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Eu e o tele-trabalho

por Jorge Soares, em 23.09.20

teletrabalho.jpg

Imagem de aqui

Estou em teletrabalho desde o dia 13 de Março, mesmo antes de ser decretado o estado de emergência já na empresa em que trabalho tinham mandado o pessoal para casa. Foi relativamente pacifico, a infra-estrutura informática há muito que estava preparada, a maioria dos empregados já tinha computadores portáteis e ligação remota configurada, quem não tinha levou os computadores de secretária com que trabalhava.

Confesso que eu era dos que achava que não seria capaz de trabalhar desde casa, não me via longe do telefone e do contacto próximo com os meus colegas. Muitas vezes a forma de ajudar a resolver o problema passava por levantar-me, chegar até ao colega e tentar ver exactamente o que ele estava a fazer. Por outro lado não me achava capaz de em casa me disciplinar e abstrair da televisão, da família  e concentrar-me no trabalho. Estava completamente errado.

Desde o primeiro dia que as coisas funcionaram perfeitamente, pelo meio tive que ir buscar um monitor, um teclado e de renegociar o contrato de ligação à internet cá de casa (passei a ter o dobro da velocidade por um pouco mais que metade do preço). Com 2 pais em teletrabalho e duas estudantes com aulas à distancia, no inicio não era fácil.

Do meu ponto de vista as chaves do sucesso para o teletrabalho passam pelos seguintes pontos:

- Escolher áreas de trabalho separadas, eu fiquei com a mesa da sala, a minha meia laranja ficou com o escritório e as miúdas ficaram cada uma em seu quarto.

-Cumprir horários, continuei a levantar-me praticamente à  mesma hora que antes, como se fosse para ir para o escritório em Lisboa. Depois do banho e do pequeno almoço, vou andar 5 kms a pé, fiz isso todos os dias mesmo durante o  confinamento (vantagens de se viver no campo).  Os 50 minutos que eu antes passava todas as manhãs dentro do carro, agora passo-os a fazer exercício e a descomprimir. Por volta das 8:30 entro ao serviço e por volta das 17:30 desligo a ligação.. o teletrabalho deu-me quase duas horas diárias de vida extra, o tempo que antes passava nas viagens de ida e regresso.

-Estratégias de comunicação com o resto da equipa Apesar de a empresa não o exigir, fazemos uma reunião diária em que cada um fala dos assuntos que tem em mão, trocamos ideias e opiniões e muitas vezes discutimos soluções e estratégias. Apesar de cada um estar em sua casa, estas reuniões mantiveram-nos unidos e fizeram com que todos estejamos por dentro de todos os assuntos, sabemos sempre o que se está a passar e muitas vezes damos uma mão a alguém que precisa. É claro que também conversamos sobre o mundo.

-Estratégias de comunicação com os "clientes" - Como não há telefone fixo, a comunicação faz-se principalmente por mail e pelo skype, quando temos dezenas de mails a chegar e 5 ou 6 janelas de skype abertas a comunicação não flui,  a solução é sempre optar por passar da escrita para a voz, e o skype e o teams resolvem... e funcionou... menos quando os colegas tentam falar comigo às dez ou onze da noite... há pessoal que tem horários estranhos... lamento, a essa hora não atendo.

É claro que há coisas que se perdem, já lá vão seis meses e por vezes sinto a falta da proximidade com as pessoas, das conversas na cantina ao almoço ou à volta da máquina do café com os colegas das outras áreas... mas quanto a mim ganha-se muito em tempo,  em qualidade de vida, em dinheiro, em benefícios para o ambiente ....

É claro que o mundo não é perfeito. Ontem estava numa reunião com o meu chefe a preparar outra reunião que ia acontecer a seguir e de repente  ele ficou a falar sozinho... faltou a electricidade cá no bairro .. e lá se tiveram que adiar duas reuniões Quando isto acabar, sim, porque isto vai acabar alguma vez, talvez eu não queira ficar em casa todos os dias, mas vou querer de certeza ficar pelo menos 3 dias por semana, por mim, pela empresa, pela minha família e pelo mundo.

Jorge Soares

publicado às 22:10

35 Horas

por Jorge Soares, em 18.01.16

35 horas.JPG

 Imagem de aqui

 

Há pouco na SIC O Miguel Sousa Tavares dizia que não entende porque é que os funcionários públicos tem que trabalhar menos horas que os privados.. eu acho que ele tem razão, eu também não percebo porque é que tendo os funcionários públicos horários de 35 horas há anos, os que trabalhamos no sector privado continuamos a ter horários de 39, que na realidade são 40, ou 40 horas. semanais.

 

Perguntava também se o facto de eles passarem de 40 para 35 horas significa que eles não tem trabalho suficiente... há pouco no Facebook, alguém pedia para lhe perguntarmos se eles passaram de 35 para 40 porque na altura tinham trabalho a mais.

 

As 35 horas da função publica são um direito há muito adquirido, a Troika achou que por cá se trabalhava a menos e portanto convenceu Passos Coelho e o governo a levarem 4 feriados e mudar os horários de trabalho... Na realidade ninguém sabe quais os efeitos desta medida, há quem ache que aumentou a produtividade e há quem ache que não aumentou nada, há quem diga que a economia ganhou porque as empresas pagam menos horas extra e trabalho de feriados,  há  quem pense que a economia perdeu porque há menos tempo livre (e dinheiro)  para investir em turismo e lazer.

 

Há pouco nos prós e contras alguém contava as pontes que vão aparecer com os novos feriados... pontes, quais pontes? Eu se quiser fazer uma ponte tenho que meter dias  de férias, que deixo de poder gozar noutra altura, qual é a diferença? 

 

Será que é assim tão difícil perceber que nos privados não há pontes? No estado só há porque os governos insistem em dar tolerâncias de ponto que não fazem sentido nenhum.

 

A Troika diz que por cá se trabalha pouco e que há  muitos feriados... mas não explicam porque é que na generalidade dos países Europeus há mais feriados e se trabalham menos horas.

 

De 2011 para cá os funcionários públicos além de passarem a trabalhar mais dias e mais horas por dia, perderam um quarto do seu rendimento. Os impostos e o aumento do desemprego levaram uma boa fatia dos salários de todos os trabalhadores portugueses, pelos vistos o objectivo é aumentar a competitividade do país... mas faz sentido que a competitividade de um país seja alcançada à custa de salários baixos e fracas condições de trabalho? Queremos competir com quem? Com a China e o Bangladesh? Ou com os outros países Europeus e emergentes?

 

Jorge Soares

publicado às 22:30

amamentar2.jpg

 
Manuela Moreira foi mãe no final do ano passado, após a licença parental voltou ao trabalho e  decidiu gozar do seu direito às horas de amamentação, para isso falou com a sua entidade patronal e pediu para entrar uma hora mais tarde no horário da manhã, de modo a conseguir conjugar a amamentação do seu filho com os horários dos transportes públicos. A entidade patronal discorda do horário proposto, propõe a hora do almoço e impede-a de trabalhar durante o período da manhã. 
 
Até aqui nada de estranho, este tipo de coisas acontece cada vez menos mas infelizmente vai acontecendo, nada disto seria muito estranho, não fosse o caso de a entidade empregadora de Manuela Moreira ser o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN). 
 
A lei não é clara quanto ao período em que o horário de amamentação deverá ser cumprido, normalmente empresas e trabalhadores chegam a acordo sobre  a melhor hora, neste caso pelos vistos não há acordo possível.
 
Manuela alega que o horário proposto pelo sindicato patrão não é compatível com os horários do seu filho e os dos transportes públicos, o sindicato  alega que não a pode dispensar no horário que Manuela pretende.
 
Entretanto Manuela passa as manhãs à porta do sindicato onde não a deixam entrar se não cumprir os horários propostos pela empresa.
 
Alguém consegue imaginar o que diria o sindicato se isto em lugar de estar a acontecer com um dos seus funcionários estivesse a acontecer com um dos seus filiados e outra entidade empregadora qualquer? Na hora de defender quem trabalha, o mote deste sindicato deve ser, "Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço"
 
Felizmente este é um caso cada vez mais raro no nosso país, cada vez mais as empresas portuguesas olham para a maternidade e para os direitos das mulheres como algo normal... mas que este caso aconteça precisamente com uma empregada de um sindicato, é de bradar aos céus.
 
Por estas e por outras é que cada vez há menos sindicalizados em Portugal
 
Há um sindicato dos empregados dos sindicatos?, deveria haver.
 
Jorge Soares

publicado às 22:16

Dono de casa

 

Imagem da Internet

 

 

Conversa entre duas das minhas colegas um destes dias algures num dos escritórios lá da empresa.

 

-....

- As mulheres deviam ter direito a reformar-se antes dos homens

- Como assim?

- Devíamos poder reformar-nos prái aos 50 anos!

 

Eu estava mesmo ao lado a ver um problema com um dos meus colegas, não havia forma de não ouvir.... nem de deixar passar.

 

- Espera aí, explica lá isso mais devagar!

- Então, devíamos poder reformar-nos muito antes dos homens!

- A sério? Então e porquê? Que eu saiba todos trabalhamos igual, ganhamos igual e descontamos o mesmo!

- Pois, mas eu saio daqui e ainda vou tratar dos filhos, do jantar, limpar, arrumar....

- Olha lá, e tu achas que eu faço o quê quando saio daqui?

- Não me digas que fazes essas coisas todas?

- Claro, lá em casa por exemplo sou sempre eu que cozinho.

- E pões a louça na máquina, estendes a roupa a secar?

- Se for preciso.. e varro e limpo a cozinha.. e vou buscar as crianças.. e dou banho à mais pequena..

- Mas o meu marido não faz nada dessas coisas.

- Então e o resto do mundo tem culpa que tu o tenhas educado mal?

{#emotions_dlg.blushed}{#emotions_dlg.nostalgic}{#emotions_dlg.secret}

- Tu não sabes que generalizar é mau?

 

Evidentemente a todas estas já o resto do pessoal ria às gargalhadas... por vezes pergunto-me como é que em pleno século XXI ainda há pessoas, relativamente novas,  que ainda vivem algures nos tempos da outra senhora.

 

Jorge Soares

publicado às 22:46

Bangladesh - O último abraço da globalização

por Jorge Soares, em 09.05.13

O ùltimo abraço da globalização

Imagem do Público 

 

De entre o que restou do edifício Rana Plaza, no Bangladesh, foram até agora retirados mais de 900 corpos, mas ninguém consegue prever quantos mais estarão ainda por descobrir, calcula-se que estariam perto de 5000 pessoas no edifício e ainda falta chegar aos pisos inferiores.


Também não há certezas, mas suspeita-se que para além da construção deficiente, terá sido a trepidação causada pelos gigantescos geradores que mantinham as três fábricas de roupa a funcionar, o que terá causado o desabamento do edifício.

 

O Bangladesh é neste momento a última paragem da globalização, depois do Vale do Ave, de Taiwan, da Malasia, da China, a procura dos preços mais baixos chegou ao Bangladesh. As três fábricas , há quem fale em cinco, que se diz existiam no edifício, produziam roupa para grandes marcas Europeias como a Primark ou a Mango. Mas estas são só um exemplo, porque nas centenas  que nascem como cogumelos por todo o país produz-se roupa e outros artigos para a grande maioria das marcas mais conhecidas.

 

O Bangladesh é o país com o menor salário mínimo do mundo, perto de 29 Euros por mês, mas há quem ganhe metade disto por 12 ou mais horas de trabalho ao dia  nas piores condições possíveis. É também frequente a existência de trabalho infantil.

 

O negócio dos texteis movimenta mais de quinze mil milhões de Euros todos os anos e gera lucros astronómicos, mas tudo isto é feito à custa do trabalho quase escravo de muita gente.

 

As grandes marcas tem muita preocupação com os volumes de vendas e os lucros, mas pouco ou nada se preocupam com o preço que paga a população dos paises mais pobres para que se possa produzir a custos tão baixos . Era bom que a sociedade que tanto consome tivesse a noção da realidade que está por trás dos seus caprichos mais mundanos.

 

As muitas centenas de vidas que se perderam na queda do edifício no Bangladesh são o preço social da roupa barata, um preço demasiado alto que milhares tem que pagar para que uns poucos ganhem muito dinheiro e todo o mundo possa presumir de andar bem vestido.

 

A fotografia é de Taslima Akhter e revela  um abraço de um homem e de uma mulher congelado pela derrocada do edifício Rana Plaza, ao Bangladesh chegou o último abraço da globalização.


Jorge Soares

publicado às 21:56

O que se festeja a 1 de Maio dia do trabalhador?

por Jorge Soares, em 01.05.13

dia do trabalhador

 

Imagem do Público 

 

O dia do trabalhador começou a festejar-se em 1889, foi decidido pela internacional socialista reunida em Paris que no dia 1 de Maio de cada ano seria realizada uma grande manifestação de trabalhadores para reclamar horários de trabalho de 8 horas diárias e em honra dos trabalhadores em 1886 em Chicago, Estados Unidos, tinham morrido em confrontos com a policia quando se manifestavam a favor da redução dos horários de trabalho.

 

Em 1891 numa dessas manifestações no norte de França, de novo em confrontos com a policia, morrem 10 outros trabalhadores. Este facto serve para reforçar este dia como o dia da luta dos trabalhadores. 

 

Em 1919 em França é adoptado o horário de trabalho de 8 horas e é declarado o dia um de Maio como feriado nacional em honra dos trabalhadores. Exemplo que será seguido por muitos outros países.

 

Curiosamente nos Estados Unidos, onde tudo começou, o dia não é feriado nacional.

 

Em Portugal o feriado só foi adoptado depois do 25 de Abril, durante a ditadura do estado novo as manifestações eram reprimidas pela polícia.

 

O horário de trabalho das 8 horas foi adoptado em Portugal em 1962, até aí na maior parte dos casos e principalmente na agricultura,  vigorava o horário feudal que remetia para a idade média, de sol a sol. 

 

Curiosamente quando passam 125 anos do inicio da luta pelas 8 horas diárias de trabalho, e quando temos uma das maiores taxas de desemprego da nossa história, há pouco tivemos no nosso país uma tentativa de fazer retroceder esse direito que foi conquistado com a vida de muitos em proveito de todos nós.

 

Jorge Soares

publicado às 22:15

Trabalho é trabalho... sexo é trabalho!

por Jorge Soares, em 19.12.12

Ferida durante o sexo

 

Imagem de aqui 

 

De certeza que na Austrália não conhecem o nosso ditado popular "Trabalho é trabalho conhaque é conhaque". O caso é relativamente simples. Durante uma viagem profissional, uma funcionária pública australiana conheceu um senhor, uma coisa levou à outra e terminaram numa cama de hotel.

 

Durante a relação sexual, que não sabemos se terá sido muito ou pouco atribulada, um candeeiro desprendeu-se da parede e feriu a senhora que para além das marcas físicas, ficou com graves sequelas emocionais que a tem mantido afastada do trabalho.

 

Como a coisa se deu durante uma viagem profissional, a senhora alega que os ferimentos físicos e emocionais são produto de um acidente de trabalho, isto apesar de não constar que a senhora fosse uma trabalhadora sexual. Como tal, todos os custos decorrentes do mesmo, incluindo as faltas ao emprego, deverão ser pagos pelo seguro da entidade empregadora, neste caso o estado Australiano.

 

Levado o assunto ao tribunal, um juiz  acaba de decretar que sim senhor, há lugar aos pagamentos, porque independentemente do lugar e das circunstâncias do lamentável (ou não {#emotions_dlg.lol}) acidente, este se deu durante uma viagem profissional.

 

Pensando bem, imaginemos que o candeeiro lhe tinha caido encima quando ela estava simplesmente a dormir sozinha na cama do hotel.. seria ou não acidente de trabalho?.... ou que ela tinha escorregado ao entrar no hotel e tinha partido uma perna?..  a diferença é ela não estar sozinha na cama?

Trabalho é trabalho,.. neste caso, sexo é trabalho!{#emotions_dlg.amazed}

 

Jorge Soares

publicado às 22:20

A saudade é uma treta

por Jorge Soares, em 22.10.12

A saudade é uma treta

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

 

Os comentários àquele post da Mónica e do Pedro deixaram-me a pensar, talvez porque nunca me senti verdadeiramente de lado nenhum, como dizia há uns tempos, já vivi em tantos sítios que aprendi que as coisas e os lugares são bons enquanto lá estamos e o melhor que temos a fazer é aproveitar para viver porque quem sabe quanto tempo pode durar.

 

Saudade é uma palavra portuguesa que dificilmente tem tradução noutras línguas, de vez em quando dou por mim a pensar que é mesmo só isso, uma palavra,  e as palavras só existem na linguagem quando são necessárias para identificar algo... Ora, se saudade  não existe em mais nenhuma língua deve ser porque mais ninguém sentiu necessidade de a inventar.

 

Digo muitas vezes que só temos saudade do que já vivemos  e acrescentaria  também que só temos saudades do que nos preencheu, do que foi bom.... ter saudades não tem nada de mal, o problema está quando tudo isso em lugar de se tornar algo positivo, se torna numa âncora que nos prende ao passado e nos impede de avançar... e mau mesmo é quando ainda nem estamos a passar pelas coisas e já temos saudades do que ainda nem deixamos para trás... porque por norma isso faz com que nem demos o primeiro passo... e não caminho nenhum que se consiga percorrer se não se dá o primeiro passo.

 

Voltando aos comentários do post e a muitos outros comentários que li por aí, faz-me alguma confusão que as pessoas achem que jovens que estão a iniciar a sua vida possam preferir ficar em Portugal, mesmo que isso signifique muitas vezes ficar a 400 ou 500 Kms de casa e possivelmente desterrados numa qualquer pequena cidade do interior, a aproveitar uma oportunidade de ouro num outro país, onde poderão conhecer outra cultura, outras realidades e outras formas de viver e trabalhar e onde ainda por cima vão ter todas as vantagens e mais alguma a nível salarial e profissional.

 

Há quem argumente que é outro país, não o nosso.. sim, e isso é mau porquê? Qual é mesmo a vantagem de se ficar por cá? Aquele grupo de jovens era todo do norte, há quem argumente que pelo mesmo salário eles prefeririam ficar em Portugal mesmo que fosse longe da família.. A sério? E qual era a vantagem de a ganhar o mesmo ficarem num hospital em Bragança?, ou em Évora?, ou em Almada?, ou na Amadora?  Ou em Sagres, Ou em Vila Real de  Santo António? Qual seria o jovem inteligente que sabendo as condições em que se trabalha em Portugal preferiria ficar por cá a aproveitar uma oportunidade de ir viver noutro mundo?

 

Já sei, a saudade, o nosso país, a nossa gente... tretas, se há coisa que aprendi quando os meus pais emigraram e se fizeram à vida do outro lado do Atlântico é que o nosso país é aquele que nos dá uma hipótese de viver, o que nos deixa ganhar a vida com dignidade, o que nos dá hipótese de querer e de poder... o resto é folclore, uma coisa engraçada mas que dificilmente alimenta alguém.

 

Jorge Soares

publicado às 22:02

Ela é a Joana e quer pagar impostos

Imagem do Público

 

Ela é a Joana, e quer pagar impostos, e ter direito a férias, e à segurança social e à protecção no trabalho que tem qualquer outro cidadão em Portugal, à reforma e a trabalhar sem estar sujeita ao insulto,  ao escárnio e à discriminação... ela quer ter direito a ganhar a vida com o corpo dela, o que tem isso de mal?

 

A Joana é prostituta, mas podia ser  stripper ou  operadora de linha erótica, ou acompanhante de luxo.. tudo profissões que em Portugal não existem... ou será que existem?


Será que as coisas que não queremos ver deixam de existir? Durante anos em Portugal não existia aborto, quer dizer, todos conhecíamos alguém que já tinha abortado, ou que contribuiu para que uma mulher abortasse, mas na realidade o aborto não existia... ou existia?


É evidente que a prostituição existe em Portugal, basta uma qualquer viagem que não seja por auto-estrada para percebermos que sim, que a prostituição existe, ou comprar um qualquer jornal diário e olhar para as páginas dos classificados, mas há muita gente que insiste em fazer de conta que ela não existe.


É claro que estas coisas existem e ao contrario do que muita gente acha, nem sempre são causadas pela pobreza e as drogas, há quem o faça porque escolheu esse modo de vida, nem todos são vitimas e coitadinhos, há quem o faça porque gosta de o fazer e porque acha que essa é a melhor forma de viver bem. 

 

E nestes casos, porque é que quem escolhe viver assim, não pode ter direito a que se lhe reconheça a sua profissão? 

 

A campanha “Trabalho sexual é trabalho” pretende contribuir para contrariar “o estigma que recai sobre quem faz trabalho sexual”, porque o estigma tem “um impacto negativo nas condições de trabalho, na saúde, na segurança”.


Estamos no século XXI e era bom que a mentalidade das pessoas evoluísse à mesma velocidade que evolui o mundo, para que de uma vez por todas deixemos de olhar para o lado e aceitemos que estas coisas existem mesmo e não, não é só lá fora, por cá também.



 

Jorge Soares

publicado às 21:24

Trabalho infantil

 

Imagem do Público

 

Lembro-me como se fosse ontem, em Caracas, na esquina da Avenida Los Proceres com a Carlos Soublette ficava a Panaderia los Proceres, um dos sócios era da Bairrada o outro da Madeira, e foi lá que com onze anos, em Setembro ou Outubro, mesmo antes de começar a escola, comecei a perceber o que era  vida. Servir ao balcão, tirar cafés, limpar o chão, ajudar os padeiros e o pasteleiro, fazer de tudo um pouco. 

 

Começou por ser uma ajuda para a economia familiar que nos primeiros tempos não ia lá muito bem, e com o tempo passou a ser um hábito que se manteve até quase ao fim do Liceu.

 

Eram outros tempos, um tempo em que quem emigrava não eram os jovens licenciados e sim os operários do interior que se queriam educar os seus filhos e ter uma vida mais ou menos decente, só tinham um caminho a seguir, o caminho que os levava para longe da família, dos amigos e da vida que até aí tinham conhecido.

 

Nem sempre as coisas corriam bem e após um ano em que as coisas não correram nada bem e em que os meus pais comeram o pão que o diabo amassou, calhou-me a mim dar uma mão na economia familiar, felizmente as coisas compuseram-se e de uma necessidade passou a ser um hábito... que se manteve quase ininterruptamente até hoje. Mesmo assim não me posso queixar muito da minha sorte, muitos dos meus colegas da escola primária lá na aldeia já nem ao ciclo chegaram.

 

Hoje os tempos são outros, o mundo é outro e custa-me a acreditar que como diz a notícia do Público, haja crianças portuguesas que estão a emigrar para trabalhar, principalmente quando a mesma noticia diz que a emigração é para outros estados-membros da UE.

 

Se eu acho que me fez mal trabalhar? não, não acho, mas também  acho que podia ter sido muito melhor aluno se estudasse o mesmo que os meus colegas estudavam e tinha de certeza sido muito mais feliz se tivesse usado a minha infância e parte da minha juventude para jogar à bola,  fazer amigos e conquistar miúdas em lugar de estar o tempo todo com adultos.

 

Os tempos não são fáceis, mas estamos muito longe do que eram há 30 ou 40 anos acho que no meio disto tudo há gente a aproveitar-se da situação para pintar o quadro ainda mais negro do que ele realmente é, convém não confundir as coisas, mas espero sinceramente que quem diz e escreve estas coisas, mostre e denuncie os casos reais, para que todas as crianças de Portugal e do mundo possam ter direito à sua infância e juventude.

 

Jorge Soares

publicado às 21:20


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