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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem da internet
O estudo é da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) e pode ser lido aqui. O primeiro sentimento que me ocorreu quando comecei a ouvir noticias que dizem que 22% dos jovens consultados aceitam como normal a violência sexual, foi a incredulidade. Estamos em 2016, vivemos num país europeu com educação e cultura ocidental... logo, não pode ser possível que quase um quarto dos jovens possa pensar assim.
É verdade que a violência doméstica continua a ser uma realidade em Portugal, todos os anos são assassinadas entre 30 e 40 mulheres. Apesar de haver uma maior consciência para o assunto e de aumentarem as denuncias, a verdade é que estes números não descem e o nível de violência se mantém... e a julgar pelos resultados deste estudo, irão manter-se por muito tempo.
Algures no século passado Portugal era um país em que os maridos podiam por e dispor sobre a vida das mulheres com quem casavam, todos temos a percepção de que esse tempo acabou há muito, como é que explicamos que 23% dos jovens pensem que pressionar para beijar e pressionar para ter relações sexuais não é violência no namoro? Ou que uma boa parte pense que pode dizer com quem pode ou não falar a namorado ou namorado?
É evidente que há algo que está a falhar na forma como educamos os jovens portugueses, os diversos números apresentados no estudo mostram que há uma clara falta da percepção do que é o respeito pela liberdade e privacidade dos outros. Vivemos no século XXI mas e há jovens que acham normal poder espreitar o telemóvel do namorado ou namorada, ou que podem usar a força física para obrigar alguém a beijar ou ser beijado, ou a ter relações sexuais.
Há uns tempos a tentativa de tornar a educação sexual uma disciplina escolar foi motivo de muita polémica, sendo que havia pais que se opunham terminantemente a tal coisa, o que pensarão estes pais dos resultados deste estudo? Será que falam com os seus filhos do assunto?
Os números agora apresentados deveriam ser objecto de uma profunda reflexão, algo está a falhar nas nossas casas e nas nossas escolas. Será que sabemos educar os nossos filhos para o respeito e o civismo?
Jorge Soares
Retirado de Samizdat
Rui amava Andreia. Declaração feita na noite em que se conheceram e que a deixou encantada. Poderia haver quem não se deixasse amar da noite para o dia. Quem não se empolgasse com uma frase batida e um beijo de discoteca. Quem não se seduzisse pela oferta de uma imperial e de um apalpão indiscreto. Mas não Andreia. Tudo isto lhe pareceu de um grande requinte amoroso. E uma enorme prova de afeto.
Rui amava Andreia. Mesmo nos momentos em que ela falhava. Só não gostava da falha. Numa primeira vez disse-lho. Numa segunda teve que levantar a mão. E à terceira deixou-a estendida no chão. Mas amor também é isto: ajudar o outro a ultrapassar as suas limitações; a olhar-se ao espelho. E ele ajudava-a. Tinha essa consideração amorosa. Esse decoro em lhe dar a mão, quando ela nem o merecia.
Rui amava Andreia. Em cada reconquista que engendrava. Em cada momento que lhe limpava as lágrimas. Que lhe escondia as feridas. Que nela se vinha. Corpo nu e cru: depósito de vontades; de ímpetos de homem que o sabe ser; que ama o imperfeito. E Andreia agradecia-lhe a dedicação de com ela continuar. De nela procriar.
Andreia sentia-se amada por Rui. Mesmo no dia em que vozes se sobrepunham, pessoas a olhavam de cima e lhe mexiam no corpo - frio e repuxado de tanto afeto-. Alguém lhe tentou colocar qualquer coisa na cara mas ela desviou, com a pouca força que ainda lhe restava. Já chegava de máscaras. Quem disse que o oxigénio é a base da vida? Olhou então para o seu filho, sentado numa cadeira a um canto, chorando, reconfortado por uma qualquer mão que de gentil lhe ganhou o coração, e pensou em quão veloz pode uma vida ser. E quão despida de vida. Uma vida despida de vida. Hipóteses perdidas que se esfumaram de cada vez que se achou amada. Fugas idealizadas que terminaram no ponto de partida: invariavelmente.
E já a sombra lhe vai chegando quando o olhar do seu filho se perde. Fica para trás. Ela vai. Esvai-se. Às 23h59m do dia 7 de Setembro de 2013. Daí a uns segundos completaria 36 anos. Até no adeus Rui soube ser refinado.
Maria
Retirado de Monólogos de uma vagina
A violência doméstica não tem que ser para sempre, fale agora
707200077
Segundo a UMAR, Observatório de mulheres assassinadas, só no que vai de 2012 morreram em Portugal 35 mulheres vitimas de violência doméstica, 35 mortes que se somam às 44 de 2011, e às 43 de 2010, e às 29 de 2009 e....
Contas feitas concluímos que a violência doméstica mata em Portugal quase uma mulher por semana, de quantas delas ouvimos falar? Basta que alguém morra vitima de um assaltante para que o assunto seja tema de jornais e noticiários de televisão durante dias e dias, mas morrem dezenas de mulheres vitimas de aqueles que as deviam proteger e a sociedade, todos nós, olha para o lado e finge que não se passa nada. Porquê?
O Vale e Azevedo é extraditado para Portugal para ser julgado por mais um dos seus negócios e sabemos ao pormenor até a cor das paredes da cela em que ele foi encerrado, de quantos dos julgamentos aos assassinos destas mulheres ouvimos falar?
Há de certeza algo errado com a nossa sociedade e com as nossas prioridades, porque vale a vida destas mulheres menos que a vida de qualquer outra pessoa?
O Crime de violência doméstica é considerado um crime público, qualquer pessoa pode fazer a denuncia quando suspeita da existência de violência familiar, não olhe para o lado, não espere que seja tarde, denuncie!!!!!!!
Gritos mudos
Neons vazios num excesso de consumo
Derramam cores pelas pedras do passeio
A cidade passa por nós adormecida
Esgotam-se as drogas p'ra sarar a grande ferida
Gritos mudos chamando a atenção
P'ra vida que se joga sem nenhuma razão
E o coração aperta-se e o estômago sobe à boca
Aquecem-nos os ouvidos com uma canção rouca
E o perigo é grande e a tensão enorme
Afinam-se os nervos até que tudo acorde
Gritos mudos chamando a atenção
P'ra vida que se joga sem nenhuma razão
E a noite avança, e esgotam-se as forças
Secam como o vinho que enchia as taças
E pára-se o carro num baldio qualquer
E juntam-se as bocas até morrer
Gritos mudos chamando a atenção
P'ra vida que se joga com toda a razão
Xutos e pontapés