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O verdadeiro espírito da adopção

por Jorge Soares, em 13.01.13

Adopção de crianças mais velhas

Imagem de aqui


 

"Fui candidata e assim me tornei mãe, a mais feliz do mundo.


Dei este passo pelo meu desejo profundo de ser mãe, mas de coração completamente aberto: quero ser a mãe de quem me quiser para mãe.

Sem questões de género, etnia, idade, saúde... Foi rápido? Foi. É pequenino, branquinho, saudável? Não.


É o meu filho que amo perdidamente, porque assim meu coração o quis ter e sobretudo porque o coração dele assim me quis..."


Sofia G. (num comentário a este post)

 

É este o verdadeiro espirito da adopção... bom, pelo menos deveria ser.


Para quem possa interessar, recebi 3 emails em resposta ao post sobre aquela criança que espera uma família, pessoas que ainda não são candidatos à adopção mas que sonham com o ser.

 

Pelos mails que recebi tenho alguma esperança na vontade das pessoas, mas dada a minha experiência com o funcionamento da segurança social e a forma de agir e pensar de algumas assistentes sociais, tenho sérias dúvidas que esta criança possa vir a ter uma família... afinal não há muita gente que queira um filho de 13 anos.

 

É claro que podia ser diferente, mas para isso todos devíamos pensar como a Sofia e olhar para a adopção como sendo a forma de encontrar uma família para uma criança, infelizmente a realidade é outra, em Portugal a adopção é a forma de encontrar uma criança para uma família... e por isso há crianças como esta.. mais de 500, que esperam por algo que nunca vai acontecer

 

Jorge Soares

publicado às 22:54

Ganhou o Hugo Chavez, Quo Vadis Venezuela?

por Jorge Soares, em 08.10.12

Hugo Chavez, ganhou as eleições na Venezuela

Imagem do Público

 

Soy venezolana por que mis padres así lo quisieron, ellos emigraron de su tierra a este país hace más de 50 años buscando un futuro. Venezuela los recibió y aqui construyeron su vida, dónde ahora no quiero que ellos la pierdan a manos de la violencia, ni a ellos ni ninguno de los míos. Será que ahora toca ser extranjero en la tierra de ellos? No me puedo imaginar la vida en un país donde el hampa se ha convertido para los venezolanos en el mayor peligro que existe. No quiero seguir con el toque de queda que nos imponen los malandros, que cada vez que salgo o entro tengo que estar pidiendo al cielo que nada nos pase, porque sólo Dios nos puede cuidar, yo no tengo escoltas mi familia tampoco... no somos ricos, pero ya sabemos que aqui matan hasta por un celular. Me da terror señores TERROR seguir viviendo en estas condiciones. No sigo porque tengo demasiados sentimientos de dolor y no me caben las palabras!


Sou venezuelana porque os meus pais assim o quiseram, eles partiram da sua terra para este país há mais de 50 anos à procura de um futuro. A Venezuela recebeu-os e aqui construíram a sua vida, onde agora eu não quero que eles a percam às mãos dos marginais, nem eles nem ninguém dos meus. Será que agora me calha ser estrangeira na terra deles? Não consigo imaginar a vida num país onde os marginais se converteram no maior perigo que aflige os seus habitantes. Não quero continuar a viver neste recolher obrigatório imposto pelos ladrões, que cada vez que entro ou saio me obrigam a pedir aos céus para que nada me aconteça, porque só a Deus nos podemos confiar, nem eu nem a minha família andamos com seguranças .. não somos ricos, mas já sabemos que aqui matam até por causa de um telemóvel. Eu tenho TERROR, terror de continuar a viver nestas condições. 

 

O texto acima e que tentei traduzir, foi escrito hoje no Facebook por um dos meus familiares que ainda vivem na Venezuela e acho que é suficientemente elucidativo sobre a forma como hoje em dia, quase 20 anos depois da chegada de Hugo Chavez ao poder, se vive por lá.

 

aqui defendi mais que uma vez o Hugo Chavez, nos vários posts já tentei explicar não só os motivos da sua chegada ao poder numa altura em que o país e a sociedade estavam a um passo do abismo, como também o facto dele não ser mais um ditador latino-americano e sim um dirigente democraticamente eleito.

 

É evidente que a palavra democracia serve para muitas coisas, e basta olhar para a Madeira para se perceber que é mesmo para muitas coisas, mas se ele continua no poder é porque o povo vota nele..e esta vez o povo voltou a votar nele... 

 

Contudo, e voltando ao inicio do Post, a verdade é que por muito que ele tenha melhorado em muito a vida de uma enorme percentagem da população, principalmente das franjas mais pobres, a verdade é que a insegurança, em Caracas os assassinatos contam-se às centenas todos os fins de semana, está de novo a levar o país a uma situação insustentávelel e não me parece que Chavez e os seus ideais Bolivarianos consigam resolver algo que só piorou desde que ele chegou ao poder.

 

Não sei se a solução seria ou não Capriles, mas está mais que claro que já era altura de que algo mudasse e pensando bem, difícil mesmo era que as coisas piorassem.

 

Vivi 10 anos na Venezuela, um país que me acolheu de braços abertos e que apesar de ser estrangeiro me fez sentir em casa desde o primeiro dia, é com uma enorme tristeza que olho para tudo isto.

 

Jorge Soares

publicado às 21:23

Orgulho por portugal

 

Imagem do Ainanas.com 

 

Não foi um grande jogo, mas foi sem dúvida o jogo mais difícil da Espanha neste Euro de 2012, ao contrário de todas as outras equipas que jogaram contra eles, nós não mudámos nada, jogamos o nosso jogo com o nosso esquema habitual, de olhos nos olhos, com respeito pela equipa que é campeã da Europa e do mundo, mas sem medo.

 

Antes do inicio do Europeu havia muita gente a torcer o nariz a este grupo e este treinador, havia inclusivamente quem dissesse que era Ronaldo, Nani e uma mão cheia de jogadores medianos, que era a pior equipa dos últimos tempos. Com o decorrer dos jogos viu-se que nada disso é verdade, esta equipa é tão digna e tem tanto ou mais valor que qualquer uma das que nos representaram do Euro 2000  para cá. Não, não é Cristiano Ronaldo e mais 10, é uma equipa recheada de excelentes jogadores que conta com um dos dois melhores jogadores do mundo.

 

Hoje caímos de pé, não me lembro de termos perdido alguma vez nos penalties, acho que nos meus 44 anos de vida isso nunca aconteceu, os penalties são sempre uma lotaria em que a sorte pode cair para cada um dos lados, hoje a sorte caiu para o lado espanhol, alguma vez tinha que ser.

 

Devemos ter orgulho nesta selecção, nestes jogadores,  neste treinador, caímos de pé e com muita honra, não é vergonha nenhuma, mas custa tanto!

 

Jorge Soares

publicado às 22:56

Como entrego o meu bebé para adopção?

por Jorge Soares, em 10.05.12

Como dar o meu bebé para adopção?

Imagem de aqui

 

"Gostaria de  obter informações sobre dar o meu bebé para adopção.

Mas estive a ler e as coisas levam muito tempo a ser tratadas, não quero mesmo que o bebé esteja numa instituição.

Gostava de encontrar uma família e ser eu a escolher."

 

Esta vez foi por mail, mas também já foi nos comentários deste blog ou no Nós adoptamos, já é a terceira ou quarta vez... e eu fico sempre de rastos, porque de uma forma ou outra eu sinto nas palavras destas futuras mães o desespero de quem está a tomar uma decisão que as marcará para a vida,  a elas e ao filho que levam no ventre.

 

Apesar de que conheço muita gente que está há muito tempo à espera para adoptar e que receberiam estas crianças de braços abertos e com todo o amor do mundo, a minha resposta é sempre a mesma:

 

Em Portugal legalmente não há nenhuma forma de que uma mãe entregue o seu bebé para adopção directamente a quem o vai adoptar.

 

A única forma de se entregar um filho para adopção é manifestando essa vontade antes ou no momento do parto, e isto deve ser expresso de forma clara e por escrito. Quando assim acontece, o bebé é levado no momento do nascimento e a mãe não o volta a ver.

 

Como há um prazo de seis semanas em que a mãe pode voltar atrás, o bebé é encaminhado para um centro de emergência infantil, findo este prazo o processo é entregue ao tribunal de família e segue os tramites normais até que é decretada a adopção.

 

Muitas vezes o juiz que recebe o processo quer tirar todas as duvidas e exige que a mãe vá ao tribunal dizer em viva voz que mantém a sua decisão... por vezes passam-se anos até que conseguem encontrar a mãe ou até que desistem...entretanto a criança que já podia estar com uma família, continua institucionalizada....

 

Repito, legalmente e sem esquemas pelo meio que depois levam  a casos como o da Esmeralda e o da Miúda Russa, esta é a única forma legal de entregar um bebé para adopção.

 

Jorge Soares

publicado às 22:15

Voando papagaios em Albarquel

por Jorge Soares, em 15.09.10

 

Fim de tarde em Albarquel

 

Imagem minha do Momentos e olhares

 

Viver em Setúbal tem coisas excelentes, hoje saí de Loures eram quase 18:15, mesmo assim, ainda deu para chegar a casa pegar na família e ir voar papagaios para a praia de Albarquel.

 

Apesar de estar nublado, o sol a pôr-se entre a serra da Arrábida e as nuvens pintou o céu de um dourado fantástico, isto conjugado com o reflexo de toda esta luz dourada na água deu um daqueles pôr do sol com um ambiente de cortar a respiração ... e eu que deixei a máquina fotográfica em casa.

 

E lá estávamos nós a tentar fazer voar um papagaio junto ao mar, depois de um bocado a coisa estava a funcionar e o papagaio voou mesmo, cheio de cor a contrastar com o cinzento dourado do céu e com a sua cauda cor de rosa... voava mesmo.

 

De repente a minha meia laranja virou-se para o N.  e disse:

 

- Pronto, agora já cumpriste o teu sonho de fazer voar um papagaio.

 

Dei por mim a pensar... eu nunca na vida tinha voado um papagaio.... fiquei nostálgico, não pelos papagaios.. mas sim por tantas outras coisas ....

 

Jorge Soares

publicado às 22:09

Adopção em portugal

Imagem retirada da internet

 

"Porque é que alguém que mora em Oeiras, se mora do lado da rua que pertence ao conselho de  Oeiras tem que esperar em média 7 anos para que lhe seja atribuída uma criança, mas se viver do lado da rua que está no concelho de Lisboa tem que esperar só um ou dois anos para uma criança com as mesmas características?"

 

Esta pergunta foi feita já ao final do dia por um dos assistentes sociais que faz parte das equipas de adopção de Lisboa e que na passada Segunda feira estava, tal como eu, a participar no Encontro nacional de Adopção que aconteceu em Lisboa.

 

É uma pergunta pertinente, estou inscrito como candidato à adopção vai fazer um ano e meio, desde então já soube de pelo menos dois casais que se inscreveram depois de mim e que receberam uma criança com as características que nós colocamos, ambos os casos em Lisboa. Como se explica isto?

 

Quem assistiu ao encontro na segunda feira consegue perceber, a verdade é que cada serviço de adopção trabalha para si e nas costas dos restantes. Existe um manual de procedimentos que supostamente é seguido, mas que depois cada um adapta à sua maneira e da forma que entende. E isto é válido para todo o processo, desde a forma como se avalia até à forma como se atribuem as crianças. 

 

É claro que isto cria enormes assimetrias, se em Lisboa há muitas crianças, há distritos onde há muito poucas, e os candidatos desses distritos tem que esperar muitos anos, mesmo quando no distrito ao lado há crianças para as que supostamente não há pais.

 

Evidentemente a pergunta com que inicio o post ficou sem resposta, a verdade é que cada serviço de adopção olha para o seu quintal, as suas crianças,  os seus candidatos e é incapaz de fazer um esforço por olhar para o lado, para ver se no quintal do lado há uns pais para aquela criança que está à espera há anos, ou uma criança para aqueles pais que desesperam há anos.

 

A sensação com que fiquei ao fim do dia na passada segunda feira, é que por muita vontade que se tenha, por muitas ideias, por muitos sonhos, a segurança social é uma montanha enorme, há muita gente, muitos quintais, e por muito que se olhe para os problemas, não há na montanha quem tenha vontade de a mover.

 

Dizem que a fé move montanhas, infelizmente neste caso não me parece que exista fé que faça mudar o que quer que seja.. a segurança social, as muitas equipas de adopção são uma montanha grande demais e nem toda a fé do mundo irá mudar esta montanha.

 

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:42

Adoptar em Portugal..e o sonho vai morrendo

 

Ando há uns tempos a adiar o meu post mensal sobre a nossa espera, durante o verão a nossa esperança por um rápido desenrolar do nosso processo foi crescendo, as noticias eram animadoras.... até ao fim do verão... O verão passou, e nós esperamos. Esta semana a P. ligou para a segurança social de Setúbal, há um ano as perspectivas eram dois anos de espera, agora passou para três.. seria um balde de água fria... não fosse nós já estarmos habituados a este tipo de coisas.

 

Há pouco estava a ler este texto da Susana no blog  nós adoptamos e fiquei a pensar, em como se matam os sonhos. Porque a verdade é que à medida que o tempo vai passando, o sonho vai morrendo... os sonhos não morrem????!!!!... mas pouco a pouco vamos deixando de acreditar.... vamos tendo menos capacidade para sonhar.

 

O caso da Susana é muito especifico, ela quer uma criança até um ano, e todos sabemos que há muito poucas crianças com essas características, mas nós queremos uma criança até à idade escolar, sem descriminação de raça e deixamos claro que poderíamos aceitar uma criança com alguns problemas de saúde....

 

Entretanto a raiva vai crescendo dentro de mim cada vez que sei de mais um caso de alguém que se inscreveu depois de nós e recebeu uma criança com as características que colocamos.... é uma raiva que vai crescendo devagarinho... é claro que todos estes casos são em Lisboa, mas será justo que as pessoas de Lisboa passem à frente de todo o resto do país?

 

Não me vou estender... só deixo aqui um comentário da mesma Susana

 

"Mais uma vez, ontem vi na SIC no novo programa da Fátima Lopes 2 mulheres que adoptaram crianças uma com 19 mêses e outra com 15 dias. Como é possivel adoptar uma criança com 15 dias? Então não nos dizem que até a criança ter o processo resolvido leva cerca de um ano? A Srª que adoptou a criança de 19 mêses esteve 4 anos à espera, a outra não sei porque não ouvi a reportagem desde o inicio. Ao ver estes testemunhos ainda me sinto mais revoltada e desmotivada."

 

Não há maneira absolutamente nenhuma de que alguém receba pela via legal, uma criança de 14 dias..... será que não há quem investigue estas coisas?

 

 

Porque 

não vens agora, que te quero 

E adias esta urgencia? 

Prometes-me o futuro e eu desespero 

O futuro é o disfarce da impotência.... 

 

Hoje, aqui, já, neste momento, 

Ou nunca mais. 

A sombra do alento é o desalento 

O desejo o imite dos mortais.

 

Miguel Torga

 

Jorge Soares

publicado às 21:45

Conto:A fita Vermelha

por Jorge Soares, em 19.09.09

Imagem minha do Momentos e olhares

 

Eu tinha começado a ensinar. Era muito nova então. Quase tão nova como as meninas que eu ensinava. E tive um grande desgosto. Se recordar tudo quanto tenho vivido (já há mais de vinte anos que ensino), sei que foi o maior desgosto da minha vida de professora. Vida que muitas alegrias me tem dado. Mais alegrias do que tristezas.

 

Se vos conto este desgosto tão grande, não é para vos entristecer. Mas para vos ajudar a compreender, como só então eu pude compreender, o valor da vida. O amor da vida. O valor de um gesto de amor. O seu «preço», que dinheiro algum consegue comprar.


Eu ensinava numa escola velha, escura. Cheia do barulho da rua, dos «eléctricos» que passavam pelas calhas metálicas. Dos carros que continuamente subiam e desciam a calçada. Até das carroças com os seus pacientes cavalos.


A escola era muito triste. Feia. Mas eu entrava nela, ou digo antes, em cada aula, e todo o sol estava lá dentro. Porque via aqueles rostos, trinta meninas, olhando para mim, esperando que as ensinasse.


O quê? Português, francês. Hoje sei, acima de tudo, o amor da vida.

 

Com toda a minha inexperiência. Com todos os meus erros. Porque um professor tem de aprender todos os dias. Tanto, quase tanto ou até muito mais que os alunos.


Mas, desde o primeiro dia, compreendi que teria nas alunas a maior ajuda. O sol, a claridade que faltava àquela escola de paredes tristes. A música estranha e bela que ia contrastar com os ruídos dos «eléctricos», dos automóveis da calçada onde ficava a escola. Até com o bater das patas dos cavalos que passavam de vez em quando.


Porque, mais do que português e francês, havia uma bela matéria a ensinar e a aprender. Foi nessa altura que comecei mesmo a aprender essa tal matéria ou disciplina – ou antes, a ter a consciência de que a aprendia.


Eu convivia com jovens (seis turmas de trinta alunas são perto de duzentas) que no princípio de Outubro me eram desconhecidas. Cada uma delas representava a folha de um longo livro que no princípio de Outubro me era desconhecido. Todas eram folhas de um longo livro por mim começado a conhecer. Não há ser humano que seja desconhecido de outro ser humano. Só é precisa a leitura.


Eu tinha agora ali perto de duzentas amigas. Todas aquelas meninas confiando em mim, esperando que as ensinasse; sorrindo, quando eu entrava, assim me ensinavam quanto lhes devia.


Mas um dia. Eu conto como aconteceu o pior. E conto-o hoje, a vós, jovens, que me podem julgar. Julgar-me sabendo este meu erro. E evitarem, assim, um erro semelhante para vós mesmos.


Já era quase Primavera. Na rua não havia árvores nem flores. Só os mesmos carros com o seu peso e a violência da sua velocidade. Gritos de vez em quando. Uma Primavera só no ar adivinhada.


Numa turma uma aluna faltava há dias. Era a Aurora. Morena, de grandes olhos cheios de doçura. Talvez triste. A Aurora estava doente. Num hospital da cidade, numa enfermaria. Num imenso hospital. Olhei o retratinho dela na caderneta.


Retratinho de «passe», num sorriso de nevoeiro de uma modesta fotografia. Tão cheia de doçura a Aurora! Doente, do hospital tinha-me mandado saudades.


— Vou vê-la no próximo domingo — anunciei às companheiras. E tencionava ir vê-la mesmo no próximo domingo.


Mas o próximo domingo foi cheio de Sol. Sol do próprio astro, quente, luminoso. Igual e diferente, ao mesmo tempo, do sol-sorriso das meninas.
E eu, a professora, ainda jovem, que gostava do Sol, fui passear. Ver mar? Campos verdes? Flores?


Já nem me lembro. E da Aurora me lembraria se a tivesse ido visitar.
Começava a Primavera.


Adiei a visita naquele próximo domingo, para outro dia, para outro próximo domingo.


Hoje sei que o amor dos outros se não adia.


Aurora esperou-me toda a tarde de domingo, na sua cama branca, de ferro.


Tinha posto uma fita vermelha a segurar os cabelos escuros. Esperava-me, esperava a minha visita, cuja promessa as companheiras lhe haviam transmitido.


Veio a família: mãe, pai, irmãos, amigos, as colegas.
— Estou à espera da professora…


No dia seguinte a doença foi mais poderosa que a sua juventude, a sua doçura, a sua esperança.


A cabeça escura, sem a fita vermelha, adormeceu-lhe profundamente na almofada, talvez incómoda, do hospital. Sabemos todos já, amigos, que há vida e morte. Também isso temos de aprender.


Não fiquem tristes por isso. Vejam como as flores nascem quase transparentes da terra, como as podemos olhar à luz do Sol, e morrem, para de novo nascerem.


Lembrem-se como de um ovo de pássaro podem sair asas que voem tão alto em dias de Primavera. E morrem, também, e todas as primaveras nascem de novo. E, sobretudo, lembrem-se do coração de cada um de nós, desta força imensa.


E não adiem os vossos gestos. Procurar alguém que sofra, que precise de nós, nem sequer é um gesto generoso, deve ser um gesto natural que se não adia.


Às vezes até precisamos uns dos outros para dizermos que estamos felizes, contentes. Só para isso. Mesmo felizes precisamos dos outros.
*
Aurora ensinou-me para sempre esta verdade.


As lágrimas que por ela chorei já não lhe deram aquela visita do próximo domingo.
Nem a mim a alegria de a encontrar sorrindo, cheia de doçura, com uma fita vermelha a prender os cabelos escuros. Vermelha de sangue, como a vida. O Sol. Flores vermelhas.
Aurora era o seu nome. E a sua vida uma manhã apenas que, na minha distracção ou egoísmo, não tive tempo de olhar. Uma manhã com uma fita vermelha. Que lágrima nenhuma pode reflectir.


Matilde Rosa Araújo
O Sol e o Menino dos Pés Frios
Lisboa, Livros Horizonte Lda, 2001

 

Retirado de Contos de Aula

publicado às 22:30

No dia da criança:Os olhos do nosso filho

por Jorge Soares, em 01.06.09

Os olhos do meu filho

 

Os olhos do nosso filho

 
Os olhos do nosso filho
São ainda de cor incerta
Não sei sequer se existem
Vão ser de Deus uma oferta
 
Existem na minha alma
Cravados no meu semblante
Os olhos do nosso filho
Que teve nascer errante
 
Foste esculpido a preceito
Nas entranhas de outro ser
Não vais sorver do meu peito
Este meu longo querer
 
E nestas voltas da vida
Cuidou-te Deus sem saber
Para que não herdes no sangue
Este meu estéril sofrer
 
Não vais nascer de mim
De outro ventre virás
Mas filho da minha alma
Tão amado serás!
 
E nesta triste incerteza
Me pergunto em desalento
Já nascente de alguém?
Ou é Deus que te traz?
 
Ala dos Reis

 

 

Não vou à bola com os dias, nem com este nem com nenhum.... feitio... porque este é um dia de prendas, de consumo..deveria ser um dia para reflectirmos, pensar em todas as crianças que não tem família, que não tem que comer, que não tem onde dormir...e são tantas, tantas.

 

Jorge

PS:Fotografia minha.. poema de alguém que anseia por dar amor.

publicado às 21:48

 

Pelo direito a uma família

 

Ia escrever o meu post mensal sobre a nossa  espera, mas não há muito para dizer, a P. ligou esta semana para a segurança Social, só para elas se lembrarem de nós, perguntou para as nossas características quantas pessoas ainda estavam à nossa frente... 13, foi a resposta. Estes dias soube de um casal que se inscreveu depois de nós em Lisboa e já há uns meses que recebeu uma criança com as características que nós colocamos.... alguém falou de lista nacional de adopção? ..... não?, pois, bem me parecia.  Entretanto o processo avança em Cabo Verde. 

 

Bom, mas não era disso que ia falar, certamente que se lembram da campanha nacional que organizamos e da petição para o dia nacional da adopção, a ultima vez que vi havia mais de 5000 assinaturas. Depois da entrega das assinaturas na Assembleia da Republica, e da apresentação da petição aos diversos grupos parlamentares, o bloco de esquerda decidiu avançar com uma moção que foi discutida há umas semanas atrás. 

 

Todos os partidos acharam o tema relevante, o PS achou que apesar do tema ser importante, não justifica a existência de um dia nacional, já há o dia da criança e portanto nesse dia podemos celebrar o que quisermos. Eu não estive lá, não sei se foram estas as palavras exactas, mas foi esta a ideia. Entretanto a moção nem foi a votação, e caberá ao governo decidir.. sendo o governo do PS.... 

 

Já o disse aqui várias vezes, sou contra os dias, não gosto, pronto, aderi à ideia de mais este dia porque acho que qualquer iniciativa que chame a atenção para a problemática da adopção, para as crianças que estão esquecidas nos centros de acolhimento, para as crianças que crescem sem nunca conhecerem o amor e o calor de uma família,  é uma iniciativa importante.

 

O PS não acha importante, o partido do governo não acha importante.... é pena. Este é um ano de eleições, muitas eleições, eu ainda não sei em quem vou votar, mas já tenho a certeza de em quem não vou votar...  quem não acha o tema da adopção importante, quem não acha que chamar a atenção para as crianças esquecidas é importante,.... não merece o meu voto.

 

Jorge Soares

publicado às 21:36


Ó pra mim!

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