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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Há por aí quem não consiga entender o verdadeiro significado do natal, não, não tem nada a ver com meninos, reis magos, estrelas e manjedouras... pelo menos para mim não tem.
Escrevi o texto abaixo em Dezembro de 2009,,,, já choveu alguma coisa desde essa altura, mas nada mudou...
Há uns anos... bem, há muitos anos, quando a internet dava os primeiros passos, a Atarraya era uma mailing list de estudantes venezuelanos no estrangeiro, um sitio onde discutíamos tudo e mais alguma coisa. Já nem sei como fui lá parar, no natal sugeri que trocássemos postais de natal, o Brito era o intelectual da lista, vivia no Japão e nunca me vou esquecer a resposta dele:
- Jorge, eu sou ateu e não festejo o natal, mas terei todo o gosto em enviar-te um postal para o dia dos inocentes.
O dia dos inocentes é o equivalente latino-americano do dia das mentiras, festeja-se a 28 de Dezembro.
Acho que todos sabem que sou ateu, não acredito em deus e muito menos num Jesus Cristo nascido numa manjedoura que mais tarde ressuscitou de entre os mortos. Na semana passada e em jeito de provocação, a Stilleto a propósito do meu post sobre o nosso natal, dizia que não entendia o que festejam os ateus nesta altura.
Não sou tão radical como o Brito, eu festejo o natal, não o natal religioso, esforço-me por não festejar o natal actual, o do consumismo, mas festejo o meu natal, o da festa da família e porque não?... O das tradições. Até porque muito antes da existência do cristianismo já por esta altura se festejava o solstício do Inverno, o renascimento da natureza que resultará de os dias começarem a ser maiores. Com o tempo a tradição foi mudando e a igreja, como em muitas outras das suas celebrações, apropriou-se destas datas para a sua festa de natal.
O que festejo eu?...para mim o natal é uma festa familiar, a altura de reunir as famílias, de partilhar afectos e presentes. Para mim ser ateu não significa renegar tradições, a ceia de natal, o bacalhau com batatas, bilharacos, rabanadas, pan de jamon, bolo-rei. Troca de presentes à lareira, árvore de natal e presépio, haverá quem diga que algumas destas coisas são tradições católicas, todas estas coisas ou já existiam há 2000 anos ou tem menos de 200 anos.... tirando talvez o presépio, tudo o resto tem a ver com a família e connosco e nada que ver com a igreja.
Cá em casa, e por agora, o único ateu sou eu .. e faz parte da minha forma de estar no mundo, o respeito das crenças das pessoas que estão à minha volta... natal incluído e se há coisa que não festejo é o dia dos inocentes... nem o das mentiras.
Jorge Soares
PS: Cá em casa já não sou o único ateu.. e só não somos mais porque há quem apesar da sua inteligência e perspicácia, se recuse a falar ou sequer a pensar no assunto.
Imagem do Facebook
Por acaso passou ao lado daqui do blog, mas não me passou ao lado a mim, há duas ou três semanas um vídeo em que em Mourão em nome de uma qualquer tradição se podia ver como alguém tentava pegar fogo a um gato deixou as redes sociais em polvorosa, virou noticia nos meios de comunicação e levou inclusivamente a que a GNR tomasse conta do assunto.
A semana passada, via RTP 2, milhares de pessoas puderam ver em vivo, em directo e a cores, não um mas vários touros a serem perseguidos, picados com ferros e vitimas de outros maus tratos de uma crueldade evidente, curiosamente para além dos (poucos) mesmos de sempre, não vi mais ninguém escandalizado com tamanha crueldade com os pobres animais.
Há alguma diferença entre a crueldade com gatos e a crueldade com touros? A tradição de prender fogo a um gato é menos importante do que a tradição de espetar ferros e até matar os touros? (pelo menos em Barrancos mata-se o touro).
Porque é que a GNR toma conta da ocorrência e promete levar à justiça quem maltrata um gato e não faz o mesmo para com quem completamente identificado e via televisão, maltrata não um mas vários touros?
E por fim, onde andam os milhares que se indignaram, fizeram e/ou assinaram petições online e levantaram tanta poeira nas redes sociais com o que alguém fez ao pobre gato? Os touros não lhes merecem a mesma indignação? Ou tudo não passa de indignação e hipocrisia momentânea?
Jorge Soares
Imagem de aqui
Dos mais de 60 comentarios ao meu post sobre as 24 matriculas do Dux de Coimbra, ler aqui, gostava de destacar este da Dulce:
Estudei em Coimbra, Licenciatura, Mestrado, Doutoramento. Junto com vida pessoal somo 3 filhos, um divórcio, 2 casamentos, 5 mudanças de casa, a construção de habitação própria, etc., etc. e trabalho há mais de 20 anos.
24 anos é muito tempo, tal como o Jorge diz.
Estudei em Coimbra sei do que o José Silva está a falar. É-se obrigado a beber sim, senão a humilhação ou outras punições sobem de tom. Há raparigas violadas na primeira noite em que vão a "jantares de curso" e são embebedadas por um "veterano" qualquer. Somos todos obrigados a obedecer aos mais velhos, a servi-los, a fazermos coisas que não queremos fazer.
Ser apanhado numa trupe e rapado é uma humilhação. No dia seguinte aparece-se nas aulas com o corte de cabelo que deu para fazer depois do rapanço e as humilhações continuam. A ideia original de manter os caloiros em casa depois de determinadas horas há muito tempo que se perdeu, é uma farsa.
A própria Queima das Fitas é um exagero de alcool e comportamentos impróprios até para uma pessoa sem nenhuma formação, quanto mais para pessoas a finalizarem a sua licenciatura. Não sei como há tolerância a isto a que chamam praxe.
E o que se tem passado nos últimos anos é demasiado grave para agora se vir defender uma prática que é responsável pela morte de várias jovens.
A praxe é um bullying com supostas regras que há primeira cerveja são esquecidas.
Para encerrar o assunto e em jeito de conclusão, gostava de dizer o seguinte:
Se lermos com atenção os comentários aos meus posts e a todos os outros, podemos tirar as seguintes conclusões:
1 - Em Coimbra, e de resto um pouco por todo o país, há dois tipos de praxes, as regulamentadas e supostamente controladas, já lá vamos ao supostamente, e todas as outras.
2 - Em ambos os casos o objectivo será o mesmo, a integração e o conhecimento da universidade.
3- Para a maioria das pessoas que defende as praxes, só o que acontece de acordo com o regulamento é praxe, os abusos não são praxe, são outra coisa qualquer que deve ser punido não pelas universidades, associações de estudantes ou comissões de praxe, mas pelo estado, é para isso que existem leis.
4 - Em Coimbra supostamente existe um regulamento de praxes que impede os abusos, e até a praxe depois das 23:30, regulamento esse que pelos vistos contempla e permite a existência de algo que se chama Trupe, que mais não é que um bando de energúmenos que durante a noite e valendo-se da superioridade numérica, atacam cobardemente os caloiros aos que cortam o cabelo em contra da vontade destes. Podem ler este artigo de opinião do Público onde alguém relata a coisa em primeira pessoa.
A mim custa-me a entender como depois dos exemplos deixados pela Dulce no comentário acima, pela Golimix neste post, e por tanta outra gente em reportagens de televisão ou nos jornais, ou em outros blogs, continue a existir quem defenda a praxe quase como se de uma questão de fé se tratasse. Está à vista que os regulamentos da UC e das outras faculdades não passam de meras figuras de estilos e a realidade é muito diferente daquilo que se pretende pintar.
Ontem ouvi o DUX da Escola Superior Agrária de Coimbra, de onde supostamente saiu a fotografia do meu Post e que segundo alguns dos comentários será famosa pelas praxes violentas, dizer numa das televisões que lá não se passa nada, a praxe deles consiste em fazer os caloiros apanhar uvas... eles também tem um regulamento e não há abusos...
Parece que para a maioria das faculdades o facto das coisas acontecerem fora dos muros da universidade funciona como uma forma de desresponsabilização, como se caloiros e demais alunos deixassem de ser estudantes ao sair da porta da faculdade... além disso, é suposto as praxes serem uma forma de integração na universidade.
Concluindo, há coisas que não tenho duvidas:
Chamem-lhe o que quiserem, o que aconteceu no Meco tem a ver com praxes
As praxes são uma forma de bullying sim e está visto que as universidades não sabem, não querem ou não conseguem lidar com o assunto, pelo que terá que ser alguma entidade externa a faze-lo, já seja regulamentando e fiscalizando ou simplesmente proibindo-as.
Jorge Soares
Quando eu era pequeno a Páscoa tinha dois dias, Domingo e Segunda-feira, nos tempos da outra senhora trabalhava-se na sexta e era feriado na segunda, isto porque em Palmaz o padre visitava todas as casas da aldeia, no Domingo ia às que estão a norte do rio Caima e na segunda-feira às que estão a sul. A minha casa era a norte, a dos meus avós paternos era a sul, eu tinha Páscoa no Domingo e na segunda.
Nesse tempo a Páscoa era feita do almoço de Domingo, um dos poucos dias do ano em que se via carne de vaca na nossa mesa, de pão de ló e de amêndoas. As minhas preferidas eram as pequeninas que o meu avô me trazia, mais pequeninas e redondas que as outras, eu gostava porque eram as únicas que em lugar de uma amêndoa amarga que eu detestava, tinham um amendoim no centro.. que eu adorava.
Com 10 anos o meu mundo mudou, a Páscoa na Venezuela era bastante diferente, era feita de coelhinhos que por alguma estranha razão trazem ovos coloridos às crianças, não havia visitas de compasso pascoal nem padres a recolher envelopes com dinheiro, em contrapartida havia um passeio a pé pelo centro da cidade na tradicional e concorrida visita a sete igrejas.
Com 20 anos o meu mundo voltou a mudar, mas a Páscoa na aldeia também tinha mudado, o feriado agora era à sexta, continuava a haver compasso pascoal, mas agora raramente víamos o padre, quem transportava a cruz era algum dos vizinhos.. é claro que o envelope com o dinheiro continuava a ser recolhido.. há coisas que não mudam. E claro, continua a haver amêndoas, muitas mais e de muitos mais tipos, não há muitos coelhos, mas em contrapartida há muitos e muito maiores, ovos de chocolate.
As origens da Páscoa remontam à antiguidade, era a festa das flores e da fertilidade, com o cristianismo tornou-se a festa da morte e da ressurreição, agora é a festa do fim de semana prolongado e dos ovos de chocolate. Alguém me explica o que se passou entretanto? O que tem a ver coelhos com ovos de chocolate coloridos e o que tem tudo isto a ver com a pascoa?
Jorge Soares
Ouvi a pergunta na sexta na Antena 1, o que há para festejar? é uma pergunta pertinente, passados 100 anos dificilmente haverá alguém que lá tenha estado e nos possa contar o que veio de novo com a República... afinal, o 25 de Abril foi há bem menos tempo e a maioria de nós não sabe o que veio de novo com ele, porque haveríamos de ter a noção do que ganhámos há 100 anos?
A diferença entre uma república e uma monarquia constitucional não será assim tão grande, na Europa da que agora fazemos mesmo parte, há várias monarquias e eles sobrevivem... às vezes bem melhor que nós... mas isso é agora, há 100 anos as coisas eram bem diferentes.
Há 100 anos a República pretendeu em primeiro lugar estabelecer uma tentativa de igualdade entre todos os cidadãos, no Portugal do inicio do século XX existia uma monarquia em que uma pequena parte da população tinha como garantidos uma série de direitos e benefícios que eram instituídos por tradição e por herança, o resto da população era considerada quase como cidadãos de segunda e que em muitos casos tinham como função de vida servir de servos aos senhores.
Estamos no século XXI, há muito que a ideia do sangue azul, de haver cidadãos de primeira e segunda, acabou, custa-me entender que existam pessoas que se sentem com direito a ser reis por tradição, as pessoas devem ser eleitas pelos seus méritos, devem ser sujeitos a escrutínio e a eleição. É verdade que a nossa república não é perfeita, os nossos governantes não serão perfeitos, mas estão lá porque foram escolhidos e eleitos por nós.. e sabemos que passados 5 anos haverá novas eleições e uma nova possibilidade de escolher outros.. que farão melhor ou pior... mas que serão sempre julgados e avaliados por nós... quem avalia um rei?
Haverá quem diga que um rei serve para reinar, não para governar... mas na actualidade, no mundo em que vivemos, o que significa reinar? para que serve um rei?, estaríamos nós dispostos a prestar vassalagem a alguém que é igual a nós?, que simplesmente está ali porque tem um apelido? estaria algum de nós disposto a prestar vassalagem a este senhor? E depois, o que faz de um rei um melhor governante que qualquer um dos restantes cidadãos de um país?.. isso vem por herança?
Desculpem lá, mas eu acho que o país já teve a sua dose de governantes idiotas... monarquia não!
Jorge Soares