Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



cartadiego.jpg

 Imagem de aqui

 

Diego tinha  11 anos, deixou um recado junto à varanda da que se atirou ao vazio, "Vão ver no Lucho". Lucho era o seu boneco preferido, nela estava guardada a seguinte carta de despedida:

 

"Pai, mãe, estes 11 anos que estive convosco foram muito bons e eu nunca vos vou esquecer.

 

Pai, tu ensinaste-me a ser uma boa pessoa e a cumprir o prometido, além disso, brincaste muito comigo.

 

Mãe, tu protegeste-me muito e levaste-me a muitos sítios.

 

Os dois são incríveis e juntos são os melhores pais do mundo

Tata, tu aguentaste muitas coisas por mim e o meu pai, estou-te muito agradecido e gosto muito de ti.

 

Avô, tu sempre foste generoso comigo e sempre te preocupaste. Gosto muito de ti.

 

Lolo, tu ajudaste-me muito com os trabalhos de casa e trataste-me bem. Desejo-te muita sorte para que possas ver a Eli.

 

Digo-vos isto porque não aguento mais ir ao colégio e não há outra maneira de deixar de ir. Por favor espero que algum dia possam odiar-me menos.

 

Peço à mãe e ao pai que não se separem, eu só serei feliz se estiverem juntos.

 

Vou sentir saudades vossas e espero que algum dia nos encontremos no céu. Bem, despeço-me para sempre

 

Assinado, Diego.. outra coisa, Tata, espero que encontre trabalho rapidamente.

 

Diego González"

 

Diego atirou-se do quinto andar em Outubro passado, a noticia surgiu agora porque apesar da carta não há justiça nem culpados pelo que sucedeu. Tal como tantas vezes acontece nestes casos, a escola e a sociedade em geral negam-se a aceitar as evidências, procuram-se outras respostas, outras causas, ninguém quer pôr o dedo na ferida e atacar o verdadeiro problema.

 

Para mim que tenho filhos é dificil ler esta carta e aceitar que estas coisas possam acontecer, todos lamentamos a morte do Diego e de todos os outros Diegos que há por aí, mas a verdade é que pouco ou nada fazemos para proteger as nossas crianças do medo e dos abusos.... 

 

O que aconteceu ao Diego tem um nome, chama-se Bullying e enquanto não fizermos nada, todos: pais, escola, sociedade somos culpados, porque todos tinhamos obrigação de proteger Diego e ninguém fez nada.

 

Jorge Soares

publicado às 21:32

Conto - Segunda Voz

por Jorge Soares, em 09.03.13

Segunda voz

Imagem de aqui

Destino é invenção de gente insegura. Diná as vezes tinha vontade de mandar fazer uma camiseta com a sentença estampada em caixa alta. Em vermelho sinaleira, para não restar dúvida e evitar a aproximação da turma do “Deus sabe o que faz”. Consciente de que andava azeda, entendia também que a fossa era inevitável. Tinha obrigação de cumprir o ciclo cinza até o final, esgotar a dor, antes de retomar o colorido. Podia lidar com contratempos, com imprevistos, com problemas, com tragédias, até, mas não contava com a sequência de catástrofes em sua vida. Estava sufocando debaixo de tanto infortúnio e não alcançava as tintas para se repintar.

Realizava tarefas cotidianas como máquina, porque alguém deveria fazê-las, mas era como se mandasse apenas o corpo para a rua. A alma ficava perdida entre as gavetas do armário, cheia de nada. Segundo dia do mês, péssimo para ir ao banco. Era isso ou arcar com uma multa gorda e o beiço do marido. Senha na mão, Diná sentou-se na cadeira vaga na área de espera. Perderia coisa de uma hora naquela bobagem. O senhor ao lado puxou conversa, ignorando sua cara de não-quero-papo. Entre sorrisinhos e concordâncias, lá pelas tantas o homem professa, hoje em dia tem filho a mulher que pode e não a que quer. Depois dos trinta a capacidade de engravidar cai pela metade e a mulher tem tantas tarefas, tantos compromissos que vai deixando a formação da família em segundo plano e quando vê não dá mais tempo, perdeu o bonde. Por que raios ele entrou nesse assunto, pensou Diná, enquanto respondia ah é para o falante senhor, não por acaso obstetra aposentado. 

Saiu com a conta paga e a resistência por um fio. Chega, sabe? Não posso acreditar que estou nessa vida para colecionar perdas feito troféus ao avesso. Perdi o viço buscando a colocação que eu merecia na empresa, depois de anos de dedicação e estudo. Perdi a confiança no meu marido, que provavelmente me trai com alguma ordinária da firma e pensa que me engambela com a conversa da hora extra, da pilha de relatórios para amanhã ou de que ficou preso no trânsito ou. Perdi o emprego para uma criatura mais jovem, mais magra e mais alta, com quilômetros de lattes. Perdi a criatividade. Perdi a energia. Perdi meu filho na sexta semana da gestação, pela segunda vez. E já passei dos trinta. Impressionante como nada evolui, nada nasce de mim. Voltou a pé para casa. Subiu os seis lances de escada. Entrou. Num impulso, foi até a sacada e sentou no parapeito. A vista dava para os fundos do prédio, circundado com grades pontiagudas e cerca elétrica. Despencar dali era morte indiscutível. 

Comum em duplas sertanejas, a segunda voz normalmente é feita pelo sujeito menos expressivo e mais discreto, que tem o papel fundamental de dar o eixo à voz principal. É quem faz pouco sucesso com fãs, mas segura as pontas e apara os exageros do protagonista, não deixa a canção se perder em agudos, não descompassa, pelos dois. Diná não cantava, literalmente, mas é possível que sua ladainha mental tenha encorajado uma segunda voz. Pensa melhor, Diná, disse o rapaz quase transparente, debruçado ao lado dela. Olha bem, olha fundo, olha ao redor. O que mais fazes é gerar. Apavorada com a ideia de estar louca, para completar a derrota, desceu de onde estava, correu para a cama, cobriu-se com o lençol até a cabeça e ferrou no sono. O rapaz fez sua parte. Regou as violetas, o pé de salsa, o de manjericão e o tomateiro de Diná, que recém dava as primeiras flores amarelas, e sumiu.

 

Andreia Pires

Retirado de De solas e Asas

publicado às 20:44

Bullying, a morte não pode ser a solução

por Jorge Soares, em 14.03.10

Violência nas escolas

 

 Professor vítima de bullying preferiu morrer a voltar ao 9º B

 

"Na véspera das aulas com aquela turma, Luís ficava nervoso. Isolava-se no quarto e desejava que o amanhã não chegasse. Não queria voltar a ouvir que era um "careca", um "gordo" ou um "cão". Não queria que o burburinho constante do 9.º B e as atitudes provocatórias de alguns alunos continuassem a fazê-lo sentir aquela angústia. O peso no peito. O sufocante nó na garganta. Luís não era um aluno. Tinha 51 anos e era professor de Música na Escola Básica 2.3 de Fitares, em Rio de Mouro, Sintra. Era. Na semana antes do Carnaval, decidiu que não voltaria a ser enxovalhado. Pegou no carro e parou na Ponte 25 de Abril. Na manhã do dia 9 de Fevereiro, atirou-se ao rio."

 

Era assim que começava a noticia no público na passada sexta feira, definitivamente o Bullying é um tema que veio para ficar, mas esta noticia mostra-nos que a violência física e psicológica não atinge só as crianças, atinge também professores e restantes funcionários das escolas.

 

Mas há várias coisas neste caso que me deixaram perplexo, em primeiro lugar, segundo uma outra noticia do ionline o suicidio ocorreu a 9 de Fevereiro, mas só agora, após o caso virar noticia na comunicação social, o ministério da educação decidiu abrir um inquérito... isto quando era publico entre alunos e professores da escola que a situação era insustentável. O professor tinha feito pelo menos sete queixas à direcção da escola, queixas estas que não resultaram em nada... quer dizer, em nada não...  resultaram na morte de um professor.

 

Ainda voltando à noticia do publico, podemos ler o seguinte que foi dito por um dos alunos da turma em questão:

 

"Portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim em todas as aulas, é da idade", reconheceu um dos alunos que tiveram mais participações por indisciplina.

 

Da idade? desculpa?... da falta de educação, que não há idade que desculpe uma coisa destas, e depois foi caricato ouvir alguns dos pais das criancinhas, indignados porque eles é que eram as vitimas....

 

Definitivamente há algo de muito errado na nossa sociedade, não há nada que justifique a indisciplina e a falta de respeito nas aulas, assim como não há nada que justifique a violência sobre os colegas. Há sim uma enorme falta de educação e uma enorme irresponsabilidade por parte de pais que não vêem ou não querem ver que estão a criar uma geração que não respeita nada nem ninguém...  

 

Há uns tempos, neste post, escrevi uma frase que alguém retirou e que foi colocada em alguns blogs de professores, começo a perceber porquê, foi esta:

 

Hoje eles não respeitam os professores

porque já não respeitam os pais

e amanhã não vão respeitar ninguém.

 

Acho que está na altura de nós, como pais, como responsáveis pela educação de toda uma geração, comecemos a pensar o que estamos a fazer de errado, porque não tenham dúvida, a culpa é nossa, não é de mais ninguém. E chegou a altura de fazermos algo, porque a morte,  esta ou a do Leandro, não pode ser a solução.

 

Jorge Soares

publicado às 21:03


Ó pra mim!

foto do autor


Queres falar comigo?

Mail: jfreitas.soares@gmail.com






Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2009
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2008
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2007
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D