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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Mais fotografias minhas no Momentos e olhares
Há uma série de assuntos sobre os quais quero aqui falar, mas hoje é um daqueles dias em que não me sinto capaz de alinhavar mais que duas frases seguidas... em lugar de escrever fui tentar colocar um pouco de ordem nas milhares de fotografias que tirei nos dois meses de licença... e encontrei estas... que me fizeram recordar o quanto gosto de coisas simples.
Ali na fotografia elas parecem enormes, uma boa máquina e a lente adequada fazem milagres, na verdade são umas flores pequeninas e simples. Fizeram-me regressar aos dias em que corria solto por montes e vales, na primavera elas invadiam todos os muros de pedra da aldeia, existem outras cores, mas o predominante eram este dois tons que consegui apanhar na fotografia. Os muros ficavam cobertos de branco e lilás.
Hoje foi dia de futebol... a coisa não correu lá muito bem e cheira-me que daqui para a frente só vai piorar.... assim, é melhor mudar de assunto.... falemos da já famosa e infernal vuvuzela.
O mundo acordou agora para esta gaita infernal, não sei se vão acreditar em mim ou não, mas a vuvuzela, ou uma coisa parecida, fez parte da minha infância. Tinha eu 6 ou 7 anos, o meu pai era mecânico numa empresa de autocarros, um dia de inverno entre o Natal e o Ano Novo, chegou a casa com uma corneta, não sei onde a terá ido arranjar, mas imagino que faria parte de alguma buzina de um autocarro.
Lembro-me que demorei dias a conseguir tirar algum som da coisa, o meu pai bem se esforçava, eu soprava, soprava, mas nada. O objectivo era conseguir fazer algum barulho com aquilo até à noite da passagem de ano, altura em que me juntava aos rapazes mais velhos do lugar e iamos por todos os caminhos da aldeia com tachos, cornetas, qualquer coisa que fizesse barulho para escorraçar o ano velho.
No primeiro ano não consegui mesmo, mas lembro-me de ser meia noite, estar na outra ponta do lugar e ouvir perfeitamente que o meu pai festejava a passagem de ano desde a varanda de minha casa. No ano a seguir eu mesmo infernizei a vida à aldeia... Foi a minha última passagem de ano por aqueles caminhos, no ano seguinte estava a muitos milhares de Kms... e quando finalmente voltei... os tempos eram outros e nem eu nem ninguém escorraçava o ano velho pelos caminhos da aldeia.
Jorge Soares
Faltam dois dias para o primeiro jogo do mundial de Futebol, ontem a noticia do dia era a lesão no ombro do Nani, hoje a noticia do dia fala do mundo real, uma noticia que veio recordar que na África do Sul há vida para além do futebol, para o bem e para o mal.
Até hoje este tinha sido o mundial das vuvuzelas e do seu infernal barulho, hoje voltamos à triste realidade, a África do sul é um pais violento, morrem dezenas de pessoas diariamente, uma mulher é violada a cada 17 segundos. Até hoje a mensagem que os jornalistas tentavam passar era a de que se sentiam seguros. Não percebo muito bem qual pode ser a sensação de segurança que se pode ter num sitio em que o tempo todo se está rodeado de guardas armados, em que os hoteis estão rodeados de arame farpado electrificado.. mas era o que eles diziam, sentiam-se seguros. Parece que acordaram para a realidade, a meio da tarde mais de um questionava o facto de a Fifa ter entregue a organização do mundial a um país com estes níveis de violência.
Hoje ao fim do dia os entrevistados eram os jornalistas, a questão era o que achavam sobre a ideia de um Mundial em África, os mesmos que ontem se sentiam seguros, hoje achavam que a FIFA tinha cometido um erro, África não está preparada para um mundial, não há condições nem segurança.
Eu vivi num país com as condições de segurança da África do sul, a verdade é que insegurança ou não a vida segue. Eventos como este são oportunidades para os países darem saltos em frente, dinheiro, infraestruturas, experiência em organizações.. tudo isto são coisas que ficam e que sem o Mundial demorariam anos, muitos anos a chegar. Nós em Portugal tivemos essa experiência com a Expo e com o Euro..será que sem a Expo haveria uma ponte Vasco da Gama? e como seria a zona oriental de Lisboa?
A resposta é sim, é muito positivo que o mundial se realize na África do sul, porque todos tomamos consciência de que existem outras realidades bem diferentes da nossa, sim, porque estes eventos deixam sempre coisas positivas e sim, porque em África vivem seres humanos que merecem ter a sua parte da vida.
E o próximo é no Brasil, um dos poucos países que pode rivalizar com a África do Sul quanto a níveis de insegurança.
Jorge Soares