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Pray For Nice

por Jorge Soares, em 15.07.16

prayfornice.jpg

 

Pray For Nice

 

Pray For Nice

publicado às 10:30

Continuamos a ser Charlie?

por Jorge Soares, em 07.01.16

jesuischarlie.jpg

 

Imagem de aqui

 

Passou um ano desde o ataque ao Charlie Hebdo, naquele dia acordamos por via indirecta e da pior forma para a realidade de uma guerra que até aquele momento estava longe da vista e longe do coração algures Síria e no Iraque.

 

Durante uns dias e perante o choque de uma dúzia de mortos numa cidade que para muita gente é um símbolo do romantismo, todos fomos Charlie e todos condenamos a barbárie de um ataque cobarde e, aos nossos olhos, sem sentido.

 

Passado uns tempos a mesma guerra haveria de nos entrar de novo pela casa dentro via televisão e redes sociais na forma de centenas de  milhares de pessoas que deixando tudo para trás e muitas vezes arriscando as suas vidas e as dos seus,  insistiam em atravessar fronteiras para poderem ter direito a aquilo que a maioria de nós dá por garantido, uma vida.

 

Nessa altura a maioria esqueceu-se que era Charlie e que aquelas pessoas queriam chegar à Europa, rica,  precisamente porque estavam a fugir dos mesmos que (nos) tinham atacado em Paris... ser Charlie é giro desde que eles fiquem na terra deles ou na terra dos que são como eles.

 

Entretanto a guerra voltou a Paris, esta vez de uma forma mais organizada e talvez por isso as mortes passaram da dezena para mais de uma centena.... e um destes dias voltará em Paris ou noutra cidade europeia qualquer e quem sabe quantos mais morrerão.

 

Apesar de do Charlie Hebdo, do Bataclan e de todas as vidas que se perderam, a verdade é que na Síria e no Iraque tudo continua igual, nada mudou, a guerra continua e pouco ou nada se fez para que as coisas mudassem, os bons e os maus continuam a ser apoiados e alimentados, porque para além dos milhares que fogem e/ou morrem, por trás de tudo isto há sempre alguém que ganha com a guerra, com esta ou com outra qualquer e por isso não interessa muito que ela acabe.

 

Continuamos a ser Charlie? Não, claro que não, porque na maior parte dos casos nunca o fomos.

 

Jorge Soares

publicado às 22:50

Porque morreram mais de cem pessoas em Paris?

por Jorge Soares, em 16.11.15

prayforParis.jpg

 

Era inevitável, mal começaram as noticias sobre os atentados em Paris apareceram os comentários nas redes sociais sobre os refugiados e a Europa, quando o mais lógico é pensarmos que é precisamente de pessoas como estas que fogem os refugiados, não falta quem aproveite qualquer ocasião para mostrar o seu racismo e xenofobia.

 

Numa resposta ao um comentário no post de sexta (aqui), eu dizia que devíamos esperar dois ou três dias pelas investigações, mas que era capaz de apostar que os culpados seriam franceses. Só foi preciso esperar um dia, o primeiro terrorista identificado era francês, tal como o eram outros e os cúmplices já identificados e detidos. Hoje até ficamos a saber que um dos terroristas não só é francês, como tem mãe portuguesa.... Bem me parecia que essa gente não era de fiar!

 

Por mais irónico que possa parecer, no Sábado na SIC noticias uma senhora portuguesa imigrante em França, criticava a França por  permitir a imigração... irónico mesmo seria que ela até conhecesse a mãe do terrorista luso-descendente.

 

Mas afinal porque morreram mais de cem pessoas em Paris?

 

Porque o ocidente está à muito tempo a ver o que se passa no médio oriente e a olhar para o lado. Na Síria há uma guerra civil onde morrem diariamente centenas de pessoas, há limpezas étnicas, perseguições religiosas,...  mas para a Europa e os europeus isso só passou a ser um problema quando os refugiados começaram a deixar os países limítrofes da Síria e começaram a chegar aos milhares às nossas fronteiras.

 

Há muita gente, a começar por alguns políticos franceses e de outros países europeus, que acham que a solução é fechar as fronteiras, virar as costas ao mundo e deixar a Europa para os Europeus, em que é que isso iria resolver o problema quando os terroristas que atacam em Paris são nascidos, criados e educados em França ? 

 

Foi na sexta que ficamos a saber que foi morto o principal assassino de reféns do estado islâmico, nascido, criado e educado na Inglaterra. Na Síria e no Iraque há dezenas de combatentes Portugueses, Espanhóis, italianos, o que prova que ao contrário do que muita gente acha, os terroristas não vem com os refugiados, vão da Europa para lá.....

 

A verdade é que o problema está em nós,na forma como estamos a criar e a educar os nossos filhos, é antes de mais um problema cultural e de educação, para além de combater os terroristas no médio Oriente, é necessário dar educação e oportunidades aos nossos filhos, sem isso atentados como estes irão acontecer muitas mais vezes.

 

Jorge Soares

publicado às 22:54

 

"allahu akbar", deus é grande, foram estas as palavras que ficaram na memória das pessoas antes de começarem os disparos num dos atentados múltiplos de esta noite em Paris.... 

 

60 mortos contabilizados até agora, não se sabe quantos feridos, entre 60 a 100 pessoas sequestradas numa sala de espectáculos, são estes os números do terror numa noite de sexta-feira em Paris.

 

Por vezes temos a tendência de olhar para o mundo em que vivemos e dar por garantido que não há volta atrás, que a época em que se matava e morria em nome de deus e da  religião era algo que tinha acontecido no passado e que não voltaria a acontecer,... depois acontecem estas coisas e percebemos que afinal parece que não aprendemos nada.

 

Durante o dia a noticia tinha a ver com a morte cirúrgica, de um senhor que ficou conhecido pela forma despiadada como fazia o papel de carrasco do estado islâmico, pelos vistos do outro lado não há mortes limpas nem inocentes, todos somos culpados e merecemos morrer,.. 60 mortos, há de certeza batalhas na Síria e no Iraque onde participam centenas de soldados e onde não morre tanta gente... 

 

Há uns dias, depois da queda do avião Russo, alguém me dizia que passou a ter medo de andar de avião, há pouco no Facebook alguém se mostrava assustado ante a perspectiva de ter que viajar a uma cidade europeia. Parece que começamos  a tomar consciência de que esta guerra nos afecta a todos e não é algo que só acontece na televisão?

 

De  repente acordamos para uma dura realidade, ninguém em lado nenhum está  livre que um maluco armado em mão de um deus qualquer, desate disparar.

 

Será que é nestas alturas que ficamos a perceber o que sentem os refugiados e o que os faz correr e fugir em busca de um lugar qualquer onde se possa viver longe de atentados, armas, tiros e fanáticos religiosos?

 

Quando vamos deixar de olhar para os nossos umbigos e perceber que o que está a acontecer é um problema do mundo inteiro e não da Síria e do Iraque?

 

Jorge Soares

 

 

 

publicado às 23:03

O estranho mundo em que vivemos

por Jorge Soares, em 02.07.15

heitorlourenço.jpg

 

Imagem do Expresso

 

Durante o dia a noticia foi aparecendo nos jornais online e no Facebook, "Actor português preso em aeroporto ao ser confundido com terrorista", só há pouco quando cheguei a casa consegui ler com mais detalhe e ficar a perceber o que realmente aconteceu... o que li deixou-me completamente incrédulo.

 

Tudo aconteceu no aeroporto de Orly em Paris, França. Enquanto esperava pelo inicio da viagem que o traria a Portugal, o actor Heitor Lourenço decidiu ler no seu Ipad um livro com imagens e escritos tibetanos, achava ele que aquele tempo morto e de espera seria um bom momento para a meditação.

 

Pouco depois reparou que havia uma ordem para evacuar o avião e mal pôs os pés fora do aparelho foi detido por dois policias franceses e levado para a esquadra do aeroporto onde foi interrogado e ficou seis horas detido.

 

Tudo isto porque alguém achou que ele estaria a ler o alcorão e a usar expressões que envolviam 'bombas', 'morte', explosão'.

 

Vivemos num mundo realmente estranho em que uma pessoa pode ser presa e impedida de prosseguir com a sua vida simplesmente porque alguém, que para além de alguma ignorância revela um enorme preconceito, não consegue ver a diferença entre um livro com ilustrações tibetanas e o alcorão.

 

Mesmo que o actor estivesse a ler o alcorão, num mundo normal isso não deveria ser motivo nem para a denuncia nem para que alguém fosse preso e impedido de viajar, pelos vistos o mundo em que vivemos está cada vez menos normal.

 

É claro que toda esta paranóia o que está a mostrar é que os terroristas estão a conseguir o seu propósito.

 

Jorge Soares

 

PS: Vi há poucos dias uma entrevista a este actor de Bem-vindos a Beirais e fiquei fã da sua humildade e simplicidade, não podiam ter escolhido alguém que estivesse mais longe de um terrorista para uma coisa destas.

publicado às 23:22

Je suis África?

por Jorge Soares, em 07.04.15

massacre.jpg

 

Imagem do Facebook 

 

Tive duvidas se postava ou não a imagem acima, optei por postar porque se calhar  de tão chocante que é termina por chamar a atenção para o que se está a passar no mundo à nossa volta.

 

Há uns meses morreram 20 pessoas num atentado em Paris e durante dois dias o mundo deixou de respirar, não fosse o barulho acordar mais algum terrorista, de um momento para o outro todos éramos Charlie, fizeram-se manifestações um pouco por todo o lado e na de Paris participaram dezenas de chefe de estados e figuras importantes.

 

Na semana passada morreram de uma só vez numa universidade do Quénia 147 jovens estudantes, o facto de eu estar a falar do assunto significa que pelo menos foi noticia, mas comparado com o que se passou na altura dos atentados de Paris, não passou de uma noticia de pé de página, e não fosse a fotografia acima, que como é mesmo chocante, circula pelas redes sociais,poucos teríamos ouvido falar do assunto.

 

Em África travam-se ao mesmo tempo várias guerras...  no Quénia, Na Nigéria, no Yemem, no Mali.. e estas são só as mais mediáticas, morrem diariamente centenas ou milhares de pessoas assassinadas em nome do fanatismo religioso ou da sede de poder de uns quantos. De quantas destas mortes ouvimos falar?

 

Há uns dias um louco alemão decidiu que a melhor maneira de se suicidar era atirar um avião com centenas de pessoas contra uma montanha, de imediato se tomaram medidas para que não voltem a haver pilotos sozinhos dentro da cabina de um avião... há dois ou três anos um piloto moçambicano (de certeza tão maluco como o alemão) decidiu suicidar-se atirando o avião contra o solo... porque é que na altura ninguém falou em tomar as medidas e mudar as regras que se mudaram agora?

 

O que é que leva o mundo a viver nesta indiferença com o que se passa em África, na Europa morreram 12 jornalistas e todos fomos Charlies, há alguma coisa que possa acontecer em África para se ouça a frase "Je suis África"?

 

Quando vi a fotografia acima dei por mim a perguntar-me como é que isto pode ser possível? Como é que algo tão barbaramente aterrador pode ser olhado com tanta indiferença pela Europa? O que será preciso para que acordemos? 

 

Jorge Soares

publicado às 22:41

Conto - A surpresa

por Jorge Soares, em 17.01.15

asurpresa.jpg

 

 

    – Deixa a ponta solta.

 

Deixa essa ponta solta, repetiu a mulher vestida com panos escuros.

 

A ela tinham-na vestido com tecidos garridos, as mesmas mulheres que lhe tinham dito que amanhã iria ao mercado da aldeia.

 

Uma delas veio compor a fita, e a ponta ficou pendendo disfarçada numa dobra do tecido. Era um pedaço de cabedal ou imitando, do que teria sido um cinto. A mulher vestida de negro aquiesceu:

– Isso. Deixa-a, assim, solta.

 

E aproximou-se como se fosse contar-lhe um segredo.

 

Fátima sentiu-lhe até o bafo.

Sentiu-lhe os lábios grossos, muito grossos e encarnados, quase a roçarem-lhe o lóbulo da orelha que sobrava por debaixo do lenço.

A mulher apertou-lhe a mão por cima do pano colorido.

Um pano com manchas vermelhas e azuis e com bolas em amarelo canário, entremeando.

A mulher agarrava-lhe a mão e deslizava-a por baixo do tecido, e assim, pretendia mostrar que, com a ponta solta, bastavam dois dedos.

 

As mulheres tinham-lhe dito: vais levar uma surpresa ao teu tio Pedro.

Levas a surpresa bem presa no teu corpo, tinham elas acrescido.

 

E que puxasse a fita apenas quando chegasse junto da bancada, tinham repetido, isso, uma vez e outra. E no entanto, a falar baixíssimo, os lábios gotejando humidades sobre o lóbulo da orelha que assomava debaixo do lenço colorido, a mulher vestida de negro ainda indagou, apenas como se afirmasse certezas desejadas:

 

– Sabes como fazes, não sabes?

Mas nem esperou resposta.

 

Na sala diminuta estavam a mulher de negro, e a mulher que tratou de fazer com que a ponta ficasse solta, e duas outras mulheres acocoradas como rolos de tecidos por ali jogados; e, além delas, dois homens permaneciam hirtos, de pé, junto à única porta.

 

As mulheres tinham dito: eles depois levam-te.

Fátima percebeu que seriam aqueles.

Fátima vestida com panos de cores garridas como nos dias em que ia ao mercado da aldeia com a mãe e as tias e os primos e primas.

 

 

***

 

 Ela não tinha respondido, mas sabia muito bem como devia.

 

 As mulheres tinham-lhe dito. Tinham-lhe explicado e repetido enquanto a vestiam com panos garridos e juravam que sim, que ela comeria frutos. Mangas e papaia. Talvez tâmaras se já as houvesse.

 

Vais fazer uma surpresa ao teu tio Pedro, tinham-lhe elas explicado.

E Fátima foi com os homens por caminhos e estradas.

Aos balanços do carro, a prenda do tio incomodava-a. Magoava-lhe o corpo sobretudo do lado direito onde tinham deixado uma ponta solta.

Ela sabia que só devia puxar quando estivesse na bancada de frutas. Lá, onde deixaria a surpresa que levava agarrada ao corpo.

As mulheres tinham-lhe dito. Elas tinham-lhe dito e repetido.

 

Mas ainda assim, ela deve ter percebido mal.

Ou percebeu, mas atrapalhou-se.

 

Quando chegou, já o tio Pedro estava colocando frutas na bancada. Para que ele não a visse, para ser mesmo surpresa como as mulheres lhe tinham ensinado, escondeu-se por detrás de uma resma de cestas que estavam, por ali, empilhadas. 

 

Só então estendeu a mão e tocou a ponta solta. Tocou apenas e esperou um pouco como se estivesse ouvindo a voz das mulheres: pegas com força e puxas para baixo. Elas tinham insistido. 

 

Só depois puxou.

Mas qualquer coisa deve ter corrido mal.

Aquela dor que vinha sentido, do lado direito, mais ainda que do outro lado, tornou-se muito intensa e espalhou-se pelo corpo todo. E terá sido porque ela segurou demasiado levezinho. Ou porque terá puxado para o lado em vez de puxar para baixo. Ou ela teria até, desgovernada, puxado para cima.

 

O que quer que tenha sido, saiu errado, e o seu grito ressoou, e era como se todos no mercado estivessem gritando. Ou estariam. Ou era ela apenas.

 

Fátima não percebia senão que tinha sido um verdadeiro horror depois que puxou a ponta que as mulheres tinham deixado solta por baixo dos panos. 

 

Desfeita em cacos a surpresa que trazia para o seu tio. 

E no mercado um sururu ensurdecedor como se tudo se tivesse revirado debaixo dum céu toldado de vermelho e negro a fazer lembrar os dias em que os vizinhos e os pais faziam queimadas nos terrenos antes da próxima sementeira. Então, era um calor imenso, e nem assim tão grande como aconteceu mal ela puxou a ponta para que se desprendesse a surpresa que trazia para o tio. 

 

No tempo das queimadas, os meninos da aldeia ajudavam a manter o fogo longe das casas. Iam todos, ela e os irmãos e os primos, a bater a terra com vassouras feitas de ramos verdes. Tinha sido assim, antes de os terem levado. Dois camiões carregados com crianças raptadas da aldeia. Fátima ia com eles. Tinha sido muito antes de ter menstruado. Nem por isso criara corpo. Miudinha, sangrara uma vez apenas. O sangue a sair-lhe do corpo, e o seu nem era um sangue assim quase negro como aquele que agora se espalhava pelo chão do mercado.

 

Ou ela delira. 

 

Ou será a dor imensa que ela sente que a faz parecer que o mercado, todo ele, arde como era lá na aldeia em dias de queimada; que, como ela, tantos no mercado estão empapados no seu próprio sangue. 

 

Estará ela confundindo e nem o seu corpo estará a desmembrar-se, um braço e uma perna para cada lado como se dava com as lagartixas: cada pedaço do bicho ainda remexendo, cada bocado com a consciência que Deus lhe deu, dizia assim o Damião que era o sábio lá da aldeia.

 

Fátima que não percebe e nem consegue explicar o que fez errado.

Sabe que estragou a surpresa que trazia para o tio. Isso ela sabe, e está muito triste.

 

Maria de Fátima

Retirado de Samizdat

publicado às 21:25

nigéria.jpg

 

Imagem de Sofia Zambujo

 

De modo algum quero retirar importância ao que se passou em Paris, para mim a liberdade de expressão é algo que não se discute, e por muito que alguns idiotas tentem, nada justifica que se matem jornalistas, polícias ou simples anónimos, em nome de um deus, um profeta, ou uma religião qualquer.

 

As manifestações que juntaram milhões de pessoas em Paris e um pouco por todo o mundo são a prova de que a sociedade ocidental não está disposta a vergar-se  ante ameaças ou actos terroristas, mas não deixam também de ser a prova de que à sociedade ocidental, a todos nós só nos importa o que se passa no nosso quintal ou nos afecta directamente.

 

No mesmo dia em que mataram 12 pessoas no Charlie Hebdo, na Nigéria o Boko Haram numa ofensiva para controlar uma cidade nigeriana matou mais de 2000 pessoas . No dia a seguir, ao mesmo tempo que todos tínhamos os olhos em Paris porque um terrorista fez reféns um grupo de pessoas num supermercado, três mulheres fizeram-se explodir e mataram mais de 20 pessoas.

 

Durante os últimos dias quantas horas de televisão se dedicaram, e se continuam a dedicar, ao que se passou em Paris?... e em quantas dessas horas se falou do que se passa na Nigéria?

 

Todos ficamos a saber que o Presidente da Republica, o Primeiro ministro e a assembleia da República mandaram condolências à embaixada francesa e foram inclusivamente a Paris dar as mesmas em pessoa ao presidente francês, mas alguém ouviu falar das condolências ao governo e ao povo da Nigéria pelas mais de 2000 mortes? São mais importantes as 20 mortes de Paris do que as mais de 2000 da Nigéria?

 

Evidentemente as mortes tem todas a mesma importância, mas à primeira vista parece que há mortes e mortes e assim de repente as que se passam perto do nosso quintal  são mais importantes... pelo menos para os governos ocidentais.

 

Para quem não sabe, Boko Haram significa "contra a educação ocidental", a maior parte das pessoas terá dificuldade em identificar a Nigéria no mapa de África, mas era bom que uma parte dos que agora com tanto ênfase se nomeiam Charlie ( e contra mim falo) tivessem também a noção de que o mesmo fanatismo que em nome de um qualquer deus mata em Paris, também mata todos os dias Na Nigéria, na Síria, no Iraque, no Iémen, no Chade, etc, etc, etc.. e por lá nem é preciso ser jornalista ou cartoonista, por vezes basta estar vivo.

 

Jorge Soares

publicado às 22:59

O que é a liberdade de expressão?

por Jorge Soares, em 08.01.15

guerreassimetric.jpg

 

Def:

Liberdade de expressão é o direito de manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos. É um conceito fundamental nas democracias modernas nas quais a censura não tem respaldo moral

 

Entre as dezenas de comentários ao post de ontem, no mural do Facebook e um pouco por todo o lado, há quem ache que o que aconteceu ontem em Paris não foi um atentado à liberdade de expressão. Pelos vistos há muita gente que acha que apesar de aquilo ser tudo muito feio, quem semeia ventos colhe tempestades e os senhores do Charlie Hebdo não tinham nada que se estar a meter com deus e as religiões.

 

Há muitas formas de atentar contra a liberdade de expressão, mesmo que se possa olhar para tudo isto como um acto de vingança de dois loucos, não deixa de ser verdade que também foi um aviso para quem se atreve a ir contra as religiões, a prova disso está em que apesar de que morreram doze pessoas entre as quais vários jornalistas, hoje  um pouco por todo o mundo, e em especial nos Estados Unidos,  muitos jornais  não se atreveram a publicar as caricaturas do Charlie Hebdo.

 

Não só foi um atentado à liberdade de expressão como pelos vistos teve o efeito pretendido, afinal há muita gente que não é Charles Hebdo... principalmente gente  que não é capaz de pensar por si e de deixar de ter medo de religiões e fanatismos... é pena.

 

Para quem ainda não percebeu porque é que este tipo de coisas é intolerável desde qualquer ponto de vista, peço que reflictam na seguinte frase de Voltaire:

 

"Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo"

 

Jorge Soares

publicado às 23:33

Qual é o deus que é grande e manda matar?

por Jorge Soares, em 07.01.15

deus4.png

 

"allahu akbar", deus é grande, foram estas as palavras que os terroristas utilizaram antes de começar a disparar e a matar jornalistas, "allahu akbar", deus é grande... deus, qual deus? qual  é o deus que ensina a matar jornalistas por vingança? onde está esse deus? onde estão as suas palavras  de vingança?

 

Por vezes temos a tendência de olhar para o mundo em que vivemos e dar por garantido que não há volta atrás, que a época em que se matava e morria em nome de deus e da  religião era algo que tinha acontecido no passado e que não voltaria a acontecer,... depois acontecem estas coisas e percebemos que afinal parece que não aprendemos nada.

 

Que em pleno século XXI dois energúmenos peguem em armas e em Paris, o centro do mundo, desatem aos tiros e ceifem a vida de 12 pessoas em nome de deus e para vingar o profeta...  é voltar centenas de anos atrás... e aconteceu hoje ... e é assustador que possa acontecer amanhã noutro sitio qualquer.

 

Hoje todos somos o Charlie Hebdo, mas amanhã seguiremos com a nossa vida, pelo menos os que sobrevivemos, daqui a uns dias já poucos nos lembraremos do massacre de hoje... e a falsa sensação de segurança voltará.. todos sabemos que há uma guerra onde muitos energúmenos como estes aterrorizam e matam milhares e milhares de pessoas, mas é lá longe,.. 

 

Quando será que tomamos consciência de que esta guerra nos afecta a todos e não é algo que só acontece na televisão? No dia em que alguém nos mate em nome de uma religião ou de um deus qualquer?

 

Quando vamos deixar de olhar para os nossos umbigos e perceber que o que está a acontecer é um problema do mundo inteiro e não da Síria e do Iraque?

 

Jorge Soares

publicado às 22:18


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