muitas vezes com recurso aos filmes antigos, entre esses nunca faltava mais um de Risitos de Oro.
No fim dos anos 70, princípios do 80, já a senhora que nasceu em 1928, passava dos 50 anos de idade, mas a sua áurea de pequeno prodígio da actuação ainda permanecia viva e continuava a encantar pequenos e graúdos.
Com a chegada das cores e dos novos canais a televisão foi mudando e com essa mudança muitas coisas foram sendo esquecidas, duvido que a maioria dos leitores deste blog tenha sequer ouvido falar do nome Shirley Temple e tenho a certeza que os meus filhos nunca ouvirão.
Shirley Temple, Risitos de Oro, morreu hoje aos 85 anos, os seus filmes marcaram uma época no cinema americano. Trabalhou com John Ford, John Wayne, Henry Fonda, Cary Grant e Ginger Rogers, entre outros, o seu sucesso em Hollywood extravasou o grande ecrã, com a sua imagem a ser reproduzida em dezenas de produtos comerciais, como acessórios, canecas e bonecas.
Com apenas sete anos a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas atribuiu-lhe um Óscar em reconhecimento pelo contributo para o mundo do entretenimento.
Depois cresceu e terá deixado o cinema e o espectáculo, mas os seus filmes são eternos e durante décadas contribuíram para a alegria de muitos. Morreu hoje aos 85 anos de idade.... há muito que quem conheceu o seu sorriso e a alegria que mostrava nos seus filmes tem saudades.
Era triste aquela minha vizinha do 202. Tudo nela era triste. Seu andar, seus gestos, até suas roupas eram tristes. Só não lhe via os olhos, sempre baixos. De comum comigo, talvez a mesma idade e o fato de morar sozinha. Assim eu imaginava, porque não percebia movimento em seu apartamento. Eu vivia sozinha por opção. Escrevia o dia inteiro. Só parava para tomar banho ou comer alguma coisa, pouca, que não sou de comer muito. Minha vida, trágica, merecia um livro. Tão dedicada estava nesse projeto, que não tinha tempo sequer para me olhar no espelho. Fazia meses que não o usava. Mal saía às ruas. A não ser, bem cedinho, para comprar pão. Foi assim que conheci aquela mulher tão sombria.
Coincidentemente, saíamos à mesma hora. Como eu, ela parecia não gostar de elevador. Descíamos as escadas, caminhávamos até a padaria, voltávamos e subíamos as escadas, sempre juntas e mudas, apenas ligeiros acenos de cabeças. Nessas idas e vindas, bem queria puxar conversa, mas faltava-me coragem. Tanta melancolia me inibia. Aquela mulher não me saía da cabeça. Por que tão triste? O que teria acontecido em sua vida?... Matutava, curiosidade despertada.
Uma vez ousei, toquei sua campainha, com um pedaço de bolo que acabara de assar. Nem era de assar bolos, mas precisava de um pretexto para me aproximar. Abriu a porta, sorriu aquele sorriso triste, olhos baixos. Meio sem jeito, ofereci-lhe o prato e perguntei-lhe o nome.
“Saudade” – disse, num fio de voz.
Recusou gentilmente, não comia doces, agradeceu-me e fechou a porta. Voltei para o computador, pasma. Saudade?! Isso lá é nome?!... Curiosidade aguçada. Não conhecia ninguém naquele prédio, antissocial que sou, reconheço. Meus vizinhos também não eram muito melhores. Nas raríssimas vezes em que cruzei com alguns deles, passavam cabisbaixos, me olhando de soslaio – e, para ser sincera, achava bom. Cada um na sua. Só que agora me deparava com um dilema. A quem perguntar sobre a vizinha? Saudade...
Bem, a solução poderia ser a reunião de condomínio que aconteceria dali a três dias. Nunca comparecera a nenhuma, verdadeiro pavor que tinha de reuniões, principalmente as de condomínio. Na próxima iria, decidi. Lá, daria um jeito de saber mais sobre Saudade. Chegado o dia, compareci, atrasada é fato, mas compareci. Vencendo o pânico, atravessei o saguão sob olhares curiosos, dando uma geral, mas Saudade não estava lá. Vai ver tínhamos mais este ponto em comum, não gostar de reuniões de condomínio. Não dei qualquer opinião que, aliás, ninguém me pediu, nem prestei atenção no que falavam. Só esperava uma brecha para perguntar se alguém conhecia a vizinha do 202, não diria o nome, claro, para respeitá-la. Diria que estava preocupada porque não a via fazia tempo, morava sozinha, coisas assim.
Na primeira oportunidade, perguntei, olhando para todos e para ninguém especificamente. “Mas aquele apartamento está vazio faz mais de ano!” – exclamaram. Pairou no ar um silêncio pesado. Olhavam-me assustados, e eu me senti desestruturar. Sai dali abruptamente e tão descontrolada que, pela primeira vez desde que morava lá, entrei naquele elevador, parado no térreo com a porta aberta. Foi então que me vi, refletida no revestimento de espelho. E era Saudade quem me devolvia o olhar desamparado, alucinado, insano...
Cecília
Retirado de Samizdat
Imagem minha do Momentos e Olhares
O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...
Mario Quintana
Setembro de 2012
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...
Pablo Neruda
Jardim do Bonfim, setúbal
Março de 2012
Jorge Soares
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Charles Chaplin
Praia, Cabo Verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Os comentários àquele post da Mónica e do Pedro deixaram-me a pensar, talvez porque nunca me senti verdadeiramente de lado nenhum, como dizia há uns tempos, já vivi em tantos sítios que aprendi que as coisas e os lugares são bons enquanto lá estamos e o melhor que temos a fazer é aproveitar para viver porque quem sabe quanto tempo pode durar.
Saudade é uma palavra portuguesa que dificilmente tem tradução noutras línguas, de vez em quando dou por mim a pensar que é mesmo só isso, uma palavra, e as palavras só existem na linguagem quando são necessárias para identificar algo... Ora, se saudade não existe em mais nenhuma língua deve ser porque mais ninguém sentiu necessidade de a inventar.
Digo muitas vezes que só temos saudade do que já vivemos e acrescentaria também que só temos saudades do que nos preencheu, do que foi bom.... ter saudades não tem nada de mal, o problema está quando tudo isso em lugar de se tornar algo positivo, se torna numa âncora que nos prende ao passado e nos impede de avançar... e mau mesmo é quando ainda nem estamos a passar pelas coisas e já temos saudades do que ainda nem deixamos para trás... porque por norma isso faz com que nem demos o primeiro passo... e não caminho nenhum que se consiga percorrer se não se dá o primeiro passo.
Voltando aos comentários do post e a muitos outros comentários que li por aí, faz-me alguma confusão que as pessoas achem que jovens que estão a iniciar a sua vida possam preferir ficar em Portugal, mesmo que isso signifique muitas vezes ficar a 400 ou 500 Kms de casa e possivelmente desterrados numa qualquer pequena cidade do interior, a aproveitar uma oportunidade de ouro num outro país, onde poderão conhecer outra cultura, outras realidades e outras formas de viver e trabalhar e onde ainda por cima vão ter todas as vantagens e mais alguma a nível salarial e profissional.
Há quem argumente que é outro país, não o nosso.. sim, e isso é mau porquê? Qual é mesmo a vantagem de se ficar por cá? Aquele grupo de jovens era todo do norte, há quem argumente que pelo mesmo salário eles prefeririam ficar em Portugal mesmo que fosse longe da família.. A sério? E qual era a vantagem de a ganhar o mesmo ficarem num hospital em Bragança?, ou em Évora?, ou em Almada?, ou na Amadora? Ou em Sagres, Ou em Vila Real de Santo António? Qual seria o jovem inteligente que sabendo as condições em que se trabalha em Portugal preferiria ficar por cá a aproveitar uma oportunidade de ir viver noutro mundo?
Já sei, a saudade, o nosso país, a nossa gente... tretas, se há coisa que aprendi quando os meus pais emigraram e se fizeram à vida do outro lado do Atlântico é que o nosso país é aquele que nos dá uma hipótese de viver, o que nos deixa ganhar a vida com dignidade, o que nos dá hipótese de querer e de poder... o resto é folclore, uma coisa engraçada mas que dificilmente alimenta alguém.
Jorge Soares
Imagem do Facebook
Não podíamos fazer barulho, tínhamos que encontrar o buraquinho na terra, depois com uma palhinha fazíamos umas cócegas e.....VOILÁ............O grilo vinha cá para fora. ....
O meu pai comprava uma gaiola de plástico com paredes de ripas amarelas e tecto azul ou vermelho na festa da aldeia, metíamos o grilo lá dentro, e pendurávamos a gaiola algures na cozinha lá de casa. Era alimentado a alface e nos dias quentes de verão ele cantava para toda a família. :-)
Coisas que eu fazia no fim dos anos 70 e inicio dos 80 e que os meus filhos dificilmente irão alguma vez fazer....., caçar grilos era de certeza uma destas coisas, até porque tirando os meus passeios pelo sopé da Arrábida, não me lembro de aqui em Setúbal ter ouvido alguma vez um grilo a "cantar".
Para quem não sabe, os machos do grilo dos campos "cantam" esfregando duas das suas asas uma na outra para fazer aquele som característico que tanto nos encantava naquela altura... na realidade eles estão a tentar chamar a atenção das fêmeas... mas também funciona com os humanos.
A saudade é uma palavra que serve para nos recordar que alguma vez na vida, nós já vivemos.
Jorge Soares
Letra
Eu fui ver a minha amada
Lá p'rós baixos dum jardim
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para se lembrar de mim
Eu fui ver o meu benzinho
Lá p'rós lados dum passal
Dei-lhe o meu lenço de linho
Que é do mais fino bragal
Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu Ai Deus mo levou
Eu fui ver uma donzela
Numa barquinha a dormir
Dei-lhe uma colcha de seda
Para nela se cobrir
Eu fui ver uma solteira
Numa salinha a fiar
Dei-lhe uma rosa vermelha
Para de mim se encantar
Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu Ai Deus mo levou
Eu fui ver a minha amada
Lá nos campos eu fui ver
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para de mim se prender
Verdes prados, verdes campos
Onde está minha paixão
As andorinhas não param
Umas voltam outras não
Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu Ai Deus mo levou
Ainda agora aqui estavas... já sentimos saudade
Jorge Soares
Imagem Minha do Momentos e Olhares
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa, "Cancioneiro"
Este é mesmo um sino da minha aldeia... está no portão da casa dos meus pais quase escondido pela enorme roseira que passa em arco por cima do portão... num fim de tarde de verão, ficou assim... a contraluz.
Alviães, Palmaz, Oliveira de Azeméis
Agosto de 2010
Jorge Soares